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Comunidades em Rede
Pesquisa mapeia a gama de atividades culturais da região sul de São Paulo e a coloca à disposição da população
Antes mesmo da reinauguração da unidade do Sesc Santo Amaro, prevista para o final deste ano, uma equipe de técnicos vem se dedicando ao projeto Santo Amaro em Rede – Cultura de Convivência. São realizadas várias ações que visam estimular e criar melhores condições para que as associações e artistas da região se reúnam, conheçam uns aos outros, troquem informações sobre a programação, relacionando-se em rede.
E também para que estejam a cada dia mais capacitados tecnicamente para viabilizar suas propostas artísticas. Se fosse possível definir o projeto, que vem congregando inúmeras iniciativas e esforços em um conceito, seria o de valorizar a diversidade cultural da região.
Os primeiros passos nessa trajetória remontam ao ano de 2004, quando se iniciou um processo de retomada de parcerias. Em seguida, foi percebida a necessidade de obter informações sistematizadas sobre a cultural local. “O Santo Amaro em Rede entra, então, para criar uma metodologia para o trabalho de ação externa e, principalmente, para conhecer a região e seus movimentos, equipamentos culturais, grupos, artistas, e os protagonistas da ação cultural”, diz Mário Augelli, gerente do Sesc Santo Amaro.
Raio-X
Uma pesquisa iniciada em junho de 2008 pelo Instituto Pólis (Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Públicas) foi fundamental nesse processo de mapeamento de Santo Amaro e adjacências. O objetivo era justamente montar um quadro das manifestações culturais – entre outros indicadores –, divididas em: linguagens (dança, música, teatro, literatura, artes visuais, audiovisual, artesanato, capoeira, moda, circo e comunicação e mídia); educação não formal (arte e cultura, cultura alimentar, saúde da mente e do corpo, juventudes, gênero, cultura de paz e direitos humanos, esporte e lazer e meio ambiente); educação formal (mapeados somente os CEUs); esporte; lazer; meio ambiente; tradição (culturas populares, culturas tradicionais, culturas indígenas, cultura afro e memória e história local); terceira idade.
“É muito mais que apenas um cadastro”, comenta Marcos Prado Luchesi, técnico da unidade responsável pela proposta inicial do projeto. “A iniciativa cria um volume de informações muito rico para pensarmos na criação de indicadores sociais e de desenvolvimento da região.” O técnico refere-se à abrangência da pesquisa, que aborda também o desemprego local, os recursos financeiros, geração de renda, hábitos sociais, infraestrutura, além de outras questões qualitativas, como a percepção da violência, cultura de paz, discriminação e preconceito.
Tendo como base um questionário detalhado, a pesquisa percorreu uma área que engloba 14 subprefeituras, somados aos municípios do Embu, Taboão, Itapecirica e Diadema. No entanto, a coordenadora da pesquisa do Instituto Pólis, Ana Paula do Val, explica que os limites da divisão territorial não são tão claros quando o foco é a cultura.
“A dinâmica administrativa territorial acaba sendo diluída quando você pensa em dinâmicas culturais”, afirma. Foi criada, assim, uma nova cartografia para a região.
Das mil iniciativas mapeadas, foram selecionados 326 grupos cujo trabalho tem afinidade com as propostas do Sesc. Estão distribuídos no território da seguinte forma: 41,80% deles possuem área de atuação ligada a linguagens artísticas, 36,22% trabalham com educação não formal, 4,33% com educação formal, 2,48% são da área de esportes, 0,92% do lazer, 2,17% realizam trabalhos ligados ao meio ambiente, 10,22% dos grupos estão voltados à tradição e 1,86% é de terceira idade.
A íntegra do trabalho incluindo uma análise qualitativa dos dados, será objeto de uma publicação, cujo lançamento está previsto para setembro. Mas, antes disso, a pesquisa estará disponível no site do projeto, a ser lançado em 14 de maio (veja boxe Mapas da cultura).
Multiplicidade de ações
Algumas dessas iniciativas já são bastante conhecidas, inclusive por um público que extrapola a zona sul de São Paulo. É o caso do Samba da Vela, com quase dez anos de existência, que atualmente se apresenta na Casa de Cultura de Santo Amaro. Músicos e apreciadores se reúnem em volta de uma vela acesa para uma roda de samba.
O ritual se inicia quando a vela é acesa e termina quando ela se apaga. “Pessoas de todos os pontos da cidade, outros municípios e até outros estados frequentam o Samba da Vela”, diz Chapinha, o fundador do grupo.
Entre as mais de 300 atividades em destaque, está o projeto Um Dia de Sesc na Comunidade, que leva as propostas do Sesc a localidades carentes, onde não há oferta de atividades culturais. Segundo o técnico da unidade Maurício Del Nero, já foram atendidas comunidades na favela Monte Azul e Paraisópolis, Parque Santo Antônio, Vila Gilda, Clube Escola Santo Amaro, Jardim São Luiz, Jardim Santo Eduardo, Parque Santo Dias e Jardim Independência do Embu.
No campo da capacitação, por exemplo, o Santo Amaro em Rede realizou, durante janeiro de 2010, oficinas para que jovens pudessem entender o funcionamento de processos de concorrência a verbas de subsídio à produção cultural, destinadas prioritariamente à faixa etária entre 18 e 29 anos de moradores da periferia, áreas com ausência de equipamentos culturais ou dificuldade de acesso a eles.
O resultado desse trabalho já pode ser medido tendo como referência dados divulgados pela Comissão de Avaliação e Propostas e a Coordenação do Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais, da Secretaria de Cultura de São Paulo. Em comparação entre 2010 e a edição anterior, houve aumento significativo da quantidade de projetos oriundos de bairros da região sul da cidade, enviados para concorrer a essas verbas públicas.
Foram 210 inscritos da zona sul, seguidos de menos de 150 da zona leste. Além disso, o maior número de aprovações foi também da zona sul, em oposição ao ano passado, que teve maior quantidade projetos escolhidos desenvolvidos na zona leste.
Um bom exemplo da efervescência da região é o Sacolão das Artes, localizado no Parque Santo Antônio, área que, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB) de 2008, concentra 4.955 domicílios (14% da região) com renda média familiar de R$ 452,00 mensais.
Hortifrutigranjeiro desapropriado pela prefeitura, vem sendo administrado, desde 2007, por coletivos de arte e cultura, como a Brava Companhia de teatro, Núcleo de Comunicação Alternativa, Associação Bairro da Paz, Associação Resplendor e produtores culturais da região, entre outros parceiros.
O espaço produtor de arte, educação, saúde, pesquisa, reflexão, esportes, lazer e cultura popular vem contribuindo para o desenvolvimento e qualidade de vida da população. Além de apresentações e cursos de teatro e dança, há grupos de discussão, domingueiras dançantes, palestras sobre temas de interesse da comunidade e intercâmbio com outros grupos.
A entrada é gratuita e o espaço tem programação durante toda a semana. “É muito legal. A gente sente o impacto [das atividades] principalmente nas crianças, que no começo formavam o maior público nos espetáculos. Foram elas que conseguiram trazer os pais também”, diz Kátia Alves, produtora da Brava Companhia. “As pessoas não estavam acostumadas com esse tipo de atividade, mas hoje têm parâmetros de comparação. Estão ficando até críticos”.
Mapas da cultura
Site hipermídia a ser lançado em maio vai reunir o resultado de pesquisa sobre as ?atividades socioculturais das comunidades da região de Santo Amaro
O antigo sacolão - hoje Sacolão das Artes - virou palco de espetáculos como o Errante,
dirigido por Ademir de Almeida e Fábio Resende
Após dois anos de mapeamento das dinâmicas culturais na região sul, o projeto Santo Amaro em Rede optou por criar um site hipermídia. A ferramenta, a ser lançada com o endereço www.sescsp.org.br/santoamaroemrede, no dia 14 de maio, vai disponibilizar em sons, imagens e textos uma teia de informações conectadas como em um patchwork (referência ao tipo de trama de tecidos em retalhos) sobre todo o território estudado nesse período.
“Traz a discussão de uma nova cartografia, em função da identidade visual criada para esse projeto – que não é a mesma dos mapas oficiais – exatamente pela locomoção desses grupos”, diz a coordenadora da pesquisa realizada pelo Instituto Pólis e que forneceu dados para o projeto, Ana Paula do Val.
Assim, de acordo com ela, os atores, as tendências culturais e os produtores de cultura poderão dialogar com outras comunidades e trocar experiências entre si. Todas as informações delineadas – por pesquisadores da própria região – serão difundidas no site. As áreas foram divididas em “mapas afetivos”, nos quais as cores laranja, cinza, verde e azul representam cada característica do território.
A interatividade é a maior característica da hipermídia. “Ela poderá ser constantemente realimentada para fomentar a rede de ação cultural. E servirá como fonte contínua de pesquisa, pois cada grupo, artista ou instituição integrante da rede, poderá atualizar o banco de dados, alterar e inserir novos conteúdos”, define Marcos Luchesi. ::