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Som na rede

Desde as grandes chapas de cera até o formato mp3, a música passou por diversas, e significativas, mudanças na forma como chega até nós

 

Há pouco mais de uma década, era impensável a existência de músicos como Mallu Magalhães. Com apenas 17 anos, a jovem ficou conhecida por meio de ferramentas da internet como o site de vídeos Youtube e endereços eletrônicos de relacionamento, como Twitter, Orkut, Facebook – além de sites, blogs e arquivos digitais de música, os famosos mp3. É com esse arsenal que antes pareceria coisa de ficção científica que a cantora mantém contato direto com seus fãs, dando-se ao luxo até de dispensar o apoio de meios de comunicação como a TV e as emissoras de rádio. Mallu Magalhães hoje é famosa, sobretudo entre o público que se interessa pelo estilo de música que ela faz, por aqueles que lotam seus shows. É uma questão de gosto. O que a internet sabe atender, e dividir, muito bem. “Vou à internet para pesquisar, responder e enviar e-mails. Entre eles, os de alguns fãs”, contou a artista à reportagem – claro, por e-mail. “Eles [os fãs] me convidam para os encontros e, quando posso, compareço.” 


Mais do que um caso de sucesso, o “fenômeno” Mallu Magalhães (foto abaixo) é um dos exemplos de como hoje um artista pode surgir e atingir seu público graças à internet e às novas tecnologias. Verdade que a história da moça traz elementos de exclusividade. Nem todos os (muitos) artistas que “jogam” seu trabalho na rede, em sites como o MySpace, específico para música, conseguem mais de 4 milhões e 300 mil acessos em sua página – o que rendeu à cantora, diga-se de passagem, matérias em jornais e revistas de todo o país.


O que todos têm em comum é que a divulgação de sua música não está mais nas mãos dos executivos da indústria fonográfica. Eles não foram “descobertos”, simplesmente apareceram. Sem contar o fato de que os ouvintes – fãs, pesquisadores, curiosos, ociosos, enfim, todo mundo – podem ouvir suas músicas de graça, com o advento do mp3, formato digital que pode ser conseguido, em muitos casos, gratuitamente, na internet por meio de downloads. “Eu arrisco a dizer que a explosão de casas de rock na rua Augusta [reduto de “baladas” em São Paulo] é uma consequência direta da economia que o público jovem está fazendo na compra de discos para gastar nos shows”, diz o produtor musical Maurício Bussab, acrescentando ainda que “essa ideia de que está todo mundo baixando músicas da internet é muito mais brasileira do que mundial”.




Queda no faturamento
Porém, nada disso quer dizer, ao menos por enquanto, que a indústria fonográfica está próxima do fim. Ela está tentando se adaptar, oferecendo, por exemplo, downloads de CDs inteiros – ou de músicas isoladamente – a preços bem mais atraentes do que os vistos nas prateleiras das lojas de discos. Nesse caso, é preciso admitir, todo mundo ganha: o artista, a gravadora e o ouvinte, que não precisa apelar para a ilegalidade para curtir um bom som. No entanto, essa prática, como adiantou Bussab, ainda não emplacou por aqui. E um dos motivos é o fato de grande parte dos sites que comercializam músicas em mp3 não estar disponível no Brasil.


Maior exemplo é a “megastore digital” iTunes, onde gregos e troianos compram música para colocar em seus mp3 players, menos os brasileiros. Segundo Maurício Bussab, nesse caso, perdemos nós. “Ao piratear [conseguir música pela internet sem pagar por ela], você não encontra as coisas mais alternativas ou fora de catálogo, mais anos setenta”, afirma. Ainda de acordo com o produtor, um dos principais pontos positivos de ter acesso a esse tipo de loja é a disponibilidade de catálogos completos de um artista, “de maneira organizada e com boa qualidade”. Bussab conta que, no Brasil, o site mais popular nessa área é o Sonora, que conta atualmente com mais de 300 mil assinantes. 


O crescimento da comercialização de músicas na internet, no entanto, convive com a queda do faturamento das gravadoras com a venda de CDs. De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) – que representa algumas das chamadas majors da indústria fonográfica, como EMI Music, Universal, Music e Warner Music –, os números com a venda de CDs e DVDs caíram de R$ 726 milhões, em 2002, com um total de 75 milhões de unidades vendidas, para R$ 454,2 milhões, em 2006, com 37,7 milhões de cópias vendidas das duas mídias. Há, claro, aquele ouvinte que ainda prefere o produto físico. O CD e seu encarte ou até mesmo o velho e bom (há quem o considere “o melhor”) vinil, com suas grandes capas. Mas esse público hoje, segundo Bussab, restringe-se aos ouvidos mais velhos, que apreciam estilos como jazz ou música caipira de raiz, por exemplo. “Os jovens baixam tudo mesmo”, diz o produtor musical.



Plateia maior?
O mp3, os downloads, os sites de música e os demais recursos e produtos ligados à internet resultaram também numa sensível mudança na dinâmica dos shows musicais. No caso das grandes estrelas, nacionais ou estrangeiras, a apresentação ao vivo passou a ser a principal forma de “vender” a música. E quanto aos novos nomes, a ordem é: ouça a música na internet e conheça a banda em pequenos shows. “Tem uma história maravilhosa no Ceará, o grupo filma o próprio show, com helicóptero sobrevoando, edita rapidinho [as imagens] e entrega o DVD na saída, como lembrança”, relata o crítico de música Pedro Alexandre Sanches. “É toda uma indústria altamente criativa no modo de distribuir e divulgar.” De acordo com Sanches, o público jovem percebeu, “há um bom tempo”, que o maior canal de comunicação com seu artista preferido é vê-lo no palco.


O produtor musical Pena Schmidt considera que “a música ao vivo vai bem, obrigado”, mas, para ele, não se pode afirmar que exista uma ligação direta entre a divulgação da internet e o mp3 e o aumento da plateia nas casas de espetáculos. “Não existem estatísticas desses resultados por aqui”, diz. “E, mesmo fora do Brasil, onde esses levantamentos são feitos, o show business não ficou muito melhor do que antes da internet e do download.”


Para Schmidt, por enquanto se pode falar de segmentos específicos. “Como o do grupo Teatro Mágico (à esquerda), que nasceu com a internet e leva o público aos shows graças à divulgação online”, exemplifica. “Para eles, o papel da rede é fundamental. Mas isso não quer dizer, por exemplo, que o público deles seja maior.” Para finalizar, o produtor define a internet como “o único canal que o artista novo tem para mostrar seu trabalho, já que ele não tem lugar nas rádios e também não vende CDs”.

 

 

 

 

 



Seleção de Talentos
Projeto de música Prata da Casa apresenta jovens talentos em CD do Selo Sesc
 
Comemorando a primeira década do projeto Prata da Casa - que apresenta jovens talentos da música - o Sesc Pompeia realizou um show, em dezembro de 2009, para lançar o CD Prata da Casa - 10 anos (1999/2009), um produto do Selo Sesc.

Fizeram parte do encontro musical algumas das "pratas da casa" que hoje o Brasil todo conhece, como a cantora Fabiana Cozza e o Quinteto Em Branco e Preto. A ocasião serviu também para lembrar a noite, em junho de 1999, em que o show da cantora Tutti Baê deu início ao projeto.

No disco, estão presentes 30 dos 400 músicos e grupos que passaram ao longo desses dez anos pelo Prata da Casa (Na foto, Swami Jr. e Barbara Eugenia), vistos por mais de 130 mil pessoas. Os artistas foram escolhidos pelos curadores que participaram do projeto. A saber: os críticos e jornalistas Mauro Dias, Carlos Calado, Israel do Vale, Lauro Lisboa Garcia, Carlos Bozzo Júnior, Pedro Alexandre Sanches e Patrícia Palumbo. Depois da seleção, os próprios artistas escolheram qual música sua entraria no registro. Mas a festa não acaba aí. O próximo passo, segundo a assistente técnica da unidade Gisela Ferrari, uma das organizadoras do projeto, é cair na rede. "Temos planos para começar a transmitir os shows ao vivo online pelo Portal Sesc SP", conta.

O Prata da Casa atualmente conta com a curadoria do crítico musical e jornalista Marcus Preto e segue com seus shows gratuitos, sempre às terças-feiras, às 21h. O CD pode ser encontrado em todas as unidades do Sesc São Paulo, em sua loja virtual - www.sescsp.org.br/loja -, e também na Livraria Cultura.