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Ciência
Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Por que de noite fica escuro e de dia fica claro? Como o peixe faz para respirar debaixo d’água? De onde a gente veio? Quem lida com criança certamente já foi interpelado sobre questões como essas. E muitas delas, na verdade, os adultos não conseguem responder. Perguntar é um dos modos que os pequenos têm de apreender o mundo em que vivem, mas muitos pais e mães se desesperam quando precisam dar solução às dúvidas de seus filhos. Uns recorrem aos livros didáticos ou à internet, outros passam a bola para a escola. A boa nova – nem tão nova assim – é que muitos “curiosos”, crianças e adultos, descobriram que é possível encontrar essas e outras respostas em vários espaços. São museus, locais de exposições ou os chamados centros de ciência. Cada vez mais variados, eles ajudam a compreender fenômenos naturais ou tecnológicos por meio de mostras temáticas, tornando mais fácil e mais lúdico entender as explicações dos livros escolares.
Pedro Henrique Lopes, 7 anos, em visita com os tios à Estação Ciência, centro de ciências interativo ligado à Universidade de São Paulo (USP), localizado no bairro da Lapa, Zona Oeste de São Paulo, é prova do interesse que esses espaços podem despertar. Pedro está na 3ª série e, quando questionado se gosta de ciências, responde prontamente: “Não, é muito chato”. Mas faz questão de esclarecer que a da Estação ele gosta. Tanto que já é a segunda vez que vai lá. Bruna Morales, de 12 anos, também se diverte pela Estação Ciência enquanto treina seus conhecimentos. Junto com a amiga Taynah Cavalcante, de 12 anos, explora o corpo humano simulado por dois bonecões de espuma. Neles, é possível abrir a “barriga” para ver os órgãos internos. Concentrada, Bruna explica para a amiga qual é o fígado, qual é o estômago e qual é o intestino. E segreda que aprendeu a diferenciá-los durante uma visita anterior feita ao centro com a escola no ano passado.
Ver para aprender
Para a bióloga Alessandra Bezerra, pesquisadora da área de educação e museologia do Museu de Microbiologia e doutoranda em educação pela USP, esses lugares são importantes, pois permitem uma maior aproximação do público com as ciências, áreas do conhecimento cujo ensino é muitas vezes, delegado apenas à escola. A especialista defende que os museus ou centros de ciência devem ser encarados da mesma forma que os museus de arte. “Do mesmo jeito que a criança que vê arte não necessariamente vai se tornar artista, a que vai ao centro de ciência não precisa se tornar cientista”, compara. “O mais importante é a oportunidade de contato com esses conhecimentos.” Para a bióloga, é essencial deixar de lado a opinião de que esses locais são destinados apenas a despertar pequenos cientistas. “Se a criança tiver que ser cientista, ela será, mas não é certo reduzir os centros de ciência a essa função.”
No Museu de Microbiologia, que funciona no Instituto Butantan, na Zona Oeste de São Paulo, o grande desafio é mostrar aos visitantes o mundo dos seres vivos que a gente não vê, mas que nem por isso deixam de influenciar a nossa vida. Seja para o bem, como as bactérias usadas para produzir o iogurte, seja para o mal, como os vírus da gripe – como o atualmente famoso H1N1, que causa a chamada gripe suína.
Mostrar o que não está ao alcance de nossos olhos é um dos principais trunfos dos espaços que trabalham com as ciências. É o que acontece, por exemplo, na exposição Cérebro – O Mundo Dentro da Sua Cabeça, em cartaz até 25 de outubro no espaço da Bienal, no Parque do Ibirapuera, Zona Sul de São Paulo. A mostra já foi realizada em cidades dos Estados Unidos e do México. No Brasil, antes mesmo de abrir já havia 15 mil visitas agendadas, a maior parte de grupos escolares. Por meio de vídeos, conteúdo expositivo e elementos interativos busca-se “abrir nossa cabeça” e mostrar como nosso cérebro funciona. Desde os comandos que dá ao resto do corpo até os problemas que enfrentamos quando ele adoece.
No mesmo Parque do Ibirapuera, uma meia-esfera prateada desvenda os mistérios de uma realidade macrocósmica, mas que de tão distante chega aos nossos olhos bem pequenina: o universo. É o Planetário Professor Aristóteles Orsini, lançado em janeiro de 1957, o primeiro de grande porte instalado no Brasil. André Luiz da Silva, diretor de Divisão Técnica de Astronomia e Astrofísica do Planetário, explica que, além de reproduzir o céu de qualquer lugar do mundo e de vários pontos do Sistema Solar, o equipamento do Planetário é capaz de simular viagens espaciais. “Isso permite que sejam trabalhadas abordagens diversas durante as atividades”, informa o diretor. “Desde a mais básica para o público leigo, às mais avançadas, ministradas pela escola de astrofísica que funciona junto à instituição.”
Preservação
Também na Zona Sul da capital, só que no bairro do Ipiranga, dois espaços trabalham mais focados em outro desafio: educar para a necessidade de preservar a natureza. São o Museu de Zoologia da USP e o Aquário de São Paulo. O primeiro mescla em seu acervo registros de animais extintos ou que ainda existem, ajudando a recompor a evolução das espécies da chamada região neotropical do planeta, aquela que engloba as Américas Central e do Sul. Maria Isabel Landim, pesquisadora da instituição, garante que, mesmo sem os recursos de interatividade? de outros centros de ciências, o Museu de Zoologia atrai pela possibilidade de ver tantos bichos de perto. O acervo tem mais de oito milhões de exemplares e, a partir de setembro, contará com a exposição Charles Darwin: Evolução Para Todos, sobre a atualidade do pensamento do cientista britânico que dá título à mostra. Em ano de bicentenário do nascimento de Darwin, ele também será lembrado no Sesc São Caetano (veja boxe Curiosidade satisfeita), inclusive com a presença de Maria Isabel.
Já o Aquário reúne em seus tanques animais aquáticos vivos de várias regiões ?do planeta, mas que os visitantes provavelmente nunca veriam ao vivo e em cores – muitas cores, por sinal. Peixes da Amazônia – como pirarucus e tambaquis –, assim como tubarões e pinguins compõem a coleção, que ainda abriga um raro casal de jacarés albinos. Laura Ippolito Moura, bióloga do Aquário, explica que, em toda oportunidade que tem durante as visitas, a equipe da instituição chama a atenção para a necessidade de preservação do meio ambiente e para o impacto decisivo que a mudança de comportamentos individuais pode ter. “Mais ou menos 30% da poluição do rio Tietê é nossa culpa”, alerta. “Produzida pela destinação indevida de lixo nas ruas.” Sendo assim, o Aquário torna-se mais que um lugar de exposição de animais. Para a bióloga, só faz sentido manter um ser vivo ali, preso e fora de seu habitat, se for para fazer com que as pessoas reflitam sobre esses mesmos seres em liberdade e sobre sua importância para o planeta.
Serviço
Aquário de São Paulo: R. Huet Bacelar, 407, Ipiranga, (11) 2273-5500.
Estação Ciência: R. Guaicurus, 1.394, Lapa, (11) 3873-7022.
Museu de Microbiologia: Av. Vital Brasil, 1.500, Butantã, (11) 3726-7222, r. 2155.
Museu de Zoologia: Av. Nazaré, 481, Ipiranga, (11) 2065-8100.
Planetário: Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 10, Ibirapuera, (11) 5575-5206.

No bicentenário de nascimento de Charles Darwin, autor da Teoria da Evolução das Espécies, o cientista britânico será o assunto do colóquio Leituras de Darwin, realizado pelo Sesc São Caetano em parceria com a Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Com abertura no dia 14 de setembro e painéis nos dias 16 e 17, o evento reunirá importantes pesquisadores de instituições paulistas, além do colunista de Ciências da Folha de S. Paulo Marcelo Leite. A iniciativa vem comprovar uma linha de atuação que tem papel de destaque na proposta de atendimento do Sesc a seus frequentadores: a educação não formal.
Outras podem ser lembradas. No mês passado, por exemplo, no Sesc Pinheiros, o tema ciências também foi o foco do seminário Criança, Ciência e Cultura: Reflexões Para a Integração, fruto de uma parceria com o Instituto Zero a Seis, cujo trabalho visa produzir e disseminar conhecimento científico com foco na primeira infância. Durante três dias, pedagogos, médicos, psicoterapeutas, educadores e artistas participaram de debates sobre como questões científicas, culturais e políticas podem ser trabalhadas nesse período da vida.
Em 2002, uma grande exposição temática também fez a alegria dos curiosos. Foi a Por que, Pra quê?, realizada pelo Sesc Pompeia. O evento contava com três atrações: a exposição, uma peça teatral e um laboratório. Na mostra, a criançada tinha a oportunidade de interagir com grandes instalações onde eram apresentados os fenômenos da ciência. Já a peça Tíbio e Perônio, escrita por Flávio de Souza, roteirista de programas e peças infantis, trazia dois conhecidos personagens: Tíbio e Perônio, os dois divertidos cientistas do programa Castelo Rá-Tim-Bum, exibido pela TV Cultura. No laboratório, por fim, era possível conferir alguns fenômenos físicos e químicos sob a orientação de monitores especializados.

O Sesc São Paulo também alia conhecimento a contato com a natureza. Na unidade Bertioga, no litoral do estado, um dos destaques é o projeto Avifauna. Criado em 1992, o programa tem o objetivo de incrementar atividades de educação ambiental dos frequentadores do Sesc, aproveitando as características da unidade. Também, seguindo essa forte vocação para o convívio com a fauna e flora existente em seu entorno, a unidade criou o Centro de Atividades Ambientais (CAA), um programa concebido e desenvolvido pela equipe técnica e orientado pela Gerência de Programas Socioeducativos (GPSE) do Sesc. Elementos da biodiversidade local, de ordem geográfica, da cultura caiçara e das questões relativas ao mar farão parte das ações do novo centro, potencializando os recursos locais em atividades lúdicas e educativas. O objetivo do CAA é favorecer momentos em que os visitantes possam vivenciar e conhecer aspectos físicos e biológicos da região de Bertioga – fauna, flora, relevo, clima, hidrografia –, assim como entender o processo de ocupação urbana, conhecer mais a cultura caiçara e a relação histórica, cultural e econômica com o mar.
Já no Sesc Interlagos, Zona Sul de São Paulo, a demanda da comunidade pela doação de plantas acabou sendo atendida de uma forma bem diferente: foram criados cursos e oficinas que ensinam aos participantes técnicas de jardinagem e plantio de hortas e pomares, para que eles mesmos pudessem criar suas mudas. Para quem tem menos tempo e deseja apenas visitar a unidade também há opções. Nos finais de semana há passeios ecológicos abertos ao público e, nas quartas-feiras, visitação no viveiro que funciona no local.
Na unidade Itaquera, na Zona Leste, um nariz gigante é o portal de entrada para um passeio pelo ar – e seu universo invisível de partículas, gases e substâncias que inspiramos todas as vezes que enchemos nossos pulmões. A exposição Está no Ar é realizada com o apoio da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e traz o apelo para pensarmos sobre como garantir mais qualidade ao ar das cidades. Quem está longe de Itaquera também pode aproveitar a exposição, que mantém um espaço virtual, com material educativo e jogos on-line, no endereço www.estanoar.org.br.
