CINEMA
ENXUTO
O
projeto permanente Ponto Curta, realizado pelo CineSesc, oferece espaço
para a difusão de curtas-metragens e promove o encontro entre
os produtores e o público
Assim
como na literatura não se pode dizer que os contos, por ser mais
breves que os romances, fiquem devendo em exatidão e completude,
no cinema, uma história não deixa de ser contata com todos
os seus detalhes importantes por ser apresentada no formato de curta-metragem.
Historicamente, a própria sétima arte nasceu "curta",
de um experimento de apenas um minuto e meio do francês Louis
Lumière, em 1895. Atualmente, por mais que os longas-metragens
ocupem a maior parte das salas de cinema, e dos recursos dos investidores,
o curta-metragem segue firme como meio ideal para contar pequenas histórias
e mostra-se particularmente convidativo à experimentação.
É justamente apostando nessa versatilidade que o CineSesc incluiu,
desde 2005, o projeto Ponto Curta entre seus eventos permanentes. Além
de uma oportunidade para os curtas-metragistas se encontrarem e travar
contato com o público, as exibições garantem espaço
para o escoamento da produção tanto dos mais experientes
quanto dos que estão começando. "Temos uma visão
positiva em relação ao curta-metragem", explica Luiz
Zakir, gerente do CineSesc. "O nome Ponto Curta nasceu em 2005,
mas antes disso já trabalhávamos na exibição
desse formato." Zakir conta ainda que normalmente essas produções
encontram um gargalo exatamente na ponta do processo, ou seja, na hora
de ser mostradas ao público, simplesmente por falta de espaços.
"Isso acontece principalmente com gente que está iniciando
a carreira", esclarece. "Por isso, o Ponto Curta também
tem esse viés de ferramenta de trabalho para aqueles que estão
em aprendizado. Além disso, é a oportunidade que o diretor
tem de assistir a seu curta em uma tela grande, com toda a equipe, de
ver a reação do público e de entrar em contato
com outros cineastas."
A diretora do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São
Paulo, Zita Carvalhosa, afirma que o número de curtas tem aumentado,
mas concorda que se enfrentam problemas na hora da exibição.
"A produção de um filme se completa com ele sendo
visto. E, nesse sentido, locais como o CineSesc são importantes
porque funcionam como espaços permanentes de difusão",
assegura.
Um dos exemplos dessa curva ascendente pode ser encontrado nas universidades,
entre os alunos de cinema e de demais cursos ligados ao audiovisual
- um grupo que opta pelo curta como trabalho de conclusão de
curso ou simplesmente como forma de treinamento. No entanto, geralmente
esse material acaba não tendo outro destino que as prateleiras
das videotecas. A história muda a partir do momento em que iniciativas
como essa do CineSesc vão até as salas de aula, por meio
de parcerias com as faculdades, na tentativa de descobrir novos talentos.
É isso que acontece no caso do Ponto Curta, que, com a Faculdade
Cásper Líbero, resolveu tirar os trabalhos das prateleiras
e levá-los para a sala de projeção. "Existem
muitos talentos em potencial no curso de rádio e TV, e o Ponto
Curta ajuda a divulgá-los", conta Luiz Fernando Castiglioni,
estudante desse curso da Cásper e roteirista de Epifania, exibido
em novembro de 2006 numa extensão do projeto do Sesc, que recebeu
o nome de Cásper Ponto Curta.
FORMATO
ESPECÍFICO
Ainda que não deva ser considerado um ensaio para chegar a um
longa-metragem, o curta pode se apresentar como o primeiro passo de
cineastas - entre outros motivos, pelo alto custo para se produzir um
longa. "Para mim, que sou estreante no cinema, foi muito bacana
fazer um curta", conta Xico de Deus, outro diretor que encontrou
no Ponto Curta a primeira oportunidade para exibir seu trabalho, o curta
E Agora, Dora? (2006), produzido pela O2 Filmes, de Fernando Meirelles.
"Encaro como uma ótima escola. Fazendo curtas, a gente exercita
a capacidade narrativa e consegue sentir como a idéia do roteiro
funciona na prática."
O cineasta Flávio Frederico também já passou pelo
projeto do CineSesc, com o filme Red, de 2005, que recebeu o prêmio
de Melhor Direção no Festival de Cinema e Vídeo
de Cuiabá daquele ano. Frederico é do time daqueles que
procuraram explorar as possibilidades do formato. "O curta é,
sim, uma forma de aprendizado, ou até um 'cartão de visita',
mas também é um produto acabado", afirma. "Acho,
até, a segunda opção mais interessante. Por isso
já produzi sete curtas."
Mas não são somente os cineastas iniciantes que recorrem
ao filme de pequena duração. Muitos diretores experientes
têm familiaridade com ele. É o caso, por exemplo, de Nelson
Pereira dos Santos - diretor que filmou obras como Vidas Secas, de 1963,
considerado um dos marcos do cinema novo. Mesmo depois de contar com
diversos longas-metragens de sucesso no currículo, optou pelo
formato curta para produzir Meu Compadre, Zé Kéti, em
2001, uma homenagem ao músico, morto em 1999.
PANORAMA
NACIONAL
A tão apontada escassez de meios para a veiculação
dessa vasta produção não permite que se fale em
um mercado brasileiro. O diretor Flávio Frederico afirma que
o volume e a variedade de curtas no país são grandes o
suficiente para que os festivais se "dêem ao luxo" -
segundo diz - de escolher os mais diferentes perfis para variadas programações.
No entanto, segundo ele, o mercado é bastante restrito. Para
Xico de Deus, se, por um lado, os cineastas se beneficiam com inovações
tecnológicas, como a câmera digital e a internet - que
tiveram impacto direto na produção e na veiculação
das obras -, por outro, o curta ainda enfrenta a escassez de dinheiro
para ser feito. "Hoje está muito mais fácil para
contar uma história, pois há muitas possibilidades estéticas
e tecnológicas", declara. "Mas, mesmo assim, ainda
é muito caro produzir um curta sem o apoio das leis de incentivo."
Para
amantes e novatos
Conheça
os filmes programados para edição de fevereiro do
Ponto Curta.
A exibição será no dia 23, às 23 horas,
no CineSesc
Clairelumière
(França, 2003, 13 min., ficção, 35 mm, cor)
Direção: Carolina Gonçalves
Ex Inferis (Brasil, 2003, 12 min., ficção,
35 mm, cor)
Direção: Paulo Miranda
Conta de Luz (Brasil, 2007, 6 min., ficção,
vídeo, cor)
Direção: William Hinestrosa
O Retrato da Felicidade (2005, 10 min., ficção,
35 mm, cor)
Direção: Wagner Molina e Thelma Guedes
Yansan (Brasil, 2006, 17 min., 35mm/Beta SP, animação,
cor)
Direção: Carlos Eduardo Nogueira
Confira as
sinopses no Em Cartaz desta edição.
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