ESPAÇO EDUCADOR
por Denise de Souza Baena Segura

ilustrações: www.marcosgaruti.com
A mais nova onda de discussão ambiental na qual nos encontramos, decorrente da divulgação de dados científicos a respeito do aquecimento do planeta e reforçada pela percepção inequívoca da população de que algo diferente está acontecendo, reitera o sentido de urgência que os ambientalistas vinham defendendo nos últimos anos em relação à necessidade de desenvolvermos maneiras sustentáveis de sobrevivência e convivência. Afinal, partilhamos da mesma "casa", o planeta Terra, e não se trata de "bioterrorismo", como proclamam alguns.
A capacidade humana de interferir na dinâmica vital do planeta e de produzir simulacros da realidade ao longo de sua história em grande medida esteve apoiada no desdém, próprio de quem se considera acima das leis da natureza.
No entanto, muitos pensadores defendem que a crise ecológica não é atual, portanto, não é apenas conseqüência da revolução industrial. A crise é, sobretudo, fruto da maneira como as sociedades percebem a natureza, e de todas as implicações políticas, econômicas, sociais e culturais dessas visões.
Por isso, o grande desafio que cerca a construção de modos de vida sustentáveis diz respeito, acima de tudo, ao entendimento profundo de nossa interdependência em relação ao ambiente, que não se restringe à porção verde da Terra.
Nessa construção, dois fatores me parecem essenciais: a humildade e o conhecimento. A humildade de reconhecer nossos limites de intervenção no planeta e de respeitar todas as formas de vida. E o conhecimento, que, segundo o educador Carlos Rodrigues Brandão, só tem significado se valoriza a vida. Desse ponto de vista, a ação educativa ambiental não busca somente reunir conhecimentos, mas pretende alinhavá-los em um conjunto de valores éticos e atitudes responsáveis.
No Sesc São Paulo, a conservação ambiental faz parte da sua história desde a década de 70, quando foi inaugurada a unidade Interlagos, com projetos de recomposição da mata nativa e de paisagismo. Antes disso ainda, o caráter ecológico já aparecia em alguns projetos de lazer educativo.
Hoje, é possível destacar projetos que proporcionam a formação de diferentes públicos visando a desenvolver a capacidade de interpretação da realidade e de compreensão da rede de inter-relações entre natureza e cultura, com a intenção clara de identificar caminhos possíveis para a construção de experiências de vida sustentáveis. Oficinas de bioarquitetura, de economia solidária e geração de renda, de elaboração de projetos comunitários, atendimento de escolares e educadores, cursos sobre plantio, roteiros de ecoturismo, o combate ao desperdício de alimentos do Programa Mesa Brasil Sesc, entre outras ações, são alguns dos caminhos.
Ainda dentro do propósito de assumir sua co-responsabilidade na construção da sustentabilidade, o Sesc São Paulo têm como princípio conceber suas unidades como "espaços educadores", onde não só a programação de atividades destaca o compromisso com a qualidade de vida, mas também várias iniciativas estruturais compartilham o princípio da conservação ambiental. Ao considerar a função educativa de suas instalações, a instituição tem incorporado tecnologias menos danosas ao ambiente e à gestão racional do uso de água e energia. Em algumas clínicas odontológicas, o aparelho de radiografia digital não usa revelador, película e fixador, eliminando a geração de resíduos químicos. Esse é um ganho ambiental concreto e pouco conhecido. Outra medida adotada valoriza a máxima de Lavoisier, "Na natureza nada se cria, tudo se transforma": o sistema de aquecimento das piscinas de algumas unidades absorve o calor gerado pelo ar-condicionado, fechando um ciclo de reaproveitamento de energia.
Não podemos perder de vista a dimensão prática e urgente da mudança de valores e atitudes. As justificativas conceituais têm sentido para dar coerência às práticas e com isso renovarmos, a cada dia, nosso propósito de recriar um mundo melhor, do ponto de vista humano e ambiental. Na trajetória do Sesc São Paulo, ecoa no reconhecimento público que a instituição tem um papel exemplar e essencialmente educador.
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DENISE DE SOUZA BAENA SEGURA, SOCIÓLOGA, É MESTRA
EM EDUCAÇÃO E TÉCNICA DA GERÊNCIA DE PROGRAMAS SÓCIO-EDUCATIVOS
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