EM
BUSCA DO CORPO PERDIDO
Diante
da praticidade da vida moderna e seus sinais de conforto, itens freqüentes
nas listas de inimigos do condicionamento físico, a saída
é não se entregar ao sedentarismo
Segundo o cientista
grego Hipócrates (460-377 a.C.), conhecido como pai da medicina,
um corpo exercitado "se torna mais sadio e envelhece mais vigorosamente".
Mas, se o descuido tomar conta, a máquina humana transforma-se,
segundo o grego, em uma "via para doenças". Agora,
imagine um mundo como o nosso, cheio de "confortos" como elevadores,
escadas rolantes, automóveis e outras praticidades que nos livraram
até mesmo do "esforço" de levantar do sofá
para mudar o canal da TV. O resultado pode ser um corpo despreparado
para enfrentar até as tarefas mais simples do dia-a-dia, como
subir um lance de escada, por exemplo. A saída é ficar
de olho no chamado condicionamento físico, ou seja, "preparo
e disposição necessários para executar atividades
físicas sem se cansar demasiadamente", como define o professor
Cássio de Miranda Meira Júnior, do Departamento de Pedagogia
do Movimento da Escola de Educação Física e Esporte
da Universidade de São Paulo (USP). Meira Júnior acrescenta
ainda que obter essa condição exige algum tipo de treinamento.
"A pessoa passa por um processo de condicionamento físico
quando sistematiza a forma de atividade física", explica.
"Ou seja, tem de ter algum tipo de regularidade na prática,
orientada por um profissional." Mas aí surgem algumas questões,
como a falta de tempo, e de dinheiro em muitos casos, para cuidar de
mais esse aspecto da vida moderna. Calma, nem tudo está perdido.
Em conceitos atuais, prática de atividade física não
significa apenas gastar horas numa academia de ginástica ou se
dedicar a uma modalidade esportiva com o afinco de um atleta de ponta.
"Uma pessoa precisa consumir 2 mil quilocalorias em atividades
por semana, além do que necessita para se manter viva, para suprir
as necessidades físicas e deixar de ser sedentária",
explica o doutor Ricardo Munir Nahas, ortopedista e vice-presidente
da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME). "E isso
representa uma caminhada de uma hora diária para uma pessoa de
70 quilos, por exemplo." Em outras palavras, uma boa maneira de
não ficar com o coração disparado e a respiração
ofegante após uma corridinha da chuva até a marquise mais
próxima - sinais de que é hora de se cuidar - pode ser
substituir o automóvel por alguns metros a pé ou mesmo
pela bicicleta. "Se o indivíduo deixar o carro na garagem
e caminhar para ir à padaria, à banca de jornal, à
farmácia etc., com certeza melhorará a saúde",
aconselha a professora Vera Aparecida Madruga, do Departamento de Estudos
da Atividade Física Adaptada da Faculdade de Educação
Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O professor
Meira Júnior recomenda também que o tempo livre seja usado
de maneira mais ativa. "A pessoa pode ir a um local público
em busca de uma modalidade coletiva ou individual de lazer, como jogar
vôlei, caminhar por conta própria e coisas assim",
indica. "Além disso, há as campanhas que estimulam
as pessoas a adotar determinados comportamentos, como descer do ônibus
um ponto antes ou pegar a escada em vez do elevador." O professor
ressalta que a chave está na mudança de hábito.
"Campanhas públicas já são feitas nesse sentido.
Há eventos específicos para mudar o comportamento das
pessoas."
ORIENTAÇÃO
Por outro lado, vale esclarecer que mesmo essas escolhas simples merecem
cuidado em alguns casos. Fatores como a idade e o estado de saúde
podem se tornar restritivos. "Os mais importantes são os
problemas cardiovasculares", explica Meira Júnior. "Quando
o indivíduo é hipertenso ou tem histórico de algum
acidente vascular é preciso se orientar melhor." O professor
informa que uma boa dica é prestar o máximo de atenção
aos sinais do próprio corpo. "Se quando a pessoa sobe uma
escada a musculatura dói ou ela sente tontura é porque
houve exagero em algum ponto. Se for uma coisa esparsa, um dia ou outro,
não há problema nenhum. A questão é se isso
continua, se as dores persistem após as atividades, aí
é hora de buscar orientação", ressalta. Indivíduos
obesos ou que apresentam problemas articulares também precisam
ficar mais atentos para que a tentativa de ser mais ativo não
vire um tiro pela culatra. "Para essas pessoas, subir escadas,
por exemplo, passa a ter um grau de dificuldade maior, pois acarretará
dores e automaticamente esse indivíduo será afastado das
atividades físicas."
Ver boxe:
Mantenha-se
em forma
Mantenha-se
em forma
Várias
unidades oferecem cursos que ajudam a obter melhor condicionamento
físico
Tanto
para aqueles que se identificaram com as sensações
desagradáveis de um corpo "preguiçoso"
quanto para os que nem querem saber de ter problemas com isso,
as unidades do Sesc São Paulo na capital e no interior
têm suas programações recheadas de cursos
que oferecem orientação para obter uma condição
física adequada. A intenção dessa oferta,
segundo Mário Fernandes, técnico da Gerência
de Desenvolvimento Físico e Esportivo (GDFE) do Sesc,
é contribuir para que o indivíduo tenha capacidade
de desempenhar suas atividades com mais eficiência. "Tanto
tarefas profissionais como ações do dia-a-dia,
habilidades de lazer e habilidades esportivas", esclarece
Fernandes. Trata-se de uma filosofia que prima por um corpo
saudável e apto a uma vida melhor, não a grandes
performances esportivas ou façanhas de academia, como
levantar vários quilos nos aparelhos de musculação.
"Se a pessoa não tiver condições de
fazer uma flexão do tronco, por exemplo, pode começar
a treinar amarrando o tênis", exemplifica. O conceito
parte originalmente da ginástica multifuncional, que
trabalha com o chamado sistema padrão de movimentos primários:
agachar, afundar, abaixar, puxar, empurrar, girar e locomover.
Essa visão holística exige exercícios que
estimulem todo o corpo. Os movimentos adquirem tanto mais força
quanto mais partes dele estiverem envolvidas. "No lugar
de músculos que saltam em sessões de fisiculturismo,
o que deve estar em evidência é uma atitude ativa",
garante o técnico. "Nada de ficar ligando para a
pizzaria, a idéia é quebrar a monotonia indo a
pé até lá para buscar a refeição."
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