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Em Pauta
Até que ponto é verdade?
A informática e a Internet, onipresente, chegaram para facilitar nosso dia-a-dia e democratizar a informação. Será? Na teoria é tudo muito bonito, mas a realidade desvirtua o discurso democrático. Até que ponto a tecnologia atenua o fosso social e compartilha informação? Autoridades, profissionais da área e professores dão seu ponto de vista sobre o admirável mundo novo
Walter Barelli
As grandes transformações tecnológicas trazem promessas e problemas. Desde o meio da década de 80 estamos estudando as transformações que o mundo do trabalho sofreu com a informática. Praticamente todas as formas de trabalho foram modificadas, a indústria que teve seus processos grandemente mudados, com a possibilidade de produzir praticamente, sem perdas de tempo - o chamado just in time - e com grande qualidade, com os chamados robots; os serviços que puderam aumentar a produtividade e a confiabilidade, com a introdução dos computadores; o comércio e o setor financeiro, com a telemática e a própria agricultura com a monitoramento por satélites.
A promessa está sendo cumprida, com um aumento muito grande da produção, em todos os setores, acompanhada da possibilidade de se evitarem os prejuízos da superprodução. A globalização, para o bem ou para o mal, também seria impossível sem as novas tecnologias.
Resta verificar o que acontece com o emprego. Aqui temos o que estou chamando de paradoxo. De fato, podemos ver tanto o crescimento do emprego, como do desemprego, ambos da dependência das novas tecnologias.
Primeiramente, vejamos o que acontece em termos de desemprego. Surgiam novas profissões e novas oportunidades de trabalho, com as novas tecnologias. Fiquemos somente no campo da informática. O chamado telemarketing está sendo uma grande oportunidade de emprego para milhares de pessoas. Da mesma forma, os diversos tipos de trabalho incorporam a informática, abrindo campos para aqueles que dominam essa nova técnica.
O exemplo maior desse novo mercado são os Estados Unidos. Hoje, é um país com um dos menores índices de desemprego. E todos os setores que incorporam as novas tecnologias estão em crescimento. Com a dificuldade de contratar ou formar especialistas, até as exigências na imigração foram abrandadas, desde que se trate de profissionais já formados e com potencial de desenvolvimento.
Entre nós, a situação não é tão clara. Primeiramente, as modificações tecnológicas estão levando contingentes crescentes de trabalhadores ao desemprego. Quem se lembrar de como era uma agência de banco há 10 anos atrás, percebe que já não há tantos bancários. O mesmo ocorreu no chamado chão de fábrica. Os sindicatos de metalúrgicos estariam sua força da união de trabalhadores, que eram numerosos nas indústrias. Hoje, as fábricas estão enxutas, com muito menos operários. E isso acontece não só em países em crise como o Brasil, mas em todo o mundo.
Para a juventude que percebe o desafio destes tempos, é importante se associar a esse processo de inovação tecnológica. É evidente que não há emprego para todos os jovens, mas dá para perceber para onde caminha o mercado de trabalho e ficar dentro dele. Para os mais velhos, a situação é mais problemática. Temos profissionais que investiam sua vida para dominar técnicas que hoje estão separadas e já ouvimos falar de sucateamento de profissões. Também precisam de emprego para viver.
Olhando para os Estados Unidos, que parece um modelo distante, verificamos que não é um único mercado que cresce, não são só as profissões da nova tecnologia. A medida que aquele país cresce - e está crescendo mais que o Brasil, nos transformando em relativamente mais pobres que os americanos - as oportunidades vão se multiplicando, até em profissões menos atraentes.
Nova lição para nós. Não basta contar com uma juventude ansiosa por aprender. E preciso que o país cresça para que as oportunidades voltem a existir. Daí a importância de um ambiente propício onde os frutos da tecnologia tenham condição de se desenvolver, através da inteligência desses trabalhadores especiais que são os cientistas e os tecnólogos, que vão abrindo caminho para que se gerem mais postos de trabalho também no Brasil. Não estaremos condenados ao desemprego, se internamente explorarmos nossas capacidades e as de nossas empresas. Por enquanto, somos obrigados a conviver com o paradoxo do desemprego. Por incorporarmos as tecnologias mais modernas, vemos as dificuldades de emprego de uma parcela importante da população. Sabemos, todavia, que distribuindo os resultados dessa maior produtividade estaremos criando as soluções para que haja empregos para todos os que querem trabalhar.
Walter Barelli é Secretário do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo e foi Ministro do Trabalho e diretor técnico do Dieese
Fredric Litto
É claro que a presença do computador aumenta o acesso informação. Se você enfrenta o problema da educação enviando 10 mil livros para cada escola pública do Brasil, as coisas podem ficar ainda mais complicadas. Os mais recentes dados do MEC apontam que menos de 15% das escolas de primeiro e segundo grau possuem biblioteca, essa é uma situação calamitosa. Se um aluno tiver de ler uma obra do Machado de Assis como parte de seu currículo, ele não encontrará esse livro na biblioteca de sua escola. Mas por outro lado, imagine a colocação de 10 mil livros em bibliotecas escolares no Brasil. Será um enorme problema. O livro é muito caro, e ,além disso, é necessário que haja um espaço para isso, estantes, várias salas, se fará preciso um bibliotecário etc. Enquanto que a tecnologia nos permite colocar dez mil livros em cinco
CD ROMs a um real cada. E mais, com a Internet é possível levar o conteúdo de quase 100 mil livros para alunos espalhados em todas as cidades do Brasil. Todas essas pessoas podem ter acesso a todo conhecimento humano, em português, através da tecnologia.
Creio que nós estejamos caminhando para isso. O que não significa amanhã ou depois, talvez demore 30 anos. Porém não há porque esperar que com os computadores seja diferente do que foi com o rádio, a televisão ou o telefone. Nesse meio tempo, eu não penso que aqueles que não têm acesso agora sejam prejudicados, essas pessoas contam ainda com a tecnologia que sempre existiu: os livros, revistas, apostilas. É claro que a outra parcela da sociedade que pode ter um computador são beneficiados, mas isso é um problema da política. Há dinheiro suficiente no Brasil para fornecer computadores e acesso a Internet para todas as escolas, mas não há vontade política por parte do Congresso Nacional e das Assembléias Legislativas. Há um movimento nesse sentido mas em quantidade insuficiente. Os recursos que estão sendo disponibilizados não estão atendendo as necessidades do país. Mas isso não é um problema da tecnologia em si. Ela, a tecnologia, simplesmente existe.
Porém, simplesmente instalar esses equipamentos em salas de aula não resolve o problema. São necessários sites com informações em bom português, pois isso é útil para o aluno. Se a educação é cara, investir em ignorância é muito mais. Não há alternativa, é preciso investir em melhoria da educação. Caso contrário o país não aguentará as mudanças que obrigam os países a competirem. Infelizmente essa a única coisa que irá fazer com que os governantes finalmente invistam em educação. Deveria haver motivos mais nobres para isso, mas a realidade não é essa.
Quanto a questão do papel dessa tecnologia na sociedade como um todo, creio que ela aja com um instrumento de inclusão social cada vez maior. Temos de ter uma atitude positiva caso contrário é melhor fechar a loja e ir para a praia. Temos de ser otimistas no sentido de capacitar professores, colocar equipamentos, levar os alunos até os sites mais interessantes da Internet. Seria excelente se os jovens pudessem ter acesso a essa tecnologia também fora da sala, como nos países desenvolvidos onde os alunos têm um computador mais desenvolvido em casa que na escola. Aqui também até acontece isso com os jovens de classe média, a diferença é que no Brasil a classe média representa menos da metade do país. Mas eu prevejo que daqui há uma geração, cerca de 20 ou trinta anos, o computador seja tão popular quanto a TV. Mas para isso é preciso que a iniciativa privada também dê sua parcela de contribuição. O empresariado brasileiro é míope, não consegue enxergar seu futuro daqui há 10 anos. Com isso, ele não percebe que se ele não investir na educação de seu próprio país, não haverá mão de obra qualificada para o futuro. Eles parecem se interessar pelos próximos 12 meses.
Mesmo assim, nós da Escola do Futuro somos muito otimistas, acreditamos que a educação vai melhorar com a ajuda dessas novas tecnologias e de novos conceitos pedagógicos. Mas é um otimismo "pé no chão" e não simplesmente sonhador. Até os "inimigos" do nosso trabalho estão se rendendo às nossas idéias.
Fredric Litto é professor doutor titular da Faculdade de Comunicação e Arte da USP e coordenador científico do núcleo de pesquisas Escola do Futuro
Cláudio Salles
A partir do próximo dia 22 de fevereiro, chegarão os primeiros computadores e periféricos às escolas públicas brasileiras. A ação faz parte do nosso Programa Nacional de Informática na Educação (Proinfo), que tem como meta cuidar da informatização de toda a rede pública escolar e promover a capacitação de professores para que estejam aptos a manejar os recursos
da Informática e ensiná-los aos alunos, além de utilizá-los com prioridade no plano pedagógico para transmitir de forma criativa e enriquecedora os conhecimentos curriculares.
Nesta fase inicial, 2.646 escolas receberão 29.748 computadores eacessórios. Embora fosse nosso desejo, é impossível, por razões financeiras e operacionais, atender de pronto a todas as 240 mil escolas da rede pública de níveis Fundamental e Médio, beneficiando seus 36 milhões de alunos. Nosso gesto, creio, responde por si à questão proposta pelos editores da Revista E, do SESC: o computador e a Internet estariam colocando todos num mesmo patamar quanto ao acesso à informação ou apenas aumentariam as diferenças culturais e financeiras através do domínio dessa tecnologia?
Pelo que propicia, o computador assumiu extrema importância na vida moderna, seja no mundo pessoal, profissional, econômico, político e educacional. O mundo o utiliza e o utilizará cada vez mais. Por isso, seria um erro não investir na educação pela Informática. Significaria limitar o acesso à informação, ao conhecimento e ao domínio de uma tecnologia indispensável e geradora de riqueza. Isso não queremos para ninguém, ainda mais para crianças e jovens, a quem desejamos garantir condições de empregabilidade num mercado cada dia mais exigente. A informatização escolar, aliás, está afinada com a reforma do ensino médio e profissional que estamos promovendo de modo a possibilitar ao estudante que se adquira conhecimentos do seu interesse e que consiga tocar sua vida profissional independentemente. Ao levar o micro e o saber sobre o micro para a sala de aula, tomamos essa decisão dentro do conceito da formação integral universalizante, voltada ao crescimento da pessoa, e também do critério de eqüidade, pois nas escolas privadas a Informática é uma realidade. Como não poderia deixar de ser, o Proinfo vem sendo desenvolvido em parceria com Estados e municípios, tendo o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) como articulador das ações. São os Estados que definem o modo como querem usar a Telemática depois de consultar as escolas, os pais, os membros do Conselho Escolar, da União dos Dirigentes Municipais den Educação (Undime) e das Secretarias de Educação. Não é demais observar que nos debates não se perde de vista que o objetivo do Proinfo é usar a informática como recurso pedagógico para melhorar o ensino-aprendizagem na escola. Não se trata só de aprender Informática. Tendo condições de manejar o computador com proveito em sala de aula, a escola é incluída no programa. E condições, aí, também inclui contar com professores habilitados a utilizar a informática educacionalmente. Por isso decidimos capacitar professores da rede pública. Ao todo, até agora, 1.419 deles receberam formação. Os professores estão fazendo cursos de pós-graduação lato sensu em universidades parceiras e atuam como multiplicadores desse conhecimento aos colegas nos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE), centros responsáveis pela assistência pedagógica e técnica às escolas, e que podem funcionar como provedores de acesso à Internet. Vamos em frente nesse processo, contando, hoje, com um importante engajamento à iniciativa, como provam os mais de cem e-mails enviados diariamente somente ao Proinfo, pedindo inclusão no programa, equipamentos, indagando da possibilidade de agregar ao esforço do poder público a participação comunitária e outras informações.
No mundo globalizado, mais do que nunca, a única saída é a Educação. Simplesmente, foi-se o tempo em que recursos naturais abundantes e mão-de-obra barata constituíam um valor em si mesmo. E a Educação, obrigatoriamente, passa hoje pelo conhecimento da Informática.
Cláudio Salles é diretor do Proinfo (MEC)
Luciano Martins
Os debates sobre a tecnologia digital e a Educação me fazem lembrar uma frase do jornalista Jorge Guimarães sobre a inversão de valores e prioridades que costuma ocorrer entre pensadores desta nossa aldeia diante dos choques de modernidade: "Parece que em vez de o cachorro abanar o rabo, o rabo é que está abanando o cachorro". Vamos andar unscem anos para trás, até Paris da última virada de século, Champ de Mars, a feira que teve como atração absoluta o veículo autotracionado. Vamos tirar os olhos daquela máquina maravilhosa e dar uma olhada naquele panfleto de autoria da Alphonse Daudet distribuído nos cafés numa daquelas tardes de 1900. "L’Automobille c’est la guerre", diz o título. O automóvel, inventado no ambiente militarista e no cenário político marcado pelos últimos estertores dos grandes impérios, era, dizia o texto, o estopim que faltava para a conflagração da Europa. Contra os regimentos de lanceiros e cavaleiros originários das batalhas medievais, a nova máquina representava tal vantagem que certamente os poderosos não resistiriam à tentação de provocar nova guerra para anexar territórios de nações ainda movidas a cavalo. Foi o que sedeu. Pode-se dizer, hoje, que, num cenário de desigualdades sociais absurdas, num ambiente em que a celebração do indivíduo por todos os meios induz à busca do sucesso a qualquer preço, a tecnologia digital é geradora de uma outra espécie de guerra, na qual os oponentes se distinguem por possuir ou não acesso à informação. Terá mais oportunidades, certamente, quem se houver educado no ambiente mais bem informado.
Mas, atenção, e é aqui que, como diz Guimarães, o rabo balança o cachorro: informação não é conhecimento. Aliás, da forma como a informação tem sido empacotada pela mídia em quase todo o Planeta, ela tem se caracterizado por ser mais propriamente geradora de desconhecimento. Está claro que o computador e o acesso à Internet serão por muito tempo apenas uma longínqua referência para a maioria das pessoas. Mas também não se pode afirmar que possuir um computador ligado à rede seja garantia de melhor educação. Isso garante exclusivamente melhores oportunidades. É preciso saber encontrar nos monturos cibernéticos aquilo que realmente seja proveitoso.
A educação é condição prévia. Um insensato informatizado segue sendo um insensato. Apenas se diferencia de um insensato sem computador pelo fato de que tem mais chances de ser reconhecido e se tornar alguém na comunidade dos néscios. Pode virar uma celebridade, e até ser tido como educador, com direito ao seu próprio site. Basta alguma esperteza para manipular apropriadamente as informações a que tem acesso. Educação é outra coisa. Alimenta-se de reflexões e produz reflexões. Aí o computador faz diferença, na medida em que pode ser usado como ferramenta na busca de referências, no intercâmbio de idéias com integrantes de outras tribos, o que sem dúvida amplia a tolerância e ensina a aprender. É quando, mais apropriadamente, o cachorro agita o rabo.
Luciano Martins é editor da NetEstado
Marcelo Giordan
Procuro registrar aqui algumas idéias sobre tecnologias recentes de informação e comunicação, lançando o olhar de educador atento às velozes e complexas transformações pelas quais a sociedade vem passando neste fim de século.
O rádio inaugura uma fase de transmissão disseminada da informação com algumas particularidades significativas, sendo duas de destaque. A primeira é o poder de penetração imediata da informação, que agora é dada a público em tempo real. É bem verdade que o telégrafo, desenvolvido na primeira metade do século 19, e o telefone, seu sucessor mais amigável, já anunciavam as informações em tempo real. No entanto, enquanto pronunciadas, as palavras e frases são enviadas e recebidas para e por localidades distantes, juntando simultaneamente multidões, que passam a tomar ciência do que um determinado centro de produção de informações divulga. A segunda particularidade é o resgate da oralidade como modalidade comunicacional. O rádio ao longo deste século democratizou o acesso à informação não somente por ter feito uso da fala, que, como sabemos, é uma técnica extremamente eficiente de transmissão de informação e elaboração do pensamento, mas também por ter inaugurado a era da comunicação de massa não presente em tempo real.
Já em meados do século 20, a humanidade agrega à capacidade de transmissão disseminda da informação oral a informação imagética. A televisão, radicalizando as profundas transformações trazidas pelo cinema à comunicação humana, permite agora fundir imagem e som num evento comunicacional de natureza não presencial. Do resgate da oralidade, sustentado pelo rádio, passamos com o auxílio dessa tecnologia pelo resgate da imagem, que ganha animação.
É importante estarmos cientes que essas duas tecnologias, o rádio e a televisão, são fortemente moldadas por construtos técnicos mais e mais sofisticados e que o contrato social hora vigente é mediado por essas técnicas. Há seguramente poucos sem rádio e sem televisão que fazem uso da tecnologia para receber informações, como há, por outro lado, pouquíssimos que fazem uso da tecnologia para transmitir a informação. Rádio e televisão, da forma como técnica e socialmente são concebidos e utilizados, ampliam a capacidade do sujeito de receber informações, mas reduzem sua capacidade de anunciá-las. De um lado, ampliando, inlcuem-no; por outro lado, reduzindo, excluem-no.
Para completar o quadro, é necessário nos determos sobre a tecnologia de informação e comunicação mais influente em nossos tempos, o computador. Nascido pela necessidade de acelerar o processamento numérico, essas enormes máquinas em meados desse século eram guardadas como segredo de Estado, mas, à medida que seus custos e tamanho diminuem, sua penetração na sociedade aumenta, ganhando rapidamente o adjetivo de pessoal. De máquinas processadoras de informação passam a ocupar o lugar de elementos constituidores de redes eletrônicas de comunicação, sendo a Internet a mais conhecida e difundida atualmente.
Muitas são as especificidades dessa tecnologia, importando no momento destacar sua capacidade de incorporar o elenco das principais modalidades comunicacionais, a escrita, a imagem e a fala. Uma análise precipitada e ingênua dessa capacidade de integração poderia sugerir que o desenvolvimento das redes de computadores tende a ampliar as oportunidades de acesso às informações, subsidiando assim um movimento de inclusão da população na sociedade da informação. É necessário reconhecer que a integração dessas técnicas comunicacionais, tendo sido resgatada nessa fase a escrita, é por si só bastante complexa quando priorizamos que o sujeito se aproprie da tecnologia enquanto recurso de enunciação e não apenas de recepção.
Se quisermos dotar o computador de capacidade de inclusão social, é preciso romper com o paradigma de disseminação da informação por poucos e recepção por muitos (presente também nas escolas), que encontra-se umbelicalmente atrelado à iniqüidade distributiva dos bens materiais. Neste novo espaço de convivência do coletivo, cada vez mais globalizado, é preciso cultivar a formação de um sujeito enunciador, participativo, apoiado nos mais elavados valores morais, fundamentos da melhor educação sob qualquer tempo, em qualquer espaço.
Marcelo Giordan é professor Departamento de Metolodologia do Ensino da Faculdade de Educação da USP
Luiz D. Massaro Galina
Nos últimos 20 anos, minha atuação profissional tem sido fortemente relacionada à tecnologia de informação. Tanto como coordenador ou participante de grupos multiprofissionais de planejamento, venho me envolvendo com as questões de modernização administrativa do Sesc, participando ativamente dos estudos que fundamentaram as principais tomadas de decisões quanto aos caminhos estratégicos que adotamos em relação à informática nessas últimas duas décadas.
Não tem sido uma tarefa fácil. Primeiro foram as barreiras que limitavam e, muitas vezes, impediam a importação de soluções que sabíamos que eram melhores que as disponíveis no mercado interno brasileiro. Fazíamos verdadeiras acrobacias administrativas para enquadrar nossos projetos nos limites, às vezes estreitos, que a legislação nos impunha. Perdemos muito tempo com isso.
Quando nosso mercado começou a se abrir, enfrentamos um outro tipo de dificuldade. Agora, era a multiplicidade da oferta e a velocidade de mudanças que nos atropelavam. Tínhamos a convicção que ao definir uma solução, depois de meses de estudos, na chegada dos equipamentos, ela já estaria tecnologicamente superada, pois com certeza já haveria no mercado um novo produto mais adequado e com menor custo.
Tínhamos – e ainda temos – que nos reciclar rapidamente, superando em muitas situações a própria desinformação dos fornecedores, que não dominavam totalmente o conhecimento sobre suas linhas de produtos e serviços.
Fizemos investimentos de porte. Nosso parque de informática abrange 26 unidades operacionais, além da sede, interligadas através de linhas de dados privativas, com 36 servidores e aproximadamente 600 microcomputadores e 400 terminais, compondo uma rede corporativa que processa uma carteira de 28 sistemas. Agregados a essa rede estão os serviços de acesso à Internet através de link próprio e o Correio Eletrônico interno e externo para todas as estações, permitindo a total e instantânea comunicação entre todas as unidades.
Nos momentos de tomada de decisões, não só pela questão econômica, mas principalmente porque as soluções implicavam profundas mudanças na organização do trabalho, novas estruturas organizacionais, mudanças radicais nos regulamentos e processos operacionais, necessidade de reciclagem acelerada de centenas de funcionários, definição de novos perfis profissionais etc., fazíamos sempre a clássica pergunta: será que vai valer a pena? O antigo funcionava e resolvia, será que o novo vai ser melhor? Em nosso país, com situações crônicas de desemprego, não seria mais conveniente implantar processos que exigissem mais o trabalho humano?
Analisando de maneira retrospectiva, podemos afirmar categoricamente que valeu a pena. É preciso destacar que desde o início deste processo de modernização e informatização deixamos claro que ninguém perderia o emprego em decorrência dessas mudanças. Pelo contrário, a informatização vem impulsionando o crescimento profissional dos funcionários, na medida em que aumenta o grau de eficiência, produtividade e responsabilidade individual de cada um dos que operam com equipamentos de informática.
Isto foi facilitado, em grande parte, em consequência da expansão da rede de unidades operacionais e serviços pela qual o Sesc passou nos anos 80 e 90.
Em vez de ampliar o contingente de seus profissionais, a tecnologia de informação aplicada no Sesc permitiu o crescimento acentuado da produtividade de seus empregados, principalmente daqueles que atuam em áreas administrativas e de atendimento ao público.
Esses ganhos de produtividade possibilitaram direcionar mais recursos para a expansão da oferta de serviços e atividades, ampliando significativamente o número de cidades, bairros e pessoas atendidas. Se não fossem essas inovações trazidas pela tecnologia de informação, com certeza o Sesc seria hoje menor do que é, e, principalmente, não teria atingido o elevado padrão de qualidade no atendimento do público de seus diversos programas, atividades e serviços.
Entendemos que não é barrando ou limitando o acesso a essas tecnologias que vamos resolver o problema do emprego. No caso do Sesc, a informática tem sido, dentre outros, um fator importante no incremento da rede de unidades e serviços, dando chance de empregar mais e atender melhor a um número cada vez maior de trabalhadores, contribuindo assim para a qualidade de vida.
Luiz D. Massaro Galina é Superintendente de Administração do Sesc