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Em São Paulo, tem Carnaval!

Quem disse que São Paulo não tem Carnaval e que paulista não sabe sambar? A cada ano que passa a folia aumenta mais. Este ano quem resolveu curtir o Carnaval paulista teve diversão garantida num roteiro que atendeu a todos os gostos e idades.

O dólar aumentou, a inflação ameaça voltar e até boato de confisco rolou. O turbilhão econômico que assolou o Brasil nessa entrada de ano abalou, de A a Z, quase todas as instituições do país: públicas ou privadas, filantrópicas ou com fins lucrativos, pequenas médias ou grandes, nacionais ou multinacionais, governamentais ou não governamentais. Enfim, o país está abalado. No entanto, ao menos uma entre todas as instituições brasileiras que, dispare o dólar ou não, não se abala: o Carnaval.

Por incrível que pareça ela depende só e tão-somente da vontade do brasileiro. E mais, se o número de pessoas que o respeitam e o reverenciam todos os anos fosse um indício de que tudo vai bem no Brasil, seríamos a maior potência do mundo. Infelizmente, a magnitude da festa não serve de indicador econômico, mas dessa vez a inabalável alegria que inunda as ruas e os salões durante quatro dias continua fazendo do Carnaval brasileiro o maior show da terra.

 

Carnaval a paulista

É certo que qualquer lugarejo arruma sua festa, mas algumas cidades já se consolidaram como grandes redutos carnavalescos do país. No Nordeste, sem dúvida, os grandes festejos estão na Bahia e em Pernambuco. Para esses lugares se deslocam milhares de turistas do país e do mundo inteiro, que lotam as ladeiras de Olinda e a orla de Salvador.

Na direção sul do país o Carnaval cresce a cada ano. Durante muito tempo, a apoteose tinha como único palco o Rio de Janeiro. A Marquês de Sapucaí, sambódromo oficial fluminense, sedia três dias de desfile, com 16 escolas do grupo especial e recebe, em média, 64 mil pessoas para sambar na avenida. Isso sem contar os milhares de espectadores que vão para o "ziriguidum" nas arquibancadas. O espetáculo só acaba depois da votação do melhor desfile, mas começa muitos meses antes, com os ensaios nas quadras das escolas.

E São Paulo? Pois é, para ou paulistas que já estavam bradando argumentos bairristas contra os vizinhos cariocas, que têm por hábito caçoar do nosso Carnaval, aqui vai uma boa notícia: São Paulo tem muita festa, sim senhor, como atesta em primeira mão o "carioquissímo" poeta e compositor Aldir Blanc em recente entrevista à Revista E: "As gozações ao Carnaval paulista são saborosas, mas não se justificam. O Carnaval de São Paulo cresceu em qualidade e nos anos de 1997 e 1998 ensinou com sobras umas coisinhas aos professores cariocas e baianos" (não somos o túmulo do samba!).

É nítido o espaço que o Carnaval vem conquistando. Assim como no Rio, os ensaios das escolas do Grupo Especial são diversão garantida. A cada ano que passa mais e mais pessoas descobrem a bateria de escolas como a da Vai-Vai, no Bexiga, ou a da Gaviões da Fiel, no Bom Retiro. "Nunca tinha ido a um ensaio de escola de samba e muito menos desfilado na avenida. Sempre tive curiosidade e este ano decidi ir porque desde o ano passado venho notando que o Carnaval paulistano está mais bonito e muito mais organizado. Fiquei emocionada quando a bateria da escola começou o batuque que nos levou durante uma hora e meia pelas ruas da Bela Vista" , descreve a estudante Bianca Di Thomazo, da Vai-Vai.

Além do desfile das escolas e clubes tradicionais, houve outras opções para a diversão dos paulistas. Nas unidades do Sesc o que não faltou foi animação.

Na capital, o roteiro da folia foi extenso. No Sesc Santo Amaro a farra começou já no dia 1o de fevereiro com a abertura do Sesc Cai e Pira na Folia de São Luiz do Paraitinga, e só acabou no dia 16, com o encerramento do Carnaval. A idéia foi reproduzir, no espaço da unidade, o tradicional Carnaval de São Luiz do Paraitinga, pequena cidade do Vale do Paraíba no Estado de São Paulo. Para resgatar o rico conteúdo popular presente no Carnaval da cidadela, as atividades que preencheram os 16 dias de programação permitiram que o público criasse seu próprio Carnaval através da realização de oficinas e das saídas diárias de blocos que reinventavam o divertidíssimo ambiente carnavalesco de São Luiz. A programação contou também com show de Emilinha Borba e do grupo instrumental Aquilo Del Nisso, além das aulas de danças e ritmos populares, das animações em plena rua com marionetes e com a saída do Bloco da Maricota e o Bloco Infantil do Sesc.

No Sesc Belenzinho, o Carnaval também foi agitado. Por lá, a festa foi aberta oficialmente pela rainha da dance music brasileira, a cantora carioca Fernanda Abreu, que levou para o público um mix de samba com funk. Além do batuque carioca, o Sesc Belenzinho foi animado pelo Bloco na Rua, que desfilou pelas ruas próximas a unidade levando todos que participaram das oficinas de pipa e bexiga.

No centro da cidade, o encarregado dos folguedos foi o Sesc Carmo, que organizou várias atividades envolvendo temas carnavalescos. Entre oficinas de máscaras e fantasias infantis, apresentações de marchinhas para o público juvenil e um baile para terceira idade ao som de Ataulfo Alves, pessoas de todas as idades tiveram diversão garantida. Mas a grande atração foi a homenagem à eterna Carmen Miranda. A "pequena notável" foi celebrada durante o mês inteiro na série de shows apresentados no restaurante da unidade. Para completar, a cantora Maria Alcina interpretou seu repertório no show Faceirice, ao ar livre, na esquina da rua Barão de Itapetininga com a Dom José de Barros.

Outro ponto bem animado na cidade foi o bairro da Vila Mariana, mais precisamente na praça de eventos da unidade do Sesc. Por lá, a Banda Bate Lata, formada por 20 adolescentes do Jardim Santa Lúcia, bairro da periferia de Campinas, mostrou ao público um trabalho que mistura em seus arranjos, instrumentos convencionais de percussão com instrumentos construídos a partir de sucata, canos de PVC, latões etc. O repertório escolhido pela banda primou pelo ecletismo e presenteou os foliões com a batida do rap e do funk alinhada ao batuque do samba de roda, do baião e do maracatu. "Estava um pouco chateado por não ter podido sair de São Paulo. No entanto tive uma boa surpresa. Não imaginei que me divertiria tanto ficando aqui no Carnaval", comentou Paulo Hebert Mendra que sambava ao batuque da Bate Lata.

No Sesc Pompéia, a grande folia anual contou com grupos artísticos que retrataram diversas manifestações culturais e inúmeras formas de expressar a festividade no país. Entre os grupos que retrataram as festejos brasileiros, estiveram por lá a Cia. Cênica Nau de Ícaros que percorreu a unidade num cortejo de dança, música, circo e técnicas de alpinismo; A Cabra Alada, que apresentou um vasto repertório de ritmos e danças populares enriquecidos por figurinos típicos dos folguedos de Pernambuco e o Bloco do Camaleão, que reuniu atores e público em um animado desfile ao som da bateria da Escola de Samba Colorado do Brás. "Vir para cá tornou-se uma opção para fugir do Carnaval massificado e encontrar originalidade com espírito de brincadeira. O Carnaval daqui já saiu vitorioso", diz o folião Wilmar de Mello em meio à apresentação da Nau de Ícaros. Maria Aparecida Gouveia, mãe da menina Gabriela Gouveia, também encontrou no sábado de Carnaval no Sesc Pompéia uma boa opção para se divertir: "É a primeira vez que venho ao Pompéia durante o Carnaval. As crianças estão adorando. Ficam super interessadas nas fantasias que passam e nas brincadeiras. Pretendo voltar amanhã e também conhecer o Carnaval das outras unidades".

Oficialmente, o Carnaval terminou no dia 16, mas como desgarrar da folia é doloroso algumas unidades, como o Sesc Vila Mariana e o Sesc Pompéia, esticaram sua programação. Nelas o batuque demorou a silenciar e a quarta de cinzas só chegou no fim do mês depois de diversas apresentações de marchinhas carnavalescas, de muito samba-enredo e de apresentações bem-humoradas que retrataram o Carnaval do Brasil afora.

Enfim, a festa acabou. Para os otimistas a boa notícia é que a folia volta o ano que vem. Já os pessimistas entendem direitinho a mensagem do frevo pernambucano que, desolado com o fim da festa nas ladeiras, grita todos os anos: "Oh, quarta-feira ingrata chega tão depressa só pra contrariar...".

 

De outros carnavais...

Atualmente o Carnaval leva multidões para as ruas. Mas nem sempre foi assim. Aliás não faz muito tempo, a festa, ao contrário de aproximar as pessoas, só deixava mais clara a segregação social e racial. Pesquisas de caráter socióhistórico indicam que a trajetória de desenvolvimento do Carnaval no Brasil pode ser dividida em três fases.

Na primeira, vigorava o Entrudo, um jogo trazido pelos colonizadores portugueses, no qual utilizava-se água perfumada, disparada pelos foliões através de bisnagas ou seringas. Às vezes, a brincadeira ficava mais violenta incluindo banhos forçados em chafarizes.

Mesmo com a participação de senhores e escravos nos festejos, análises mais cuidadosas revelaram que no Entrudo geralmente se confraternizavam membros de um mesmo estrato social. Os negros e mulatos eram as vítimas preferidas dos brancos ou funcionavam como simples carregadores dos utensílios usados nas brincadeiras.

Já na segunda fase, houve o aburguesamento dos folguedos e a camada urbana melhor situada passou a copiar o modo europeu comemorar o Carnaval. Naquela época, foram introduzidos, inicialmente no Rio de Janeiro, os bailes de máscara e os desfiles, quando a burguesia luxuosamente fantasiada e acomodada em carruagens decoradas, percorria as ruas da cidade enquanto o povo se postava passivamente ao largo do corso.

A partir 1920 (que marca a terceira fase), o Entrudo passou a ser fortemente reprimido devido à violência. Foi quando surgiram os festejos carnavalescos baseados em comemorações religiosas como Cordões e os Ranchos. Mais tarde, como desdobramento desses cortejos, surgiram as primeiras escolas de samba dando início ao caráter popular que conhecemos hoje.

 

Folia também no litoral e no interior

Não foi só os paulistanos que caíram na folia no Carnaval. No litoral e interior a folia também foi grande. Em Santos, a unidade do Sesc levou os festejos populares para seu ginásio de esportes e promoveu quatro dias de diversão nas matinês que se estendiam durante toda a tarde.

No Sesc São Carlos, a programação de Carnaval começou com as oficinas de Alegoria e Máscaras que aconteceram na semana pré-carnavalesca. Já a festa propriamente dita foi aberta oficialmente com uma folia dentro d’água que rolou ao som de muito axé e samba. Durante uma hora e meia, o professor Paulo Cirio coordenou o baile dentro da piscina.

No Sesc Bauru, a festa também começou antes da data oficial e só terminou uma semana depois. De 3 a 20 de fevereiro o evento Ó Abre Alas ambientou a unidade no clima dos antigos carnavais da cidade. Imagens coloridas por computador levavam o espectador a acreditar que estava entrando em um antigo baile. A programação do evento se dividiu entre oficinas de máscara e os shows do grupo Calungas do Passo, que apresenta uma fusão de frevo, maracatu, coco, xaxado e outra manifestações do Carnaval pernambucano, além da Banda dos Coringas que brincou com os foliões entre marchinhas e sambas de salão.