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Nosso quintal comum

Os espaços públicos aproximam as pessoas, promovem a arte e divertem. São nosso exercício maior de cidadania.
Na cidade de São Paulo é comum uma pessoa sair de sua casa, entrar no carro, fechar os vidros, ligar o ar-condicionado, atravessar três grandes avenidas e chegar... a outro prédio. Ela atravessou parte da metrópole utilizando uma das mais importantes instituições de uma cidade: a rua. Mas nem prestou atenção nela. "Estamos retornando à era medieval quando as pessoas pagavam para viver dentro de cidades muradas e para viajar de uma cidade a outra precisavam colocar armaduras", explica Regina Meyer, arquiteta e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP). "A rua é o mais humano dos artefatos da cidade. Ela simboliza a vida pública, com suas festas e lazer, e também seus conflitos. É o contraponto absoluto com a casa. É um espaço muito democrático. Nas grandes cidades, a rua encontra um inimigo insuperável: o automóvel. Estamos simplesmente nos transportando de espaço privado para espaço privado", atesta. Ignorar a rua é abdicar da vida pública. Perde-se a consciência da cidade e de sua diversidade. "Os espaços vitais de uma cidade são aqueles que obrigam o convívio. São as ações na vida pública que criam o espaço público", diz.
De um riqueza ímpar, São Paulo deveria olhar com mais carinho para seus centros públicos e, portanto, abertos e democráticos. Nesses locais, os povos que ergueram a cidade se manifestam, num fluxo extravagante de cultura. Ao tomar praças, largos e ruas, a população trava contato consigo mesma, com vizinhos de gostos e procedências antagônicas. As demonstrações culturais e esportivas que fazem dos espaços públicos seu palco têm múltiplas funções: a primeira é difundir o bem-estar; a segunda é quebrar a distância que a própria cidade impõe aos habitantes; e a terceira tem proporções metafísicas, pois, ao servir à população, o espaço público realça sua função social, coloca-a em evidência ressaltando a importância histórica e demonstrando aos cidadãos a necessidade de respeitar-se. Quando isso ocorre, excelente. Mas a realidade (como sempre) não acompanha a teoria.
Para a arquiteta, a vida nos espaços públicos, apesar de fundamental, é difícil de acontecer em uma cidade com desigualdades sociais como São Paulo. "A vida na rua exige contato social. Se somos muito distintos, a mistura é complicada. Passamos a viver a ilusão dos condomínios", completa.
Misturar-se implica uma atividade que só pode acontecer no conjunto da sociedade. "Um shopping, apesar de público e gratuito, já não demonstra heterogeneidade, pois tem sua milícia, suas inacessibilidades. Daí a importância dos espaços públicos. O Anhangabaú, no centro da cidade, permite que todas as classes sociais se cruzem", analisa Regina.
Além de democrático, o centro metropolitano é característico pela sua multifuncionalidade. Nele se concentram patrimônios muito distintos (turístico, gastronômico, histórico, governamental, educacional, financeiro e comercial). Por isso, o centro atrai volume gigantesco de pessoas de todas as classes. "Os distritos Sé e República têm 4,4 quilômetros quadrados, menos de 0,5% da área urbana total da cidade, que é de mil quilômetros quadrados. Apenas nesses dois distritos se concentram 11% dos empregos da cidade, e 25% da população que se movimenta na região metropolitana de São Paulo converge para lá. São 80 mil residentes, mais 2,5 milhões de circulantes por dia. São números impressionantes", diz Marco Antônio de Almeida, diretor executivo da associação Viva o Centro, criada em 1991 para promover o desenvolvimento do centro de São Paulo.
Mas por que é tão importante a preservação histórica? "Para criar nossa identidade. A avenida Paulista é só uma avenida, tem em toda grande cidade. A identidade da cidade é dada pelo seu centro. Ela resulta do processo pelo qual os valores do seu patrimônio histórico, arquitetônico, cultural e econômico são percebidos e apropriados por seus cidadãos", responde Almeida.
Folclore
Não só as ruas do centro estão recheadas de espaços cheios de história a serem revigorados. O Parque da Água Branca, com 135 mil metros quadrados, luta pela preservação de seus edifícios do começo do século e dos antigos pavilhões de gado, que já serviram de alojamento para pracinhas na Segunda Guerra Mundial. A administração do parque sentiu na pele o descaso com os espaços públicos. "Em 1996 quase viramos estacionamento e shopping center", lembra Andreia Ornelas, da diretoria de eventos do parque.
Além do aspecto histórico, o parque abriga uma entidade que promove, como ninguém, a riqueza da vida pública da cidade. Toninho Macedo, fundador do Grupo Abaçaí Cultura e Arte, instalou-se há mais de um ano no Parque da Água Branca. A administração cedeu o espaço e, numa troca para lá de saudável, o grupo revitalizou o espaço e o próprio parque. "Nossos ensaios, que são sempre ao ar livre, acabam virando pequenos espetáculos, com público grande", lembra Toninho. Além dos ensaios, o grupo promove diversos espetáculos e, mensalmente, traz um espetáculo folclórico do interior para se apresentar no Água Branca, dentro do projeto Encontros com o Folclore.
Cerca de 50 crianças participam regularmente das atividades do Abaçaí. Além de dança, acrobacia, música e percussão, as crianças ajudam na confecção de máscaras e adereços para os espetáculos. Quando se cansam de tanta atividade cultural, brincam um pouco no parque. "É um espaço único para elas. Estão aprendendo dentro de um parque, que é sinônimo de lazer", diz Toninho.
Qualquer criança pode participar, mas deve haver um comprometimento dela e dos pais para que sua participação seja regular. "Ação cultural tem que ser ação permanente", enfatiza Toninho. E completa: "Tem que ser também uma ação inclusiva", referindo-se às diferentes classes sociais das crianças que participam do projeto. A proposta do Abaçaí coincide com a de qualquer espaço público: promover a mistura.
Pela localização ímpar do Abaçaí, grupo e parque ganharam muito. "Existe aqui uma fruição direta dos usuários do parque com a produção e apresentação de nossos espetáculos", explica Toninho. Alia-se a isso a segurança, a infra-estrutura e o fácil acesso que o parque oferece, atraindo todos os segmentos da sociedade. "Acaba acontecendo um fluxo democrático e permanente das atividades populares. A frente da sede virou um terreiro, o pessoal ouve música", completa. A administração do parque, por sua vez, também só tem o que comemorar.
"Graças à iniciativa do Toninho Macedo estamos construindo uma casa de caboclo, de pau-a-pique", conta Andréa. A casa é um modelo fiel das casas simples do interior e vai produzir pratos típicos. "Já levamos o público para socar paçoca no pilão. Foi uma festa", conta Toninho. Andreia lembra com gosto do maracatu e das batucadas que o grupo Abaçaí promove nos fins de semana.
A pesquisa folclórica do grupo coincide com a proposta única do parque, a de promoção de eventos agriculturais. "Queremos aculturar as pessoas sobre agricultura", explica Andreia. Além das exposições de gado, sempre abertas ao público, acontece todo ano a Romaria dos cavaleiros do interior. Andreia lembra ainda da Feira da Cadeia Produtiva, evento que acompanhava desde a produção até o consumo de produtos como o café, o leite e o mel. "Muitas crianças ficavam chocadas quando aprendiam que o café vem de uma planta", lembra Andreia. Infelizmente, as feiras foram interrompidas por falta de dinheiro.
De volta ao passado
Muitas vezes enfrentando falta de verba, os parques acabam encontrando nas parcerias a maneira de revigorar seus espaços e de melhorá-los. "Há cinco anos o Sesc é nosso maior colaborador, incentivando nossos projetos", conta Inácio Nenily de Oliveira, administrador do Parque da Independência. O importante é a confiança de que as atividades realizadas em parcerias acompanhem a proposta do espaço. "Escolhemos atividades mais tranquilas, que preservem a estrutura do parque", explica Inácio.
No mesmo sentido, Jonadabe Ferreira da Silva, da equipe de programação do Sesc Ipiranga, concorda com o parceiro: "Eles confiam no nosso trabalho, e nós na equipe que nos acompanha". Devido à proximidade, o Sesc Ipiranga utiliza muito o Parque da Independência para suas atividades, dentro de um conceito de utilização sustentada. Em alguns domingos, esportes adaptados, como o street ball, o futebol caixão e o voleibol tomam conta do parque. O Sesc promove também competições de bicicleta no bosque próximo à Casa do Grito, além da revoada de pipas, bumerangues e frisbees. "Estamos resgatando dentro dessa programação os jogos populares, como pião, bolinha de gude, amarelinha", conta Jonadabe.
Dentre as atividades esportivas, destaca-se uma competição que já se tornou tradicional. Em janeiro aconteceu o III Grand Prix de Rolemã, com direito à divisão de baterias por faixa etária, competição com carrinhos próprios e carrinhos emprestados pelo Sesc, premiação, arbitragem e ainda fundo musical para agitar o público e os participantes.
Mas nem só de esportes vive o usuário do parque. Em 1997, para comemorar o aniversário do bairro do Ipiranga, o Sesc promoveu uma serenata à Marquesa de Santos, personagem polêmica da nossa história, aproveitando os 200 anos de seu nascimento. O grupo Trovadores Urbanos apresentou um show musical nas escadarias do Museu Paulista (antigo Museu do Ipiranga) para a "Marquesa" (interpretada por uma atriz), que assistia a tudo da sacada, e para uma platéia de cerca de 700 pessoas. Atores vestidos com roupas da época passeavam pelo parque, divertindo o público. "Mesmo com o tempo chuvoso as pessoas que vieram participar da homenagem adoraram", lembra Fernando Fialho, técnico do Sesc Ipiranga. Outro evento promovido no parque foi o Fiac 98 (Festival Internacional de Artes Cênicas) com público estimado em cerca de mil pessoas por espetáculo. Com o apoio da Prefeitura, o festival abriu o parque à noite para abrigar as apresentações. "A utilização do espaço aberto, além de democratizar e ampliar o público, leva até ele espetáculos que muitos não se interessariam em conhecer se fossem pagos", diz Fernando.
Arte na hora do rush
A I Bienal Sesc de Dança, realizada em Santos em setembro de 98, já foi concebida dentro da proposta de revigoração dos espaços públicos da cidade. "Trouxemos grupos cujo trabalho não exigia espaços tradicionais para as apresentações", explica Elisa Saintive, na época gerente-adjunto do Sesc Santos e hoje gerente do Sesc Belenzinho. "A idéia foi aproximar e dessacralizar o espaço cênico perante o público e promover um olhar diferente sobre a cidade", completa. Aconteceram espetáculos na Prefeitura, nas praças públicas e até no porto de Santos, nos armazéns e nos trenzinhos utilizados no transporte de carga. Na estação ferroviária, os espetáculos foram encenados na hora do almoço e no fim da tarde. "O horário foi estratégico, justamente para encontrar mais gente", conta Elisa. Na Prefeitura, aconteceu a mesma coisa. Quem passava por lá para almoçar ou na saída do trabalho se deparava com um espetáculo ao ar livre, de primeira qualidade. "Buscamos exatamente essa intervenção no ritmo do cotidiano", completa.
Também atento à mobilidade intensa das cidades, o Sesc Carmo utiliza espaços públicos para seus eventos desde a década de 70, quando os espetáculos eram encenados na Praça da Sé. Em 1998, pelo menos uma vez por mês foi apresentado um grande espetáculo pelas ruas de São Paulo, especialmente as do centro. De operetas na Praça da República a shows de jovens talentos, o Sesc Carmo aproveita a cidade – e é ajudado por ela. Em alguns espetáculos, salas de prédios são temporariamente transformadas em camarins. O Sesc trouxe o grupo de Samba Coral Santa Fé, formado por ex-moradores de rua, encenando uma peça do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. "Para muitas crianças que participavam do espetáculo, foi a primeira vez que estavam voltando à praça, num contexto totalmente diferente. Foi emocionante", conta Mônica Machado, coordenadora de programação do Sesc Carmo.
Cuidando do que é nosso
Um espaço público é, acima de tudo, um local onde se pode desfrutar de tranquilidade e lazer, sempre com o objetivo de promover a qualidade de vida. O espaço público não precisa estar, necessariamente, associado à natureza, mas pode, muitas vezes, servir como refúgio dessa cidade de concreto.
Pensando nisso, o Sesc Piracicaba promove eventos no espaço público mais importante e multifuncional da cidade: o rio Piracicaba. Dentro dos eventos do projeto Sesc Verão 99, em janeiro, a unidade realizou o 5º Arrastão Ecológico do Rio Piracicaba, que reúne barcos e navegadores de toda a região para uma limpeza geral do rio. As embarcações navegam 30 quilômetros, recolhendo todo tipo de detritos encontrados na água e em suas margens. O lixo é empacotado e entregue à Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Segundo Luiz Antônio da Cruz, técnico do Sesc Piracicaba, cerca de 160 pessoas participaram do último arrastão. "Estamos sempre buscando atividades abertas ao público para que haja maior conscientização da importância e beleza do rio", conta Luiz Antônio. Consciência de que espaço público é muito mais do que local de lazer. É um espaço de convivência, esportes, cultura e de cuidados também.
E essa é uma das reivindicações do comitê Vem pro Bexiga, formado por moradores do legendário bairro italiano de São Paulo. Formado há cerca de um ano e meio, o comitê luta por melhores condições da região. "O Bexiga já foi um bairro vivo, ativo, mas agora está muito descuidado", diz Sílvia Galant, dona do Café Piu-Piu, bar e casa de shows que está 15 anos no bairro e ajudou a escrever a história da vida cultural da cidade. "Queremos sensibilizar o público para o importante caráter urbano-cultural do bairro", completa. O comitê, formado por Sílvia e representantes da Igreja de Nossa Senhora da Acheropita, da escola de samba Vai-Vai, do Museu do Bexiga, do Rotary Club e de entidades de moradores, promove eventos de revigoração das ruas e espaços do bairro. Para comemorar a criação do comitê, foi realizado em 1997 o evento Lavagem do Bexiga, na rua 13 de maio, com as baianas da Vai-Vai dançando samba e música italiana, acompanhados do padre da Igreja da Acheropita. "A festa simbolizou o sincretismo que caracteriza São Paulo e também o Bexiga", explica Silvia. "Estamos com vários projetos para revitalizar o bairro, como projeção de filmes ao ar livre e museus a céu aberto. Mas sempre esbarramos na falta de verba e dificuldade de parcerias", completa Sílvia, que reclama da violência crescente no bairro.
Inimigo da violência
A utilização adequada de espaços públicos influencia na redução da violência na cidade. A arquiteta Regina Meyer acredita em ações simples e baratas a fim de amenizar o flagelo: "Se construíssem 500 quadras de futebol na periferia, com sede social, uniformes, campeonatos, atividades paralelas de dança, baile, escola de samba, a violência diminuiria. O aumento do convívio social constrange a violência."
As Casas de Cultura da Prefeitura de São Paulo espalhadas pela periferia são uma tentativa de atender comunidades carentes de lazer. É o caso da Casa de Cultura Chico Mendes, na Vila Curuçá, Zona Leste, onde oficinas e apresentações acontecem dentro do Parque Chico Mendes. E também da Casa de Cultura Raul Seixas, dentro do parque de mesmo nome, em Itaquera, cujo público cativo são os moradores da vizinha Cohab II. Na Zona Leste, a prefeitura promove shows populares, com Zezé de Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo, Xuxa e Ricky Martin. "Procuramos levar ao público shows que muita gente nunca assistiu por não ter dinheiro para pagar ingresso", explica Luís Avelima, da assessoria de Política Cultural da Secretaria Municipal de Cultura.
Já no evento São Paulo Passo e Compasso, que acontece aos domingos na Praça da Paz do Parque do Ibirapuera, zona sul de São Paulo, a orientação é outra. "No começo privilegiávamos o caráter erudito das apresentações, um estilo menos conhecido do grande público. Mas passamos a trazer também shows mais populares, quase sempre acompanhados de orquestras". O evento já trouxe grandes nomes da música popular, como Gilberto Gil, Maria Bethania, Milton Nascimento, e artistas internacionais, como B.B. King, Oscar Peterson e Ray Charles. "O parque já tem um público paulistano muito cativo. Com as apresentações trouxemos um público flutuante do interior bastante expressivo", diz Luís. Também aos domingos, sob supervisão da Secretaria, acontece o Bosque da Leitura, um espaço com empréstimo de livros, revistas, jornais do dia e gibis, além de bate-papos com escritores.
Outra projeto que engloba as periferias é o Comando Esportivo, da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Turismo (Seme). O evento, que promove atividades esportivas e educacionais aos domingos pela cidade, já foi realizado no Vale do Anhangabaú, no Pátio do Colégio, no Parque da Aclimação, e também em alguns Cingapuras na periferia da cidade. "Trabalhamos sempre diante das solicitações das associações de moradores", explica Ana Zuffo, diretora da divisão de esportes da Seme. Muitas vezes, é a própria população que toma a iniciativa da revigoração. É o caso do Minhocão, viaduto que "faz a ligação leste-oeste que fecha aos domingos por uma determinação da CET, mas os moradores do bairro transformaram o local numa grande praça de lazer". No asfalto do viaduto, os ‘esportistas’ desfrutam aos domingos o prazer de uma rua sem carros, barulho e poluição. Um espaço inusitado, mas não menos público.
Para usar e usufruir de um espaço público não é preciso ir tão longe. Nem mesmo chegar perto de um parque. Basta experimentar pegar um ônibus, de preferência no centro; prestar atenção no caminho, nas ruas e prédios, nos pedestres, conversar com a pessoa ao lado ou com o cobrador. Espaço público é simplesmente sair do próprio umbigo e descobrir uma cidade – e um mundo – muito maior.
Cidade e identidade
Foi lançado no fim do ano passado, em cerimônia no Sesc Vila Mariana, o livro Arte Pública, que reuniu os trabalhos apresentados nos Seminários de Artes Públicas realizados pelo Sesc e pela USIS em 1995 e 1996. Durante os colóquios participaram urbanistas, arquitetos, paisagistas, urbanistas, artistas plásticos, críticos e outros especialistas do Brasil e dos Estados Unidos. Abordando aspectos diversos do mesmo tema, os colóquios permitiram que os participantes chegassem a conclusões bem próximas, "representadas pelas preocupações relativas à crescente desumanização das metrópoles e seus efeitos sobre a qualidade de vida", nas palavras de Danilo Santos de Miranda, Diretor do Departamento Regional do Sesc na introdução do livro. Segue Miranda: "O encontro cartografou os caminhos da arte pública em contextos e realidades dessemelhantes, apontando-a, contudo, como um dos mecanismos a intervir na preservação de valores humanos caros a cada cultura".
O emprego do espaço público como suporte para manifestações artísticas contou com o respeito mútuo: da cidade para a população e vice-versa, tema abordado pelo arquiteto e urbanista Paulo Mendes da Rocha durante o Seminário. Na sua exposição, o professor da USP ressaltou a importância de se manter um viés crítico para evitar que arte sirva como hipótese de distanciamento e alienação. "O homem compreendeu que seu destino é, com toda contradição que isso possa implicar, construir seu espaço habitado... A história mesma é uma construção. E essa visão, cujo caráter é aparentemente um tanto quanto autista é uma visão, entretanto, da monumentalidade de nossa própria existência. Acho que deveríamos enfrentar essa monumentalidade e saber que a questão das artes, antes de mais nada, qualifica o gênero humano na natureza... com todas as dificuldades que a história tem mostrado e todos os desencontros dessa história é possível imaginar serenamente a cidade como a suprema obra de arte".