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O suor cibernético

A evolução nos equipamentos esportivos não influencia apenas a obtenção de recordes mundiais. Aplicada ao esporte e à atividade física, a tecnologia garante segurança, conforto e estímulo para os simples mortais.

Se a história dos primórdios do futebol é nebulosa, com inúmeras versões disparatadas que se deslocam da China antiga até a Itália medieval, a prática moderna tem origem certa. O esporte bretão nasceu... na Inglaterra, precisamente na tradicional Escola de Ethon, criado a partir de uma divergência do rugby. A primeira tabulação de regras data de 1848 e de lá para cá a história é conhecidíssima, principalmente para nós, brasileiros.

Desde então, o futebol sofreu inúmeras transformações: de uma prática basicamente lúdica tornou-se um negócio milionário. Suas regras foram lapidadas e os equipamentos necessários para se jogar evoluíram muito.

Se analisarmos o futebol competitivo, os avanços tecnológicos saltam aos olhos. Da bola ao vestuário, passando pelo campo de jogo até a presença cada vez maior de softwares (programas de computador) que permitem aos técnicos e professores ensinarem as táticas e técnicas atuais.

No panorama esportivo profissional que envolve milhões de dólares, qualquer vantagem sobre o adversário é importante e as pesquisas em tecnologia se tornam uma estratégia fundamental. Proteger os atletas de lesões e permitir-lhes milésimos de segundos a menos do que um concorrente depende dos equipamentos de última geração e de metodologia cada vez mais surpreendentes.

Essa é a realidade dos competidores profissionais. Atletas que dependem de equipamentos modernos para incrementar a performance. Para eles, a tecnologia aplicada ao esporte é essencial. Como é essencial aos esportistas diletantes, ou seja, os simples mortais que praticam esportes e atividade física para manter a qualidade de vida e o bem-estar geral. Sim, os atletas do último tipo se prescindem de milésimos a menos ou milímetros a mais, desfrutam de outras benesses garantidas pelo desenvolvimento dos equipamentos esportivos, como explica Silvio Luis França, da Gerência de Desenvolvimento Esportivo do Sesc (GDEF): "Estamos atentos a todas as inovações tecnológicas ligadas ao esporte e a atualização de nossos equipamentos é uma preocupação constante. Mas a utilizamos de uma maneira mais abrangente para servir o nosso usuário." Nos equipamentos em que as inovações são mais sensíveis e visíveis, como bolas, vestuário e pisos, é fácil notar sua aplicação. No entanto, há certas nuanças onde o emprego da tecnologia é menos perceptível, mas não é menor sua importância. "Um exemplo disso são as tabelas de basquete retráteis que permitem a utilização diversificada do espaço. Num ginásio, é possível diminuir as distâncias entre as tabelas para adaptar o jogo ou mesmo retirá-las a fim de realizar outra atividade", exemplifica.

Como este, existem vários outros exemplos de como a evolução tecnológica está presente no dia-a-dia dos atletas comuns. "O mais importante é que os equipamentos garantam a segurança e o conforto para quem os utiliza. Um piso de madeira que cobre uma quadra do Sesc Vila Mariana atenua o impacto durante as atividades físicas, diminuindo o risco de lesões", explica Silvio.

O piso de madeira usado nas quadras e salas de ginástica do Sesc Vila Mariana dispõe da tecnologia mais moderna do mercado. Por baixo das tábuas, há todo um sistema de amortecimento que permite a prática adequada da atividade. Para um profissional, o piso interfere diretamente no resultado, mas, quando se trata de amadores, exerce um papel diferente, como informa o técnico do Sesc: "A segurança dos praticantes é essencial e os equipamentos modernos fornecem essa garantia".

 

Tecnologia e design

Afora a segurança, outros aspectos decorrem da evolução dos materiais esportivos. Durabilidade, beleza e eficiência são alguns fatores que norteiam o Sesc na aquisição dos equipamentos. "São quatro linhas mestras", explica Antonio Prado, gerente-adjunto do Sesc Vila Mariana. "É necessário que o equipamento proveja segurança, facilidade, diversidade na utilização e design atraente. E a tecnologia moderna permite essas características." Ele ilustra o exemplo ao evidenciar a evolução das piscinas: "Primeiro eram grandes tanques retangulares profundos, com trampolim. Depois, a profundidade foi reduzida e se retiraram os trampolins. Resultado: aumento da segurança e a possibilidade de mais pessoas desfrutarem da piscina, pois ela está mais rasa. O próximo passo foi redesenhar as bordas, como é o caso dos parques aquáticos de Itaquera, Interlagos e Bertioga." Por fim, introduziu-se o elemento estético. Como? "Colorindo os ladrilhos e decorando os ambientes, como no Vila Mariana, onde há uma interferência artística da Tomie Othake." Os quatro elementos unidos permitem que mais pessoas pratiquem atividades físicas. Os esportes adaptados e a poliutilização de espaços são um conceito novo, que balizam a programação esportiva do Sesc. "Existem alguns equipamentos que permitem que um número maior e com características diferentes tenham acesso à prática esportiva. As minitabelas de basquete podem ser tanto utilizadas pelas crianças como em atividades na piscina.", atesta Érika Mourão Trindade Dutra, técnica do Sesc Vila Mariana.

Apenas fornecer equipamentos de qualidade não é suficiente. É preciso incutir nas pessoas o hábito da atividade física e o sentimento de autonomia para estimulá-las a manter a prática fora das dependências do Sesc. E os instrumentos de última geração transmitem essa informação. Um usuário que utilize uma esteira nas salas de equipamentos do Sesc Consolação ou do Sesc Santos pode andar ou correr em outros ambientes, mas a técnica adequada e os cuidados preventivos o praticante adquire na instituição.

Os aparelhos de ginástica que trabalham exercícios aeróbicos (bicicleta, esteiras) e anaeróbicos (exercitam grandes grupos musculares) possuem tecnologia que permite ao usuário checar a todo o momento durante a atividade suas condições fisiológicas e controlar os índices obtidos por meio de avaliação física realizada no próprio Sesc.

Da mesma forma que a minitabela de basquete, há uma diversidade de equipamentos que permitem múltiplos usos ,como bolas de borracha mais leves para a terceira idade ou raquetes apropriadas para iniciantes. Enfim, a variedade de aplicação é uma das facilidades providas pela tecnologia.

Uma outra é a acessibilidade. O conceito de acessibilidade universal estende a um enorme segmento da população a possibilidade de praticar atividades físicas e, por via de consequência, elevar a qualidade de vida. A inclusão de portadores de deficiência e idosos deve-se em grande parte à evolução tecnológica.

Equipamentos abertos à participação de todos, independentemente da idade e condição física, são cada vez mais comuns.

 

Ginástica do dia-a-dia

Uma bola bonita, durável e eficiente estimula a prática esportiva, sem dúvida. Da mesma forma que um ginásio munido de piso adequado, bem decorado e que permita realizar atividades diversas. A modernidade e o desenvolvimento de matérias-primas ensejaram uma série de conquistas, como a já referida acessibilidade. Mas não foram apenas as fibras, madeiras e poliuretanos que evoluíram. A metodologia aplicada ao esporte e à atividade física em geral também mudou. Segundo Aylton Figueira Júnior, membro do Centro de Estudos do laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (Celafiscs) e assessor do programa Agita São Paulo, a atividade física pode ser definida atualmente como "qualquer movimento corporal realizado na maioria dos dias da semana em intensidade moderada com duração de pelo menos 30 minutos cumulativos e que envolvam grandes grupos musculares".

A partir do conceito exposto acima, podem ser extraídas algumas conclusões. A primeira: não é preciso se esfalfar para ter saúde. A segunda: o termo "a ginástica do dia-a-dia" mudou de conotação. Isso quer dizer que grande parte das atividades cotidianas combate o sedentarismo. Explica-se: a intensidade moderada citada por Aylton significa uma pequena sudorese e alteração mínima dos batimentos cardíacos. Complicado? "É só pensar num passeio ao shopping. Basta se espelhar na velocidade dessa caminhada para ativar os grandes grupos musculares e ganhar saúde. Assim lavar a louça, fazer jardinagem, subir escada, se atenderem as condições mínimas, atendem aos princípios da atividade física ", responde o assessor do Agita São Paulo.

De acordo com esse conceito, o ritmo da atividade física pode ser intermitente, ou seja, 10 minutos de manhã, 5 à tarde, e 15 depois do expediente. "O importante é gastar 2000 calorias semanais. Dessa maneira diminui-se muito os riscos de morte por doenças crônico-degenarativas, como hipertensão, obesidade, moléstias cardiovasculares. Existem estudos feitos pela Celafiscs que indicam que entre os principais fatores de risco (fumo, obesidade etc.), o sedentarismo é o mais perigoso. A prescrição moderna visa incorporar o hábito de atividade física nas pessoas até fazê-las perceber o benefício", alerta Aylton.

A tecnologia aliada ao esporte e à atividade física torna-se, dentro do contexto atual, um mecanismo importante para estimular as pessoas a se movimentarem. Segurança, beleza, durabilidade e eficiência são conquistas de pesquisas constantes ao longo dos anos. Ao lado dos resultados surpreendentes que desafiam a natureza humana, a nós, mortais comuns, a tecnologia faz aumentar ainda mais o prazer de bater uma bolinha.

 

 

1-A evolução dos equipamentos esportivos é impressionante. Em pouco mais de um século, houve verdadeira revolução...

2-...No futebol, por exemplo, as primeiras chuteiras eram confeccionadas com solas e travas de madeira. Hoje é comum a sola...

3-.... com travas removíveis de alumínio, e também se usa couro de canguru. Da mesma forma que as bolas de bexiga de boi, ...

4-...envoltas por couro cru, que se tornaram-se protótipos de alta engenharia. Em outros esportes, a evolução foi constante. No ciclismo, com as bicicletas cada vez mais leves e velozes, e no atletismo, como no salto em vara, os limites humanos são desafiados a cada ano que passa.