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Por Roberto Cenni
Ilustração: Marcos Garuti
O Videobrasil – Festival Internacional de Arte Eletrônica, que acontece desde 1983 em São Paulo, passou a ser realizado no Sesc em sua nona edição.
Com mais espaço e recursos para a produção, o festival tornou-se bienal e expandiu a imagem bidimensional em instalações e performances, na época em que se presenciava a dissolução dos limites entre as expressões artísticas na mesma velocidade em que se transformavam os meios e os suportes. Várias obras passaram a ser concebidas e realizadas especialmente para o evento, que ia requisitando maior elaboração e se projetava cada vez mais no cenário internacional.
Entretanto, poucos dos que vêm assistir ao festival podem imaginar o que há por trás de uma produção como essa, as aventuras, as angústias e as vitórias que marcam cada edição do Videobrasil.
Em 1992, o desafio foi montar o deserto de Éder Santos, que tentava conciliar os suportes eletrônicos com um de seus principais inimigos, a areia; depois que se conseguiu achar na areia branca de Búzios a textura e a luminosidade adequadas para receber as imagens dos desertos americanos, como evitar que as partículas em suspensão penetrassem nos cabeçotes dos videoprojetores?
Para a 10ª edição (1994), Otávio Donasci inventou uma imensa videocriatura para ser colocada no topo do prédio esportivo do Sesc Pompéia. Inflável e translúcida, era feita de tecido de pára-quedas, alimentada por dois ventiladores industriais e tinha olhos de videoprojeção que espiavam os perplexos transeuntes. Enquanto a videocriatura era pendurada por técnicos de circo, funcionários do Sesc estilhaçavam vidros para forrar o chão da videoinstalação dos iugoslavos.
Para o trabalho de Nam June Paik, mostrado no 11º Videobrasil (1996), enviaram-se ao artista 200 fotografias de aparelhos de TV de um colecionador brasileiro para serem escolhidos e dispostos no TV Garden. Paik recebeu também uma estátua de um preto velho em posição de ioga (um achado!) para compor a instalação, em versão nacional, de um buda olhando uma TV com a sua imagem nela. Apesar do intercâmbio intenso com o artista, na abertura houve a histórica performance Video Opera for Paik sem a sua presença, pois meses antes ele sofrera um derrame.
Toda performance traz acaso e risco. Éder Santos, sempre se utilizando de suportes pouco usuais, na 12ª edição (1998) pretendia projetar suas imagens em três grandes aquários, ao som do grupo Uakti. Embora executados de acordo com cálculos de um especialista, um dos reservatórios explodiu durante o ensaio, espalhando toda a água. Ninguém dormiu nas noites seguintes, tentando solucionar a apresentação de abertura. Uma tela de trama aberta, de um recente espetáculo, acabou sendo usada. E, ao final, o público aplaudiu de pé.
Para realizar a performance de início do 13º Festival (2001), estava prevista a vinda do americano Gary Hill com sua mulher, cantora, que requisitara salamandras para ser colocadas em dois cestos pendendo de seu corpo. Depois de se descobrir no litoral um criador que tinha os animais apropriados, Gary Hill não pôde deixar seu país, porque o festival se iniciou poucos dias após os atentados de 11 de setembro. Depois desses acontecimentos, todos os contatos do Ocidente com o mundo árabe passaram a ser suspeitos e o escritório do Videobrasil ficou em observação nos seis meses que antecederam a primeira exposição de arte contemporânea do Líbano no Brasil, na 14ª edição (2003).
Os festivais sucedem-se reunindo produtores, técnicos, videomakers e artistas de todo o mundo sob a regência de Solange Farkas, que tem vivido com sua equipe as mais inusitadas experiências para conseguir realizá-los.
Aguardamos as notícias das aventuras que estão acontecendo no preparo da presente edição.