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Cada vez mais pessoas têm buscado grupos para a prática de atividades físicas, como corrida, ciclismo ou caminhadas. Em São Paulo, não há motivo para deixar o exercício de lado por falta de companhia

O arquiteto carioca Paulo de Tarso Martins, de 39 anos, mora há doze anos em São Paulo e já pode ser considerado um típico paulistano. Ele é um dos muitos moradores da cidade que acordam correndo contra o relógio. Tempo livre? Quase sempre só para dormir, e, ainda assim, somente depois de vencer uma maratona diária numa cidade com mais de 10 milhões de habitantes. De olho na saúde, Paulo faz questão de praticar uma atividade física e não abre mão do contato com a natureza. Adepto do esporte, morador de uma grande cidade e amante da natureza. Quantos não devem existir iguais a ele? Paulo resolveu descobrir. Apaixonado pelo ciclismo, o arquiteto percebeu que só poderia encarar as vias paulistanas com sua “magrela” juntado-se a outros ciclistas. Assim, fundou, em 1993, o grupo Sampa Biker’s, em parceria com o amigo executivo de marketing Reinaldo Ópice. O primeiro passeio reuniu quinze ciclistas, que saíram para pedalar à noite por estradinhas de terra próximas à capital. “Desde então o grupo começou a crescer. Abandonei a arquitetura e só vivo da bicicleta”, conta Paulo. Atualmente, a entidade possui 15 mil ciclistas cadastrados e todas as quartas-feiras à noite promove reuniões no bairro do Itaim, de onde saem para pedalar pela cidade. Os Sampa Biker’s também desbravam trilhas fora de São Paulo, organizam competições e já foram até a Portugal e à Patagônia para fazer o que mais lhes dá prazer. O psicoterapeuta David Cytrynowicz, de 57 anos, também é um entusiasta da atividade física ao ar livre. Desde 1988, pratica corrida em lugares como a Cidade Universitária e o Parque do Ibirapuera. “Nessa época eu já corria com um grupo de amigos”, conta ele. No início dos anos de 1990, a turma participou da Maratona de Nova York e voltou impressionada com a organização do evento. “Não tínhamos nada parecido por aqui. As provas que reuniam corredores amadores só davam assistência aos primeiros colocados. Foi encantador ver aquela festa popular em Nova York, que reunia as pessoas pelo fato de serem aficionadas por corridas.” De volta ao Brasil, eles decidiram reativar a Corpore (Corredores Paulistanos Reunidos), entidade criada no início dos anos de 1980 para atender a corredores de elite. A intenção foi democratizar a antiga proposta, e a nova versão passou, então, a prestar apoio a atletas amadores. O grupo, que já possui cerca de 6 mil associados, programa doze competições por ano, pelas quais já passaram mais de 60 mil corredores de rua.


Aos trancos, barrancos e casamentos
Entre as curiosidades de uma grande cidade, uma das que mais intrigam é o individualismo que vai dia a dia se apossando da vida das pessoas, mesmo numa população que soma milhões, mesmo involuntariamente. São Paulo não foge à regra. Daí o sucesso de iniciativas como as da Corpore, Sampa Bikers e de alguns projetos permanentes do Sesc. Uma vez em contato, as pessoas se lembram do prazer que proporcionam as atividades coletivas. Ao longo das pedaladas, caminhadas, excursões para escalar montanhas, aulas de hidroginástica, partidas de tênis, ou seja lá qual for a prática escolhida, histórias vão se acumulando, amizades se formando e a cidade reencontrando uma de suas principais vocações: a convivência. “Eu queria encontrar pessoas para jogar tênis comigo”, diz Mário Fernandes, de 32 anos. “A idéia era não gastar com o aluguel de uma quadra e o único lugar da cidade que conheço onde há quadras públicas de tênis é o Parque Villa-Lobos. Mas não tinha grande esperança de encontrar parceiros porque tênis é uma modalidade muito específica.” Antes de desistir, Mário decidiu cadastrar seus dados no Procure sua turma, serviço disponível no portal do Sesc São Paulo que coloca em contato pessoas à procura de parceiros para praticar atividade física (ver boxe Encontre sua turma), e teve uma surpresa: recebeu resposta. “O primeiro que entrou em contato comigo foi o Jurandir, depois apareceu o Diego, que é estudante, também não tinha muito dinheiro e dispunha de um horário bem parecido. Lá no parque acabamos conhecendo o Augusto, um cubano que está vivendo em São Paulo e que adora tênis. Há ainda o André, um colega de trabalho que se juntou a nós. Além de ter encontrado parceiros, ainda economizo uma boa grana, já que o uso da quadra é gratuito.” O fundador do grupo de ciclistas Sampa Biker’s, Paulo de Tarso, é outro que coleciona amigos por causa de sua paixão. Com alguns deles viveu situações no mínimo bem pitorescas. “Num desses dias extremamente quentes de verão, um amigo passou no escritório e propôs que fôssemos conhecer uma trilha nova na hora do almoço”, conta. “Fomos por um matagal ao lado de uma estradinha de terra que era puro capim e arbustos altos. Isso não permitia que enxergássemos nada. Acelerei o jipe para vencer uma rampa, quando imediatamente as rodas da frente desceram novamente e o carro parou.” Não, eles não tinham finalmente chegado à tal trilha. Ao abrir a porta do carro, Paulo e o amigo se viram balançando sobre um barranco. “O jipe estava se equilibrando apenas em cima de um morrinho. Na hora me lembrei da minha bike, que estava no porta-malas, e a passei para o meu amigo, para ele sair dali pedalando e buscar ajuda.” Paulo se lembra de que o engraçado da história foi voltar ao escritório e se deparar com os olhares confusos dos colegas. “Não tinha como explicar meus sapatos sujos de terra, os pedaços de capim grudados na calça e a camisa encharcada de suor.” Bem mais suave, e certamente mais marcante, foi a experiência do engenheiro Flávio Braga, amante da caminhada e sócio do Clube da Caminhada, do Sesc (ver boxe Encontre sua turma). “O barato para mim é deixar São Paulo para trás e encontrar a natureza abundante e muita aventura pela frente”, afirma. “As pessoas ficam muito unidas durante a caminhada e é uma boa oportunidade para conhecer gente que gosta das mesmas coisas que eu.” Flávio conta que conheceu suas últimas namoradas nessas excursões com o Clube. A propósito, a última, que ele conheceu durante uma atividade de três dias no Pico da Bandeira, no Espírito Santo, caminha com ele até hoje. “Com ela me casei e tive um filho”, conclui satisfeito.


Encontre sua turma - O incentivo à prática esportiva em grupo chegou à internet. Qualquer pessoa pode conseguir parceiros e dizer adeus à vida sedentária
Em 1993, o Sesc Ipiranga criou o Clube da Caminhada, um projeto que pretendia juntar pessoas para percorrer trilhas de forma segura e adequada. No primeiro evento, em 1993, o Clube conseguiu reunir quase mil pessoas. Hoje, a quantidade de participantes varia de acordo com a preferência dos interessados pelas diferentes trilhas, que mudam a cada mês. Parques de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, entre outros, já receberam os grupos. Três anos depois da criação do Clube da Caminhada, foi a vez de quem gosta de andar sobre duas rodas ganhar seu clube. Em 1996, o mesmo Sesc Ipiranga criou o Clube do Pedal. No início do Clube participavam em média vinte pessoas por passeio. Atualmente há 250 cadastradas para receber e-mails do grupo e as pedaladas acontecem no penúltimo domingo de cada mês. O mais recente ponto de encontro criado pelo Sesc para reunir esportistas foi lançado em meados de abril e é virtual. É o Procure Sua Turma (foto). Basta entrar no portal do Sesc São Paulo (www.sescsp.org.br), clicar no ícone do programa, digitar o número do CEP e a modalidade pretendida. Em seguida, é só aguardar a resposta de alguém que tenha os mesmos interesses. Apesar de o projeto estar há pouco tempo no portal, já começa a colher bons resultados. Entre as práticas que reuniram mais pessoas aparecem a hidroginástica e o futsal, com catorze grupos cada um até agora, e o vôlei, com dezoito.


O maior grupo do planeta - Em sua 9ª edição, o Dia do Desafio continua a interligar cidades no mundo todo em nome da atividade física

No inverno de 1983, quando a temperatura em uma pequena cidade do Canadá chegava a 20 graus negativos, o prefeito sugeriu que, às 15 horas, as pessoas apagassem as luzes, saíssem de casa e andassem por 15 minutos ao redor do quarteirão mais próximo. Era um convite ao exercício do corpo. No ano seguinte, a experiência foi compartilhada com a cidade vizinha e ambas realizaram a caminhada juntas, na mesma data e horário. Nascia ali o conceito que orientaria o Dia do Desafio, evento criado para incentivar habitantes de locais dos cinco continentes a praticar atividade física regularmente. A idéia é simples. Basta parar a rotina por um quarto de hora e movimentar-se. Como o principal objetivo é incluir o exercício no dia-a-dia de cada um, o Dia do Desafio serve como um recado para o mundo inteiro sobre a importância dessa atitude para o bem-estar. No Brasil, a idéia demorou um pouco a chegar. Foi em 1995 que o Sesc São Paulo realizou o evento pela primeira vez, em parceria com a Tafisa, entidade alemã de promoção do esporte para todos. Naquele ano, participaram ao todo 35 localidades brasileiras, que mobilizaram um total de 1.968.150 pessoas. Em 1997, o Sesc passou a coordenar, em conjunto com prefeituras, a programação do evento para a América Latina. A cidade de São Paulo participou pela primeira vez em 1998 e, de saída, 864 mil paulistanos praticaram atividade física no dia estabelecido. Em crescimento constante desde que foi lançado, o Dia do Desafio de 2003 mobilizou mais de 38 milhões de pessoas em todo o mundo. Em 2004, apesar de não haver mudança no número de países latino-americanos participantes, o de cidades aumentou: foi de 1.548 para 1.881. Neste ano, o Dia do Desafio aconteceu no dia 26 de maio. Em São Paulo, o Vale do Anhangabaú teve durante todo o dia uma programação especial para todas as idades, com vários tipos de modalidade de ginástica, como olímpica, rítmica e acrobática.