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Ginásticas alternativas

As atividades que têm por objetivo exercitar a mente através do corpo, mostram uma incessante procura do homem pelo equilíbrio interno. Se estão relacionadas ou não à chegada da Era de Aquárius e outras considerações esotéricas não importa. O fato, inegável, é que conhecer o próprio corpo está na ordem do dia, ou melhor, do final do século.

Os nomes induzem a algo místico, intimista e propõem auto valorização, mas ainda são desconhecidos para a maioria. Por exemplo, yoga todo mundo já ouviu falar mas poucos sabem exatamente o que é, ginástica holística (Leia mais), então, raros se arriscam a uma definição. Porém essas práticas, e outras mais familiares, como alongamento e automassagem, têm fundamentos mais "terrenos" e, embora não pareçam, estão mais próximos de nós do que possamos perceber.

Tão perto que o Sesc, por meio de suas unidades, oferece cursos para pessoas que procuram atividades físicas mais calmas e levam a sério a relação entre o corpo e a mente.

A Energia do Corpo

O termo bioenergética significa energia da vida e usa a respiração para trabalhar as emoções do ser humano por meio de exercícios de postura. A psicóloga e terapeuta corporal Carmen Nisticó, que trabalha com bioenergética no Sesc há 10 anos, explica que na verdade "são exercícios corporais". Durante a aula os alunos se aquecem dançando ao som de músicas animadas que variam do axé ao pagode. Ivanilde Sampaio Giraldi, também psicóloga formada em terapia corporal que trabalha com Carmen, explica que a dança serve para "soltar o corpo" e preparar os músculos para os exercícios posteriores. Feitos na maioria das vezes em dupla, esses exercícios consistem basicamente em massagens nos pontos de tensão que as professoras chamam de couraças. As regiões do pescoço, do tórax, abdômen, pernas e braços são massageadas com a palma das mãos com a finalidade de relaxamento em busca de um bem-estar físico e psicológico. "Você precisa do corpo para trabalhar a emoção. Assim você pode emagrecer porque diminui a ansiedade e com isso come menos, fuma menos. Você acaba conseguindo benefícios para o seu corpo", explica. A prova de que essas mudança parecem reais se dá com o retorno dos próprios alunos. Alguns praticam bionergética há 4 anos e não pretendem parar, é o caso de Sandra Regina Hernandez. Dona de casa e mãe de três filhos, Regina não tinha a menor idéia do que se tratava o curso, mas agora tem plena consciência de seu corpo, suas limitações e potencialidades, e admite uma agradável mudança de comportamento: "A ginástica convencional me cansava um pouco e aqui não, me sinto renovada. No dia-a-dia com meus filhos era uma correria, eu queria que eles fizessem tudo correndo, hoje eu mudei a forma de educá-los." Regina brinca dizendo que seus filhos até estranharam seu comportamento: "Mãe! Você está diferente, não grita mais com a gente", diverte-se Regina, imitando as crianças.

Um Exercício Diferente

Muito mais antiga e de origens mais exóticas, a yoga (Leia mais) traz consigo não apenas um conjunto de posições e exercícios, mas também toda a cultura e filosofia do país onde se originou há 3 mil anos a.C., a Índia. Isso não impede que a atividade venha conquistando adeptos na moderna e tumultuada sociedade ocidental de hoje. A palavra yoga vem do vocábulo sânscrito significando união e pretende ser a integração entre os níveis físico, emocional e mental. Julio Cesar Fernandes pratica o yoga há 21 anos e há 13 passa seus conhecimentos aos interessados no Sesc Pompéia, numa aula que reúne pessoas de todas as idades e profissões. Julio iniciou a prática do yoga em virtude de um grave problema respiratório. "Comecei a fazer aulas de reeducação respiratória através do yoga e depois de um ano já comecei a sentir os efeitos", explica o professor, adepto de uma linha psicofísica do yoga que se concentra mais em posições físicas que às vezes se assemelham às conhecidas aulas de alongamento. "Algumas linhas consistem numa intensa prática corporal que faz parte da própria meditação", esclarece. Algumas pessoas, com problemas de postura e desvios de coluna, procuram um curso de yoga indicado por seus médicos, há também os que objetivam principalmente aliviar o estresse. Além disso, a pessoa fica mais sutil, com sua sensibilidade aguçada, iniciam um processo natural de seleção para os alimentos", completa Julio.

Segundo os alunos, um dos grandes atrativos da prática vem da calma emanada pelo ambiente das aulas, perfeita para aqueles cuja personalidade não converge com a agitação e a gritaria de uma aula de ginástica aeróbica, por exemplo. O analista financeiro Ricardo Fernandez pratica yoga há 8 anos e é um típico entusiasta do que parecia improvável: suor sem cansaço. "Não é simplesmente uma malhação, você trabalha o corpo de maneira mais calma e isso torna o yoga uma prática completa para mim". A dona de casa Elenice Diniz Rodrigues ratifica a opinião do colega e, calmamente, resume o papel do yoga em sua vida: "Os exercícios me tranqüilizam. Sou muito agitada, preciso disso".

Reeducação Postural

Equacionando relaxamento e correção da postura, a eutonia é outra prática muito procurada por pessoas que se identificam com atividades físicas menos intensas e que tenham o objetivo de reeducar a postura. "Trata-se de um trabalho corporal terapêutico que visa o desenvolvimento psicofísico do indivíduo através de práticas e exercícios de atenção e percepção das sensações corporais", explica a terapeuta corporal e eutonista, Gabriela Bal. Seu nome é originário dos termos gregos eu (bom e harmonioso) e tônus (tensão), a prática pode ser desenvolvida individualmente ou em grupos, como ocorre na unidade Consolação do Sesc, onde é ministrada pela própria Gabriela. "Os exercícios são indicados para casos de artrite, problemas de coluna e fraturas em geral", explica a professora. Além disso, tem sido uma boa alternativa para aqueles que desejam deixar a vida sedentária mas não se identificam com atividades de maior impacto. Carlos Alexandre Segre faz aulas de eutonia há um ano, aliciado por uma amiga. Ele explica o que sente durante a prática dos exercícios: "Minha lordose tem melhorado muito, além disso, sinto menos dores nas costas e melhorei também meus movimentos". Quanto a benefícios psicológicos, Carlos associa naturalmente o corpo à mente: "Sempre que o corpo melhora, a gente acaba ficando mais calmo". A estudante de psicologia Maria Clara Whitaker foi seduzida pela própria intuição e se surpreendeu com o que vivenciou. "Me surpreendeu o fato de estar ciente de como funciona o meu corpo, saber coisas diferentes a meu respeito".

Dotada de uma característica, digamos, ortopédica, as aulas de reorganização postural global (RPG) também já ocupam um lugar de destaque na agenda dos alunos. Sob a batuta rígida, porém muito bem humorada, da professora de educação física Tânia Urbanavícius, que há 4 anos dá aulas no Sesc Ipiranga, o curso tem o objetivo de dar às pessoas um conhecimento mais adequado do corpo, para que elas estabeleçam uma boa condição postural e utilizem isso como uma melhoria para a qualidade de vida. "O que eu tenho observado", analisa Tânia, "é que existe uma tendência por parte das pessoas de procurarem a gerência por trás da atividade. Explico: a gerência por trás de uma atividade aeróbica seria o condicionamento físico cardiovascular, então a pessoa prefere caminhar num parque sozinho a fazer uma aula de ginástica. Com isso você alcança mudanças muito significativas", garante.

Samir Aziz Nahas de 59 anos é um dos que esperam sentir essas mudanças. No seu primeiro dia de aula, Samir foi devidamente "conduzido" até a aula por insistência crônica dos seus três bicos de papagaio e duas hérnias de disco. "Eu já fiz e faço tratamentos médicos, mas eles por si só não resolvem. Os exercícios ajudam bastante, o importante é ter uma postura correta e fortalecer a musculatura", acredita.

Diga-se de passagem que músculos fortes e disposição de dar inveja é o que não faltam nas tardes de automassagem no Sesc Pompéia. Dirigido predominantemente ao público da Terceira Idade, "mas indicado a todos" - como explica o professor Augusto Rocha - as massagens são feitas em pontos estratégicos dos pés, "em cima dos pontos da acupuntura", explica o professor. "A técnica também é chamada de Reflexologia, pois através de determinados pontos você toca em todo o corpo, estimulando todos os sistemas". Augusto explica que o resultado é uma melhora geral da saúde física, mental e emocional das pessoas. "Aqui nós tivemos casos de pessoas que tinham dificuldades horríveis para andar", comenta. Uma dessas pessoas hoje saltita por toda a sala e ainda freqüenta animados salões de baile. Esse é o caso de dona Petronilda Hilário, de 75 anos, considerada a mais espoleta da turma. "Comecei a sentir dores nas pernas e meu médico queria operar minha coluna, pois eu mal conseguia andar. Daí, meu filho, ele me engessou inteira", conta a simpática senhora. O médico de dona Petrô, como é conhecida entre os colegas, a aconselhou a procurar alguma atividade física para evitar a operação. Assim, ela começou a praticar natação no próprio Sesc. Foi quando uma amiga a levou até a aula de automassagem, onde está, muito satisfeita, há um ano e meio. "Mas é preciso força de vontade", aconselha. "Hoje sou muito ativa, e olha que eu ainda vivo caindo, sou muito desastrada".

Aula do Estica e Puxa

De todas as práticas de auto-conhecimento corporal, o alongamento talvez seja a mais conhecida. Você provavelmente a conhece daqueles minutos de aquecimento que antecedem uma aula de step, por exemplo. Para aqueles que nunca colocaram os pés em uma academia, saibam: quando você dá aquela "espreguiçada gostosa", tudo o que você está tentando fazer é se alongar. Porém, as coisas não são assim tão simples. Saber os músculos com os quais se está lidando e o modo correto de fazê-lo é fundamental a uma prática saudável e de resultados eficazes. A instrutora de esportes, Márcia Pavão é a responsável pelas aulas de alongamento e consciência corporal do Sesc Pinheiros e explica os objetivos de sua dinâmica: "O alongamento que eu dou é voltado não somente para alongar os músculos, eu tento fazer com que as pessoas saibam com qual musculatura que estão trabalhando e percebam os limites." É por esse motivo, segundo Márcia, que o trabalho de alongamento sempre aparece em conjunto com uma respiração mais correta. Na realidade é na soltura do ar que o aluno percebe mais facilmente a soltura do músculo, como por exemplo, num suspiro. "Quando as pessoas estão muito sobrecarregadas, elas suspiram", exemplifica a professora. "Essa já é uma forma de relaxar, e é isso mais ou menos o que acontece na minha aula." A respiração aparece intimamente ligada a todas as práticas de autoconhecimento corporal. "Existem dois tipos de respiração", explica Márcia, "a toráxica e a abdominal. A respiração abdominal geralmente é mais relaxada, assim, quando uma pessoa está ansiosa, tende a respirar pelo tórax. Quando uma pessoa respira pelo tórax está contraindo todo um grupo de músculos sem a menor necessidade". É por essa razão que uma prática de relaxamento do corpo se preocupa tanto em "ensinar" as pessoas a respirar.

Cláudia Schilling caminha três vezes por semana e encontrou no alongamento a complementação perfeita para a melhoria de seu bem-estar físico. "Eu trabalho muito tempo sentada. Chega no final do dia eu sinto uma necessidade enorme de me esticar. Partir direto para alguma atividade física mais intensa eu acho que seria arriscado, além do que minha personalidade se identifica com algo mais tranqüilo". Cláudia "se alonga" há um ano e meio e brinca dizendo que sai das aulas "flutuando". "Me sinto mais alta também", ri. Um pouco mais séria, mas também visivelmente mais relaxada, Diná Vieira pondera que começou a "sentir os limites do corpo". "Eu sinto que meu corpo necessita disso. Depois de tantos anos trabalhando e sem ter tempo para me exercitar, percebo que está tudo enferrujado mesmo". Sobre grandes mudanças, seus oito meses de aula ainda não a habilitaram a falar a respeito, mas admite: "Simplesmente sinto que me faz bem."