Postado em
O turismo procura um caminho
ABRAM SZAJMAN
(Presidente da Federação e Centro do Comércio do Estado de São Paulo
e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac)
A matéria principal desta edição de Problemas Brasileiros chama a atenção para um dos maiores contrastes do país. Dono de uma natureza incomparável, com paisagens deslumbrantes, atrações ambientais inigualáveis e um número de opções sem paralelo, o mercado turístico do Brasil vive escondido sob um manto incompreensível de timidez congênita.
O país recebeu em 2002 em torno de 4 milhões de visitantes estrangeiros, número praticamente equivalente, por exemplo, ao de turistas que estiveram em Buenos Aires em igual período. No outro lado do Atlântico, a França, nos mesmos 12 meses, acolheu nada menos que 76 milhões de visitantes. Claro que não temos uma Torre Eiffel, nem a riqueza artística do Louvre, muito menos a história milenar dos gauleses. Mas temos uma vasta extensão territorial, marcada por diversidades climáticas e ambientais muito mais ricas e abundantes.
A desigualdade se evidencia quando se fala em cifras, mais precisamente nos dólares movimentados pelos turistas. Neste ano calcula-se que esses valores vão passar de US$ 1 trilhão em todo o planeta. Entre nós, os borderôs ficarão em torno de US$ 3,5 bilhões. Pior: o número dos turistas que visitam o Brasil é menor do que o dos brasileiros que viajam para o exterior, o que revela um flagrante desequilíbrio na balança de turismo.
Mais: segundo dados levantados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em 2002, o turismo contribui, no Brasil, com aproximadamente 2,5% do PIB. Em países desenvolvidos, essa participação é muito maior: 11,8% na França, 11,6% nos Estados Unidos, 11,1% na Austrália, 8,4% na Espanha, 7,2% na Itália e 6,5% no Canadá.
As explicações para números tão negativos não são difíceis de encontrar. Há graves problemas inibidores da atividade turística, a começar pela imagem de um país que não tem controle sobre os índices de violência, o que por si só transforma o candidato a turista em destemido aventureiro.
A miséria explícita existente nos rincões de nosso território e nas grandes cidades, a falta de cuidados com a limpeza pública, paralelamente à degradação ambiental e à ausência de saneamento, são outros empecilhos, sem falar na má conservação do patrimônio cultural e natural do país.
Para complicar as coisas, há no Brasil formas estranhas de atrair visitantes, como a oferta de turismo sexual, muito combatida mas ainda existente, principalmente no nordeste, e a exploração explícita de nossas misérias, como visitas programadas aos morros cariocas, incursões pelos acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e turnês pouco saudáveis por nossas áreas mais poluídas.
Diante dessa realidade, e com a consciência de que o turismo é uma forma inteligente de combater a pobreza e desenvolver o país, o que fazer para reverter o quadro? As soluções, apontadas por especialistas, passam por um longo processo de planejamento, que determine o que se deve fazer. Se até hoje não conseguimos sucesso nessa área, certamente isso se deve ao fato de aproveitarmos muito mal nossos recursos. Com efeito, de que adianta o vento favorável se não sabemos para onde ir?
Esse planejamento deve levar em conta que turismo significa qualidade de vida. Assim, deve observar o equilíbrio e harmonia com o meio ambiente. A satisfação do turista é importante, mas é igualmente necessário proteger áreas, instalações e monumentos, naturais ou construídos no passado, mantendo sua integridade.
Oferecer atrativos é fácil, mas não se pode esquecer que o turista precisa de infra-estrutura adequada – hotéis, restaurantes, boas estradas, etc. –, de serviços à altura de seu interesse e evidentemente de segurança.
Para tanto, além dos investimentos materiais, não podemos esquecer a urgente necessidade de aprimoramento de nossa mão-de-obra, a exemplo do trabalho que o Senac vem desenvolvendo em várias unidades do estado de São Paulo.
Isso tudo, aliado a bons projetos realizados por parcerias entre poder público e iniciativa privada, poderá significar para o país o início de uma retomada do tão desejado crescimento.
![]() | |