Postado em
Antonio Risério
POR UM TRIZ
Tudo aqui na vida
acontece por um triz.
Coisas calam fundo
fundam mundos
criam raiz.
Coisas afloram visos
como eu nunca
ou sempre quis.
Mas o que fala mais alto
é o que não se diz.
DECLARAÇÃO 2
Grácil? Sempre no cio?
Rei do difácil
a ver navios?
Não. O poeta é um remorso.
Urso do ofício
entre o silêncio
e o cilício.
AVISO À PRAÇA
O humano é um engano do humano.
Divide o humano em humano e desumano.
Sonho insano de se ver a salvo
de crivos e crises e crimes
cravados no alvo.
Bobagem. Nenhum capitalismo é selvagem.
Puta não é cadela. Nem a vida, feroz.
O homem é o homem do homem.
Todos juntos e a uma só voz.
Humana é a sala de tortura.
A napalm, a navalha, a metralha no gueto
– a pele esfolada no porão.
Humana, humaníssima, a escravidão.
Humano é o arame farpado.
O estripador branco, o estuprador preto.
Carandiru, Somália, Khmer, Bopal.
O massacre da Praça da Paz Celestial.
Humana a fissão do átomo.
Humana a fissura do FIM.
Não consta que roseiras e gaivotas
ajam assim.
TOQUE ÁRABE
Já agonizante
o xá chama diante
dos signos de ouro de sua cama
o ínclito bibliotecário
centenário e coxeante.
Quer a graça de conhecer
num átimo do último instante
do seu exílio terreal
a história total da raça humana.
Meu príncipe, meu príncipe
resume didático e miúdo
o velho imperador da estante:
os homens nascem amam morrem
e isto – bem, isto é tudo.
CONJUGAL
ensaio mais um feitiço
desde o meu aqui aquário
um misto de sol submisso
e de satélite rebelionário
ser o teu senhor subversivo
ou teu escravo plenipotenciário