Postado em 30/08/2021
POR UM TRIZ
Tudo aqui na vida
acontece por um triz.
Coisas calam fundo
fundam mundos
criam raiz.
Coisas afloram visos
como eu nunca
ou sempre quis.
Mas o que fala mais alto
é o que não se diz.
DECLARAÇÃO 2
Grácil? Sempre no cio?
Rei do difácil
a ver navios?
Não. O poeta é um remorso.
Urso do ofício
entre o silêncio
e o cilício.
AVISO À PRAÇA
O humano é um engano do humano.
Divide o humano em humano e desumano.
Sonho insano de se ver a salvo
de crivos e crises e crimes
cravados no alvo.
Bobagem. Nenhum capitalismo é selvagem.
Puta não é cadela. Nem a vida, feroz.
O homem é o homem do homem.
Todos juntos e a uma só voz.
Humana é a sala de tortura.
A napalm, a navalha, a metralha no gueto
– a pele esfolada no porão.
Humana, humaníssima, a escravidão.
Humano é o arame farpado.
O estripador branco, o estuprador preto.
Carandiru, Somália, Khmer, Bopal.
O massacre da Praça da Paz Celestial.
Humana a fissão do átomo.
Humana a fissura do FIM.
Não consta que roseiras e gaivotas
ajam assim.
TOQUE ÁRABE
Já agonizante
o xá chama diante
dos signos de ouro de sua cama
o ínclito bibliotecário
centenário e coxeante.
Quer a graça de conhecer
num átimo do último instante
do seu exílio terreal
a história total da raça humana.
Meu príncipe, meu príncipe
resume didático e miúdo
o velho imperador da estante:
os homens nascem amam morrem
e isto – bem, isto é tudo.
CONJUGAL
ensaio mais um feitiço
desde o meu aqui aquário
um misto de sol submisso
e de satélite rebelionário
ser o teu senhor subversivo
ou teu escravo plenipotenciário