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Arte visceral

Orbis descriptio nº 11, da série Fronteiriços, 1997. Foto: Eduardo Ortega
Orbis descriptio nº 11, da série Fronteiriços, 1997. Foto: Eduardo Ortega

Anna Bella Geiger é uma artista inquietante. Nascida no Rio de Janeiro em 1933, já flertou com diversos suportes e técnicas, em trabalhos que se fazem no cruzamento de meios. É nessa interseção que apresenta reflexões sobre a existência e o simbólico, sobre arquétipos e espiritualidade, como diz em entrevista disponível no portal do Sesc São Paulo a propósito da exposição Anna Bella Geiger: Brasil Nativo/Brasil Alienígena, uma correalização entre Sesc São Paulo e Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp): “A minha geopolítica se transformava em geopoética”. A frase ilustra bem sua dinâmica entre fronteiras territoriais e artísticas.

Para Tomás Toledo, um dos curadores da exposição (leia O que se move), o desejo de experimentar elementos estéticos, visuais e temáticos pode ajudar a explicar o pioneirismo da artista. Como exemplo, Toledo menciona o interesse de Anna Bella pela abstração informal e sua participação na primeira exposição do gênero em 1950, no Rio de Janeiro. Depois dessa fase, Anna esgarçou os limites das técnicas tradicionais de gravura na série Viscerais (1965). E, em 1984, a pintura aparece com Macio.

Visão crítica

Na escolha dos temas, “ao abordar a questão indígena nos anos 1970, mostrou o apagamento e a perseguição sofrida por essa população”, informa Toledo. Outro motivo em destaque na obra da artista, segundo o curador, é a crítica ao sistema das artes, presente na série Burocracia (1978). Por fim, cita a importância do uso do videoteipe como uma das mais potentes quebras de paradigma para Anna Bella. Ao usar uma câmera na mão, “conseguiu mobilidade para filmar, permitindo captação simultânea do som e imagem, o que antes não era possível”, acrescenta. O impacto dos vídeos de Anna Bella Geiger é parte da exposição.

O que se move

Instalações audiovisuais são recriadas para retrospectiva

A exposição Anna Bella Geiger: Brasil Nativo/Brasil Alienígena, correalização entre Sesc São Paulo e Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), apresenta um panorama das criações da artista, que inclui trabalhos desde a década de 1950 até os anos 2000 expostos nas duas instituições. Neste compartilhamento de obras, o Sesc Avenida Paulista recebe, até 1º de março, três instalações audiovisuais emblemáticas, produzidas em períodos diferentes da trajetória de Anna Bella e agora recriadas para a ocasião. São elas: Circumambulatio, de 1972, elaborada para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Friso, Mesa e Vídeos Macios, de 1981, exibida apenas uma vez durante a 16ª Bienal de São Paulo; e, a mais recente, Indiferenciados, apresentada no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, em 2001. Além disso, o público tem acesso a vídeos sobre Anna Bella. A curadoria da mostra ficou a cargo de Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp, e de Tomás Toledo, curador-chefe do Masp.

Para os interessados em conhecer mais detalhes desses trabalhos, o livro homônimo à exposição, realizado em coedição entre o Masp e as Edições Sesc São Paulo, reúne reproduções das obras, materiais de arquivo, escritos da artista e textos inéditos de pesquisadores e dos curadores. Outro lançamento sobre a artista está previsto para o primeiro trimestre de 2020 pelas Edições Sesc São Paulo. Trata-se da obra Anna Bella Geiger, organizada por Fabiana de Barros, Marcia Zoladz e Michel Favre, que faz parte da coleção Arte, Trabalho e Ideal.

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