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Foto: Pixabay.

A trágica morte dos adolescentes no alojamento do Centro de Treinamento do Flamengo, no mês passado, no Rio de Janeiro, levou a sociedade a refletir sobre a segurança, a saúde e o bem-estar desses atletas em formação. Garotos que, no processo de adaptação no caminho para a concretização de um sonho, passam por grandes transformações na rotina. Deixam a cidade natal e iniciam uma nova vida, muitas vezes, longe da família e de amigos, para encarar uma agenda de treinos e jogos. Para orientar tanto os jogadores quanto familiares que passam por momentos delicados, sejam eles de perdas ou de adaptações, entram em campo os assistentes sociais.

Profissionais como Silvana Trevisan, Tiane Orleis Bittencourt, Fernando Truyts Fernandes e Maristele Eleutério, contratados por clubes de futebol que os reconhecem como imprescindíveis para o fortalecimento de um time. No entanto, o assistente social já ficou muito tempo no “banco de reserva”. Por isso, uma das reivindicações levadas ao 4º Seminário Nacional Serviço Social no Mundo do Futebol, no Sesc Pompeia (leia boxe Um por todos e todos por um), foi a mudança da Lei Pelé para que os clubes sejam obrigados a ter pelo menos um assistente social.

Uma das pioneiras em São Paulo a implantar o serviço social nas categorias de base, Silvana Trevisan passou pelo Juventus, Corinthians e pelo Santos Futebol Clube. Apesar da experiência, ela já teve que se esquivar de julgamentos sobre sua atuação no futebol. “Quando estava no Santos, onde trabalhei tanto na categoria de base quanto na profissional, entre 2010 e 2015, muitos me perguntavam o que eu iria fazer ali, já que todos eram ricos e famosos e não precisavam de nenhum apoio social”, recorda. Porém, esses mesmos atletas e os que vão se tornar jogadores profissionais passam por uma série de pressões, razão pela qual a presença do assistente social se mostra necessária.

A assistente social Tiane Orleis Bittencourt, que trabalha nas categorias de base do Sport Club Internacional, em Porto Alegre, lembra que há cinco anos a mãe de um jovem atleta foi diagnosticada com câncer de mama. Bittencourt reuniu, então, comissão técnica, treinadores e outros integrantes da equipe para auxiliar o goleiro de apenas 14 anos de idade, vindo do interior do Rio Grande do Sul. “Criamos um vínculo em prol daquele atleta. Acompanhamos todo o processo da mãe e do filho e conseguimos fazer um bom trabalho, todos juntos”, explica.

Coletivo e essencial

No mundo do esporte, o papel desse profissional é garantir os direitos, cuidar do bem-estar do atleta e de sua família. No caso dos pertencentes à categoria de base, todas as orientações são seguidas por legislações como o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Assistente social no Botafogo Clube de Futebol e Regatas, no Rio de Janeiro, Maristela Eleutério acredita que o acolhimento seja outro importante papel em campo. Recentemente, sua equipe passou pelo falecimento de um atleta, diagnosticado aos 14 anos com câncer de intestino. “Estive ao lado dele, que me disse que gostaria de conhecer o estádio e mal tinha começado o treinamento. Movimentamos todo o clube para que ele pudesse ir e conhecer os ídolos que ele tinha. Ele teve uma melhora pela motivação que recebeu. E fizemos o possível para ele não sentir tanta dor, para que não tivesse pensamentos negativos”, afirma. “Em paralelo a isso, no vínculo familiar, que era fragilizado, conseguimos agir de modo que pai e mãe pudessem lidar com aquele momento.”

Há pouco mais de três anos no Santos Futebol Clube, Fernando Truyts Fernandes teve que lidar, inclusive, com casos de violência doméstica em família de jogador. “Tivemos a informação de que um atleta havia faltado ao treinamento por três dias e o que chegou ao clube é que havia um problema familiar”, relata. “Logo de cara, a gerência, entendendo a importância do serviço social, já me comunicou para que eu averiguasse qual tipo de problema estava acontecendo. Fui entender que havia uma série de questões familiares.” 

Diante desse quadro, o assistente social acompanhou de perto a situação do jogador, do pai e da mãe. “Nosso trabalho é em todo o seio familiar. Uma intervenção que extrapolou os muros da instituição”, detalha. “Atuamos para garantir os direitos da criança e do adolescente, mas também uma condição de vida como cidadão e como atleta, da melhor maneira possível.”

Um por todos e todos por um

Debates abrem espaço para diálogo sobre o Serviço Social no mundo do esporte

Implantado pelo Sesc São Paulo em 2015, o Programa Serviço Social é direcionado à reflexão e ao diálogo de assistentes sociais, à socialização de informações e de saberes no campo dos direitos, da legislação social, das políticas públicas e da visibilidade de ações sociais transformadoras. Entre os campos de atuação dos profissionais dessa área, o futebol ganha destaque. Tanto que em outubro de 2018 foi realizado no Sesc Pompeia o 4º Seminário Nacional Serviço Social no Mundo do Futebol e o 1º Fórum Serviço Social no Mundo do Futebol, ambos organizados pelo Sesc São Paulo, pelo Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio dos Serviços Sociais (CBCISS) e por assistentes sociais que atuam em vários clubes de futebol.

“Foi uma oportunidade para criar um espaço de reflexão e troca de experiências norteadas pelo conceito da Proteção Integral da Criança e da/o Adolescente como sujeitos de direitos, destinatários de absoluta prioridade, respeitando a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”, explica Sandra Carla S. Mirabelli, da Gerência de Estudos e Programas Sociais do Sesc São Paulo. “O seminário atuou como uma intervenção estratégica e transformadora ao reafirmar o posicionamento dos assistentes sociais em defesa dos direitos humanos e na proteção da criança e da/o adolescente.”

Neste mês, é celebrado o Dia Mundial do Serviço Social (19/3). Confira alguns destaques da programação que colocam em discussão esse protagonismo.

Encontro

Proteção Integral da Criança e do Adolescente: A Atuação do Serviço Social na Categoria de Base do Futebol

CPF – 19/3  |  Sesc Santos – 20/3  |  Sesc Campinas – 21/3

As assistentes sociais Magda Souza de Andrade e Silvana Trevisan – que é pioneira do serviço social no futebol de São Paulo –, levantam reflexões acerca do processo de formação de crianças e adolescentes na prática do futebol, considerando a visibilidade desse esporte como uma carreira. Um dos objetivos do encontro é, portanto, apresentar esse cenário, seus atores e como o serviço social atua a fim de garantir uma formação desportiva vinculada à preservação de direitos.

Curso

Como Ouvir o Outro? Dispositivos de Escuta Alternativos e Comunitários

Sesc 24 de Maio - 28/3

Dialogando com a representação das injustiças sociais, do sofrimento humano e da marginalização presentes nas obras de Lasar Segall (em exposição na unidade), o curso ministrado pelo Coletivo Margens Clínicas visa estabelecer um espaço de troca de experiências e de criação de dispositivos de escutas, destinado a profissionais da rede de assistência social, saúde e educação. Dividido em dois módulos, o primeiro dedica-se à discussão da violência política e do genocídio cultural, enquanto o segundo trata da reparação psíquica – memória coletiva e testemunho. Não é necessário ter participado do Módulo I para participar do Módulo II.

 

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