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E se a gente...?

Como iniciativas de pessoas em seus bairros mudam hábitos e contribuem para uma vida mais sustentável


Foto: Pixabay
 


O lixão desativado do bairro é transformado em viveiro; os resíduos das ruas viram artesanato; a produção agrícola, vinda de hortas urbanas criadas em terrenos baldios, é consumida dentro do próprio bairro. E tudo isso parte da iniciativa de pessoas comuns, em suas ruas e comunidades. Essa mobilização de grupos da sociedade em prol de ações sustentáveis ganha espaço nas cidades, transforma a realidade local e inspira outros projetos.

Esse tipo de ação focada, que lida com a mudança de hábito e o questionamento dos padrões de vida da sociedade atual, cria um caldo propício a soluções globais, observa o sociólogo Américo Sampaio, gestor de projetos do Programa Cidades Sustentáveis e da Rede Nossa São Paulo. “Dado que a ampla maioria, cerca de 85%, da sociedade brasileira vive num contexto urbano e entendendo o desenho institucional das políticas públicas que apontam para uma gestão municipal delas, me parece que as soluções sustentáveis para os problemas passem pelo arranjo local”, afirma. “O ideal é que houvesse ações combinadas no micro e no macro, promovendo o desenvolvimento local, do bairro, da comunidade, soluções criativas e sustentáveis, como a questão da água, da poluição, das áreas verdes, da educação, e ao mesmo tempo uma preocupação estatal e um pacto global para que se possa avançar nisso em alto nível na relação de nações.”

Um exemplo de ação local que promove mudança de hábitos e questiona os padrões da sociedade, na opinião do sociólogo, são as hortas urbanas. “Tem sido muito recorrente moradores, grupos, vizinhos, coletivos que aproveitam pequenos espaços na cidade, canteiros centrais e praças para fazerem hortas urbanas que não têm como objetivo resolver o problema da fome, mas chamam a atenção e promovem uma mudança de comportamento em relação a como nos alimentamos”, comenta. “Também tem crescido o número de políticas voltadas para a segurança alimentar, para o combate aos agrotóxicos, em prol de pequenos produtores. Quando muitas ações locais acontecem, há um caldo de opinião pública que propicia um maior avanço em questões globais.”

Micro e macro

Práticas sustentáveis locais também podem promover o desenvolvimento social, econômico e comunitário. “Trabalhar com a questão ambiental gera impactos não só no ambiente, mas também no âmbito educativo, social e na geração de emprego e renda”, avalia a coordenadora do programa Ângela de Cara Limpa, plataforma de iniciativas sustentáveis da região do Jardim Ângela, na Zona Sul de São Paulo, Sulália Souza. Entre as iniciativas da plataforma, há um projeto de agricultura urbana em que os produtos são comercializados em feiras da região; outro compreende a coleta, triagem e comercialização de resíduos sólidos, e a produção de cadernos artesanais, brinquedos e tijolos ecológicos com material reciclado. “Um dos impactos mais promissores foi o apoio da própria comunidade na separação do resíduo, que antes a gente não tinha na região. Hoje, aquele resíduo que a gente via jogado não se vê mais”, conta.

“A partir do momento em que você se preocupa com a causa, você arregaça as mangas e vai à luta, consegue colocar as coisas em prática. As pessoas se tornam multiplicadoras”, observa a coordenadora da organização não governamental Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento no (bairro) Vargem Grande e na Chácara Santo Amaro, no extremo sul de São Paulo, Laniela de Jesus Feitosa. Uma das ações do projeto é o Banco da Solidariedade, em que as pessoas dizem os horários disponíveis para aprender e para ensinar. Nesse modelo colaborativo, são oferecidas oficinas de práticas de permacultura, horta e alimentação saudável, entre outras. “Essas pessoas também aplicam esse conhecimento no seu próprio bairro e território. Aquele que aprende ensina o vizinho, que ensina o outro, que já faz um mutirão, e a ação ganha ainda mais alcance”, relata.

Essas iniciativas podem reverberar inclusive em políticas públicas mais amplas. Laniela cita como exemplo a implementação da alimentação orgânica em escolas de São Paulo. “Foi um ganho após uma luta de muitas cooperativas da área de alimentação, de agricultores e de outras pessoas para que isso se tornasse uma política pública nas escolas de São Paulo”, analisa. “Quando faz essas práticas, a pessoa percebe que a transformação começa por ela. Por ser algo prático, aplicável no dia a dia, ela percebe que está fazendo a transformação, pensando em um mundo mais sustentável e que vai impactar numa estrutura maior, mundial.”


Caminhos para a crise

Seminário propõe reflexão  sobre os desafios socioambientais contemporâneos

Idealizado pelo Sesc em parceria com a Universidade de São Paulo, por intermédio do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), o seminário Diálogos sobre os Desafios Socioambientais Contemporâneos, que ocorre nos dias 1º e 2 de junho, no Sesc Vila Mariana, aborda o avanço da crise ambiental planetária com base em uma dupla perspectiva: a compreensão do problemático contexto atual e a apresentação de caminhos teóricos e práticos que já estão em curso.

Com participantes como Enrique Leff Zimmerman, Ailton Krenak, Cristina Adams, Marcos Sorrentino, Ladislau Dowbor, Pedro Jacobi, Ricardo Abramovay, Renato Dagnino e Renato Janine Ribeiro, os debates abordam quatro eixos temáticos: problematização da conjuntura socioambiental contemporânea; a natureza como bem comum, a proteção socioambiental e o papel dos agentes no território; o caráter econômico-tecnológico de arranjos socioambientais; e  educação para a participação cidadã, buscando conferir maior escala a iniciativas ambientalmente sustentáveis e que têm capacidade de influenciar políticas públicas.

O seminário integra o projeto Ideias e Ações para um Novo Tempo, assim como a mostra Territórios em Transformação, programada para o período de 2 a 4 de junho, no Sesc Vila Mariana. A mostra apresenta 36 iniciativas e experiências de referência na área socioambiental, presentes no estado de São Paulo, além de uma programação socioeducativa com oficinas, vivências e rodas de conversa.

A partir do dia 3 de junho até o final do mês, as unidades do Sesc em todo o estado de São Paulo apresentam um conjunto de programações na área de Educação para a Sustentabilidade, que se conectam às discussões e às práticas socioambientais apresentadas no seminário e na mostra.

Saiba mais em sescsp.org.br/ideiaseacoes


Iniciativas no mapa

Conheça ações para a promoção do desenvolvimento sustentável em comunidades no estado de São Paulo