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De volta à ativa

Foto: Divulgação
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De volta à ativa

por João Donato


João Donato encanta fãs e agrada crítica ao lançar primeiro disco de inéditas em dez anos

Com 82 anos e muita história para compartilhar, João Donato voltou à ativa ao lançar pelo Selo Sesc, em 2016, seu novo disco, Donato Elétrico. Produzido por Ronaldo Evangelista e gravado em parceria com os músicos da banda paulistana Bixiga 70, o disco é instrumental e reforça a versatilidade musical de João Donato, percorrendo suas referências e influências: sons latinos, jazz, baião, percussão e muito suingue. “As críticas estão sendo bem favoráveis ao disco e isso é bom. É confortante saber que estão ouvindo e gostando da nossa música”, diz Donato em fala que entrega toda a sua boa praça.

Na vida de um dos mais respeitados instrumentistas brasileiros, ganhador de prêmios e querido do público de outros países, não há tempo a perder: “Quando o trabalho é feito assim com amor, dedicação e sem segundas intenções, geralmente o resultado é muito bom”.
Acompanhe conversa de Donato com a Revista E.

Inédito

Foi muito prazeroso vir até São Paulo e ensaiar com o pessoal do Bixiga 70. As invenções iam surgindo durante os ensaios, foi tudo muito bom durante a gravação do disco, o meu primeiro inédito em dez anos. Entendo o momento como um encontro muito feliz, divertido. O Ronaldo (Evangelista, produtor do disco) é muito agradável e correu tudo às mil maravilhas.

A vontade de voltar para o estúdio apareceu depois de uma conversa com o Ronaldo, sugerindo que gravássemos em São Paulo com os músicos da cidade. Ensaiamos praticamente durante um ano com espaços de três em três meses até que, quando vimos, estávamos com dez músicas completas registradas na fita e gravamos o disco para comemorar. Antes da temporada de shows nos encontramos para ensaiar. É um treinozinho para relembrar, o que é um processo tranquilo. Improvisamos muito, é um envolvimento natural, porque já estamos com intimidade no palco.

As críticas estão sendo bem favoráveis ao disco e isso é bom, todas as críticas têm sido elogiosas. É confortante saber que estão ouvindo e gostando da nossa música.

Divirta-se

Para mim é tudo uma coisa só: compositor, arranjador, uma combinação de coisas que nos constrói como bons músicos, e eu me considero um dos bons, então direciono o meu trabalho mais para o lado criativo e da diversão. Não trabalho em nada por obrigação ou por dinheiro, e sim pelo amor de estar envolvido naquilo.

Quando o trabalho é feito assim com amor, dedicação e sem segundas intenções, geralmente o resultado é muito bom.

Estrangeiro

Foi interessante porque fiquei nos Estados Unidos mais tempo do que eu queria. Fui para uma temporada de quatro semanas e quando terminou eu queria retornar para o Brasil, mas não consegui passagem de volta. Enquanto isso o tempo foi passando e as coisas foram acontecendo, tive que trabalhar em lugares pequenos tocando piano, tive que me virar.

Depois procurei músicos de jazz que viviam por lá, mas me disseram que a vida estava muito complicada e que eles estavam procurando orquestras latinas para tocar, pois era onde havia mais trabalho.

Então comecei a tocar em orquestras e, por fim, a vida tomou outro rumo. Casei e fiquei 12 anos trabalhando nos Estados Unidos.

O público estadunidense passou a gostar de música brasileira, especialmente a partir da bossa nova. Logo que mudei para os Estados Unidos, a bossa ainda não estava consolidada, e eu não tinha referência para tocar lá, não sabia tocar música latina. Aprendi tocando com as orquestras em Los Angeles, aprendia ao mesmo tempo que tocava. Fui nesse ritmo até os estadunidenses começarem a notar a bossa nova. Aí comecei a ser chamado pelos brasileiros que tocavam nos Estados Unidos, tornei-me referência graças à minha experiência musical e pessoal no país. Toquei com Tom Jobim, João Gilberto, Dorival Caymmi. Os músicos brasileiros me procuravam e eu os acompanhava em programas de TV e shows no final dos anos 1950. 

Com a galera

Para mim é bom estar em contato com os músicos da nova cena, porque isso me mantém atualizado. Renovar meus parceiros é sempre um aprendizado, é rejuvenescedor trabalhar com essa nova geração de instrumentistas brasileiros. Recebo muitos pedidos de parcerias. É bom ter troca de informações, de experiências. Procuro me aproximar dessa meninada nova. Isso me deixa muito feliz.


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