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Arte da impressão
Determinado em comunicar e fazer pensar, o design gráfico brasileiro contemporâneo tem como marcas a valorização do conceito e o retorno da ilustração
Em comparação aos países latino-americanos, o nascimento do design gráfico brasileiro mostra-se razoavelmente tardio, tendo 1808, ano da chegada da corte portuguesa à colônia, como seu ponto de partida. Antes disso, era proibida a feitura de qualquer material impresso no Brasil. Nessa época a tipografia de chumbo (inventada por Johannes Gutenberg no século 15), seus tipos e ornamentos tinham destaque.
No século 20, o horizonte dessa até então incipiente linguagem se ampliou. Em meados do século, o design modernista no país ganhou fôlego na 1ª Bienal Internacional de São Paulo (1951), no simbolismo do cartaz de divulgação, feito pelo artista Antônio Maluf. A manifestação foi adotada pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), que passou a ser uma vitrine propulsora de sua disseminação.
As artes das Bienais também abriram um diálogo com os poetas, os quais se apropriavam desses eventos para atividades performáticas. Ecoando na imprensa, durante os anos 1957-1958, poetas concretistas usaram o suplemento dominical do Jornal do Brasil como plataforma.
Professor da Pós-Graduação em Design da Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Esdi-Uerj), João de Souza Leite conta que o concretismo paulista funcionou como caixa de ressonância para ideias cujas influências remontam, em linhagem conceitual, à tradição iniciada pelos construtivistas russos. “O concretismo deu continuidade à ênfase na construção, na estrutura, no projeto – naquilo que se afasta razoavelmente da execução e pode ser repassado a outra instância”, explica.
Novo tom
No século 20, o desenvolvimento do desenho e da impressão de imagens fez surgir uma nova categoria de profissionais da área, os ilustradores-designers. Com uma história de relação com o design, o Sesc acompanhou de perto este momento. “Nos anos 1960, aconteceram transformações na programação do Sesc, ebulição nas relações programáticas, o que culmina na unidade Consolação, primeira experiência de ter um grande centro cultural e esportivo. E com o design dos cartazes, da programação, recebíamos artistas gráficos brasileiros e estrangeiros e contribuíamos para o design porque ofertávamos possibilidades de experimentação e comunicação para educação”, destaca Hélcio Magalhães, gerente de Artes Gráficas do Sesc.
Se os recursos tecnológicos deram um novo contexto à produção, a chamada ressaca tecnológica também trouxe desdobramentos, tanto ideológicos quanto práticos. “Acho que o design produzido pelas novas gerações tem pé muito forte no conceito. O design como fruto da reflexão é uma marca do contemporâneo, para o bem e para o mal”, opina o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e designer Chico Homem de Melo. Para ele, tal processo retrata um amadurecimento da área, quando entre os anos 1980 e 1990 tivemos no Brasil um design feito majoritariamente por designers de formação acadêmica – o que pode ser um ônus ou um bônus.
“Senti vigor na produção desses anos, mas o fato de ser feito por designers vindos da academia registra em algum momento certa perda, pois havia um pouco mais de surpresa quando o design era feito por quem aprendia no cotidiano do trabalho, justamente porque esses profissionais não estavam tão formatados pelos bancos escolares”, diz o professor da USP. “Digo isso com tranquilidade porque ensino diante dos bancos escolares há anos.”
Outra consequência dessa ressaca tecnológica é que o século 21 está apresentando um retorno da ilustração como fio condutor do design. “Em muitas ocasiões ela aparece com força, como uma investigação de linguagem que faz contraponto aos possíveis excessos da conceituação”, completa o especialista.
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