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Está em cartaz a Retrospectiva do Cinema Brasileiro
Em dezembro, o CineSesc reúne 40 longas-metragens selecionados a partir da produção nacional que esteve em cartaz entre novembro de 2013 e outubro de 2014. Conversamos com a curadoria para conhecer os principais filmes em destaque e tendências apontadas para a sétima arte brasileira
Em meio a ficções com atores estrelados, animações premiadas, comédias que são sucesso de bilheteria e documentários que passam longe de meros registros tradicionais, não há como dizer que a indústria cinematográfica nacional ficou estagnada neste ano. Só entre novembro de 2013 e outubro de 2014 foram lançados 104 filmes, dos mais diversos gêneros e linguagens. Dentro dessa produção massiva, a Retrospectiva do Cinema Brasileiro procurou selecionar e exibir filmes significativos para cada gênero, que apontem caminhos para o cinema nacional e que mereçam um olhar mais atento do público.
“A ideia é pensar em mais qualidade e não quantidade. É uma oportunidade desses filmes serem redescobertos em meio à avalanche de produções com muita publicidade”, explica a crítica de cinema Neusa Barbosa, que junto com os colegas de profissão Christian Petermann e Thiago Stivaletti assina a curadoria da 15a edição da Retrospectiva. “Nossa preocupação é que temos muitos filmes bons que foram pouco vistos, ficaram em poucas salas, com pouco tempo em cartaz. Por isso, é uma chance para colocá-los em circulação”.
Nada melhor, então, do que contar com as referências e escolhas da própria curadoria para entender o momento do cinema nacional, os diretores que se deve acompanhar e as produções imperdíveis que chegam à tela do CineSesc. Neusa Barbosa foi nossa fonte para saber quais os destaques, e entender as principais tendências da produção nacional:
A toada da ficção no cinema brasileiro
“A ficção no Brasil está num momento de crise - o que não é uma ideia negativa”, pontua Neusa, que também é editora do Cineweb. “Neste gênero estão os trabalhos que mais se arriscaram na procura de novos caminhos narrativos, além de uma geração jovem que espera do cinema outras formas de comunicação”. A crítica destaca Riocorrente, de Paulo Sacramento, por ser um longa de um cineasta que está entrando na maturidade e que trata de momentos atuais do Brasil. “O filme exige um pouco mais do público, mas é um tipo de produção que merece ser olhada”.
Praia do Futuro, de Karin Ainouz, também entra na lista “por ser de um diretor consagrado que continua procurando histórias e personagens singulares”. Da nova geração, Caru Alves de Souza e seu longa De Menor e Daniel Ribeiro com Hoje eu Quero Voltar Sozinho representam essa busca por uma ficção que fale dos jovens e suas questões.
Cena do longa Hoje eu Quero Voltar Sozinho, um dos destaques da Retrospectiva. Foto: Divulgação
Documentando fora dos trilhos
Neste ano tivemos muitos documentários, um gênero que não costuma ter grande público. “Selecionamos aqueles que foram significativos e que mereciam estar por aqui, como Ozualdo Candeias e o Cinema, de Eugênio Puppo, que é um filme belíssimo! Além de resgatar a figura do Candeias, ele é muito bem produzido esteticamente”, define Neusa.
Em termos de linguagem, personagens interessantes da música e da política renderam documentários muito diferentes entre si. Só não teve espaço para a caretice: “Existe também essa mistura de gêneros onde ficção e documentário estão muito grudados. São Silvestre, da Lina Chamie, é um bom exemplo dessa inovação. A criatividade não aparece só no roteiro, também está na câmera, na luz, na montagem…”
Outro destaque é O Mercado de Notícias, de Jorge Furtado, que “toca num tema fundamental no Brasil, o papel da imprensa em relação à politica”.
Tem idade para ser interessante?
Uma preocupação que se observa entre os realizadores nacionais é a conquista das novas gerações do público. Os filmes voltados a crianças e adolescentes apareceram de forma vigorosa, com títulos como Meninos de Kichute, de Luca Amberg, e a animação O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, que já acumula 30 prêmios nos principais festivais de animação do mundo. “A gente tem uma dificuldade de olhar para esse tipo de produção porque existem animações blockbusters estrangeiras que ocupam quase todo o espaço do que é feito para crianças e adolescentes. Então a façanha de O Menino e o Mundo, de ser visto e admirado por muita gente em seu país, é mais notável ainda”. comenta Neusa.
A Retrospectiva do Cinema Brasileiro acontece no CineSesc de 8 a 30 de dezembro de 2014. É possível adquirir pacotes de ingressos para ver 15 filmes a preços promocionais: R$120,00 a inteira; R$60,00 meia-entrada e R$35,00 para credenciados plenos. A venda desse pacote é realizada exclusivamente no Cinesesc.