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Painel gráfico

Crédito: ECO 92 - Rio de Janeiro, Design Rio Promotion Center, 1992 [Rafic Farah]
Crédito: ECO 92 - Rio de Janeiro, Design Rio Promotion Center, 1992 [Rafic Farah]


O design contemporâneo está ligado ao pensamento criativo digital, mas sem perder o diálogo com as vanguardas artísticas


A linguagem gráfica brasileira pode ser analisada em seus passos iniciais, datando do século 19, época da chegada da corte portuguesa ao país no ano de 1808. Ao longo daquele período o que deu as caras foi a tipografia de chumbo, seus tipos e ornamentos. Na troca entre os séculos, vimos uma melhora na qualidade da produção e reprodução de imagens, tendo em vista o uso associado da impressão litográfica. A ausência de pessoas que praticavam essa técnica resultou na importação de modelos exclusivamente europeus, considerando o domínio cultural exercido mundialmente pelo continente no período.

O século 20 reservou as facilidades da ilustração e a possibilidade de impressão de imagens em preto e branco e coloridas. De acordo com o livro Linha do Tempo do Design Gráfico no Brasil, com organização e textos do designer e professor de Programação Visual da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) Chico Homem de Melo e organização e design de Elaine Ramos (Cosac & Naify, 2014), a viabilidade de reproduzir desenhos feitos originalmente em papel ampliou o uso de ilustrações, a ponto de elas se tornarem hegemônicas na linguagem gráfica praticada nas primeiras décadas do século, tendo como referências máximas o desenho de humor e a pintura. Nesse sentido, tais referências se combinam e são realizadas pelos ilustradores-designers, que correspondem à primeira geração de profissionais dessa área nascidos no Brasil.


Fronteiras em expansão

O designer e ilustrador Rico Lins afirma que a conversa entre arte e design remonta à Bauhaus e à corrente mais funcionalista alemã. “A partir da Escola de Ulm começou a haver uma dissociação, um compromisso com a indústria, metodologia que passou a ter valor e importância maior do que na época da Bauhaus, pois nela tínhamos artes visuais, cenografia, figurino, tapeçaria, uma série de atividades que faziam parte desse universo”, explica.

Para ele, houve uma transformação geracional, considerando os novos profissionais da área, que nasceram com os questionamentos e os recursos trazidos pela tecnologia, que renovaram o status do design brasileiro.

Chico Homem de Melo identifica os novos designers como operadores de imagens que se sentem confortáveis em relacionar seu modo de pensar e seu trabalho ao mundo digital. “A geração dos anos 70 tem a presença da mão em suas produções, da ilustração iniciada no século 20”, afirma. “Nos anos 90 houve a entrada do computador, que é muito definidora na maneira de pensar – e não há nenhum juízo de valor ou qualidade –, porém, o modo de pensar mais ligado aos recursos digitais, a meu ver, marca a geração mais jovem.”

Já Guto Lacaz, que tem sua obra reconhecida pela interface entre arte e design, pontua que as vanguardas artísticas são influências relevantes para os designers e ajudam a construir um bom repertório cultural. “Dadaísmo, surrealismo, construtivismo, modernismo, Bauhaus, concretismo e mais toda a antiguidade estão sempre presentes, criando o chão por onde andamos. São referências muito fortes que estruturam nosso pensamento, permitindo releituras, transgressões e contribuições”, acrescenta.

Outros importantes nomes do design brasileiro são conhecidos por estreitarem essa fronteira, como Alexandre Wollner e Geraldo de Barros, que juntos participaram da Forminform, um dos primeiros escritórios de design no Brasil, criado em 1958.

Na visão de Homem de Melo, tendo como exemplo esses dois pioneiros, Alexandre Wollner é mais designer que artista, já Geraldo de Barros “representa um equilíbrio na importância não só como designer, mas também na obra artística, atividades que praticamente caminham juntas. Atualmente os designers são mais designers e os artistas mais artistas”, observa o professor.


Túnel do tempo

Exposição traça o rico percurso do design brasileiro

A cultura visual e gráfica estará fortemente representada no Sesc Pompeia a partir do mês de agosto durante a exposição Túnel do Tempo do Design Brasileiro, com curadoria do designer e professor de Programação Visual da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) Francisco Homem de Melo e comunicação visual de Elaine Ramos.

O trabalho realizado por ambos tem como base o livro Linha do Tempo do Design Gráfico no Brasil (Cosac & Naify, 2014), porém, nem tudo que está na exposição está no livro, que é um bom panorama do design brasileiro. “O critério usado no livro e que se mantém na exposição é combinar a produção mais refinada, que é mais experimental, com alcance e tiragens menores, a outras mais conhecidas”, conta Elaine.

Para Homem de Melo, a exposição e o livro são importantes para acabar com pensamentos que privilegiem o design autoral ou o feito dentro dos escritórios. “Temos que entender todas as produções como retrato do design brasileiro”, afirma.

E quem visitar a exposição irá se surpreender. Elaine revela que a ideia foi não fazer um evento de nicho, limitado a um único público. “Haverá painéis externos que irão seduzir as pessoas”, adianta. Fora será possível observar detalhes ampliados e como foram impressas algumas das peças originais, dispostas na parte interna do Pompeia. “Espero que as pessoas consigam mergulhar nas peças, sintonizar e olhar cada uma em particular”, observa.

Ainda será possível reencontrar memórias afetivas por meio das capas da icônica revista Realidade, capas de discos da gravadora Elenco, com figuras marcantes da MPB, como Maysa, Roberto Menescal, Vinicius de Moraes. Dos anos 80, não ficou de fora a arte das capas de discos da banda Blitz, do Barão Vermelho e do clássico Clara Crocodilo, de Arrigo Barnabé.