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Cinco perguntas para um cineasta iraniano

O diretor iraniano Farshad Fareghi no CineSesc<br>Foto: Amanda Zacarkim/CineSesc
O diretor iraniano Farshad Fareghi no CineSesc
Foto: Amanda Zacarkim/CineSesc

O iraniano Farshad Fareghi tem 31 anos e uma ideia fixa: ver seu país livre dos estigmas negativos propagados pela mídia. Para isso, uma das maneiras que encontra é fazer boas conexões com o Ocidente, como a vinda ao Brasil para apresentar seu primeiro documentário, “O Sopro de Zaar”, na mostra Cinema: Oriente Médio. Antes de ser exibido no CineSesc, o curta-metragem já viajou com seu autor para um festival na República Checa e para o NewFilmmakers, em Nova York.

Na entrevista acompanhada de um café no próprio CineSesc, Farshad explicou o contexto de seu primeiro curta e apresentou o cenário da atual produção cinematográfica de seu país. Leia a seguir.

EOnline: Como começou a sua relação com o cinema?
Farshad Fareghi: Eu não cheguei a ter uma educação formal em cinema, mas por cerca de dois anos trabalhei em alguns programas de TV em cooperação com documentaristas importantes, como Mehrdad Oskouei [diretor, produtor e roteirista iraniano de documentários e curtas independentes]. Também trabalhei para a Reuters na seção de TV e nesse contexto conheci muitos produtores e cineastas. Desde que me lembro, sempre estive envolvido com esse universo, foi como uma universidade para mim.

EOnline: Como é fazer documentários no Irã?
F. F.: Eu me lembro de uma vez, em 2008, em que tivemos um festival com um convidado ilustre, o cineasta britânico Richard Leacock [diretor de documentários e um dos pioneiros do cinema direto e do cinéma vérité]. Eu estava muito interessado em fazer um filme e pedi a ele alguns conselhos. Ele me respondeu que fazia filmes por diversão, não por dinheiro - porque não há dinheiro envolvido nisso! (risos) Não sei muito bem como isso funciona em outros países, mas no Irã não há dinheiro para este fim. E, ao mesmo tempo, temos um país tão rico em assuntos para se produzir documentários, são infinitas as possibilidades. Considero um presente viver e ser um diretor no Irã.

EOnline: Qual é a história por trás do documentário “O Sopro de Zaar”?
F. F.: A ideia começou de uma curiosidade antropológica, que era conhecer uma ilha de Hengon, que fica no litoral sul do Irã, uma região muito distante. Os habitantes da ilha são pessoas simples, que acreditam em jinns, os espíritos dos ventos. Elas realizam rituais para curar pessoas que estariam  possuídas, num estado chamado de Div Baad (vento demoníaco). Nos rituais, há sempre uma mulher e um homem mestres, há batuques, versos em línguas africanas e versos islâmicos, há ervas… Para mim, o mais interessante é ver essas pessoas juntas. Eu pensava que isso é uma desculpa para se reunirem, é como uma festa para eles. Há drinks especiais - claro, sem álcool, porque são islâmicos - músicas, roupas de festa. A raiz do ritual é africana, mas há um sincronismo com a cultura islâmica. A cerimônia é  parte da história e da cultura desse povo.

EOnline: Durante a mostra "Cinema: Oriente Médio" você vai participar do Cinema da Vela, num bate-papo sobre a produção contemporânea de seu país. Como você enxerga esse cenário?
F. F.: A produção cinematográfica iraniana é muito ativa. Há bons cinemas, mas a maioria deles é ocupada por filmes mainstream, não há espaço para ideias autorais e curtas-metragens, por exemplo. Há uma produção intensa de novos cineastas, mas eles são artistas e falta a eles esse contato com o público, falta distribuição. A minha ideia é fazer uma conexão entre esses novos diretores e outros países, estou disposto a fazer essa ponte para que os filmes sejam exibidos, seja em outros países do Oriente Médio, no Brasil ou também na Índia. Há pouca interação entre esses mundos e eu realmente espero poder fazer essa ponte.

EOnline: Na abertura do "Cinema: Oriente Médio", você comentou que está com um novo projeto de filme. Qual é o mote dessa nova produção?
F. F.: Quero fazer um documentário sobre a imagem real do Irã, que costuma ser distorcida pelos meios de comunicação. Muitas pessoas nem ao menos sabem onde fica o Irã, geograficamente. Muitos perguntam se não há exércitos nas ruas, deserto, muita pobreza… Esse tipo de questionamento quase me tira do sério. Eu não quero mostrar apenas as coisas boas do meu país - não há utopia na Terra e não seria diferente por lá. Só quero mostrar a realidade. Por exemplo, o Irã é um país realmente seguro, temos tecnologia de ponta e, ao mesmo tempo, temos pobreza, discriminação, tudo isso. Eu finalizei o roteiro e estou procurando um produtor - é por isso que quero viajar aos EUA, ou vou voltar ao Irã para buscar parcerias nas academias de cinema ou em órgãos do governo. Quero ajudar a ‘consertar’ a imagem errada do meu país. É o que me motiva. 

o que: Mostra "Cinema: Oriente Médio"
quando:

3 a 5/dezembro

onde:

CineSesc