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Fio de Cidadania
"O bordado é umgrande instrumento de sensibilização da alma humana. Puxa as emoções e os sentimentos mais internos e mobiliza discussões sobre temas como território, preservação ambiental, educação, saúde e tantos outros. Além, é claro, do resgate da cultura do fazer com as mãos o registro daquilo que acreditamos ser passível de transformação." Sávia Dumont
Ponto a ponto, linha por linha, os bordados de três gerações de uma mesma família da pequena cidade de Pirapora (MG) vêm tecendo um importante quadro de ação social no Brasil. Hoje, o trabalho do projeto Matizes Dumont é reconhecido e premiado mundo afora, tendo integrado exposições em todo o Brasil e em capitais como Paris, Roma e Nova York. Suas peças mostram poeticamente cenas cotidianas e propõem uma interpretação visual de obras literárias de autores como Jorge Amado, Ziraldo, Manoel de Barros e Rubem Alves.
Mas muito além dos panos que lhes servem de tela para a expressão artística, o trabalho do projeto Matizes Dumont mostra sua vitalidade em oficinas e encontros itinerantes em que o bordado vira canal de expressão para a cidadania. Dezenas de milhares de pessoas já participaram de projetos como o Caminho das Águas: Projeto de Mobilização Social no Vale do Rio São Francisco, que realizou 42 oficinas de Ponto a ponto, linha por linha, os bordados de três gerações de uma mesma família da pequena cidade de Pirapora (MG) vêm tecendo um importante quadro de ação social no Brasil. Hoje, o trabalho do projeto Matizes Dumont é reconhecido e premiado mundo afora, tendo integrado exposições em todo o Brasil e em capitaisPirapora até Piaçabussu (AL) em uma barca através do rio. As atividades – contação de histórias, dança folclórica, recomposição de mata ciliar, literatura, bordados, agricultura familiar – tiveram como foco áreas de educação, saúde, cultura e preservação ambiental. Segundo Sávia Dumont, educadora, ambientalista e escritora, cerca de 35 mil pessoas foram beneficiadas pelo projeto itinerante.
“Aprendemos a bordar com uma mãe bordadeira clássica, que fazia suas artes entre os afazeres domésticos, seguindo modelos de panos de amostra, com pontos já definidos, como tantas bordadeiras. Com ela aprendemos a descobrir as luzes, os movimentos, as formas, as cores e matizes da natureza, o que nos permitiu ter um outro olhar sobre a arte de bordar e conferir atualidade à arte milenar praticada anonimamente pelas mulheres em sua vida diária”, escrevem as irmãs Sávia, Ângela Marilu e Martha.
O trabalho da família começa pelas mãos do irmão, único homem do grupo, Demóstenes Dumont, artista plástico que concebe os primeiros traços que serão transformados em bordados. Em seguida, passa às mãos das irmãs bordadeiras, que partem do esboço inicial para trabalhar suas obras – em cujo processo surgirão novos sentidos conforme as cores, fios e tecidos selecionados. “A bordadeira não preenche apenas os desenhos: ela os recria num rico momento de improvisação e espontaneidade”, dizem as irmãs.
Aos cinco irmãos soma-se a mãe e pioneira Antônia Diniz Dumont, hoje com 77 anos, que durante anos ensinou “moças casadoiras” a bordar seus enxovais. Hoje seu nome batiza o Instituto de Promoção Cultural Antônia Diniz Dumont (ICAD), que atua próximo a comunidades carentes para difundir a arte e técnica do bordado como veículo de expressão criativa e fonte de renda.
O círculo familiar se completa com o trabalho das netas de dona Antônia, Luana, Tainah, Maria Helena, Paula e Luíza, que também se engajam na tarefa de difundir o bordado como veículo de arte e cidadania, e já começa a despontar entre as bisnetas, ainda crianças, num círculo virtuoso: tal qual os cinco irmãos que deram impulso ao projeto, a quarta geração também é criada entre linhas, tecidos e bordados.
O traço das bordadeiras da família Dumont é livre, transcende os pontos marcados mais clássicos, considerados limitadores. “Fizemos uma opção de arte que tem como eixo a linha da imaginação solta. O que falamos para nós mesmas cada vez que iniciamos um projeto é: que o nosso imaginário nos guie”, concluem as irmãs.