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Todos Somos Inteligentes... Não Somos?

por Regiane Galante

Ao receber o convite para escrever sobre Inteligências Múltiplas, uma inquietação rondou meu pensamento: será que eu, habituada ao rigor e à formalidade da escrita acadêmica – após concluir dois trabalhos de graduação, um de pós-graduação, e uma dissertação de mestrado –, teria competência para escrever um texto agradável aos leitores e que despertasse sensibilidade e questionamentos sobre como nos vemos em relação às nossas potencialidades e limites?

Comecei, então, por pensar o que é competência e cheguei ao conceito proposto por Jacques Perrenoud, que diz ser a capacidade que possuímos de mobilizar diferentes recursos cognitivos para enfrentar diferentes situações. E lá estava eu recorrendo ao formato acadêmico, citando fontes, seguindo normas...

Seria preciso exercitar minhas inteligências para, em poucas linhas, dizer das Inteligências Múltiplas sem ter de recorrer excessivamente a teorias ou definições.

E, nesse exercício de pensamento, outras dúvidas surgiram: por que achamos algumas pessoas mais inteligentes que outras? Por que alguns de nós temos maior facilidade para aprender línguas e outros para aprender dança?

Que Einstein é um gênio ninguém duvida, mas será que um beduíno no deserto, que se desloca com precisão numa paisagem sem um referencial de direção aparente e altamente mutável, é menos inteligente? Ou consideramos Einstein mais inteligente que o beduíno porque nossa cultura valoriza mais a inteligência lógico-matemática do que a viso-espacial?

Impossível respondê-las sem me reportar minimamente aos estudos de Howard Gardner, que observou o cérebro humano em atividade e identificou oito áreas que deram origem aos oito “tipos” de inteligências já conhecidos, apontando que não apenas uma área do cérebro era ativada durante a realização de determinada ação, mas outras eram também acionadas em menor escala, concluindo que todos os indivíduos são inteligentes, na medida em que desenvolvem mais ou menos determinadas áreas cerebrais ou habilidades, dependendo das demandas ou restrições do meio e da cultura nos quais estão inseridos.

Assim, nem todo garoto bom de bola será jogador de futebol profissional, mas aqueles que têm habilidade com a bola podem tornar-se ótimos arquitetos ou engenheiros por terem desenvolvido a inteligência viso-espacial, exigida tanto para arquitetar uma jogada, quanto para projetar uma casa. Quem tem mais habilidade com as palavras provavelmente lê muito, mas isso não quer dizer que um dançarino não possa ser um poliglota.

Percebi, então, outro conceito envolvido: a complexidade do ser, fator tão caro ao Sesc e ao desenvolvimento de suas atividades, cuja preocupação é entender cada um dos seus freqüentadores como indivíduos em sua totalidade: intelectual, espiritual, emocional e corporal.

Neste momento, lançamos um olhar mais cuidadoso à questão, na medida em que o Sesc Verão 2009 evidenciará a Teoria das Inteligências Múltiplas.

Tais princípios já são considerados no cotidiano da Instituição, quando valores como a prática prazerosa e lúdica da atividade física, o esporte participativo e democrático, a apresentação de diferentes manifestações artísticas, a aproximação com outras culturas, os projetos relacionados ao meio ambiente e o estímulo à convivência são trazidos à tona e realizados durante todo o ano.

Respondendo, enfim, a pergunta-título, todos somos inteligentes e continuamos nossa aprendizagem por toda a vida, num processo em que as várias inteligências são alimentadas na medida em que cada um de nós busca seu desenvolvimento de diferentes maneiras e áreas do conhecimento, exercitando aquelas sobre as quais já tem certo domínio, ou tendo a ousadia de buscar justamente as que pensamos não possuir.

Será que essa é a saída para a tão sonhada educação integral, permanente e pensada como um processo maior e complexo, que culmine no desenvolvimento integral do ser humano? Se for, já estamos num bom caminho!



Regiane Galante, graduada em Educação Física, Especialista em Lazer e Mestre em Educação, é Coordenadora de Programação do Sesc Araraquara