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Meio Ambiente
Olhai por mim
O projeto Mata em Flor prova que a preservação ambiental ganha cada vez mais adeptos. Após quase cinco séculos de devastação, a natureza respira um pouco mais aliviada
As vésperas da virada do século, quando as discussões ambientais ganham força, o Sesc Interlagos realizou o Mata em Flor, evento multidisciplinar com palestras, oficinas, debates e o lançamento de uma publicação. "O projeto incluiu atividades diversas com o fim de sensibilizar os diversos segmentos de público quanto a alguns elementos particularmente belos e importantes da mata atlântica presente na unidade, no que se refere a aspectos estéticos e ecológicos", explica Maria Alice Oieno de Oliveira, assistente de programação do Sesc Interlagos. "Oferecemos, também, diversas atividades caracterizadas pelo contato com a natureza, como oficinas e minicursos, caminhadas, apresentações teatrais e musicais, uma exposição de orquídeas e bromélias da mata atlântica."
Todas as atividades tiveram como principal objetivo conscientizar a sociedade da importância de cada um zelar pela integridade ambiental. Para cumprir tal missão, o Sesc Interlagos "atacou" em várias frentes, com o intuito de atrair da criança ao profissional da área. "Nossos esforços foram no sentido de envolver a comunidade, além de outros grupos, como universitários, técnicos de organizações diversas e educadores em geral, com a problemática da preservação da mata atlântica, sobretudo em áreas de mananciais, como é o caso desta unidade", diz a técnica do Sesc Interlagos.
Ainda segundo Maria Alice, um dos momentos mais importantes do projeto foi a realização do seminário "Cidade e Natureza Viva: Situação Atual das Áreas de Mata Nativa na Cidade de São Paulo", em que foi apresentado, por representantes da prefeitura, do estado e das universidades, um painel retratando as condições e as perspectivas do desenvolvimento da cidade de São Paulo e seu relacionamento com suas matas nativas, cada vez mais raras.
Além do Sesc Interlagos, os seguintes parques ainda têm áreas de mata nativa: Jaraguá, Cantareira, Alberto Loefgreen, Carmo, Santo Dias, Alfredo Volpi, Trianon, Cemucam, Anhangüera, Previdência, Estado e Carandiru.
Proteger é Preciso
Aproveitando o ensejo do simpósio, foi lançada a publicação Sesc Interlagos: De Centro Campestre a Ilha Verde na Cidade. O trabalho descreve a trajetória das quase três décadas de atuação do Sesc Interlagos na preservação ambiental, além de publicar o Levantamento Fitossociológico, realizado pela Unesp, que traça o perfil atual dos fragmentos remanescentes do ecossistema original existente no Sesc Interlagos (a fitossociologia é o estudo das comunidades vegetais do ponto de vista florístico, ecológico, corológico e histórico). Essa iniciativa visa orientar futuras ações envolvendo questões de caráter ambiental.
Dentro do espírito de respeito à natureza, o Sesc Interlagos vai aumentar em sete vezes o tamanho da sua área de mata atlântica que, atualmente, possui 1,6 hectare da mata original. O projeto é de grande importância, pois sabe-se da escassez de áreas verdes na cidade.
Embora o Brasil detenha uma das mais ricas diversidades de flora e fauna do mundo, o estado das nossas florestas é deplorável. Da mata atlântica, que à época da chegada portuguesa se estendia do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, resta apenas 5%. Nesse contexto, um projeto como o Mata em Flor torna-se de vital importância para convencer os brasileiros de que a revitalização geral do país passa pelo respeito pelo meio ambiente.
Uma História Verde
Quando foi criado, em 1975, o Sesc Interlagos já tinha a vocação para preservar a natureza. E, de fato, hoje, em meio à realidade caótica da região, resta como uma das únicas alternativas de ocupação criativa do tempo livre para os cerca de dois milhões de pessoas que moram nas redondezas.
Na verdade, pode-se afirmar que o Sesc Interlagos coloca em prática as características atávicas que marcaram a região, antes do crescimento metropolitano. Naquela área, até há alguns anos afastada do núcleo urbano, havia grande quantidade de chácaras e sítios, aproveitando as duas represas criadas a partir da década de 1930. A represa Billings, que faz fronteira com quase metade da área da unidade, construída para abastecer o complexo industrial de Cubatão, e a represa de Guarapiranga, formada a partir do represamento do rio homônimo.
Foi nessa região de natureza abundante que, na década de 1960, o Sesc adquiriu um terreno de 500 mil metros quadrados, então pertencente ao Sítio da Figueira, para a implantação do seu centro campestre. Conforme a publicação lançada por ocasião do evento: "[...] buscou-se desde o início identificar as possibilidades de valorização do contato com a natureza e de preservação ambiental dentro do que havia na área. Assim, as pastagens foram tratadas paisagisticamente e as áreas de plantações, transformadas em bosque e canteiros. Destacava-se, ainda, às margens da represa, uma reserva de Mata Atlântica, raro remanescente do ecossistema original [...]". Segundo o levantamento fitossociológico, a vegetação original que cobria todo o terreno do Sesc Interlagos, antes da ocupação pelo homem, "era uma floresta tropical úmida denominada de floresta sempre-verde de planalto, que se estendia desde a crista da Serra do Mar até o rio Paraná e hoje em dia está reduzida às áreas de reservas e pequenas manchas em meio às cidades, terras de cultivo e agropecuária do estado".
Além do reconhecimento minucioso das características da flora e fauna local, a pesquisa fitossociológica indica métodos para a manutenção e o manejo da área verde disponível. Com vistas à conscientização da comunidade sobre a importância de preservar o meio ambiente, o Sesc Interlagos já concebeu diversos projetos que confirmam sua trajetória "verde". Dentre eles, o Centro de Estudos do Meio (Cemeio), que convidou escolas e entidades da região para conhecer suas instalações, como o viveiro de plantas, a estação de tratamento de esgotos e a mata atlântica.
A partir de atividades lúdicas e criativas, cujo ponto fundamental era o contato com a natureza, o programa Viva o Verde, por meio de eventos temáticos, como o "Reciclando o Planeta", ofereceu oficinas de reciclagem e contou com diversas atividades recreativas, incluindo apresentações teatrais e musicais. No mesmo sentido, o Sesc realizou o Programa de Educação Ambiental, que capacitou educadores.