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Por uma vida melhor
O "Sistema S", criado para o bem-estar e a formação profissional dos trabalhadores, chega às vésperas do ano 2000 como um modelo de excelência em todas as áreas em que atua.Após mais de 50 anos, Sesc, Senac, Senai e Sesi provêem cultura, saúde, educação e lazer, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida do trabalhador, de sua família e da comunidade
Foi um sentimento de aventura juvenil." Assim, dessa maneira singela, Fares Youssef Murr resume o ímpeto repentino que o levou a atravessar meio mundo até se radicar em São Paulo. Como muitos conterrâneos, mal entrado nos vinte anos, deixou o Líbano sem muito no bolso e recomeçou a vida no Brasil.
Hoje, aos 69 anos, com a prole muito bem crescida, afastou-se do dia-a-dia de trabalho duro. A ausência das responsabilidades cotidianas inaugurou um fato novo para Fares: o inusitado tempo livre. Mas, a bem da verdade, a faina incessante de muitos anos deixou latente algumas paixões juvenis, enferrujadas pela falta de prática.
O que fazer diante de tal impasse? Um de seus filhos sugeriu uma solução: "Procure o Sesc". Dito e feito. Há cerca de um ano e meio, tornou-se um assíduo freqüentador do Sesc Pompéia. "Aqui pude realizar o sonho da minha vida", conta. "Quando jovem, amava pintar, comecei uns dois quadros que foram interrompidos devido às contingências da vida. No Sesc, reencontrei-me com a arte."
Foi por meio das oficinas culturais que Fares entrou no Sesc. No curso, aprendeu as primeiras noções de pintura. Aluno dedicado, aprova o método do professor, que deixa fluir livremente a criatividade da turma e apenas orienta na consecução técnica do quadro. "Ele permite que nos expressemos com total liberdade", afirma. Como ainda é principiante, Fares transita pelos vários estilos. É verdade que tem predileção pelo expressionismo, representado pelo norueguês Munch, cuja obra-prima, O Grito, esteve exposta na penúltima Bienal.
Em algum tempo, o confrade de Portinari percebeu que o Sesc Pompéia oferecia bem mais. Inscreveu-se, então, nas oficinas de pintura para a terceira idade, nas aulas de natação e começou a prestar mais atenção no programa cultural da unidade. "Vou sempre ao teatro, especialmente às montagens de Ivaldo Bertazzo. O Além da Linha d'Água, com Marília Pêra, foi contagiante.
Havia uma poética inacreditável. A abertura do Projeto Nordestes também: no fim, com aquele frevo, todo o mundo entrou na dança", analisa com a propriedade de um crítico calejado.
Formar Profissionais
Em pouco mais de um ano, Fares encontrou no Sesc uma excelente ocupação para o tempo vago depois da merecida aposentadoria. Passou, como ele gosta de dizer, a desfrutar de uma vida com qualidade melhor. "O Sesc é a casa do lazer e da cultura", resume. Essa sentença despreocupada talvez traga uma grande dose de verdade. Desde sua criação, há 53 anos, o Serviço Social do Comércio vem se constituindo num centro de excelência em tudo o que faz. A promoção do lazer e da cultura são evidentes: saltam aos olhos a cada projeto. Mas a atuação da entidade vai além da agenda cultural. Saúde, esporte, educação e turismo social contemplam públicos distintos, das crianças à terceira idade. "O Sesc tem realizado trabalhos meritórios em todo o Brasil. Mas é aqui na capital paulista que as iniciativas são mais importantes e inovadoras, especialmente nas áreas de cultura e lazer. Alguns dos programas executados são mesmo empolgantes. E merecem os aplausos de todos nós", comenta o publicitário Mauro Salles.
A idéia que motivou a criação do Sesc nasceu envolvida em uma atmosfera peculiar. O mundo acabava de se livrar do evento mais sangrento de sua história. Com a capitulação dos países do Eixo, a paz voltava a reinar, mas a Segunda Guerra deixara feridas profundas em todo o mundo. O desamparo e a fragilidade humana diante de um acontecimento tão tenebroso levaram os governantes a ampliar as ações sociais. Esse movimento mundial repercutiu no Brasil no final do governo de Getúlio Vargas, quando representantes das classes empresariais lançaram a semente para o que viria a ser conhecido como "Sistema S", ou seja, um sistema formado por instituições ligadas ao comércio e à indústria, com o objetivo de promover o bem-estar social em vários ramos de atividade. Sesc e Senac, voltados ao comércio e aos serviços; Sesi e Senai, ligados à indústria.
Cada instituição possui sua área de atuação particular. O Senai e o Senac direcionam sua infra-estrutura para a formação e a capacitação do trabalhador. São cursos, estágios e programas que preparam o cidadão para a nova realidade tecnológica. Em suma, eles ensinam uma profissão. Em mais de meio século de existência, milhares de profissionais passaram pelas salas de aula dos institutos que, hoje, como sempre, adaptam-se aos novos tempos.
É fácil verificar essa nova tendência na Escola de Mecânica de Precisão Suíço-Brasileira do Senai. O coordenador de estágios e ensino, Gilberto Dias de Barros, explica a evolução no setor de aprendizagem industrial: "Anteriormente, as indústrias necessitavam apenas do profissional capacitado para operar máquinas simples. Formavam-se o torneiro, o fresador, o ferramenteiro e o ajustador. Hoje em dia, a especialização demanda que o profissional adquira conhecimentos que extravasem o aprendizado básico".
Por esse motivo, as unidades do Senai se ajustaram às novas demandas tecnológicas, além de acompanhar as alterações da recém-promulgada Lei de Diretrizes e Bases. "Antes, ministrávamos o ensino técnico em conjunto com o acadêmico, mas, de acordo com as novas determinações, os alunos só têm o curso profissionalizante."
Dentre as muitas missões do Senai, uma das mais importantes é encontrar vagas de estágio para estudantes que cursam o último ano. Na Escola de Mecânica de Precisão Suíço-Brasileira, essa função fica a cargo do professor Gilberto: "Nossa intenção é fazer com que as empresas abram o maior número de vagas possível. Só assim o aluno pode optar pelo melhor estágio para ele". Segundo o relatório produzido pela escola, em 1998 houve 145 formandos para 468 vagas disponíveis, o que perfez uma relação de 3,4 vagas por aluno. Do total da turma, 92% conseguiram estágio e, entre eles, uma média de 90% conseguiu efetivação no fim do período.
Um olhar atento no exemplo acima evidencia que os alunos egressos do curso de Mecânica de Precisão da Suíço-Brasileira vivem uma realidade econômica diversa da maioria dos trabalhadores do país. Para os estudantes, existe uma superoferta de emprego. "Quando os trabalhadores adquirem uma boa formação, a crise torna-se menos sensível. Mesmo para o 'piso-de-fábrica', as indústrias necessitam de técnicos experientes."
A mesma opinião é compartilhada por Ricardo Zardo Natalicchio, proprietário da Mecapres, empresa que faz calibração de instrumentos, e da Tecmaster, que desenvolve equipamentos de controle. "Sempre contratamos estagiários, pois o profissional que sai do Senai está mais capacitado. Existe uma espécie de permuta com as empresas, que auxiliam no desenvolvimento do aluno, e a escola, que o prepara para a empresa."
Ricardo fala com a propriedade de quem se diplomou como Mecânico de Precisão na Escola de Mecânica de Precisão Suíço-Brasileira. Não apenas ele, mas outros quatro irmãos, que há 11 anos resolveram abrir, em sociedade, um negócio próprio. Hoje, dos trinta funcionários, quatro são estagiários e há necessidade de buscar mais gente na escola.
Porém, a parceria dos Natalicchio com o instituto não termina aí. Ricardo faz parte da Remesp, uma rede que envolve indústrias, o Senai e as empresas públicas com o intuito de dinamizar o setor. "Afora a formação profissional, o Senai oferece outros serviços de muito bom nível. Recentemente, eu e meus irmãos freqüentamos um curso de empreendedorismo. Na verdade, o dinheiro que os empresários pagam para manter a instituição é pouco se comparado com o que ela oferece. Na Remesp, nos esforçamos para difundir sua atuação entre as micro e as pequenas empresas, que absorvem a maior parte da mão-de-obra."
Interesse Social
A educação profissionalizante do Senai é complementada pelo trabalho desenvolvido pelo Sesi, o Serviço Social da Indústria.
Essa entidade, criada no esteio do "Sistema S", atende o industriário e a comunidade de diversas formas. Além de dispor da maior rede de escolas privadas do estado de São Paulo, com 160 mil alunos matriculados no ensino infantil, fundamental, médio e supletivo, desenvolve inúmeras atividades nas áreas culturais, esportivas e de educação informal.
São cinqüenta Centros de Atividades espalhados por todo o estado, que abrigam torneios e campeonatos muito concorridos. Além disso, são oferecidas atividades que visam alcançar o bem-estar por meio de uma rotina saudável. Programas como Ginástica na Empresa, Maior Idade e o Atleta do Futuro são práticas aliadas à atuação ampla da entidade na área de medicina preventiva. O programa conta com o apoio de uma equipe multidisciplinar que envolve médicos, fonoaudiólogos e engenheiros de segurança do trabalho, entre outros especialistas, sempre em consonância com as determinações dos organismos internacionais. Entre as ações realizadas pelos profissionais do Sesi destacam-se campanhas e assessoria às indústrias.
O Teatro Popular do Sesi - Sala Osmar Rodriguez Cruz - completa 36 anos, levando espetáculos de qualidade e de graça para um público que, normalmente, está alheado das alternativas de lazer. Esse palco tradicional da cidade abre as cortinas para receber artistas promissores no projeto Sesi Novos Talentos, cujo objetivo principal se coaduna com os princípios que norteiam a ação do Sesi, ou seja, a democratização do acesso aos bens culturais e às formas de produção cultural.
O trabalho do Sesi, para situar os leitores da Revista E, aproxima-se em certo sentido ao do Sesc. Ambos são reconhecidos pela excelente qualidade dos serviços prestados, a custos sempre acessíveis.
Na prática, esse diagnóstico fica bem claro ao se evidenciar o Projeto Curumim, destinado a crianças de 7 a 12 anos. Realizado em muitas unidades do Sesc, o projeto é voltado principalmente a filhos de comerciários e visa o desenvolvimento total da criança. No seio do Curumim, busca-se a sociabilização, a autonomia, a responsabilidade e o respeito.
O Sesc Interlagos está inserido numa região de muitas carências. Não fosse a programação oferecida pela unidade, as alternativas de lazer disponíveis para a população local se tornariam reduzidíssimas, quase nulas. E, como sempre, seriam as crianças os maiores prejudicados, à mercê das ruas com todos os riscos inerentes. É por meio das atividades do Curumim que elas encontram uma saída para extravasar a energia própria da idade.
"Uma loucura", resume o coordenador do Curumim, Daniel Jones, em referência ao refeitório tomado por mais de duzentas boquinhas vorazes ao meio-dia de um sábado de feriado. Em meio à algazarra, ficou difícil escutar a contento o que dizia Leandro Salvador Zocolande Lima, de 10 anos, há três assíduo freqüentador da unidade. Entre um pedaço de frango à milanesa e uma garfada de arroz, ele disse: "Sou atacante e gosto muito de jogar bola. Aqui é melhor que na rua. Têm os professores que ensinam a gente a ter respeito pelo outro e a não brigar. No Sesc fiz muitos amigos".
Após o almoço caprichado, Rafael Covate, de 12 anos, fez coro com o colega: "Aqui a natureza é bonita e as atividades me ajudaram a melhorar na escola". Segundo o guri, antes ele costumava bagunçar muito, mas no Sesc aprendeu a ser uma "pessoa boa". O único detalhe que entristece Rafael é que ano que vem ele terá de deixar os amigos, porque chegará ao limite de idade. "Estou um pouco chateado, mas vou continuar a freqüentar o Sesc do mesmo jeito", afirma. Ele está seguro de continuar curtindo o Sesc, pois sua família é habituê na programação da unidade, principalmente nas caminhadas.
A importância da interação entre pais e filhos levou à criação de uma atividade especial que une as duas gerações, às vezes tão afastadas pela dureza do cotidiano. A matroginástica coloca gente de várias idades em atividades físicas muito divertidas, que variam de semana em semana. No intervalo de um corrido jogo de frisbee (disco), a extenuada Dalva Santos de Almeida atendeu a reportagem: "Foi uma ótima idéia, pois em casa não tenho tempo para brincar com eles".
Deixar os pais mais tranqüilos em relação à segurança das crianças levou o Pão de Açúcar a divulgar e a estimular os funcionários a inscrever seus filhos no Curumim. "O projeto do Sesc tem um excelente nível pedagógico, além de uma ótima infra-estrutura e profissionais muito bem preparados", explica Rosangela Quilici, gerente geral do Instituto Pão de Açúcar. "Além da divulgação, o instituto se dispôs também a bancar o transporte dos funcionários e de seus filhos até as unidades."
A parceria acontece desde julho de 1999 e, até agora, 53 crianças freqüentam o Sesc Pompéia e o Sesc Interlagos e 13 participam do projeto Esporte Criança, na unidade Itaquera. No Instituto Pão de Açúcar, o Sesc encontrou um excelente parceiro, como comprovam as palavras de Rosangela: "O Sesc tem um ótimo nível técnico, estrutural e profissional, além de uma orientação pedagógica moderna. Seus projetos são muito bem fundamentados".
Passado, Presente e Futuro
A preocupação com o futuro tornou-se um tema recorrente para os pré-adolescentes. Enquanto Leandro sonha em jogar no Corinthians e Rafael, em pilotar na Fórmula 1, longe dali, precisamente no Sesc Pompéia, Bruna Nóbrega, de 12 anos, espelha-se nos seus ídolos do palco e pretende ser atriz. "Quero ser uma mistura de Fernanda Montenegro e Marília Pêra", diz, com controlada modéstia. A garota, velha conhecida dos técnicos, despede-se do Projeto Curumim este ano, mas já encontrou um bom substituto: "O Alta Voltagem é como o Curumim, mas para os adolescentes", explica com precisão. Em vez de oferecer um conjunto de várias atividades, nesse projeto o jovem escolhe o que mais o apraz. Alguma dúvida quanto à opção de Bruna? "Teatro, claro."
Apesar da pouca idade, a menina possui uma acurada consciência do drama social e defende a política do Sesc: "Aqui é muito legal, pois é possível que pessoas que não têm condições de pagar um clube se divirtam". Perfeito. A observação de Bruna vai ao encontro dos propósitos firmados há mais de cinqüenta anos: promover bem-estar social a todos. E desde cedo essa lição é transmitida aos usuários mirins, como explica Valter Sales Filho, técnico da Gerência de Programas Socioeducativos do Sesc: "Os valores que norteiam nosso trabalho com as crianças são a expressão e a comunicação. Quando eu digo expressão, refiro-me a um espaço onde a criança é autoridade, onde ela chega e se coloca, sendo solicitada a se expressar". A lição reflete no futuro.
E se o Sesc cuida dos cidadãos de amanhã, não esquece em nenhum momento do presente daqueles que já gastaram muita vida. O trabalho com a terceira idade mostra o pioneirismo da instituição, que percebeu há 33 anos a importância de um atendimento especializado voltado aos idosos, justamente para que se sintam integrados.
Pode-se dizer que as amigas Vera, Otacília e Isabel vivem para o Sesc. Quando Patrícia, técnica do Sesc Carmo, sugeriu que a reportagem as contatasse, alertou para ligar ou antes das 9h ou depois das 19h, caso contrário, elas já estariam rodando em alguma unidade da instituição. "Comecei a freqüentar o Sesc há 18 anos e fiz muitas amizades. Tudo o que eu faço lá reforça minha auto-estima. Posso dizer que sou feliz porque tenho o Sesc."
É preciso observar que a declaração de amor de dona Isabel não é da boca para fora. Afinal, para chegar ao Sesc Carmo, toma três conduções. Mas a dificuldade extra não impede que ela compareça na unidade quase todos os dias. Alguém duvida? Basta checar sua agenda, com desculpas à indiscrição: "Segunda-feira, bailinho; terça-feira, teatro; quarta-feira, ensaio de teatro e almoço; quinta-feira, pinturas em tela; e, para completar, em algumas sextas-feiras, mais ensaio. Existe uma ressalva no atribulado dia-a-dia. A presença de Isabel nos bailes é praticamente compulsória, pois este ano ela foi eleita Miss Simpatia do
Sesc Carmo e, como tal, deve zelar pelo título que conquistou.
Dona Otacília Maria Rodrigues é outra espoleta. Das atividades como ginástica, literatura e dança (gosta de tango) só descansa às segundas-feiras. Também, pudera. Não ficar parada foi a fórmula encontrada para prolongar a vida bem vivida: "Antes de conhecer o Sesc, já pensava na aposentadoria. Só que eu tinha medo, pois a maioria das pessoas que eu conhecia morreu logo após se aposentar. E se isso acontecesse comigo? Não aconteceu. E hoje sei a resposta: a mudança de ritmo. O corpo está acostumado a trabalhar e, de repente, pára. Graças ao Sesc, isso não aconteceu".
Manter o pique é a receita aconselhada pelos idosos. É preciso não esmorecer, continuar de cabeça erguida e não se entregar ao famigerado pijama. Guardar essa atitude altiva em uma sociedade que ainda não respeita o papel dos mais velhos é um desafio a ser vencido a cada dia. A palavra-chave é sociabilização. Tomar consciência de que a terceira idade deve participar da vida social, como um grupo de indivíduos que, devido à passagem inexorável do tempo, realmente possui uma condição especial, mas que, sobretudo, extravasa uma incrível alegria.
A vasta programação realizada pelo Sesc prova a disposição dos idosos. Em 1999, Ano Internacional do Idoso, eleito pela Organização das Nações Unidas (ONU), vários eventos instigaram seu envolvimento. Basta recordar o Festival de Teatro da Terceira Idade, que reuniu trinta grupos em São Carlos e o Assembléia Nacional de Idosos, em Bertioga, que propôs diretrizes em torno da participação dos idosos na vida político-social do país. "A experiência mostra que os idosos participantes dos programas aprendem novas formas de desenvolver relações, tanto as familiares como as afetivas, especialmente as amizades.
Eles encontram uma outra disposição para viver", explica Antonio Arroyo, da Gerência de Estudos da Terceira Idade (Geti) do Sesc. Para ele, a grande importância das atividades em grupo é a consciência da cidadania pelos participantes, conquistada pelo estímulo e pelo desenvolvimento da autoconfiança. "Os grupos passam a perceber que, apesar de marginalizados, ainda são cidadãos", completa.
Desde 1995, quando descobriu em um grande jornal de São Paulo os cursos de dança folclórica oferecidos pelo Sesc, a esteticista Vera Laurentiff prova que participação social depende do respeito à capacidade do idoso. "Este ano, encenei a peça A Bruxinha Que Era Boa, no Festival de Teatro da Terceira Idade. Todos pensaram que éramos profissionais. Foi uma experiência empolgante. Sempre gostei de teatro, mas com os filhos e o trabalho fui obrigada a parar. Agora, tenho tempo." A atriz vai além: "O Sesc foi uma maravilha que aconteceu na minha vida. Sinto-me realizada. Canto, danço, viajo. O centro de convivência já é para mim um ambiente familiar".
A fama de dona Vera se propagou como rastilho de pólvora. O resultado é que, este ano, ela foi eleita a rainha do Sesc Carmo. Ciente de que não seria nada sem os súditos, a majestade pondera: "Modéstia à parte, estou bem. Dizem que ainda sou bonita".
Saúde em Dia
O bem-estar social é um conceito vinculado à saúde da população. E saúde, nesse sentido, tem um significado amplo que envolve a qualidade de vida como um todo. Sua conquista depende de uma série de fatores interdependentes, os quais devem ser buscados sempre. Apesar de tudo, a receita é fácil: alimentação adequada, moderação no estilo de vida, atividade física regular e cuidados básicos para prevenir doenças.
Embora simples, um grande número de pessoas não consegue seguir essa receita. Muitos motivos contribuem para a inação, dentre eles, a carência econômica e a própria ignorância. Cumprindo seu papel social, as entidades ligadas ao "Sistema S", notadamente o Sesc, lutam para amenizar o descuido. Seria impossível listar aqui a vasta programação oferecida pelas unidades. São cursos, aulas, oficinas, campeonatos e projetos nas áreas esportivas e de atividade física que contemplam vários estilos, modalidades e faixas etárias. Não importa em que região da cidade ou do estado, o comerciário, o trabalhador dos serviços, o usuário e a própria comunidade sempre encontram alternativas para executar alguma atividade física. "Depois de um dia de trabalho, é bom ter um lugar não apenas para fazer ginástica, mas também para encontrar os amigos, bater papo, beber cerveja, ler, assistir uma peça de teatro. O Sesc é bem melhor do que qualquer academia", assevera Willian Ferreira Dinamérico, 28 anos, operador de computação gráfica. O rapaz é freqüentador assíduo das aulas de ginástica voluntária de segunda a sexta e quando acaba a aula aproveita as outras atrações da unidade. "Assisto shows, TV a cabo, vou à sala de leitura. Sei de gente que sai de São Bernardo e Guarulhos só para freqüentar a unidade. O Sesc é minha segunda casa. Estou muito satisfeito."
Por trás dos benefícios naturais gerados pela atividade física, as pessoas procuram o Sesc por outro motivo de igual relevância: o financeiro. As aulas e os cursos ministrados pela instituição apresentam preço até 70% abaixo do mercado. Porém, mesmo cobrando valores tão acessíveis, a qualidade não decai. Ao contrário. Os professores e instrutores responsáveis pelos cursos têm acurado preparo teórico e responsabilidade para lidar com grupos tão diversos. Mais do que apenas transmitir conhecimentos, os instrutores ajudam na construção dos hábitos dos alunos, demonstrando a importância de certos comportamentos que extravasam a simples boa forma física.
A pura competição não se incorpora ao rol das pretensões do Sesc na área de esporte e atividade física. Mais importante é a possibilidade de incrementar o contato social e desenvolver o bem-estar físico por meio de uma atividade completa, que conjugue saúde corporal e mental. Mário Augelli, gerente-adjunto do Sesc Pinheiros, identifica benefícios ainda mais abrangentes advindos da educação esportiva responsável: "Por ser uma importante fonte difusora de valores sociais, o esporte assume um papel significativo na educação e na reintegração dos indivíduos na sociedade. Nós, no Sesc, temos uma pedagogia voltada para valores educacionais e sociais, adaptando o esporte para idosos e crianças, democratizando as práticas e atingindo um maior número de pessoas".
O esporte sozinho, porém, não tem essa força. É necessário um trabalho educacional intenso para que se alcance um objetivo específico e a prática esportiva é apenas um dos instrumentos. O Sesc, portanto, desenvolve o trabalho completo, fornecendo educação e cultura para construir um cidadão cioso. Além disso, a instituição cobre a lacuna deixada pelo poder público, que não oferece alternativas suficientes para suprir as necessidades de lazer e, como conseqüência, de esportes à população.
A qualidade de vida, portanto, depende de uma série de fatores que não podem ser apartados. Alguns foram divulgados nas linhas precedentes como exemplo do trabalho de instituições como Sesc, Sesi, Senai e Senac. Mas há muitos outros não abordados devido à falta de espaço. São uma infinidade de projetos, cursos, aulas, espetáculos e equipamentos cujo objetivo principal é oferecer a possibilidade de um dia-a-dia melhor e mais salutar para milhões de pessoas.
Marília Pêra, como a senhora vê o trabalho do Sesc? O trabalho do Sesc é evidentemente muito bom. É ótimo que ele faça esse tipo de comunhão com os artistas que têm algo inovador para oferecer a um público que não tem poder aquisitivo alto mas que pode se enriquecer com esses trabalhos. Acho muito bonito o trabalho do Sesc. É importante, inovador, rico e, num país subdesenvolvido como é o Brasil, raro. Conte como foi a experiência do Além da Linha D'água? Foi uma possibilidade única de trabalhar com sessenta pessoas em cena, pessoas que eu não imaginava que existissem, que fizessem um trabalho tão importante e que fossem tão bons artistas; gente humilde que vem de um Brasil que não conhecemos. |
"A presença do Sesc na cultura brasileira é muito forte. É tão forte que tenho medo que alguma ave de rapina atrapalhe. Hoje, como instituição de apoio cultural e social, ele é único e fundamental neste país. Fiz muitos trabalhos com o Sesc, sempre obtive resultados extraordinários. É um atendimento corajoso, produtivo, educacional, porque prepara platéias, prepara artistas e prepara o ser humano para o ato cultural." (FernandaMontenegro) |
Ensinar a Trabalhar A partir de 1984, as unidades do Senac tornaram-se centros especializados, responsáveis por elaborar, desenvolver e administrar a tecnologia em programas educacionais nas suas respectivas áreas - Comunicação e Artes, Tecnologia e Gestão Educacional, Educação Comunitária para o Trabalho, Varejo, Idiomas, Informática, Turismo e Hotelaria, Recursos Humanos, Moda e Decoração, Beleza, Administração e Negócios. O Senac/SP tem hoje 49 unidades, sendo 13 especializadas e 36 operacionais, na capital e no interior. A rede inclui ainda a TV Senac São Paulo, a Editora Senac São Paulo e os dois hotéis-escola - o Grande Hotel São Pedro e o Grande Hotel Campos do Jordão. Dando vazão ao seu caráter social, a entidade criou, em 1993, o Centro de Educação Comunitária para o Trabalho, com o intuito de capacitar e organizar indivíduos para as questões cruciais em um mercado competitivo. São ministrados programas de gestão, campanhas educativas, programas de formação e de desenvolvimento de agentes educacionais. Dentre as principais atividades do centro, destaca-se o programa Educação para o Trabalho, que desenvolve as competências necessárias para o ingresso e a permanência no mercado de trabalho de jovens de baixa renda que tenham de 16 a 21 anos. Lançado em 1998, o programa ganhou este ano o Prêmio Especial Eco 99. Segundo Neusa Goys, gerente do centro, responsável pela criação do programa, já receberam capacitação mais de 6.200 jovens. "Formamos profissionais capacitados que recebem apoio de inúmeras empresas. Os jovens ingressam no mercado com um treinamento que os habilita a cumprir um bom papel", diz. Para as empresas, essa parceria é muito interessante, já que podem contar com um profissional bem qualificado. Já são mais de 800 que receberam o selo Empresa que Educa, um reconhecimento a quem acolhe os formandos para um período de estágio, quando acompanham toda a rotina de trabalho. O escritório de advocacia Pinheiro Neto é um parceiro assíduo. Recebe egressos do Senac desde o começo do programa. "Há vinte anos fazemos um trabalho parecido com esse", explica Sidnei Antonio da Silva, gerente de Recursos Humanos. "Desde o ano passado, trinta jovens que trabalham na empresa recebem educação do Senac. O resultado é surpreendente." O proprietário da Segatto Móveis, Osmar Ferreira Fernandes, concorda com Sidnei. Pioneiro no apoio ao programa, ele já recebeu 12 jovens que por um período de dois meses acompanharam a rotina da empresa. "Eles se saem muito bem, pois já vêm com um treinamento eficiente. Se todos contribuíssem, o benefício seria geral."
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Em Busca de um Sorriso Saudável No Sesc Consolação, por exemplo, os cuidados que devem ser tomados com os dentes são informados de acordo com a idade dos pacientes. Para as crianças de 7 a 12 anos, assuntos como a fluorose dentária e o câncer bucal são apresentados de maneira lúdica. A temática é desenvolvida por meio de brincadeiras, construção de jogos, oficinas de artes plásticas e música, gincanas culturais, acesso a macromodelos e materiais ilustrativos e explicativos, palestras interativas, vídeo e peça teatral. Já no Sesc Odontologia, desde o mês passado, os minutos que antecedem a consulta são animados pelo grupo de teatro Nós Três - Teatro e Palavra. Nessas intervenções, os atores explicam aos pacientes como cuidar de seus dentes. "Meia hora antes da consulta, o acompanhante e a criança recebem uma orientação exclusiva sobre os cuidados com a saúde bucal", completa o dentista (leia mais no Dossiê desta edição). A rede odontológica do Sesc oferece tratamentos de endodontia, prótese e pediatria. Só o Sesc Odontologia possui 41 dentistas que se dividem entre os 24 consultórios da unidade e se revezam nos três turnos. "Cem por cento do nosso atendimento é destinado aos comerciários. Temos 2.300 pessoas em tratamento e 4.700 na fila de espera. Os casos são priorizados de acordo com a urgência. Atendemos em média 320 pessoas por dia e damos alta para 540 pacientes por mês", contabiliza José Paulo. O gerente insiste na precaução: "A água fluoretada, a quantidade adequada de flúor no creme dental e alguns cuidados simples podem evitar a fila de espera para o atendimento. Os dois primeiros itens estão garantidos, agora basta insistirmos na prevenção para conseguirmos reduzir a demanda em alguns anos. No entanto, uma coisa é certa: ninguém chega aqui com dor e fica sem atendimento", garante. |
Contra a Fome e o Desperdício Com o projeto ganha quem doa e quem recebe o alimento. Prova disso é a procura de comerciantes pelo Mesa São Paulo como meio para escoar os produtos na iminência de perder a validade. "No Ceagesp, por exemplo, um dos nossos parceiros, cada comerciante tem um espaço muito pequeno para vender seu produto e se, por acaso, essa mercadoria não for vendida, ele não terá espaço para nova estocagem", explica Luciana Machado Gonçalves, nutricionista e coordenadora do projeto. Quem recebe os alimentos também obtém um treinamento sobre a organização adequada da mercadoria e a melhor maneira de manter a higiene. Em função do sucesso da iniciativa, a entidade recebeu da Câmara Americana de Comércio o Prêmio Eco 99 pelo conjunto de sua obra destacando o Mesa São Paulo na categoria Participação Comunitária. Através de parcerias com empresas alimentícias e com instituições sociais, o programa já possui um organizado esquema de colheita e distribuição de alimentos, cumprindo um papel determinante contra o desperdício. |