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Esporte
Sem restrição
Com novas modalidades, os Jogos Femininos estimulam a participação da mulher no esporte
A revolução feminina iniciada na década de 1960 é um evento obrigatório a ser recordado nas retrospectivas de fim de ano. Trabalhar fora, freqüentar universidade, expor as pernas, usar biquíni, casar com quem quiser ou não casar e usar pílula anticoncepcional foram algumas das reivindicações que impulsionaram esse movimento.
Com os novos tempos vieram os novos costumes e foram eliminados muitos tabus que atrasaram por séculos e séculos a qualidade de vida das mulheres. Prova disso? Mulheres jogando futebol, lutando judô, correndo em provas de atletismo, praticando natação, vôlei ou basquete. Nem sempre foi assim. Durante muito tempo, acreditou-se que as atividades físicas poderiam deixar a mulher masculinizada ou diminuir a fertilidade.
Felizmente, o preconceito infundado faz parte do passado e, atualmente, elas são protagonistas em práticas esportivas que, anos atrás, eram quase censuradas à participação feminina.
É fácil conferir a queda dos tabus pela quantidade de mulheres que participam desde 1995 dos Jogos Femininos Sesc. No campeonato deste ano, realizado em todas as unidades do interior e da capital, além do número recorde de 8 mil atletas inscritas, a inclusão de modalidades menos conhecidas do público comprovou que não existe limite para a participação feminina.
"Além da inclusão de modalidades como tae kwon do, badminton, atletismo, dama, xadrez, peteca e skate, há mais um incentivo para que as mulheres pratiquem atividades físicas: procuramos abrir a participação tanto no esporte coletivo como no individual. Entendemos que quanto mais opções são oferecidas, maior é o apelo para a prática esportiva. Atualmente, temos várias publicações que estimulam a mulher a cuidar do corpo. Assim, a atividade física acaba tendo um papel de destaque como opção de saúde, sociabilização e melhoria da qualidade de vida. Cabe ao Sesc oferecer as mais variadas possibilidades de esporte, não somente através de campeonatos e torneios mas também de cursos, oficinas e aulas abertas", explica Sílvio Luis França, assistente técnico da Gerência de Desenvolvimento Físico Esportivo do Sesc. No campeonato deste ano, que termina dia 5 de novembro, foram disputadas 24 modalidades contra sete do ano passado e cada unidade sediou uma ou no máximo duas modalidades.
Objetivo Nobre
Os Jogos Femininos nasceram em 1995 como Torneio Sesc de Voleibol Feminino. Somente a partir do ano seguinte, com a inclusão de outras modalidades, o campeonato passou a receber a denominação atual. As participantes, comerciárias, dependentes e usuárias, devem representar a empresa em que trabalham. No caso de uma empresa não dispor do número necessário de funcionárias interessadas, existe a opção de se unir a outra empresa com o mesmo problema e, assim, alcançar o número necessário para a formação do time.
No momento em que as participantes começam os contatos para criar as equipes ou quando passam a incluir em sua rotina a preparação para as provas individuais, o objetivo dos Jogos Femininos Sesc começa a ser cumprido. Antes de entrar em quadra, a sociabilização já está sendo exercitada.
A jogadora de vôlei Márcia Araújo, 25 anos, conheceu o Sesc quando trabalhava numa empresa do comércio em 1991 e até hoje freqüenta a unidade Consolação. Participa do torneio desde sua primeira edição, em 1995, e, atualmente, joga pelo time da própria unidade. Após cinco anos, a jogadora avalia a importância que os campeonatos têm em sua vida. "Com o vôlei, conheci mais gente, arranjei novas amigas e descobri pessoas que moram bem perto de mim, o que facilita muito para sairmos juntas.
Os campeonatos são mais uma alternativa de lazer, pois posso extravasar as tensões, além de me distrair bastante. Dou muita importância para o esporte." Márcia aponta outra mudança no torneio: "O nível das jogadoras melhorou muito. A cada ano sinto diferença".
Marinheira de primeira viagem nas competições, a praticante de tae kwon do Luciana Januzzi conta suas expectativas em relação à inclusão de sua modalidade nos Jogos Femininos deste ano: "O Sesc é um nome forte e servirá de apoio para o fortalecimento dessa arte marcial." A atleta, que pratica a luta há quatro anos, quando começou no Sesc Pinheiros, atualmente já ensina o que aprendeu em uma academia. Luciana alerta para o verdadeiro significado do tae kwon do: "A maioria das pessoas acha que as artes marciais servem apenas para a defesa pessoal. Não é verdade. Antes de tudo, elas trazem o equilíbrio entre a mente e o corpo". Mesmo após toda essa explicação, a pergunta é irresistível… "Já usei, mas apenas uma vez. Estava distraída, ouvindo walkman no ônibus e um rapaz tentou me assaltar. Não tive nem tempo de pensar. Apliquei um yopalkup." Yopalkup? "É. Uma cotovelada dada de lado e o rapaz caiu do banco."