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Clínica da USP aprimora atendimento a pacientes carentes

SANDRA REGINA DA SILVA

No Brasil, tratamento odontológico pode ser considerado um luxo, já que, financeiramente, está ao alcance apenas de uma minoria. Para se ter uma idéia, somente 7% da população tem condições de ser atendida regularmente em consultórios particulares. A rede pública, por sua vez, mal consegue dar conta dos casos de urgência. Essa situação levou a Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (Fousp) a investir numa nova clínica, com o objetivo de aumentar e aprimorar o atendimento a pacientes carentes, com prioridade para os moradores do bairro do Butantã, onde se localiza o campus da USP.

Inaugurada em julho, essa unidade ocupa uma área de 4,3 mil metros quadrados e deverá estar com todos os seus 192 equipos (nome dado ao conjunto de cadeira e acessórios usados pelos dentistas) funcionando até março de 2007. A antiga clínica, instalada há 20 anos e que contava com apenas 105 equipos, será paulatinamente desativada. Com isso, a capacidade, que era de 500 atendimentos por dia, poderá chegar a 1,2 mil.

Dirigida pelo professor Rodney Garcia Rocha, a nova unidade mais parece um moderno hospital odontológico. Além do amplo espaço físico, as instalações são agradáveis, tanto pela vista para os jardins externos quanto pelas cores utilizadas na pintura das paredes. A aparelhagem, de última geração, é superior à de muitos consultórios particulares.

"Essa inauguração é a realização de um sonho de 24 anos", conta o professor Carlos de Paula Eduardo, que assumiu a diretoria da Fousp em novembro de 2005. Como a clínica será toda informatizada e contará com novos computadores, adquiridos com recursos do Pró-Saúde, um programa do Ministério da Saúde, os profissionais que ali desempenham suas funções também terão de se adaptar, uma vez que um dos objetivos é a padronização dos procedimentos clínicos da Fousp e das faculdades de Odontologia de Bauru (FOB) e de Ribeirão Preto (Forp). Isso sem dúvida facilitará não só o trabalho de pesquisa como os levantamentos estatísticos.

Sinal de alerta

Na última década, o país avançou nos quesitos prevenção e controle de cárie em crianças, principalmente com a fluoração da água em várias regiões e a intensificação de programas preventivos de saúde bucal desde a gestação. A situação dos adolescentes, adultos e idosos, no entanto, está entre as piores do mundo. Segundo um levantamento realizado em 2003 pelo Ministério da Saúde, no qual foram examinadas cerca de 109 mil pessoas, as condições bucais da população em geral estão muito longe de ser boas. O estudo indica, por exemplo, que 13,43% dos adolescentes entre 15 e 19 anos nunca foram ao dentista. Nessa mesma faixa etária, verificou-se que o índice de perda dentária era muito elevado: 9,26% precisavam de prótese superior e 23,41% de prótese inferior.

Diante desse quadro, a nova unidade da Fousp ganha ainda mais importância. Ali, tratamentos de canal, de gengiva e restauração dentária são totalmente gratuitos. Como cerca de 90% dos gastos relativos ao funcionamento da clínica são bancados pela própria universidade, o paciente só terá de pagar se precisar de prótese, e mesmo assim apenas o suficiente para cobrir os custos de laboratório. Aliás, buscar recursos para a Fousp é um dos objetivos da recém-criada Associação dos Formados pela Faculdade de Odontologia da USP (Affo-USP), segundo Benedicto de Moraes Filho, um de seus idealizadores e também presidente da Academia Brasileira de Odontologia Estética (Aboe). "É nosso propósito também trazer de volta o ex-aluno, para que ele participe do trabalho de divulgação da faculdade entre a população e os formadores de opinião", diz Moraes Filho.

 

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