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Por trás do sorriso

Quem poderia supor que uma simples dor de dente pode desencadear problemas muito mais graves? Pois é. A saúde bucal é essencial para manter o bem-estar físico e mental. Para garanti-la, o caminho melhor e mais barato é o da prevenção. Um sorriso bonito, enfim, vai muito além da estética, é sinal de saúde e de cultura
Ronaldinho quase deixou de ser o maior jogador do mundo por causa... dos dentes. Quando começou no futebol, o craque tinha dois canais infecciosos, respirava pela boca e apresentava uma enorme falha ortodôntica. As implicações respiratórias e infecciosas poderiam tê-lo incapacitado de jogar futebol. Porém, graças a um tratamento dentário, Ronaldinho pôde corrigir esses problemas, passou a correr melhor e tornou-se um grande craque. A performance do atleta sofre influência íntima da saúde bucal: "As lesões cariosas têm uma consequência orgânica direta na diminuição da resistência do atleta", explica José Carlos Winther, cirurgião-dentista formado em educação física que desde 1991 estuda a saúde bucal de atletas.
Assim como Ronaldinho, muita gente não leva a sério a condição dos próprios dentes. Afinal, uma dorzinha de dente não parece algo muito grave mesmo. Mas as implicações de uma cárie esquecida podem causar grandes problemas. Se mal cuidada, pode atingir o canal do dente e uma infecção decorrente disso diminui a resistência de todo o organismo. Pode acarretar problemas no estômago, rins e intestinos. Muitas vezes acontece a perda do dente.
Aí, o otimista retruca: "Perder um dente não é o fim do mundo. Afinal, você continua vivo, respirando e trabalhando". Errado. O que pouca gente sabe é que muitos problemas de saúde estão relacionados com aquele dente que você já tinha se esquecido que foi perdido. A ausência de dentes muda a articulação da arcada dentária. Como engrenagens fora do lugar, os dentes não se encontram nos locais adequados durante a mastigação, o que pode levar os músculos faciais a sofrer espasmos por estarem em desequilíbrio. Cria-se, a partir daí, um desalinhamento das articulações têmporomandibulares (ATM), responsáveis por abrir e fechar a boca. Ao longo dos anos, o desgaste pode provocar dores de cabeça, de ouvido e dores lombares. "Entre as mandíbulas, passam nervos. Se a mordida é alterada, esses nervos podem ser avariados. Você pode ter perdido um dente aos 12 anos e dali a dez anos desenvolver um problema de ATM. Com a perda do dente, há uma compensação natural da musculatura e ajustes da ossatura. O médico vai tratar a dor nas costas, mas a causa é o desalinhamento da ATM", exemplifica Winther.
Esses são alguns dos muitos exemplos de como a má saúde dos dentes pode atrapalhar nossa vida. Mas há ainda outras implicações mais sérias relacionadas à falta de saúde bucal.
O coração e a boca
Cerca de 500 pacientes com problemas cardíacos são atendidos todos os meses pela equipe de odontologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo (Incor). Existe, no tratamento de algumas moléstias cardíacas, a preocupação de se evitar contaminação das válvulas pelas bactérias, a endocardite. O principal objetivo do serviço criado há 21 anos é prevenir problemas dentários que possam facilitar o surgimento de infecções cardíacas, causadas em 40% dos casos pela bactéria da flora bucal.
A endocardite é uma infecção cardíaca perigosa, com taxa de 25% de mortalidade. Suas internações chegam a 40 dias e em 25% dos casos ocorrem lesões de válvulas e a necessidade de intervenção cirúrgica para colocação de próteses. Pessoas com lesões prévias no coração ou com doenças reumáticas mal curadas são mais suscetíveis a contrair essa doença.
Ricardo Simões Neves, cirurgião-dentista e diretor do Serviço de Odontologia do Incor, explica que os principais problemas encontrados são as gengivites – inflamação das gengivas que provocam sangramento – e as cáries. "Existe uma bactéria na flora bucal, a Estreptococcus viridans, que é inofensiva na boca. Mas o sangramento periódico da boca ou focos dentários podem facilitar a entrada dessa bactéria na circulação da pessoa e, ao passar pelo coração, a bactéria se estabelece, provocando a endocardite", explica Neves. Para ele, uma cárie pequena não oferece grandes ameaças. Mas caso ela se desenvolva, atinja o canal do dente ou provoque um abscesso (acúmulo de pus), o risco de infecção aumenta. "Em 1998 fizemos um levantamento do perfil do paciente do serviço de Odontologia. De cem pacientes, apenas 4% apresentaram saúde bucal adequada", conta Neves.
Brasil cariado
A gengivite pode ser evitada com uma escovação regular, uso do fio dental e remoção periódica do tártaro. Uma cárie pode ser afastada pelo mesmo procedimento e pelo controle da ingestão de açúcares. Cuidados tão simples... que a gente acaba se esquecendo deles.
Se dentes mal cuidados podem trazer conseqüências graves, a saúde bucal pode ser facilmente alcançada e mantida. A odontologia obteve grande avanço científico nos últimos anos, possibilitando melhorias sensíveis no bem-estar das pessoas.
O desenvolvimento social, ainda que desigual e incoerente, e as rápidas e crescentes melhorias na qualidade de vida do mundo todo, inclusive nos países subdesenvolvidos, traz à tona questões que, por muito tempo, ficavam "na gaveta" das prioridades sociais. Hoje, já se sabe: saúde bucal é coisa séria, e deve estar na pauta de ação tanto do governo como da sociedade civil. "Saúde não é ausência de doença. É a garantia de qualidade de vida", explica Paulo Carpel Narvai, professor de Odontologia em Saúde Coletiva da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP). "E nesse contexto, quem não tem saúde bucal, não tem saúde", completa.
Mas como medir a saúde bucal do país? "Através da Epidemiologia, que estuda as causas e as incidências das doenças", explica Narvai. Os levantamentos epidemiológicos em saúde bucal são baseados em cálculos estatísticos. É por meio deles que se pode mensurar, por exemplo, o nível de pessoas com cárie dentária no Brasil.
Em 1986, o governo realizou o Primeiro Levantamento Epidemiológico em Saúde Bucal (Cárie Dentária) em escolares de seis a 12 anos. Dez anos depois, o Ministério da Saúde repetiu o levantamento para acompanhar a evolução da cárie dentária no Brasil. Para os levantamentos, o Ministério da Saúde utilizou-se do índice CPO-D de seis a 12 anos, que representa a média dos dentes cariados, perdidos e obturados encontrados em crianças escolares nessa faixa de idade. É o índice mais recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O levantamento de 1986 mostrava dados alarmantes. O Brasil figurava como um dos campeões em cárie. Com resultados tão vexatórios, iniciaram-se pela primeira vez no país programas nacionais de saúde bucal.
O novo levantamento, em 1996, revelou uma redução de 53,98% da cárie dentária de escolares com até 12 anos. Em 1986, o valor de CPO-D aos 12 anos era de 6,65 – ou seja, na média, as crianças brasileiras já tinham quase sete dentes cariados quando completavam 12 anos de idade. Dez anos depois, o CPO-D foi de 3,06.
O resultado da pesquisa merece ser comemorado, mas não há motivo para euforia. Apesar do Brasil apresentar um índice médio razoável, há muita discrepância nos dados entre os Estados, decorrente dos altos índices de cárie no Norte e Nordeste do país, e o patamar alcançado pelo Brasil ainda está longe do da maioria dos países desenvolvidos.
O Estado mais mal colocado no ‘ranking da cárie’, Roraima, tem um índice CPO-D quatro vezes superior ao do Estado mais bem colocado, o Espírito Santo. O índice de 6,3 dentes atacados por cárie nas crianças de 12 anos da capital de Roraima, Boa Vista, aproxima-se do índice dos países com pior classificação no ranking da OMS, como o das Filipinas (5,8). Já o índice CPO-D de 1,47 conseguido em Vitória (ES) é um dos poucos equiparáveis aos índices dos países ricos, como Estados Unidos e Reino Unido (CPO-D de 1,4 em ambos os casos). No Norte do Brasil (cujo índice CPO-D é de 4,27 dentes cariados por aluno), o acesso à água tratada é, por si só, um problema. "No Estado de São Paulo (CPO-D de 2,28 cáries por aluno), cerca de 90% da população tem acesso à água fluoretada", explica Narvai.
Mas algumas cidades do Estado de São Paulo já atingiram as metas da OMS, como é o caso de Santos, São Vicente e São José dos Campos, onde o CPO-D está abaixo de 3,0. "Num estudo realizado no município de São Paulo também em 1996, constatamos que o CPO-D aos 12 anos é de 2,1", diz Narvai.
A OMS divulga metas em relação à cárie dentária no mundo. Os números servem de embasamento para propostas de melhoria da qualidade de vida de toda a população do globo. Para a OMS, no ano 2000 o CPO-D de crianças até 12 anos deve ser 3,0. E em 2010, menor que 1.
No Brasil, três fatores foram essenciais para que houvesse redução da cárie. A partir de 1985, a saúde bucal do brasileiro começou a melhorar por meio de uma resolução simples. As águas brasileiras tratadas passaram a conter flúor em sua composição. Em 1988, novo ganho: as pastas dentais passaram a conter obrigatoriamente compostos fluoretados.
A descentralização do sistema de saúde brasileiro (a partir da Lei Orgânica 8.080, de 1990) também colaborou no combate à cárie, já que programas regionais e municipais foram desenvolvidos e colocados em prática. "Surgiram projetos muito criativos, várias ações educativas", lembra Narvai.
Muitos especialistas, no entanto, contestam os dados do Ministério da Saúde, considerando a amostragem falha e os parâmetros sem controle. "A amostragem utilizada no levantamento é questionável. Muitas das escolas escolhidas eram escolas-modelo e não representavam a maioria", aponta Fábio Bibancos de Rosa, odontopediatra e ortodontista, criador de um projeto inovador para atender crianças carentes (veja box). Bibancos acredita que no levantamento também não foram consideradas como cáries as "manchas brancas", o estágio inicial da cárie dentária. "Lidamos com crianças carentes no nosso projeto e o que estamos vendo é que o alto índice de cáries continua", completa.
Mesmo com os valores sendo contestados, há um consenso de que a ocorrência de cárie dentária reduziu no país, principalmente pela fluoretação das águas e adição de flúor às pastas dentais. Mas Narvai vislumbra dificuldades para o futuro: "A partir de agora, o esforço deve ser maior. Tudo o que podia ser feito em termos macroscópicos, foi feito. É preciso atingir grupos sociais mais vulneráveis", diz.
Melhor prevenir
Não basta só a assistência. Pelo contrário. Agora, o desafio é outro: continuar a diminuir os índices de CPO-D com ações locais e específicas. A grande jogada no combate à falta de saúde bucal do brasileiro é a prevenção. E nisso, todos concordam.
Existem seis grandes focos relacionados aos problemas de saúde bucal: a cárie dentária, os problemas gengivais, as oclusopatias (mordidas deficientes), as lesões labiopalatais (lábio leporino, por exemplo), o câncer bucal e a fluorose dentária.
Estima-se que, em 1999, apareçam cerca de três mil novos casos de câncer bucal no país. "Desses, 50% terão diagnóstico tardio, quando já ocorreu metástase e o câncer já se espalhou por outras partes do corpo", explica Narvai. A lesão primária ocorre na boca. Nesse estágio, a doença pode ser tratada com resultados bastante positivos. Mas é preciso diagnosticá-la cedo. E a única maneira disso acontecer é consultar regularmente o dentista.
Visitar o dentista, pelo menos nas classes sociais mais altas, é um hábito relativamente comum. Mas quase nunca como prevenção e sempre com caráter curativo. Doutor Narvai descreve um quadro pavoroso: "As pessoas consideram doença aquilo que as incapacita para o trabalho. Mas ignoram cáries e problemas gengivais, porque seus sintomas iniciais são somente dor, sofrimento e desconforto. Se ela pega uma gripe, sua resistência abaixa, e aquela cárie pode infeccionar, provocar um abcesso. Ela sana o problema num pronto-socorro (PS) ou no balcão da drogaria. Acaba extraindo o dente no PS, pois a assistência odontológica no Brasil raramente é coberta por planos de saúde. Essa mutilação acarreta muitos problemas. Além disso, a pessoa passa a mastigar mal e precisa se privar de determinados alimentos. Sua capacidade fonética pode se alterar e com ela, suas relações interpessoais. Em termos estéticos, existem muitos casos em que a pessoa sente dificuldade de achar emprego devido à aparência. A auto-estima vai lá embaixo".
O efetivo controle dos hábitos alimentares também é um fator determinante para a qualidade da boca dos cidadãos de nacionalidades com diferentes culturas. "Há países extremamente pobres, na África, com CPO-D baixos, porque sua cultura alimentar é pobre em açúcares", diz Narvai. A ingestão de produtos açucarados e a presença de cáries estão comprovadamente relacionados. "Nas comunidades essencialmente agrícolas, como as indígenas, por exemplo, a experiência de cárie era praticamente nula. Depois do contato com a cultura do homem branco, ela explodiu", explica Narvai. O brasileiro consome, em média, 150 gramas de açúcar por dia, enquanto a OMS recomenda 40 gramas. Esse consumo de açúcar custa caro com o passar dos anos. Quem tem condições de pagar um tratamento fica menos prejudicado. Mas e quem não tem?
Dentes carentes
O desenvolvimento socioeconômico de um país está intimamente ligado à saúde da população. No Brasil, o combate às desigualdades sociais também passa pela saúde bucal. As comunidades carentes, sem saneamento básico e cuidados básicos de higiene, ficam atrás na corrida por dentes saudáveis. Por isso, muitos projetos têm buscado diminuir o abismo entre as classes sociais e a qualidade de seus dentes.
A Associação Paulista de Cirurgiões-dentistas (APCD) tem um projeto de educação em saúde bucal para atender comunidades carentes. Segundo Antonio Luiz Mamede Neto, diretor do Departamento de Saúde Coletiva da Associação, só no segundo semestre do ano passado 19 entidades carentes foram visitadas por dentistas e estudantes de odontologia. Os dentistas dão orientações básicas de como escovar os dentes e ensinam a importância da boa saúde bucal. O projeto engloba uma Unidade Volante, com equipamento completo de tratamento dentário para eventuais emergências. "Se alguma criança está sentindo dor, ela é imediatamente tratada na entidade mesmo. Mas nossa idéia central não é o tratamento, é a conscientização", explica Mamede.
A promoção do atendimento preventivo está revolucionando o trabalho de muitos profissionais. O novo paradigma começou na Noruega. Com um dos maiores índices de cáries do mundo, o país percebeu que despendia muito dinheiro para o tratamento curativo. A Noruega foi pioneira na implantação de programas nacionais de prevenção de cáries e é hoje um dos países com menor índice de cárie dentária do mundo.
O Programa de Odontologia do Sesc também já previu a importância da prevenção. "Mudar o comportamento é o mais difícil em prevenção", diz o cirurgião-dentista Luiz Manuel Gomes, da Gerência de Programas Socioeducativos do Sesc.
"A nova consciência respeita o tratamento curativo, mas privilegia a idéia de prevenção, de evitar a cárie, de promoção da saúde", diz Gomes. "A responsabilidade do profissional é agora muito maior", completa. Por isso, uma das grandes preocupações do Sesc é a conscientização dos profissionais dentistas que trabalham nas unidades. "As faculdades de odontologia ainda estimulam o tratamento curativo. A mudança de comportamento para o tratamento preventivo começa na visão do profissional", explica Paulo Silas Manzatti, chefe da clínica do Sesc Odontologia no período da tarde. Para isso, os dentistas da instituição são orientados a ensinar os pacientes a escovar corretamente os dentes e, principalmente, dar motivação às mães gestantes. "Queremos que cada paciente se torne um divulgador", diz Paulo Roberto Ramalho, chefe da clínica no período da manhã.
Para a equipe, a população só tem a ganhar com a prevenção. "O tratamento preventivo é muito mais barato", diz Manzatti. E a idéia de que com prevenção os dentistas vão perder clientela também já está ultrapassada. "Ninguém vai perder cliente, só vai mudar o enfoque", completa Gomes.
Apesar de visar à prevenção, o Sesc Odontologia tem uma preocupação relevante para seguir com os tratamentos curativos. "Vamos continuar com o serviço curativo e estético porque é muito importante para o comerciário", diz José Paulo Bersan, gerente do Sesc Odontologia. Manzatti complementa: "Às vezes, com um simples tratamento estético, reintegra-se a pessoa no mercado de trabalho".
Para Bersan, outra orientação importante é a desmistificação de certos conceitos. "Muita gente considera ‘normal’ não ter dente aos 70 anos. É preciso uma abordagem diferente para essa faixa de idade, conscientizando-a de que isso não é verdade", diz ele. "Nosso projeto é a prevenção por faixa etária. Para os adolescentes, por exemplo, enfatizamos o mau hálito, fruto da má saúde bucal, como empecilho para o beijo".
Na faixa de zero a seis anos, a facilidade de estabelecer hábitos e conceitos é muito maior. "Estamos atuando junto ao Projeto Curumim com orientação dos nossos dentistas na escovação das crianças após o lanche, e o resultado tem sido muito positivo", completa. Os projetos do Sesc na área de odontologia já servem de modelo de atuação para profissionais de outras instituições.
Adote um sorrisoFábio Bibancos é expansivo, agitado e engraçado. Trabalha como odontopediatra e ortodontista. Começou seu doutorado, dá aulas, cursos, palestras e ainda acha tempo para coordenar um projeto pioneiro na área de saúde bucal. Em 1995, Bibancos publicou o livro Um sorriso
feliz para seu filho, um guia para mães que
ensina noções básicas de cuidados da gestação à adolescência, adotado pelo programa Comunidade Solidária nos seus trabalhos. Com a popularidade do livro, passou a fazer palestras em escolas e associações sobre saúde bucal e cuidados básicos. Atento às discrepantes desigualdades sociais do país, Bibancos criou, no final de 1996, o projeto Adote um Sorriso, em associação com a Fundação Abrinq. "Começamos com 15 dentistas ‘convidados’ e 15 crianças adotadas. Em 1998, foram 700 dentistas só na cidade de São Paulo", conta Bibancos. Ao associar-se ao projeto, o dentista assume o compromisso de oferecer atendimento odontológico a uma criança carente até seus 18 anos, ou até que ela tenha condições de bancar o próprio tratamento. O dentista voluntário, após o primeiro tratamento da criança, recebe o selo "Adotei um sorriso" e pode usar essa marca em seu prontuário, cartões de visita e no consultório.
"Sempre que possível publicamos uma lista dos dentistas associados. Queremos que a população cobre, procure seu dentista na lista e se não encontrá-lo, ligue para ele e comente", diz Bibancos, que acredita na força da sociedade civil em combater a falta de saúde bucal da população carente.
"Não acredito em SUS, não acredito em posto de saúde. Falta recurso, tecnologia, pessoal treinado. O dentista, em seu consultório particular, faz o maior investimento. Ele acredita no seu atendimento. E é esse atendimento que ele vai fornecer para a criança que adotou. A qualidade do atendimento é muito superior", explica Bibancos. "No Brasil existem cerca de 140 mil dentistas, sendo que 68% estão em São Paulo. Se cada dentista adotasse duas crianças, seriam 280 mil crianças carentes assistidas", calcula. No projeto, Bibancos acompanha o trabalho dos dentistas com as crianças. A Fundação Abrinq se encarrega de procurar entidades carentes e identificar as crianças mais necessitadas. "Normalmente são crianças afastadas da família, órfãs ou em abrigos", diz Bibancos. O dentista associado faz um controle semestral da saúde do adotado e comunica ao projeto. "Cada dentista deve enviar radiografias da criança no início e no fim dos trabalhos, para que acompanhemos a evolução e o tratamento de cada um", diz Bibancos.
A idéia atinge muito mais que a saúde bucal de crianças carentes. Aproxima o dentista de uma outra realidade, de um outro Brasil. "O dentista acaba influenciando e sendo influenciado. Muitas passam o Natal com a família dele, vão ao zoológico, as mães trabalham como faxineiras. Cria-se uma malha de solidariedade", comemora Bibancos.
Em 1999, 117 cidades brasileiras e seus dentistas serão incorporados ao projeto.
Adote um Sorriso pelo telefone 3872-7498.
Dentes perfeitos para seu filhoDurante a gravidez
a Hábitos alimentares saudáveis, especialmente evitando doces, pois além de prejudiciais aos dentes, o hábito de comê-los pode ser "herdado" pelo filho
Amamentação e mamadeira
a Amamente seu filho no seio até o primeiro dente. Amamentar estimula o crescimento ósseo da face, a formação da arcada dentária e o perfeito posicionamento da língua
a Use mamadeiras com bicos duros e furos pequenos; nunca corte a ponta do bico
a Evite mamadeiras com açúcar e a mamadeira noturna. Esta é a conduta preventiva para a cárie rampante de mamadeira, um tipo de cárie que destrói quase todos os dentes em pouco tempo
a Escove sempre os dentes da criança após a mamadeira, mesmo que ela esteja dormindo
Chupetas e sucção do dedo
a Chupeta até, no máximo, os 3 anos de idade
a Chupeta de bico duro, de preferência ortodôntica, apenas no período noturno
a Chupeta sem açúcar nem mel
a Prefira chupeta à sucção de dedo
a Paciência e carinho são fundamentais
a Se o hábito de chupar o dedo persistir, procure auxílio profissional
Respiração bucal
a Criança que respira pela boca tem que ser tratada com urgência! Acarreta baixo rendimento escolar, audição deficiente, ronco, má digestão, boca seca, além de rinite e carne esponjosa
Prevenindo cáries
a Inicie a escovação quando aparecer o primeiro dente
a Brinque! O que parece chato pode se tornar um grande prazer
a Escove os dentes da criança após cada refeição
a Entre 9 e 10 anos a criança estará apta a escovar os dentes sozinha
a Complemente a higienização com o fio dental
a Escolha fio dental encerado, resistente e firme
a Dieta balanceada com bastante fibra
a Evite açúcares
a Prefira escovas de cerdas macias e arredondadas, de cabeça pequena
a Use creme dental com flúor
Acima de tudo, é preciso aliar ao conhecimento técnico uma boa dose de carinho, atenção e disciplina.
Dicas retiradas do Guia Prático Um Sorriso Feliz Para Seu Filho, de Fábio Bibancos de Rosa.
Saúde integral"A busca da qualidade de vida não segue apenas um comando externo. Trata-se de um forte impulso interior. É a ação de concretizar a teoria em prática. E é nesse contexto que a prevenção e a promoção da saúde se enquadram.
Como despertar nas pessoas, efetivamente, esse processo de ampliação de consciência? Como motivá-las a passá-las da fase de desinformação para o estágio atuante, com novos hábitos? É preciso envolver as pessoas, torná-las motivadas e atuantes. O trabalho desenvolvido pelo Sesc é um bom exemplo.
A Organização Mundial da Saúde define que "saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade". No Sesc, esse conceito não é perdido de vista, mesmo quando o programa enfoca a saúde bucal. Porque a boca não está isolada e independente do corpo.
Sendo assim, na unidade Consolação, os programas educativos integram os setores odontologia com esportes, o Projeto Curumim e Centro Experimental de Música (CEM), entre outros. Os resultados são ótimos, pois a multidisciplinaridade da equipe contribui para que os programas se tornem mais ricos e completos.
O resultado rendeu, em 1998, o convite para o Sesc apresentar seus programas preventivos no 18º Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo, um dos maiores da América Latina, e no IV Encontro Paulista de Administradores e Técnicos do Serviço Público Odontológico / III Congresso Paulista de Odontologia em Saúde Coletiva.
A participação da entidade nesses eventos foi muito importante para compartilhar experiências entre os programas locais e propiciar intercâmbio entre universidades, serviços e diferentes segmentos da sociedade civil.
Didática especial a cada grupoTemas complexos como a importância da saúde bucal, cárie dentária, doenças gengivais, problemas oclusais – da mordida –, câncer bucal, fluorose dentária, além da prevenção para evitar esses problemas são abordados com uma didática especial a cada grupo de idade.
Para as crianças de sete a 12 anos, por exemplo, a proposta baseia-se na ludicidade, no envlovimento e participação da família e da continuidade dos programas. A temática é desenvolvida por meio de brincadeiras, da construção de jogos, oficinas de artes plásticas e música, de gincanas culturais, acesso a macromodelos e materiais ilustrativos e explicativos, palestras interativas, vídeo e peça teatral. A participação da família unida nas atividades e brincadeiras é fundamental para que o programa seja efetivo.
Além disso, os participantes passam por um exame clínico gratuito, quando cada criança vê no espelho como está sua boca e recebe orientações sobre dieta adequada e higiene bucal -treinando as técnicas. Por meio de corantes específicos, colore-se a placa bacteriana e a cirurgiã-dentista acompanha o controle de placa (Índice de O’Leary), comparando os resultados a cada retorno periódico. Se for da vontade dos responsáveis pela criança, as eventuais necessidades de tratamento podem ser feito na clínica do próprio Sesc.
Quanto às crianças do CEM – coral, musicalização e violino –, o desenvolvimento da temática une a parte clínica e a ludicidade. Mas é sobretudo por meio da própria música com a criação de textos sobre os elementos da saúde bucal que as crianças trabalham os conceitos.
Tudo isso contribui para que os temores associados ao tratamento ou à aparelhagem do consultório sejam gradativamente eliminados. É também uma forma de se trabalhar com qualidade.
Mais uma vez deve ser ressaltado que se a motivação e a educação do paciente não caminharem juntas com o tratamento curativo, mesmo que seja uma restauração ou uma prótese feita com os melhores materiais e métodos, o tratamento será condenado ao insucesso. Novas cáries ou problemas na sustentação do dente – problemas periodontais – podem levar à perda do tratamento ou, até mesmo, à perda do dente.
Esses programas não são meramente assistencialistas e sim um exercício de cidadania, incentivando a responsabilidade pela própria saúde, saúde integral.
Silvia Shizuka Yokoi
Cirurgiã-dentista do Sesc Consolação