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O novo Idoso: Muito além do amparo

 

Marta Lordello Gonçalves

 

Estudos demográficos apontam que o Brasil alcançará em 2025 a sexta posição em população  idosa no mundo. A expectativa de vida ao nascer tem crescido em quase todo o planeta, destacando o aumento expressivo do número de centenários. Em geral esse prolongamento em anos vem acompanhado da elevação de enfermidades próprias a idade, o que demandará  a implantação articulada, entre o poder público e a sociedade civil, de políticas voltadas à manutenção da qualidade de vida dessa faixa etária.

A partir de meados do século passado a velhice passou a ser objeto de cuidados e atenção especiais. Até então era objeto, quase que exclusivamente, de ações isoladas de  filantropia. A velhice não era um tema social relevante e atitudes benevolentes, na verdade, ocultavam a existência de preconceito.

Atualmente transformações significativas permeiam as relações estabelecidas entre a sociedade e a velhice na nossa tradição cultural. Importantes mudanças de comportamento indicam uma reviravolta na imagem dos idosos em nossa cultura

A questão do envelhecimento nunca esteve tão presente na mídia, na criação literária, no cinema, nos estudos científicos e nas políticas institucionais. Outro dado  a ser mencionado é a expressiva adesão de eleitores idosos no exercício do voto, fato este observado nas últimas eleições municipais.

Transformações ocorreram como o aumento progressivo da longevidade com a evolução de terapias médicas no combate à enfermidades crônicas e infecciosas. Mudanças de atitudes decorrentes da adoção de bons hábitos nutricionais, a prática de exercícios físicos, o lazer, o aparecimento de novos papéis, o engajamento na defesa dos seus direitos e a criação de políticas para a população idosa, contribuíram para modificar a situação da Terceira Idade em relação há décadas passadas.

No entanto sobre qual velhice estamos falando?

Afinal, sabemos que a velhice brasileira possui contradições, contrastes regionais e realidades sociais diferentes, além de produzir variadas formas de percepção e de enfrentamento individual e coletivo. Falamos de uma velhice fragilizada, debilitada, pauperizada, abandonada pela família e dependente das políticas públicas. E de uma velhice ativa que enfrenta desafios, que participa do mercado de trabalho, que é autônoma física e mentalmente, preocupada em cuidar da saúde e melhorar a qualidade de vida.

Falamos de uma heterogeneidade de idosos composta de indivíduos entre 60 e 90 anos, ou seja, em condições muito diversas de vida. Tais especificidades acarretam demandas diferenciadas com implicações na formulação de políticas públicas.

Falamos de uma velhice em que, segundo o IBGE, o contingente feminino é o mais expressivo. O mundo dos muito idosos é também o mundo das mulheres, que em tempos modernos estão amparando seus filhos adultos, empobrecidos e desempregados.

Falamos ainda da mobilização expressiva dos idosos e aposentados na defesa de seus direitos resultando em avanços significativos como a Lei 8842/94, que trata da Política Nacional do Idoso e cria o Conselho Nacional dos Direitos do Idoso. Institui, também, o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados aos sexagenários.

Enfim, o tema velhice nunca foi tão presente na pauta de discussões, principalmente no que tange aos desafios relacionados com a proteção social efetiva para esse grupo, que requer a presença de políticas públicas específicas e amparo  familiar.

Vimos, portanto, um panorama  modificado da velhice nas últimas décadas que nos dá uma sensação de permanente e infindável construção. Uma dinâmica social em que os direitos devem ser respeitados sem que os idosos se isentem das responsabilidades a eles atribuídas: como depositários da história, de valores éticos, de tradições, de consciência política no exercício da cidadania e do compartilhamento de experiências com as demais gerações.

Não se trata de tarefa fácil, mas da apropriação de atitudes responsáveis em direção ao  futuro, a caminho de uma velhice digna e valorizada. Trata-se enfim, de um investimento permanente e preventivo que beneficiará os futuros idosos.

 

Marta Lordello Gonçalves, é Assistente Social e técnica do Sesc