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P.S.
Quantos anos você tem?
"Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais
do que as mãos de uma criança."
Carlos Drumond de Andrade
Desde o começo a nossa história é feita pelo encadeamento de fatos sobre a trama do tempo. Porém, o significado do tempo é inerente ao modelo de sociedade que enfocamos.
Para nós a idade pode ser entendida como condição para que sejamos considerados aptos (ou não) ao desempenho de determinadas tarefas ou funções. Mesmo em momentos difíceis como o que vivemos, os classificados de empregos oferecem vagas para pessoas maiores de dezoito anos e que tenham três anos de experiência no ramo.
Passamos a infância somando os anos, na expectativa de estarmos conquistando o espaço da independência e do reconhecimento legal que vai nos permitir assistir filmes para maiores de idade, obter título de eleitor (e poder usá-lo), tirar carteira de habilitação, namorar aquela pessoa, sonhar com aquela menina, viajar... Ter um diploma, ter um emprego, gerar filhos.
Aqui o tempo é nosso aliado e é estabelecida uma operação matemática de soma e subtração, disposta a permear a existência do homem até o fim da vida, ficando o acerto de contas como sentença de morte.
A idéia que prevalece é a da música. "Não acredito em ninguém com mais de trinta anos", e o belo está no jovem, na forma e na força que mantêm o sonho de consumo, de poder e prestígio alimentado pelo modelo econômico vigente.
Na contabilização de perdas e ganhos, por um longo período as perdas figuram como destino individual, pois ainda há a sedução e a expectativa de uma promessa de libertação remunerada, disfarçada no nome de aposentadoria. Os classificados de empregos já foram descartados para essa categoria etária, pois as poucas oportunidades no mercado de trabalho estão disponíveis só para pessoas com menos de quarenta anos; e nesta altura não há mais dúvidas de que chegou a vez da subtração.
Para quem "a vida começa aos quarenta?" Talvez para quem tenha se mantido lúcido sem se deixar enganar pela contradição de um mundo que traduz a vida em operações de adição e subtração.
O tempo para quem não acreditou na fantasia que ele assumiu permite descobrir um saldo diferenciado na conscientização do direito adquirido pela capacidade de traduzir a história que está impressa nas marcas de expressão de um mundo de códigos e sinais que merecem ser traduzidos.
A idade não é relativa só ao lugar onde estamos, mas é relativa à percepção do espaço que ocupamos.
Os quarenta anos de trabalho social com idosos que o Sesc está comemorando é a celebração de um programa que contribuiu para inverter a direção do tempo para os que dele fazem parte.
Lilia Ladislau é socióloga e técnica do Sesc São Paulo