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Outros Custos do Esporte
Realmente, causa espanto a quantidade de contas que um indivíduo da classe média e que habita as grandes cidades é obrigado a pagar a cada mês. Só para ficar numa categoria, experimente enumerar os seus gastos com lazer e entretenimento. Não são poucos, tampouco baratos. E pior, se você for daqueles que pratica esporte, como atividade física ou social ou por puro e simples prazer, acrescente à sua lista, além dos custos dos trajes apropriados, o preço do material e do uso de alguma instalação esportiva.
No entanto, há outros preços que pagamos, altíssimos e dos quais pouco se comenta. De cara, podemos citar quatro deles.
Primeiro: a inoperância do sistema escolar, incapaz de promover o aprendizado e o desenvolvimento de habilidades esportivas. São evidentes as carências da escola, tanto em recursos materiais como em instrumentos pedagógicos de qualidade, que garantam uma base de formação para uma posterior continuidade da prática.
Segundo: os investimentos e propostas de trabalho dirigidos à preparação de atletas são insignificantes. As exceções ficam por conta das escolinhas de esportes e, ainda, alguns clubes que mantêm equipes profissionais e amadoras, participantes de competições oficiais. O caso do futebol é clássico. A maioria dos clubes prefere investir na compra e venda de jogadores a preparar seu próprio time. E assim, o esporte nacional alcança resultados expressivos às custas de fenômenos individuais que se destacam, ou por força de seus talentos naturais, ou por recursos financeiros próprios. Exemplos não faltam: Oscar, Ronaldinho, Gustavo Kuerten, João do Pulo e Joaquim Cruz, entre outros. Talvez o vôlei seja um caso a parte.
Terceiro: boa parte das verbas públicas são aplicadas na construção de estádios, autódromos e ginásios com infra-estrutura para receber público espectador, privilegiando, sobretudo, o espetáculo esportivo, em detrimento da prática recreativa.
E quarto: são raros os programas e entidades que facilitam o acesso e subsidiam as práticas de jogos esportivos com caráter de entretenimento e que possuam uma política de ação com base no conceito do Esporte para Todos, isto é, o esporte de massa. A década de 70 assistiu a altos investimentos de recursos financeiros públicos nessa área, que acabaram por se esgotar com o passar dos anos.
Portanto, sem a base de uma formação escolar adequada, sem locais apropriados e subsidiados para a prática, sem programas e propostas de trabalho que fomentem a participação esportiva de massa e sem uma cultura esportiva advinda, também, do exemplo de atletas de alto nível, nos vemos impedidos de usufruir os benefícios sociais, de saúde e de entretenimento que o esporte propiciaria a um baixo custo.
Conscientes desses "preços", só nos resta gastar mais, desembolsar mais dinheiro para suprir o que poderia ser repartido com o Estado. Ou nos contentarmos com as enfadonhas aulas de ginástica e as doloridas corridas nos parques da cidade.
Mário Augelli é professor de Educação Física e técnico do Sesc-SP