Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Lazer
Festival de atividades aquáticas

A água sempre foi um pólo atrativo para crianças e adultos, tornando-se sinônimo de diversão e saúde. Seja em pequenas piscinas montadas no fundo dos quintais, em grandes clubes ou na praia, onde existe água sempre podemos encontrar pessoas dispostas a viver bons momentos em contato com o chamado meio líquido.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o contato com a água e seus agentes benéficos significa muito mais do que simplesmente entrar na piscina, ficar sob o sol se bronzeando ou exercitar o corpo em hidroginástica e aulas de natação. Estar envolvido com o universo aquático implica, acima de tudo, ter plena consciência da relação do corpo com os limites e os deveres necessários em qualquer espaço onde a água é o principal fator atrativo.

Toda essa problemática, em torno de algo que aparentemente não merece atenção, levou o Sesc a repensar todos os seus espaços aquáticos no sentido de torná-los ambientes saudáveis para a convivência e a integração dos freqüentadores. Segundo o assessor da Gerência de Operações da entidade, Rui Martins de Godoy, "geralmente não há nenhuma informação, por parte das pessoas, no que diz respeito à relação do corpo com o sol, com a água, com os demais freqüentadores e muito menos da pessoa em relação a ela mesma". "Então, quando falamos em desenvolver uma programação que vá ao encontro das necessidades das pessoas, nós procuramos informá-las desse horizonte todo", explica ainda.

Assim, há três anos foi criado o Aquasesc, um evento que visa enfatizar a importância das atividades desenvolvidas no meio aquático e promover o intercâmbio entre as unidades que desenvolvem cursos e atividades recreativas em piscinas.

Na ocasião de seu surgimento, o evento fixou quatro pontos a serem abordados para o sucesso de seus objetivos: a programação das atividades, a qualidade da água, a higienização dos espaços e a segurança das pessoas que o freqüentam. Esses fatores foram a rosa dos ventos que guiou a equipe de técnicos do Sesc na criação de mecanismos que resultassem na integração entre funcionários e público, um repensar do espaço aquático tendo como objetivo a melhoria da qualidade de vida de todos.

Com esses pensamentos firmados, o evento, a cada ano, vem traçando uma meta a ser atingida. Nas duas últimas edições, o mote do Aquasesc foi o principal meio pelo qual os técnicos da entidade conseguiram atingir um nível de qualidade perfeito para as águas que enchem suas piscinas. Hoje, tanto a temperatura da água, que fica entre 28ºC e 30ºC, quanto o PH, sempre em 7,2, e o nível de cloro são controlados por um sistema implantado nas unidades. "Esses padrões são conceituados mundialmente", explica William Alves, um dos responsáveis pela manutenção da piscina do Sesc Consolação. Essa preocupação se dá também quanto à higienização do espaço. Segundo o técnico, uma equipe de limpeza chega diariamente duas horas antes da abertura da piscina, faz uma aspiração com equipamentos adequados, limpa o entorno, as bordas, os vestiários e os lava-pés, estes limpos até quatro vezes por dia. Uma outra equipe é encarregada de fazer uma inspeção constante para garantir a eficiência do serviço. "Para o Aquasesc, nós tivemos que mobilizar uma equipe ainda maior para atender a demanda do pessoal que não freqüenta normalmente nossa unidade", explica William.

Neste ano, o principal objetivo foi a programação, sistematizando determinados comportamentos do público, resguardando as diferentes características de cada unidade. "Nós queremos chegar a um padrão de excelência na qualidade de nossos serviços", explica Rui.

O festival, que aconteceu nos dias 18 e 19 de outubro, teve dois momentos distintos. No primeiro dia aconteceu o Festival de Atividades Aquáticas, no qual cada unidade realizou uma série de programações de caráter recreativo, com gincanas e esportes adaptados, como o biribol (vôlei na água) e basquete aquático. No dia seguinte, as unidades se reuniram no Sesc Consolação e realizaram, em sua piscina de 25 metros, uma grande competição de natação em várias modalidades, crawl, costas e revezamento, para o público masculino e feminino, em categorias que cobriram todas as faixas etárias, desde crianças de 10 até adultos acima de 56 anos.

Brincar Com Água

O Festival de Atividades Aquáticas, que ocorreu no sábado, foi marcado pelas atividades desenvolvidas em todas as unidades do Sesc em separado. Com características recreativas, as programações visaram intervenções que levassem os freqüentadores a se relacionarem de forma mais interativa com os espaços aquáticos, para isso foi preciso uma mobilização especial por parte dos funcionários das unidades. "Uma coisa é você ter uma piscina que fala por si, ou seja, não havendo nenhum programa de atividades", conta Rui. "Outra coisa é você se propor a fazer uma intervenção nesse público. No Sesc Itaquera, por exemplo, tem um equipamento auto-estimulável, com o qual as pessoas se divertem sozinhas, como os toboáguas, etc. Por outro lado, no Sesc Interlagos, que tem um espelho d'água de três mil metros, as piscinas estão simplesmente lá. Quando o Aquasesc se propõe a fazer uma intervenção, isso exige uma mobilização gigantesca por parte das unidades, os técnicos precisam programar essas intervenções, fazer uma espécie de corte na utilização normal desses espaços e ainda motivar as pessoas a participarem disso", argumenta.

O Sesc Interlagos contava com cinco orientadores de público e mais cinco salva-vidas, além de outros estagiários e professores para pôr em prática seu programa. Os esforços foram recompensados com a motivação do público para participar das hidroginásticas, gincanas aquáticas, jogos adaptados e competições em estilos livres com prancha para todas as idades. Lucivânia Pereira do Nascimento, organizadora e coordenadora do evento no Interlagos, orgulhava-se em ver como, mesmo com pouco sol, as pessoas continuavam chegando e participando dos jogos. "Está uma correria, precisamos estar em todas as piscinas ao mesmo tempo", conta.

Siderval Cerqueira de Amorim veio com a mulher, Lucélia, e mais 40 crianças de sua comunidade para passar o dia nas piscinas. Depois de uma viagem de uma hora e meia de Carapicuíba, na Grande São Paulo, Siderval não parecia cansado, cuidava das crianças e ainda vivia momentos de descontração e romantismo com sua esposa na piscina. "Emoção total", brinca.

Clima de praia e infra-estrutura de clube deixaram todos bem à vontade para nadar e bem-humorados na torcida para que o sol "realmente" aparecesse. Patrícia José dos Santos, 18 anos, disse que pretendia participar de todas as atividades. Com ares de modelo, a moçoila passeava por todo o espaço e não deixava de dançar qualquer música que ecoasse dos alto-falantes espalhados pelo local. "Estou achando tudo muito gostoso", diz.

As amigas Vanessa de Abreu, 18 anos, e Gisleine Bezerra, 14, preferiam ficar se bronzeando ao mormaço que aquecia o dia. Vanessa não sabia nadar, mas estava interessada em aproveitar o raro tempo livre para relaxar e Gisleine lançou mão do vocabulário próprio dos adolescentes e definiu o dia de maneira bastante peculiar: "Acho da hora".

De olho em todos os movimentos, os incansáveis salva-vidas passeavam por todo o espaço garantindo o bem-estar de todos. "O principal problema, às vezes, é o empurra-empurra, mas é só avisar dos perigos e as pessoas entendem e começam a curtir mais na boa", conta Siqueira, bombeiro de profissão, salva-vidas nas horas vagas e dublê de galã.

As unidades com piscinas cobertas mobilizaram todos os freqüentadores para a realização de suas programações especiais para o Aquasesc. Na unidade Consolação, a festa contou ainda com as peripécias aquáticas do grupo de animação Aqualoucos, além dos jogos bolados pela equipe de técnicos; no Pompéia, houve hidroginástica e gincana pela manhã e pólo aquático à tarde; o Sesc São Caetano envolveu seu público com divertidos jogos de biribol e basquete aquático e no Ipiranga todos participaram de uma gincana, "tinha por volta de 50 pessoas nos jogos", conta José Reis Alves, técnico da unidade.

CompetiçãoPela Integração

Neste Aquasesc, a unidade do Consolação recebeu competidores e torcidas de mais três outras unidades, Pompéia, Ipiranga e São Caetano. Comemorou a recente reforma de sua piscina e abrigou quase 300 pessoas em sua arquibancada. "Nós estamos aqui com cerca de 80 competidores de cada unidade", comenta Edson Corrêa da Silva, do setor de esportes do Consolação. "E o mais interessante é que estão todos aqui mais com o intuito de se divertir do que de ganhar alguma coisa", analisa.

Nas arquibancadas encontramos secretárias, representantes de venda, estudantes e profissionais dos mais diferentes ramos do comércio, todos preocupados exclusivamente em entrar na água. Mônica Bueno Gonzales aguardava ser chamada ao vestiário para se preparar para a prova, e confessou que o clima informal lhe deixava mais tranqüila. "Eu penso mais na bagunça da torcida do que em ganhar e não vejo a hora de nadar logo para voltar para a arquibancada e torcer pelo pessoal", brinca. Marta Lopes ficou um pouco nervosa no momento da competição, mas o incentivo da torcida a ajudou a completar a prova. "Eu conseguia ouvir os gritos do pessoal quando levantava a cabeça da água, parei no meio e depois voltei a nadar", conta. Os irmãos Marcelo e Rafael Roberti, 11 e 12 anos, competiram entre si, Marcelo tirou o primeiro lugar e brinca confessando que queria mesmo ganhar do irmão. A mãe, Rose, orgulhosa de seus dois futuros campeões, torcia para ambos, mas estava mais interessada na integração da família através do esporte. "Estou mais orgulhosa ainda em saber que meus filhos sairão na revista", brinca.

Por trás de toda essa diversão estavam as equipes de técnicos das unidades participantes preocupadas com o sucesso de uma ocasião que representava a consagração de um trabalho interno contínuo. Tanto a parte de cursos quanto a parte do objetivo, que é o ensino da natação. "O que veio com o Aquasesc é a coroação de todo esse processo", enfatiza Edson Corrêa. Essa questão da integração dos frequentadores, que foi a ordem do dia no domingo, se revela nas arquibancadas e vestiários, onde descobre-se que mesmo as unidades do Sesc que não têm piscinas, encaminharam seus interessados a uma outra unidade para que todos pudessem participar. "Tinha gente do TeniSesc, do Sesc Pinheiros, do Carmo, ou seja, em um determinado momento, eles passaram por piscinas de outras unidades", conta Rui Martins de Godoy. Certo do sucesso do trabalho, Edson Corrêa reforça: "A proposta do Sesc é justamente ensinar as pessoas a agir dentro do meio líquido e a partir daí, desenvolver seus próprios contatos com a água".

O grande momento do dia foi um revezamento gigante envolvendo 60 pessoas, 30 de cada lado da piscina. Foram cinco equipes compostas por participantes de todas as faixas etárias e de todas as unidades do Sesc que estavam presentes. Um espetáculo visual com todos usando toucas de cores diferentes, os primeiros completavam os 25 metros e tocavam a mão do próximo nadador para que este saísse e completasse a volta. Assim sucessivamente até que todos nadassem em um mesmo momento dentro da mesma piscina como um ato simbólico da integração que foi o grande objetivo desse evento. Ao final, foram premiados os três primeiros colocados em cada prova, masculino e feminino, e as três primeiras equipes colocadas no revezamento. Dezoito técnicos, além de fiscais de prova, de percurso, de saída, cronometristas, mesários, apresentadores de provas e orientadores de vestiário, organizaram a sequência das competições, monitoraram participantes e torcidas e garantiram o êxito da terceira edição de um evento que já tem planos para o próximo ano: "Tais programações visam trazer as pessoas e integrá-las em um movimento de conscientização que o Sesc pretende desencadear através de cartilhas informativas e outras coisas. Com isso, a gente pretende produzir, em 98, uma série de intervenções nos espaços aquáticos por maior que seja o público, para que essas informações possam chegar até ele", finaliza Rui.

O Bem Que a Água Faz

A natação e as diversas atividades esportivas praticadas no meio líquido são consideradas as mais completas e as de menor risco devido ao seu baixo impacto. Ricardo Gentil é professor de natação no Sesc Ipiranga e explica os benefícios dessas práticas cada vez mais procuradas: "A água diminui o efeito da gravidade, absorve o impacto e isso é bom principalmente para pessoas de terceira idade que apresentam problemas de descalcificação óssea (osteoporose), fazendo com que toda a sobrecarga não seja sentida pelo corpo". Além disso, os exercícios aquáticos ajudam as pessoas com problemas respiratórios como bronquite e asma, pois trabalham com o bloqueio da água para a saída de ar, com isso os pulmões e os brônquios tendem a dilatar, auxiliando no aumento do fôlego. Ricardo explica também que, para as crianças, a natação desenvolve uma melhor coordenação motora, pois acaba trabalhando a sincronia entre os movimentos dos membros superiores e inferiores do lado esquerdo e direito. "Você joga essa informação para a criança e ela tem de pensar no que está fazendo, isso já trabalha com a imagem corporal dela, a criança acaba conhecendo como funcionam seus membros, o que é flexionar o joelho, etc., ou seja, ela começa a se auto-conhecer", avalia.

Práticas esportivas desenvolvidas dentro d'água trabalham também equilíbrio, resistência anaeróbia, aquela que visa força, explosão e velocidade, e aeróbia, uma resistência cardiovascular e muscular em que o objetivo é a pouca intensidade durante uma longa duração, funcionando como meio para oxigenação dos músculos.

Como parte de todos esses benefícios, aparece também a viabilização de uma integração social, questão abordada pelo Aquasesc. "A pessoa já não está com sua roupa normal do dia-a-dia, não está em um meio no qual ela vive que é o ar, ela está na água. Isso proporciona uma integração entre as pessoas e com o tempo de convívio passa a não importar mais o meio onde elas estão, o traje e nem nada, quebra vários bloqueios", analisa Ricardo.

Para os que se importam principalmente com os benefícios estéticos do esporte, Ricardo dá boas notícias: "Com certeza a natação traz retornos estéticos. Quando a pessoa já tem um certo tempo de natação, ela começa a trabalhar queima de gordura, além da tonicidade dos músculos ficar fantástica, assim como a de todos os membros, ou seja, quase toda a musculatura do corpo".

Mas como todos os esportes, a natação deve ser praticada com moderação e dentro da capacidade de cada um. Para Ricardo "esporte perfeito é aquele com o qual a pessoa se sente bem". Há certos problemas que condicionam a prática, como por exemplo a escoliose, um desvio lateral da coluna. "Pessoas com esse problema devem evitar o nado de peito e borboleta, pois pode agravar o seu estado", adverte o professor.

Não é impossível encontrar pessoas que simplesmente não gostam de esportes aquáticos, mas Ricardo confessa que, em seus anos de experiência ensinando pessoas a nadar, 90% delas acabam cedendo aos apelos sedutores da água.