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Matérias da edição

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Tempo de travessia e reflexão

Instalação
Instalação "Entidades" (2020), do artista indígena Jaider Esbell (RR). Crédito: Adriano Sobral

3ª EDIÇÃO DE FRESTAS – TRIENAL DE ARTES

EXAMINA NOVOS MUNDOS POSSÍVEIS, SEUS CAMINHOS E SUJEITOS

 

As conexões entre os modos de existência não dominantes e os percursos que eles são capazes de conceber estão entre as temáticas que permeiam a terceira edição de Frestas – Trienal de Artes, cuja exposição está em cartaz no Sesc Sorocaba e em espaços públicos dessa cidade a cerca de 100 quilômetros da capital paulista. Sob o título O rio é uma serpente, esta edição reúne 53 artistas e coletivos de diferentes países, entre os quais Brasil, África do Sul, Bolívia, Chile, Colômbia, Peru, Estados Unidos, França e Suíça. São obras que refletem acerca das políticas e poéticas de exibição da arte e que trazem para a prática artística discussões sobre economias de acesso, modos de exclusão e formas de consumo vigentes, além de investigar quais estratégias de solidariedade são viáveis no momento atual.

 

Dos 53 artistas presentes em Frestas, 32 foram convidados a criar obras inéditas para a Trienal. Fazem parte desse conjunto nomes como Jota Mombaça, Gê Viana, Paulo Nazareth, Denilson Baniwa, Vijai Patchineelam, Sallisa Rosa e Ventura Profana, do Brasil, a mexicana Lia García e a holandesa Aimée Zito Lema. Já um grupo de 15 artistas participou do programa para desenvolvimento e reflexão sobre seus processos de criação – uma das ações formativas realizadas dentro da programação de Frestas, ainda em 2020, ano em que a mostra, originalmente, seria aberta ao público. O cronograma foi modificado devido à pandemia de Covid-19, mas, como decorrência, possibilitou este programa de estudos entre artistas, curadores e equipes do projeto.

 

Assinam a curadoria Beatriz Lemos, Diane Lima e Thiago de Paula Souza, com assistência de Camila Fontenele e coordenação educativa de Renata Sampaio. “Para que a mostra enfim chegasse ao seu momento de abertura (21 de agosto de 2021), foi necessário recalcular algumas rotas, fabular estratégias e negociações, reimaginar o porvir. Assim, ao desaguar em Sorocaba, O rio é uma serpente intui a abertura de um portal que suscita possibilidades, reflexões e diálogos para além do agora”, descreve o trio de curadoria.

 

NO CURSO DAS ÁGUAS

 

A pesquisa curatorial para esta edição teve início em meados de 2019, com trocas e escutas junto a diferentes agentes culturais atuantes em Sorocaba e região.

 

A ação também abarcou comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas do Norte e Nordeste do Brasil – entraram na rota: Boa Vista e a Terra Indígena Raposa Serra do Sol (Roraima), além de Manaus e arredores do Rio Tupana (Amazonas), Belém, Parque Nacional Serra da Capivara (Piauí) e, por fim, São Luís e Alcântara (Maranhão).

 

As viagens – especialmente os trechos navegáveis, suas curvas, bifurcações e movimentos caudalosos – permitiram aflorar o título da exposição, que circunscreve uma cosmovisão das táticas que a curadoria teve que elaborar (e recriar) durante o trabalho. “Foram as formas serpenteadas por um tempo não linear que nos ajudaram a traduzir as experiências intangíveis dos contratos, conflitos e acordos que vivenciamos, bem como as estratégias de solidariedade praticadas por todos aqueles que fazem parte da plataforma Frestas. O rio é uma serpente porque [o curso fluvial] se esconde e camufla e, entre o imprevisível e o mistério, cria estratégias em seu próprio movimento”, complementa o trio de curadoria.

 

EM TODA PARTE

 

MOSTRA REVERBERA EM

ESPAÇOS PÚBLICOS DE SOROCABA

 

A terceira edição de Frestas – Trienal de Artes, que pode ser visitada no Sesc Sorocaba até 30 de janeiro de 2022, como nas mostras anteriores, também aposta na descentralização da cena da arte para o interior do estado, ampliando a proximidade com os espectadores. Ao percorrer a cidade, o público facilmente percebe os ecos da exposição: na ponte estaiada que conecta os edifícios da unidade do Sesc, por exemplo, está a imponente intervenção Entidades, do artista indígena da etnia Macuxi Jaider Esbell (Brasil).

 

O Parque da Biquinha, por sua vez, recebe trabalhos de Engel Leonardo (República Dominicana) e de Sallisa Rosa e Sucata Quântica (Brasil). Pavimento nº 1, de Jota Mombaça, é uma obra de grande dimensão, sobre o asfalto, em avenida próxima à unidade. E o Zumví Arquivo Afro Fotográfico (foto), de Salvador, exibe uma das fotografias de seu acervo em um outdoor na cidade.

 

Outro pilar curatorial de Frestas é o programa educativo. Uma das iniciativas realizadas em 2020, intitulada Tópicos para a diferença e a justiça social, voltou-se para mais de 350 professores da rede pública da cidade e proporcionou a discussão direta com agentes e pesquisadores da educação e da arte de diversas regiões do Brasil, sempre com o objetivo de cogitar novas formas de pensar a educação. O foco das discussões esteve na busca do diálogo com temas que atravessam esta terceira edição, como gênero e sexualidade, infância, racismo e diáspora africana.

 

Acesse este link para agendar a sua visitação.

 

Consulte também o Guia de Visitação da mostra.

 

 

Antonio Társis*. Vermelho como brasa, 2021. Escultura e instalação, 200 x 400 x 10 cm
*Salvador (BA), Brasil, 1995. Vive e trabalha entre Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), Brasil e Londres, Reino Unido
Foto: Adriano Sobral

 

 

Paulo Nazareth*. Sem título, da série Sambaki / Assentamento, 2021. Instalação, cacos e fragmentos de cerâmica, louça, vidro sobre alguidares
*Governador Valadares (MG), Brasil, 1977. Vive e trabalha pelo mundo
Foto: Adriano Sobral

 

 

Ventura Profana*. A taça do mundo é nossa, 2021. Instalação e vídeo, arca em impressão 3D, dimensões variadas
*Salvador (BA), Brasil, 1993. Vive e trabalha no Rio de Janeiro (RJ), Brasil
Foto: Adriano Sobral

 

Negalê Jones*. Cerimonial matrilinear: homenagem às matriarcas das primeiras 28 gerações descendentes da Eva Mitocondrial, 2021. Escultura, objeto eletrônico, instalação sonora, dimensões variadas
*Rio de Janeiro (RJ), Brasil, 1972. Vive e trabalha em Magé (RJ), Brasil
Foto: Adriano Sobral

 

Ana Pi* e Maria Fernanda Novo**. Rádio Concha, 2021. Videoinstalação, emissões de rádio e livro jogo
*Belo Horizonte (MG), Brasil, 1986. Vive e trabalha em Paris, França
**Novo Olímpia (SP), Brasil, 1985. Vive e trabalha em Campinas (SP), Brasil
Foto: Adriano Sobral

 

Elvira Espejo Ayca*. Jiwasan amayusa / El pensar de nuestras filosofias [O pensar de nossas filosofias], 2019. Instalação, dimensões variadas
*ayllu Qaqachaka, Oruro, Bolívia, 1981. Vive e trabalha em La Paz, Bolívia
Foto: Adriano Sobral

 

Denilson Baniwa*. Nhíromi (detalhes), 2020/2021. Site specific, objetos recolhidos em viagem ao Rio Negro. Instalação sonora e projeção de vídeo
*Mariuá, Rio Negro (AM), Brasil, 1984. Vive e trabalha em Niterói (RJ), Brasil
Foto: Adriano Sobral

 

Jaider Esbell*. Makunaimî Parixara, série Transmakunaimî: o buraco é mais embaixo, 2020. Acrílica e posca sobre tela, 100 x 100 cm
*Terra Indígena Raposa Serra do Sol, Normandia (RR), Brasil, 1979. Vive e trabalha em Boa Vista (RR), Brasil
Foto: Adriano Sobral

 

Gê Viana*. Sobreposição da história, 2021. Instalação, fotografias, fotomontagem, vídeo e objetos, dimensões variadas. Bordado Capitolina dos Santos Melonio, Baixada Boi Linda Joia de São João, Matinha (MA)
*Santa Luzia do Tide (MA), Brasil, 1986. Vive e trabalha em Paço do Lumiar (MA), Brasil
Foto: Adriano Sobral

Zumví Arquivo Afro Fotográfico.
1. Foto produzida na primeira Marcha da Consci.ncia Negra no bairro da Liberdade (Salvador, BA), 2000 | 100 x 65 cm | Fotografia Lázaro Roberto
2. Irmandade do Rosário dos Pretos participando dos festejos do 2 de Julho (Salvador, BA), 2010 | 100 x 60 cm | Fotografia Lázaro Roberto
3. Ato do Movimento Negro na Praça Municipal contra a farsa da abolição no Brasil (Salvador, BA), 1988 | 47 x 100 cm | Fotografia Jônatas Conceição
4. Ato do Movimento Negro na Praça Municipal contra a farsa da abolição no Brasil (Salvador, BA), 1988 | 65 x 100 cm| Fotografia Jônatas Conceição
Foto: Matheus José Maria

 

Rommulo Vieira Conceição*. Trepa-trepa, da série Estruturas dissipativas, 2021. Instalação, metal, madeira, vidro, cerâmica e pintura, 320 x 500 x 240 cm
*Salvador (BA), Brasil, 1968. Vive e trabalha em Porto Alegre (RS), Brasil
Foto: Adriano Sobral

 

Rebeca Carapiá*. Campo elétrico 01: raiva, sal, saúde e tempo, 2021. Instalação, dimensões variadas
*Salvador (BA), Brasil, 1988. Vive em Salvador (BA), Brasil
Foto: Matheus José Maria

 

Noara Quintana*. Belle Époque dos trópicos, 2021. Instalação, dimensões variadas
*Florianópolis (SC), Brasil, 1986. Vive e trabalha entre São Paulo, Berlim e Paris
Foto: Matheus José Maria

 

Jonas Van*. Desambiguação / Crystal ages [Eras de cristal], 2021. Instalação e som estéreo em loop. Com Regina Arenas, Zahra Alencar, João Simões, Rao Freitas, Xole Senso, Aretha Sadick. 3D Isadora Stevani
*Fortaleza (CE), Brasil, 1989. Vive e trabalha em Genebra, Suíça
Foto: Matheus José Maria

 

Nohemi Pérez*. Panorama Catatumbo. Carvão sobre tela, 180 x 500 cm
*Tibú, Colômbia, 1962. Vive e trabalha em Bogotá, Colômbia
Foto: Adriano Sobral