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Teatro
A Resistível Ascensão de Arturo Ui
A vinda do grupo a São Paulo não poderia ter sido mais oportuna. Esta foi a última montagem de Müller, considerado um dos maiores diretores do século e, há poucos meses do centenário do nascimento de Brecht, o Sesc, em parceria com o Instituto Goethe, iniciou por meio desse evento uma série de comemorações previstas para o próximo ano.
A Resistível Ascensão de Arturo Ui é uma paródia sobre Hitler escrita durante o exílio de Brecht em 1941, na Finlândia. Usando como pano de fundo Al Capone e as guerras entre gângsteres, transpostas para a Alemanha nazista, Brecht reproduz a tomada de poder e a anexação da Áustria. Criminosos de guerra como Goebbels, Goering e Röhm são facilmente identificáveis. Brecht também aproveita para falar do mundo egoísta e pervertido do capitalismo e por extensão da sociedade que o mantém.
A montagem de Heiner Müller de A Resistível Ascensão de Arturo Ui, com Martim Wuttke no papel principal, tornou-se um dos espetáculos de maior sucesso da história da casa. Depois da morte de Müller, em dezembro de 1995, o projeto de repertório Brecht/Müller/Shakespeare tornou-se um compromisso para a companhia.
Segundo Martin Wuttke, ator que faz o papel de Arturo Ui, esse texto tem um efeito político direto no contexto latino-americano. "Um jornal de Buenos Aires escreveu a respeito da peça e da nossa encenação, que parecia ter sido escrita há seis meses por um autor argentino referindo-se ao seu contexto político atual. Para nossos ouvidos alemães, foram surpreendentes as reações diretas do público. Na Alemanha, essa evidência da atualidade não é tão direta."
Martim Wuttke assumiu a direção artística do Berliner Ensemble em 1996, após a morte de Heiner Müller. Demitiu-se em dezembro passado, em resposta às incertezas quanto ao financiamento do teatro pelo governo de Berlim, onde o grupo é sediado.
A recepção do público em São Paulo não poderia ter sido mais calorosa. Ovacionado durante um prolongado espaço de tempo, o elenco voltou ao palco várias vezes para agradecer aos aplausos.
Assistir ao espetáculo é uma aula de interpretação. Os atores, sem exceção, apresentam um impecável trabalho cênico, com matizes refinados de emoção aliados a uma precisa agilidade corporal.
Vida e Obra de um Dramaturgo
Poeta e diretor teatral que se tornou o maior dramaturgo alemão do século 20, Bertolt Brecht desenvolveu o que ficou conhecido como teatro épico. Para Brecht, o drama não deveria imitar a realidade ou procurar convencer a platéia de que aquilo a que assistiam estava realmente acontecendo, mas sim apresentar um resumo dos acontecimentos passados, baseado na poesia épica. Brecht nasceu em 10 de fevereiro de 1898 em Augsburg, Alemanha. Em 1917, entrou na Universidade de Munique para estudar Medicina e passou a se interessar cada vez mais pelo teatro. Aos 20 anos, escreveu sua primeira peça, Baal. Em seguida, tornou-se crítico teatral e consultor literário do teatro Munich Kammerspiele. É nesse teatro que suas primeiras peças são encenadas: Tambores na Noite (1922), Baal (1923) e Eduardo II (1924). Em 1924, estabeleceu-se em Berlim e passou a trabalhar no German Theater. Em 1926, estréia Um Homem é um Homem, obra de transição entre o expressionismo das primeiras peças e o estilo tipicamente brechtiano, que começa a desenvolver. Esse período é marcado pela rejeição à arte, pela recusa ao divertimento e pela preocupação didática. Fugindo da Alemanha nazista em 1933, Brecht viveu seu exílio na Dinamarca, Suécia, Finlândia e Estados Unidos. Em 1949, mudou-se para Berlim Oriental e com a atriz Helene Weigl, sua segunda esposa, fundou a companhia teatral Berliner Ensemble que, sob sua talentosa direção, ganhou o reconhecimento internacional. Brecht morreu em Berlim Oriental no dia 14 de agosto de 1956.