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ABRAHAM PALATNIK É EXPOENTE NA EXPLORAÇÃO DAS POSSIBILIDADES DA ARTE CINÉTICA NO BRASIL
Obras cinéticas enaltecem o movimento. É nesta dinâmica que se insere Abraham Palatnik (1928-2020), artista brasileiro que se consagrou por criar composições que aliam inovações tecnológicas à movimentação, tempo e jogo de luzes. Ao explorar esse território, ele foi um dos pioneiros no Brasil da arte cinética, surgida na França na esteira da exposição Le Mouvement (O Movimento, 1955).
Essa forma de expressão criou raízes e espraiou seu dinamismo pelo Brasil no fim da década de 1950, a partir dos trabalhos de Lygia Clark (1920-1988), Mary Vieira (1927-2001) e Ivan Serpa (1923-1973). O clima da época era de encantamento pela ideia do progresso e pelo projeto moderno, desdobrado com força nas artes, em especial na arquitetura e nas produções visuais, como apontam as pesquisas realizadas pela equipe curatorial para a montagem da mostra Oficina Molina – Palatnik (leia Arte do movimento).
Minha turma
Palatnik, nascido em Natal, mudou-se com a família na década de 1930 para a região da Palestina. Em 1945, em Tel Aviv, frequentou a Escola Técnica Montefiori e especializou-se em motores de explosão (que impulsionavam a tecnologia em veículos automotores). Nesse período também iniciou os seus estudos em ateliês de pintores e escultores locais. Com esse currículo multifacetado, já no Rio de Janeiro, em 1954, segundo a assistente da gerência de Artes Visuais e Tecnologia do Sesc São Paulo Fabiana Delboni, torna-se figura central na estruturação do Grupo Frente. “Junto a artistas como Ivan Serpa e Almir Mavignier, o grupo tinha na abstração geométrica e nas questões construtivas seu maior ponto de atenção”, explica.
Fabiana acrescenta que o universo de suas obras é balizado por uma ponte erguida pelo artista, sediada entre a arte e a invenção. “Palatnik utilizou o movimento para reinventar as práticas de pintura e escultura”, resume. Mas, para quem quer saber mais sobre o trabalho do artista, ela exemplifica a criação de caixas de luz contendo lâmpadas de diferentes cores que se movem de maneira coreografada, obras que o artista natalense chamou de cinecromáticos. “A partir dos anos 1960, sem se afastar da pintura, ele desenvolveu esculturas cujas peças, geométricas e coloridas, movimentam-se por ação de motores, os objetos cinéticos”, completa.
Palatnik morreu em maio de 2020 vítima da Covid-19. Suas obras compõem os acervos do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa), do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC), além de fazerem parte também do Acervo Sesc de Arte, coleção permanente de artes visuais da instituição (leia mais sobre o Acervo na edição nº 274 da Revista E).
ARTE DO MOVIMENTO
Acompanhe um encontro inédito entre obras de Palatnik e do Mestre Molina
A mostra inédita Oficina Molina – Palatnik, no Sesc Avenida Paulista, trata de promover o diálogo entre as criações artísticas de Abraham Palatnik (1928-2020) e Mestre Molina (1917-1998), a partir de obras do Acervo Sesc de Arte e de outras coleções. Concebida pelo Sesc São Paulo, a exposição reúne obras desses criadores, que, embora contemporâneos, compartilham diferentes trajetórias. Esse fluxo é visível na produção e nas escolhas estéticas, refletidas no recorte histórico experienciado por eles. “Se temos a convivência num mesmo espaço de artistas com origens e presenças no mundo tão diferentes, tão diversos em suas escolhas e manifestações estéticas, por outro lado temos dois artistas que mostraram, cada um a seu modo, um profundo encantamento pela ideia de automação e pelas possibilidades poéticas do movimento”, explica a assistente da gerência de Artes Visuais e Tecnologia do Sesc Fabiana Delboni. A mostra pode ser vista até 27/3, mediante agendamento em: www.sescsp.org.br/avenidapaulista.