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Espaços democráticos

Adriana Vichi
Adriana Vichi

ESPECIALISTA EM INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO CONVOCA A PARTICIPAÇÃO DE EMPRESAS E PESSOAS PARA O ENFRENTAMENTO DE DESIGUALDADES E O EXERCÍCIO DA CIDADANIA

 

Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo e mestre em Administração Pública pela Universidade Harvard, José Marcelo Zacchi foi, ainda na faculdade, nos anos 1990, um dos criadores da campanha Sou da Paz, pelo desarmamento no país. Desde então, participou de gestões públicas, organizações internacionais e até mesmo de programas de televisão para discutir o papel de cidadãos, empresas e governantes na educação, saúde, cultura, enfrentamento de desigualdades e tantas outras esferas da vida em sociedade. Secretário-geral do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), organização sem fins lucrativos que se tornou referência no país em investimento social privado, Zacchi acredita no pensamento de que todos têm um papel a desempenhar na sociedade e no exercício da democracia. “Todo chamado da responsabilidade social passa por práticas internas de sustentabilidade e sociais adequadas, e passa pela ideia de investimento social para que todos façam sua parte e somem recursos para contribuir com a vida cidadã e a vida pública”, explica.

Difusão cultural

Gosto de dialogar com temas diversos da vida pública. Primeiro, estive envolvido na criação de um site, depois de um instituto, que se chama Overmundo. Foi uma iniciativa pioneira em 2005, quando nascia a autopublicação na internet. Era um site de difusão de produção cultural brasileira. Uma oportunidade para expandir o campo de visão de quem está produzindo pelo Brasil afora e disseminar essa produção para todo o mundo. Então, era um site de produção colaborativa de conteúdo, mas também um esforço para chamar atenção para possibilidades novas de democratização dos modos de produção de informação na sociedade que a internet trazia.

Terceiro setor

Nestes últimos anos, também estive dedicado à criação deste espaço que se chama Pacto pela Democracia, que hoje reúne mais de 150 organizações da sociedade civil variadas – educação, meio ambiente, saúde, direitos humanos, reforma política, entre outras áreas.

O espírito é: pode e dever haver essa pluralidade, porque isso nos enriquece. Uma coisa que tenho feito com frequência é relembrar o princípio fundamental da vida democrática, que é um espaço em que várias vozes, atores, pensamentos e pontos de vista podem se colocar com liberdade e pluralidade. É um espaço que será mais rico e produzirá um resultado melhor, no fim das contas, do que se eu estiver sozinho dando todas as cartas e silenciando todos os demais. Vamos somar elementos. Tanto da soma quanto da fricção de pontos de vista diferentes, tudo isso nos leva para a frente.

Vida democrática

Houve a colocação de que o Gife seria a ONG das ONGs. O Gife está completando 25 anos em 2020 e ele foi criado como espaço para impulsionar a prática de filantropia e de investimento social privado no país. Entendendo a prática de organizações e de atores na sociedade, não só de empresas e de organizações, mas de indivíduos: cada um de nós com o hábito de doar para causas e organizações em que acreditamos na vida cidadã. A ideia que em inglês chamam de give back, ou seja, a ideia de devolução, de que ninguém se faz sozinho ou sozinha na coletividade. Todos nós nos nutrimos da educação, da infraestrutura, enfim, de tudo que a sociedade produz, e isso cria condições para que possamos desenvolver, na plenitude, nossas possibilidades.

 

 

 

Faça sua parte

Além do pluralismo que nos enriquece, o papel da sociedade na democracia não é só fazer o que o Estado não faz, a primeira camada da vida comunitária, ou a solidariedade para quem está precisando e que é fundamental. Não é só isso. É nutrir a vida pública e fazer parte das leis, das políticas governamentais, do acompanhamento delas para que possam acontecer. Precisamos prestar atenção em nossas práticas diárias, relações de trabalho, em como lidamos com nosso lixo, com o consumo de energia, com a participação na vida coletiva. Estou atento à escola dos meus filhos? Ao meu bairro? O mesmo vale para as empresas: Qual o impacto das práticas trabalhistas, da cadeia de fornecedores e consumidores? Quais as práticas ambientais? Até aqui, estou me abstendo de impactos negativos e fazendo tudo certo, mas não estou propriamente dando uma contribuição para a sociedade. De todos nós, se espera que nos abstenhamos de impactos negativos e que também façamos nossa parte.

 

TANTO DA SOMA QUANTO DA FRICÇÃO

DE PONTOS DE VISTA DIFERENTES,

 TUDO ISSO NOS LEVA PARA A FRENTE

 

Por todos

Quando a ideia de investimento social foi criada, ela tinha esta intenção: precisamos pensar no aporte desse recurso para o bem público, da mesma forma que a gente pensa o aporte de um recurso no investimento privado que a gente faz. Quero que o investimento tenha o máximo de resultado e o melhor retorno possível, quero que aquilo tenha sucesso. Vale a mesma coisa para o investimento social: Como se planeja essa ação? Você quer mudar o ambiente de consumo? Quer contribuir para que haja políticas e serviços de educação melhores no país? Muito bem, qual é exatamente o problema? Onde você vai atuar, num bairro, cidade, país; qual o diagnóstico e com base nele, qual vai ser sua estratégia; como vai ser sua ação; e como você avaliará depois de um tempo se a ação está dando certo. Então, todo chamado da responsabilidade social passa por práticas internas de sustentabilidade e sociais adequadas, e passa pela ideia de investimento social para que todos façam sua parte e somem recursos para contribuir com a vida cidadã e a vida pública.

 

 

JOSÉ MARCELO ZACCHI esteve presente na reunião do Conselho Editorial da Revista E no dia 14 de fevereiro de 2020.

 

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