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Cidade Olímpica
Plural, urbano e conectado. São essas as características que moveram o Comitê Olímpico Internacional a incluir novas modalidades nas Olimpíadas de Tóquio, que serão realizadas em julho deste ano. Quatro delas responderam por esse ajuste de foco amplo e democrático. Caso do skate, do beisebol, da escalada e do surfe. Sem falar do basquete 3x3, uma nova categoria dentro do basquetebol. Em São Paulo, essas e outras práticas esportivas movimentam e aproximam habitantes. Seja qual for sua tribo, a cidade que neste mês completa 466 anos é uma arena olímpica a céu aberto e ao seu alcance.
DO ASFALTO AOS GINÁSIOS
Segundo esporte mais praticado no país, depois do futebol, o skate ocupa a cidade como uma extensa e sinuosa pista. Ele nasceu nas ruas, entre guias, corrimões, ladeiras e bancos e soma novos simpatizantes e praticantes nas últimas duas décadas. Tanto que um dos ídolos de garotos e garotas hoje é o brasileiro Bob Burnquist, uma lenda da modalidade. Mas no começo, em meados da década de 1960, era um esporte marginalizado e vinculado à contracultura, segundo Murilo Romão, skatista profissional desde 2012. “Nossa esperança é que isso não mude.Pelo contrário, acho que temos que levar toda a irreverência e criatividade do skate para os Jogos Olímpicos”, destaca.
Além disso, observa Murilo, os Jogos de Tóquio podem aproximar ainda mais gente desse esporte que também se apropria dos espaços urbanos com expressões como a música, a moda, o cinema e as artes visuais. “Nossa esperança é que esses Jogos Olímpicos tragam mais gente para curtir toda a cultura do skate”, complementa.
Outro esporte que nasceu no asfalto é o basquete 3x3. A estreia internacional aconteceu nos Jogos Olímpicos da Juventude, em 2010. Com o sucesso da modalidade, a Federação Internacional de Basquete (Fiba) desenvolveu um programa de regras para que pudesse organizar torneios específicos e inseri-la oficialmente no contexto olímpico. Afinal, segundo levantamento feito pela Fiba, 250 milhões de pessoas no mundo já praticaram ainda que apenas uma vez o basquete de rua. Desde pais e filhos, que entram numa quadra pública para brincar, até atletas.
Em São Paulo, o basquete de rua já era praticado em parques e clubes, mas sem as regras oficiais. “Em 2012 tivemos o primeiro evento oficial de basquete 3x3 no Parque da Juventude”, conta Márcio Vinícius Junqueira Cardozo, ex-jogador de basquete profissional e presidente da Associação Nacional de Basquete 3x3 (ANB3x3). Para Vinícius a prática deve crescer na cidade. “Tanto que muita gente pratica em diversos parques, e novas quadras 3x3 devem ser inauguradas neste ano (leia boxe Pratique já!)”, acrescenta.
Pratique já!
PRAÇAS, CLUBES E OUTROS ESPAÇOS FOMENTAM GRATUITAMENTE DIVERSAS ATIVIDADES
São Paulo é um centro esportivo para todos os públicos. Tanto que o resultado da pesquisa Ranking das Capitais Brasileiras Amigas da Atividade Física, realizada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e pela revista Saúde em 2018, aponta a cidade no primeiro lugar da lista. Conheça alguns espaços abertos para práticas esportivas:
ESCALADA
Sesc 24 de Maio
A unidade oferece a possibilidade de experimentar a escalada boulder, modalidade desse novo esporte olímpico. Boulder é um tipo de escalada em estruturas baixas, com altura aproximada de dois metros e colchão para segurança. A prática é feita por meio de travessias horizontais nas quais o participante usa técnicas de escalada e força para cumprir o objetivo e completar o trecho. Informações no portal www.sescsp.org.br.
Pico do Jaraguá
Ponto mais alto da cidade de São Paulo, com 1.135 metros de altitude, o Pico do Jaraguá mostra aos visitantes um panorama da capital paulista. Uma vista que alcança até 55 quilômetros de extensão. O pico fica dentro do Parque Estadual do Jaraguá, a aproximadamente 27 quilômetros do centro da cidade. Para escalar é preciso entrar em contato com o Parque Estadual Jaraguá para autorização e comprovação de expertise. Informações: (11) 3945-4532 ou pelo e-mail pe.jaragua@ fflorestal.sp.gov.br.
No Centro de São Paulo, o Sesc 24 de Maio oferece a possibilidade de experimentar a prática da escalada boulder. Foto: Alexandre Nunis
SKATE
Praça Roosevelt
Espaço icônico na região central da cidade frequentado por diversas tribos, entre elas a do skate. Em 2014, a praça ganhou um espaço exclusivo para skatistas profissionais e amadores. Com 1.150 metros quadrados, a pista que fica na lateral da praça, ao lado da Rua da Consolação, conta com obstáculos desenhados com a orientação de profissionais do esporte, que participaram da modulação do projeto.
Parque Cândido Portinari
Em junho de 2018, foi inaugurado no parque um espaço para a prática da modalidade park. São 830 metros quadrados de área e paredes, que chegam a três metros de altura. Como obstáculos: transfers, corrimãos e bordas. A pista tem padrão de qualidade internacionalmente reconhecido. O parque fica na Avenida Queiroz Filho, 1365, Vila Hamburguesa, próximo à estação Villa-Lobos-Jaguaré da CPTM.
O skate ocupa praças, escadas e outros espaços públicos como o Largo da Batata, na Zona Oeste da metrópole. Foto: Adriana Vichi
BASQUETE 3X3
Parque Villa-Lobos, Ibirapuera e Juventude
Essa nova categoria do basquete, ainda conhecida como basquete de rua, pode ser praticada em locais públicos, a exemplo dos parques Villa-Lobos, Ibirapuera e Juventude. “Neste ano queremos inaugurar um Centro de Formação de Basquete 3x3 no Centro Esportivo Joerg Bruder, em Santo Amaro. Haverá um professor para dar aulas gratuitas”, antecipa Márcio Vinícius Junqueira Cardozo, ex-jogador de basquete profissional e presidente da Associação Nacional de Basquete 3×3 (ANB3x3).
SURFE
Sesc Bertioga
Além das dezenas de picos de surfe no litoral paulista, esta unidade, a pouco mais de uma hora de São Paulo, realiza atividades gratuitas de surfe. Em janeiro, o curso Surf para iniciantes é voltado para quem deseja experimentar – jovens e adultos, além de crianças a partir de sete anos. As inscrições serão feitas 30 minutos antes da atividade e as vagas são limitadas. (Dia 11/1, das 15h30 às 17h30).
Além das diversas opções no litoral paulista, o Sesc Bertioga realiza atividades voltadas ao surfe no mês de janeiro. Foto: Foto Nativa
PARA DIVERSIFICAR
Outro esporte que pode ser praticado na cidade é o beisebol, um dos mais populares do país-sede das Olimpíadas 2020. O Estádio Municipal de Beisebol Mie Nishi, localizado no bairro do Bom Retiro, Centro, é o único espaço público no Brasil dedicado à modalidade. Há quase 55 anos, o local ainda sedia jogos do circuito de competições das entidades oficiais do beisebol (nacional, estadual e regional). E, para praticar outras duas novas modalidades dos Jogos de Tóquio 2020, a escalada e o surfe, há também a possibilidade de escapar para as montanhas ou para a praia, em locais não muito distantes da cidade. O número de praticantes de escalada, por exemplo, vem crescendo. “Essa pode se tornar uma atividade mais democrática e inclusiva a cada dia, com o surgimento de novos espaços públicos”, garante o instrutor Ricardo Luis Corrêa, que acumula mais de 20 anos de experiência na área e é responsável pelo monitoramento de escalada do Sesc Araraquara. Já a quantidade de pranchas no litoral consegue bater recordes: São Paulo é a cidade não litorânea com o maior número de surfistas em todo o mundo, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria e dos Esportes com Prancha. Feita a escolha, é hora de ocupar a cidade e se movimentar.
Chegou o verão!
OFICINAS, AULAS, BATE-PAPOS E OUTRAS AÇÕES PELA SAÚDE, BEM ESTAR E CONVÍVIO
Em janeiro, o clima olímpico chega ao Sesc São Paulo, já que o Sesc Verão – que vai até 1º de março – volta sua programação para modalidades olímpicas e paralímpicas. Até fevereiro serão realizadas aulas, cursos, palestras, oficinas e outras ações em unidades da capital, interior e litoral. “Cada unidade escolheu algumas modalidades com a missão: entender-se como um ator social que fomenta, articula, integra e potencializa ações de instituições, administrações públicas,
universidades, empresas e pessoas que atuam em favor do esporte no estado de São Paulo”, explica Júlio César Pereira Jr., assistente na Gerência de Desenvolvimento Físico-Esportivo do Sesc São Paulo. Confira alguns destaques deste mês:
BERTIOGA
Surfando com David Almeida da Silva
Nascido e criado na Prainha Branca (Guarujá), David é campeão desde os cinco anos e atleta de ponta. Nesta atividade, ele vai falar sobre sua trajetória no esporte, dar dicas e muito mais. (Dia 11/1, das 15h às 17h).
INTERLAGOS
Provas de 100 e 200 metros – com Gustavo Araújo e Franciela Krasucki
Nesta aula especial, o público irá conhecer os atletas Gustavo Henrique Araújo, atleta paralímpico brasileiro recordista mundial, e Franciela das Graças Krasucki, medalhista de ouro no revezamento 4x100 m nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011. Ambos irão compartilhar experiências sobre as provas de velocidade no atletismo. (Dia 12/1, das 10h às 12h).
CAMPO LIMPO
Apresentação Esportiva de Skate – com Pâmela Rosa
Atual número 1 do mundo e campeã mundial 2019 no Street, Pâmela Rosa estará na pista de skate da unidade andando junto com o público, que poderá conhecer de perto a atleta. (Dia 18/1, das 16h30 às 18h30).
PARQUE DOM PEDRO II
Abertura da Liga ANB de Basquetebol 3x3 – Elite
A unidade receberá a abertura da Liga de Basquete 3x3. Evento que reúne as principais equipes do Brasil e os amantes desse esporte que cresce a cada dia. (Dia 25/1, das 13h às 18h, e dia 26/1, das 10h às 17h).
CARMO
Enduro a pé - Cartografia de boxe e basquete no centro de São Paulo
Ao longo do trajeto serão explorados os espaços de prática de boxe e basquete no centro de São Paulo. A saída dos participantes será da unidade do Carmo e a chegada será no Sesc Parque Dom Pedro II. (Dia 25/1, às 8h).
Questão social em jogo
PRÁTICAS ESPORTIVAS EM LOCAIS PÚBLICOS ESTIMULAM TROCAS E PROMOVEM ENCONTROS
Amplificar a possibilidade de práticas esportivas em espaços públicos também significa aproximar seus habitantes. “Há múltiplas formas de apropriação do espaço urbano e o esporte é uma delas. A cidade parece ser um ambiente hostil, mas se olharmos de perto e de dentro perceberemos que as pessoas utilizam esses espaços também para se encontrar. Os moradores da cidade, mesmo que ela seja tomada por carros e por desencontros, ocupam ou constroem esses lugares”, aponta o antropólogo e professor titular da Universidade de São Paulo (USP) José Guilherme Magnani. Um exemplo da importância de espaços públicos voltados para a prática esportiva é a ação realizada pelo Sesc Ipiranga em parceria com a comunidade de Heliópolis, Zona Sul de São Paulo. Desde 2017, essa unidade vem mapeando espaços em locais de seu entorno. “Nosso estudo mostrou diversos espaços subutilizados. Desde então começamos uma ocupação urbana esportiva. Trabalhamos junto a representantes e líderes da comunidade para revitalizar estes locais tão importantes para a prática esportiva quanto para outros usos e encontros de toda a comunidade”, conta Camile Lopes Magalhães, supervisora de esportes da unidade. Neste mês e em fevereiro, por exemplo, a Praça Altemar Dutra receberá atividades de vôlei (sentado), basquete e handebol, além de outras modalidades praticadas pela comunidade. A programação faz parte do projeto Conexcidade Esportiva, que integra a programação do Sesc Verão (leia boxe Chegou o verão!). O Sesc Ipiranga também receberá atividades da comunidade de Heliópolis na unidade.
Também na Zona Sul, outro exemplo de apropriação social do espaço urbano pelo esporte é realizado pelo Instituto Ação Geral. Uma organização não governamental que, há 19 anos, promove ações no âmbito cultural e esportivo visando ao bem-estar social da região. Atividades como caminhada e futebol são realizadas no Jardim Mitsutani, Capão Redondo. “Nosso foco são as crianças porque acreditamos que a partir delas é que chegaremos aos adultos: pais e familiares. A faixa etária é a partir dos sete anos e não tem limite de idade”, explica Professor Luizinho, responsável pela ONG. Na sede do Ação Geral, há salas, banheiros, vestiários e uma quadra reformada com materiais doados pelo Sesc Santo Amaro, unidade parceira do instituto. “A partir dessas atividades esportivas, falamos sobre outros assuntos com a comunidade. As pessoas estabelecem uma proximidade além do convívio social comum. Então, temos desde o ganho ao ver crianças e adultos saírem do sedentarismo até o ganho social”, complementa.