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Um olhar sobre os mais de 50 anos de trajetória de Ivald Granato
Mais de 500 obras e documentos, em suportes analógicos e virtuais, mapeiam 50 anos de trajetória dedicada à arte de Ivald Granato, multifacetado artista fluminense. My Name is IVALD GRANATO Eu Sou é primeira mostra após o seu falecimento em 2016, aos 66 anos.
Com curadoria de Daniel Rangel, a exposição ocupa todo o Espaço Expositivo e Átrio do Sesc Belenzinho, e recebe visitantes até 26 de janeiro de 2020.
A pintura é o eixo principal do conteúdo expositivo: são mais de 300, entre as dispostas no espaço físico e as distribuídas em galerias digitais, divididas a partir de vibrações cromáticas. Além das telas, desenhos, esculturas, arte postal, cadernos de artista, objetos, documentos e vídeos dimensionam o seu legado.
“Ivald Granato possuía uma atitude roqueira que intervinha em quase tudo ao seu redor. Abordagens conectadas aos movimentos da história da arte, como o surrealismo, a action painting e a arte conceitual, a cultura pop e o estudo da cor. A mostra percorre a diversidade de sua trajetória, com uma narrativa delineada, sobretudo, por seu percurso como pintor”, comenta o curador Daniel Rangel.
A exposição foi dividida em seis núcleos e busca revelar nuances do processo de criação e das memórias pessoais e artísticas de Granato.
Na Galeria, maior espaço da mostra, um conjunto de obras demonstra “a força do gesto, a expressividade, a cor, o movimento e a luminosidade que nortearam sua produção”, segundo o curador Daniel Rangel. “Uma linha do tempo parte de 1968 com seu estilo vinculado à pop art, passa pela ruptura do suporte e a figuração do corpo humano e encontra o abstracionismo, reunindo obras que integram acervos de instituições como a Pinacoteca do Estado de São Paulo e o MASP - Museu de Arte de São Paulo, coleções particulares e, em sua maioria, deixadas pelo artista com sua família”, detalha Rangel.
Performances traz fotos, vídeos originais e algumas peças de roupa e acessórios utilizados por Granato em ações performáticas que se tornaram icônicas, como Mitos Vadios (1978). Exibidas ao lado do vídeo-documentário experimental Ivald Granato in Performance, de Tadeu Jungle e Walter Silveira, compõem, na visão do curador, “um resumo divertido e escrachado de um artista que também sabia como atuar”.
Núcleo central da exposição, Ateliê é dedicada ao processo criativo do artista, apresentando centenas de objetos utilizados em suas pinturas e colagens. “São trenas, espelhos de tomadas, revistas, catálogos, luminárias e até vasos de cerâmica realizados por sua companheira, Lais Machado Granato, que recriam o espaço lembrado como um dos principais pontos de encontro da vanguarda paulistana da época”, conta o curador.
Idealizada no início dos anos 2000, a série Heads também estimulou sua produção e demandou o maior número de experimentos de suporte. Além dos já citados anteriormente, tapetes, xícaras de café e bandejas se misturaram em surpreendentes versões, todas inspiradas no contorno do rosto de seu pai. Uma versão gigante delas, imaginada para o entorno do Museu do Louvre, mas não executada, ressurge pendurada no espaço diáfano do Sesc Belenzinho.
Em Cadernos e Desenhos, revela Daniel Rangel, “o visitante será convidado a conhecer algumas das raras páginas que registram o traço forte e fluido de Granato, que nem sempre desenhava antes de pintar”. Enquanto os cadernos originais são apresentados em vitrines, tablets instalados ao lado propiciam a interação dos visitantes com esses trabalhos. No mesmo núcleo, a instalação Caixa é remontada 45 anos após sua primeira apresentação, e revela mais um traço do caráter conceitual de sua produção.
Sintetizando a exposição, Granato VR, uma experiência artística imersiva e interativa em realidade virtual, busca consolidar o impacto explosivo da impressão causada por uma visita ao ateliê de Ivald Granato. Por meio da utilização de óculos de realidade virtual, o visitante é transportado para galerias virtuais preenchidas com trabalhos de Granato.
A partir de um roteiro proposto pela curadoria, a narrativa tecnológica criada por Tadeu Jungle, da produtora Junglebee XR, aproxima o espectador da arte de forma lúdica, ocupando tetos e paredes de três ambientes com 289 obras. A trilha sonora para a viagem virtual foi composta por Dadi Carvalho.
A concepção dos setores da mostra teve participação dos três filhos do artista: Diogo e Pedro cuidaram da arrumação do ateliê e Alice dirigiu as mais de 30 vídeo-entrevistas ali exibidas, reunindo nomes como Gilberto Gil, Jorge Mautner, Claudio Tozzi, José Roberto Aguilar, Arnaldo Antunes, Barbara Gancia, Fernão Mesquita, entre outros. O conjunto responde à pergunta-chave da exposição: Quem é Ivald Granato?
“Ao fazer as vídeo-entrevistas, descobri mais e mais sobre ele. Sigo me surpreendendo com o que ouço, um presente. Sobre cada passo galgado, sobre como ele conduziu sua trajetória. Vi as peças se encaixarem e isso deu um sentido ainda mais amplo para sua existência e sua obra”, reflete Alice Granato.