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O plural é pessoal
"Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Elas são coadjuvantes, não, melhor, figurantes, que nem devia 'tá aqui" *
Esqueça tudo o que você viu e ouviu nos noticiários que insistem em dar voz aos crimes e mazelas presentes nas periferias de São Paulo e pelo Brasil afora. O abismo social gerado pela ausência do poder público nessas regiões é um fato já comprovado pelas estatísticas, inclusive no que se refere à discrepância entre a expectativa de vida dos habitantes das periferias se comparada aos moradores de regiões mais ricas (e mais amparadas pelo poder público). É uma questão urgente que necessita ser observada de perto, mas não é disso que vou falar aqui.
Quero falar das pessoas que habitam essas regiões periféricas. Diferente de considerá-las como números ou alvos em movimento, esse material é pra falar da nossa gente. Precisamos falar desse povo que muitas vezes sofre, mas sabe dar seu jeito, dribla as dificuldades, atravessa as maiores correntezas e sempre olha pra frente.
Já dizia o grande poeta Marco Pezão:
"O nóis pra nós
É singular
O nóis pra nós
O plural é pessoal
Nóis é Ponte e atravessa qualquer rio...".
Da senhora que vende seu geladinho, o brigadeiro, a torta, e segue batendo de porta em porta, até o artista que mesmo na chuva trabalha sério. Pessoas que têm ideias, mostram a sua criatividade, vivências e vendem seus produtos carregados de histórias. Falemos de Nós. Os que unem e não se soltam. Cheios de força, entrelaçados, quando um gira, todos se movimentam.
" Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Se isso é sobre vivência, me resumir a sobrevivência
É roubar o pouco de bom que vivi
Por fim, permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Achar que essas mazelas me definem, é o pior dos crimes
É dar o troféu pro nosso algoz e fazer nóiz sumir”*
*Trecho da música "AmarElo", do rapper Emicida
Apresentamos três belas ações que estiveram presentes na feira de iniciativas sociais no Sesc Campo Limpo, que contou com 20 atividades mapeadas, dentro da programação do “Nós: criação, trabalho e cidadania”. São apenas três, dentre tantas que existem por aí, mas elas representam a capacidade econômica, social e criativa da periferia, em especial das pessoas da zona sul de São Paulo.
Papel de Mulher
"A gente mexia com a reciclagem, com papel, mas nós fomos reciclando a nossa vida também" - Betânia Carvalho.
O Papel de Mulher é um negócio social de educação ambiental, que por meio da reciclagem de papéis, cria cadernos, agendas e novos papéis. Mas, para além disso, nesse projeto o que se transforma é a vida das próprias mulheres que participam e compõem a iniciativa.
Coletivo Dedo Verde
"Eu tô plantando e tô colhendo. Então isso aí a gente sente realizada, né?" - Zilda Lopes
O Coletivo Dedo Verde, localizado no Jardim São Luís, desenvolve ações ecológicas relacionadas à economia e preservação ambiental nas periferias de São Paulo.
E-bairro
"Nós queremos chegar a uma fotografia desse bairro, desse território" - Diane Padial
"Contribuir para que produções culturais que sejam realizadas nesse território possam aparecer tanto pros bairros vizinhos, como pro mundo" - Carla Prates
Da Zona Sul para o mundo. Essa é a trajetória do E-bairro, um portal com agenda cultural e lojas virtuais de artistas, artesãs, escritores e empreendedores da periferia de São Paulo. O site tem como missão desenvolver e potencializar a economia criativa de bairros como Campo Limpo, Capão Redondo e Jardim Ângela.
Por Ronaldo Domingues, editor web do Sesc Campo Limpo
>>LEIA MAIS : É tudo nosso! (Abertura da ação em rede "Nós, criação, trabalho e cidadania", no Sesc Campo Limpo)