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Muito antes de surgir o Instagram, Pierre Verger (1902-1996) já acumulava seguidores em torno da sua fotografia. Francês que rodou o mundo e morou parte de sua vida na capital baiana, usou sua formação como antropólogo e etnólogo para clicar as áreas de seu interesse: cultura popular e urbana, o cotidiano do trabalho, as relações interpessoais e flagrantes do corpo humano em diferentes situações. Sua produção inclui também textos sobre a cultura afro-brasileira e a dispersão dos povos africanos por motivos religiosos e políticos.
 

Passaporte carimbado

A morte da mãe levou Verger, na faixa dos 30 anos, a cruzar os países munido de sua câmera Rolleiflex. Segundo Carol Velásquez, mestranda no Instituto de Artes na Universidade Estadual Paulista (Unesp), ele observou e “muitas vezes participou dessas culturas sem interferir ou impor suas opiniões ou sua presença. Foi adotado pelo Brasil, mais precisamente pela cultura baiana e a religião de matriz africana, o candomblé”, detalha a pesquisadora. Entre 1932 e 1946 ele se lançou em viagens e compilou parte de sua obra, trabalhando como fotojornalista.

O afrouxar das malas em Salvador, no ano de 1946, representou uma mudança de vida. Foi atraído pela cultura local e as tradições, principalmente do âmbito religioso. Para ele, o candomblé era símbolo da vitalidade do povo baiano. Esse interesse o levou também à África, onde recebeu o nome de Fatumbi, “nascido de novo graças ao Ifá”, em 1953. Além do encantamento pelos cultos religiosos, houve trocas com os intelectuais da época: Carybé, Vivaldo da Costa Lima, Jorge Amado, Mário Cravo e com o “povo de santo”. “É a partir da experiência brasileira, e da África por meio dela redescoberta, que a escrita se introduz na sua vida, fazendo com que os textos passem a conviver com os registros fotográficos”, destaca Fernanda Arêas Peixoto, autora do livro A Viagem como Vocação (Edusp, 2015).

 

Zzzzzzzzzzzz...

Seleção de 98 fotografias retrata pessoas dormindo em locais públicos pelo mundo

Até 16 de junho o Sesc Santo André recebe a exposição Dorminhocos, com flagrantes autorais de Pierre Verger entre 1930 e 1950, em países como Argentina, Peru, Congo, China, Polinésia Francesa, Guatemala e México. No Brasil, fotografou os dorminhocos na Bahia, Pernambuco e Maranhão. Para o curador Raphael Fonseca, a relação entre trabalho e corpo humano aparece o tempo todo na exposição. “Não necessariamente no ato de trabalhar, mas aparentemente no ato do descanso após ou durante o trabalho”, exemplifica, destacando que em sua maioria, as imagens soam como registros de pessoas “tão fatigadas – pelo trabalho, pelo clima – que se entregam ao sono”.

Entre maio e junho haverá visitas mediadas pelas educadoras Jordana Braz e Nathália Paro e também as oficinas Caminhos Possíveis da Arte com a arte educadora Carol Velásquez. Dorminhocos foi realizada em parceria com a Fundação Pierre Verger, criada em 1988 pelo próprio antropólogo, com sede em sua casa, no bairro do Engenho Velho de Brotas, em Salvador.

 

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