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Simples assim

Imerso na relação entre teatro e vida cotidiana, diretor e ator
japonês compartilha seu trajeto rumo ao que é essencial

 

Ao chegar ao teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, o primeiro gesto de Yoshi Oida foi deixar a cadeira, que estava no centro do palco, bem pertinho da plateia. Mudou-a de lugar, sorriu timidamente e foi saudado pelo público, que lotava o espaço. Os ingressos para o encontro com o diretor, autor e ator japonês, em dezembro, estavam esgotados. No entanto, ainda haveria oportunidade de ter contato com a obra do artista, durante a temporada de A Canção da Terra, espetáculo dirigido por ele, que seguiu em cartaz na unidade em janeiro, com música executada ao vivo pela orquestra do Ensemble Instituto Fukuda.

Yoshi Oida tem 83 anos, nasceu no Japão, mas desde 1968 vive na França, onde começou sua relação com o amigo, colaborador e diretor de teatro Peter Brook. Oida atuou recentemente em Silêncio (Martin Scorsese, 2016). Entre os livros que publicou sobre técnicas de interpretação estão Um Ator Errante (Via Lettera, 1999), O Ator Invisível (Via Lettera, 2007) e Artimanhas do Ator (Via Lettera, 2012). Acompanhe trechos da conversa do diretor com o público, ocorrida no final de 2017.

Mergulho nos personagens

Quando se é ator, muitos pensamentos passam pela cabeça: tenho que ser bom; preciso agradar a plateia; ser bem-sucedido e amado pelo público. Pensamentos inúteis, mas o ator faz isso. Eu faço isso. No entanto, esses pensamentos não se relacionam com nosso plano de ação, ou seja, com os personagens que interpretamos. Portanto, é importante se desprender dessas ideias e subjetividades para se envolver com os personagens. Tal processo pode ser chamado de esvaziamento e é extremamente difícil de colocar em prática.

Solidariedade no palco

Será realmente bom quando subirmos ao palco e não nos confrontarmos com nenhuma dessas dúvidas. Temos a necessidade do aplauso, da admiração, desejos que ecoam na cabeça do ator e que são parte da nossa realidade, mesmo tendo consciência de quão nocivos são esses desejos. O ator tem de ser solidário, humilde. Antes de mostrar seu talento, tem que ajudar seu parceiro, seu diretor, seu espetáculo.

Objetivo e subjetivo

No palco, sempre quero mostrar o ser humano, não a luz, a cenografia, mas a beleza do ser humano, o seu mistério, seus movimentos. Meu objetivo, atuando ou dirigindo, é o mesmo. Na vida real, também estou atuando como Yoshi Oida, então por que não posso aproveitar e mudar a relação objetiva que tenho comigo mesmo? Nesse caso, podemos usar a atuação para rever como nos relacionamos com o nosso cotidiano e, por que não, sermos mais felizes. Mas essa não é uma ideia sobre o modo de vida. É como se existissem duas dimensões: a objetiva e a subjetiva. Ser e estar. E é só isso. Essa é a verdadeira liberdade, quando conseguirmos realmente estar.

Minimalismo em ação

Para alcançar algo que está em nossa mira, precisamos perguntar o que é realmente importante dentro do que buscamos. Uma vez, vi uma obra do Matisse [artista plástico francês] e fiquei impressionado pelo jeito com que ele trabalhava: do máximo para o mínimo. E me pergunto como simplificar as coisas sem jogar fora o que realmente é importante. Temos que saber julgar. Se tivermos muitas coisas em nossa frente, não conseguiremos identificar o que é importante. Sejam muitas palavras, muitas expressões... O que pode fazer com que o ator caia em algo muito vago. Quando atuo ou dirijo, tento e experimento muito no começo. Depois, vou jogando fora, simplificando. No trabalho que faço, gosto de ir em direção ao mínimo.


 

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