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Rua na Prática

foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas
foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas




Caminhada em parques, corrida nas ruas, ginástica em escadarias, yoga nos gramados, skate nas praças, slackline sob as árvores, rapel em viadutos, pedais em ciclovias. Basta passear por São Paulo em um domingo ensolarado para notar quanto os espaços públicos têm sido ocupados para a prática de esportes e atividades físicas.

O que já era possível observar nas ruas foi comprovado recentemente pela pesquisa Diesporte, uma abrangente sondagem sobre esportes feita no Brasil. Segundo o estudo, 33% da população brasileira fisicamente ativa utiliza espaços públicos com essa finalidade. Na região Sudeste, essa preferência é ainda maior, superando o uso de instalações esportivas como ginásios e academias pagas.

A apropriação de locais abertos para a promoção do bem-estar é um fenômeno recente, observa o professor Reinaldo Pacheco, do curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. “A capital paulista avançou muito nessa questão, embora ainda de forma mais lenta que o desejado”, avalia.

“As recentes iniciativas de consolidação de uma malha cicloviária na cidade, a criação de uma cultura ciclística pelo movimento cicloativista e o fato de termos atingido a meta de mais de cem parques municipais são um indicativo do crescimento da importância dos espaços públicos para o lazer e as atividades físico-esportivas.”

As atividades físicas no Brasil foram tradicionalmente realizadas em clubes privados, já que as áreas públicas não eram entendidas como “espaços de todos”, explica Reinaldo. Eram, isso sim, locais inseguros que deveriam ser evitados. “Hoje sabemos que, quanto mais nos fechamos, mais deixamos a cidade insegura. Cidade segura é aquela na qual os espaços públicos são espaços do prazer, da corporeidade, da circulação e do contato intercultural”, completa.

A partir da ideia de que o enclausuramento não é a solução, a gestora ambiental Silvia Stuchi criou um projeto para incentivar a corrida como meio de transporte. Desde março de 2014, o Corrida Amiga já atendeu mais de cem pessoas em 15 cidades do país. Por meio do site do projeto, um dos 90 voluntários orienta os interessados em praticar corrida entre a casa e o local de trabalho ou estudo.

Há desde recomendações sobre rotas e trajetos mais seguros, até dicas de como correr em calçadas ruins. “No contato com a cidade a gente começa a visualizar os problemas dela também”, conta Silvia. “Como a gente está com o pé na rua, somos multiplicadores da ideia de que não temos que ter medo desses lugares. É uma sensação de liberdade e de ocupação do espaço público no seu melhor sentido.”


SOCIABILIDADE URBANA


Da mesma forma que o Corrida Amiga, diversas outras iniciativas na capital paulista incentivam as atividades ao ar livre como forma de melhorar a relação com o corpo e com as ruas. Há grupos de caminhada, reuniões para prática de yoga nos parques, grupos de caminhada e corrida em locais como o Minhocão, além de encontros para pedaladas como os Night Bikers, que se juntam todas as terças-feiras à noite para pedalar.

Essa característica agregadora dos espaços públicos de reunirem pessoas em torno dos mesmos interesses é chamada de “sociabilidade urbana” pelo professor da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Marco Paulo Stigger. “São possibilidades de viver a cidade, proporcionar e estimular o uso de locais em que as pessoas se relacionem”, analisa. “Em um primeiro momento, é um espaço para as pessoas estarem juntas, trocando experiências, fazendo uso da cidade. Em um segundo momento, é praticar a cidadania no sentido de cuidar e se interessar pela vida da cidade.”

Estar ao ar livre em contato com outras pessoas torna a atividade física mais atraente, argumenta o professor. “Uma coisa é você fazer atividade porque o médico mandou ou porque alguém falou que faz bem. Outra é você sair de casa para encontrar um grupo de pessoas para fazer atividade com elas. Esses espaços públicos são lugares propícios para, além de cuidar do corpo, viver a vida em termos sociais.”


ESTRUTURA


Um ponto importante no uso dos espaços públicos para o esporte, lembra Marco Paulo, é a necessidade de infraestrutura e orientação adequada – algo muitas vezes esquecido, levando-se em conta que 76,8% dos pesquisados do Diesporte relataram não encontrar orientação profissional em locais públicos. “É importante ter profissionais preparados para estimular as pessoas e para participarem das questões de interesse do espaço. Não só estar atento às demandas, mas estimular demandas. Mostrar que esporte e lazer são direitos e merecem ser estimulados.”

Segundo o professor Reinaldo Pacheco, a participação da população junto ao poder público é fundamental, por exemplo na gestão desses espaços por meio de conselhos gestores – como ocorre em alguns parques municipais de São Paulo. “É possível melhorar muito os programas realizados nesses espaços, propondo novas formas de uso que possam atender realmente a todos, sejam crianças, idosos, pessoas com mobilidade reduzida ou moradores de bairros sem espaços específicos para atividade física e que precisam se deslocar para outra área da cidade. Isso depende de profissionais capacitados para a gestão e planejamento do uso desses lugares”, avalia.

O ideal é que os espaços sejam tão abertos quanto possível, defende Reinaldo. “É a cidade aberta às experiências do encontro e da sociabilidade a partir da cultura, e a cultura corporal é parte central na construção de uma cidade saudável”, afirma. Reinaldo lembra que a saúde não depende só de movimento corporal, e por isso deve ser pensada de forma mais integrada, junto de transporte, cultura, lazer e arte: “É tudo isso que faz uma cidade saudável”.



ESPORTES SOB A LUPA


1|ONDE O BRASILEIRO INICIA A SUA PRÁTICA ESPORTIVA?
48% na escola, com orientação de um professor
25,5% em espaços públicos

2| QUANTO SOMOS SEDENTÁRIOS?
45,9% dos brasileiros (aproximadamente 67 milhões de habitantes) se declaram sedentários.
O maior número de sedentários se concentra na região Sudeste (54,4%). A região menos sedentária é a Norte (37,4%).

3| QUAL O ESPORTE* MAIS PRATICADO NO PAÍS?
HOMENS
66,20% futebol
6,40% caminhada
5,10% voleibol
5,10% corrida
MULHERES
20,50% voleibol
19,20% futebol
18,70% caminhada
*Os entrevistados responderam espontaneamente sobre a prática de esporte e atividade física.

4| QUAL A ATIVIDADE FÍSICA* MAIS PRATICADA NO PAÍS?
HOMENS
50,7% CAMINHADA
22,1% BICICLETA
11,9% CORRIDA

MULHERES
62,9% CAMINHADA
12,9% BICICLETA
10,3% GINÁSTICA
*Os entrevistados responderam espontaneamente sobre a prática de esporte e atividade física.

5| QUAIS AS PRINCIPAIS RAZÕES APONTADAS PARA A PRÁTICA DE ESPORTES E ATIVIDADES FÍSICAS?
41,4% busca pelo bem-estar e
por melhoria na qualidade de vida
37,8% melhoria do desempenho físico

Conceito usado na pesquisa – “Esporte significa todas as formas de atividade física que, através de participação ocasional ou organizada, visam exprimir ou melhorar a condição física e o bem estar mental, constituindo relações sociais ou a obtenção de resultados em competições de todos os níveis” (European Sport Charter, 1992)

 

COMO O BRASIL SE EXERCITA?

MAIOR PESQUISA SOBRE ESPORTES E ATIVIDADES FÍSICAS JÁ FEITA NO PAÍS IRÁ NORTEAR AÇÕES DE INCENTIVO A ESSAS PRÁTICAS


Lançada em 22 de junho pelo Ministério do Esporte em parceria com seis instituições federais de ensino superior e o Sesc, a pesquisa Diagnóstico Nacional do Esporte (Diesporte) é a uma abrangente sondagem sobre esportes e atividades físicas já feita no país. Realizado pelo Instituto Visão durante o ano de 2013, o levantamento contou com 8.902 entrevistas e traça um perfil dos praticantes de esportes e atividades físicas realizada em território nacional. O objetivo é identificar o grau de desenvolvimento do esporte para o aperfeiçoamento das políticas públicas.

Os resultados irão nortear, por exemplo, as próximas ações da Campanha Move Brasil, iniciada em 2012 e que tem no Sesc uma das principais lideranças nacionais. A campanha tem por meta promover a prática de esportes e atividades físicas e aumentar o número de brasileiros praticantes até 2016. A partir dos indicadores da pesquisa Diesporte será possível focar as ações por todo o país com maior assertividade para a diminuição do sedentarismo. 

“A pesquisa Diesporte traz um panorama da prática de esporte e atividade física no país, reforçando dados de outros referenciais que deixam claro que o quadro atual de sedentarismo brasileiro precisa ser olhado de frente”, Maria Luiza Souza Dias, gerente de Desenvolvimento Físico--Esportivo do Sesc. “Ações de incentivo à prática, como a Campanha Move Brasil, são fundamentais para levar a mensagem a toda a população, proporcionando o acesso e incentivando a incorporação desse hábito no dia a dia.”

 

 

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