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Quando eu crescer...




por Deborah Dias Matos



É muito comum, quando somos crianças, algum adulto perguntar: o que você quer ser quando crescer? Imediatamente somos levados a responder com o nome de uma profissão que nos encanta: médica, dentista, bombeiro, astronauta, professora, bailarina, jornalista. E, com esse infinito de possibilidades, vamos crescendo e direcionando nossos estudos e atividades para alguma profissão. Bem, com sorte, essa trajetória de fato acontece para crianças que desde muito cedo já sabem a resposta para essa pergunta. Eu não fui uma dessas crianças.


Demorei um bom tempo até descobrir que profissão gostaria de ter e então decidi seguir o caminho do estudo da vida. Entrei para o curso de Biologia pensando em estudar os seres marinhos, e uma vasta oferta de temas e áreas do conhecimento ampliou minha visão. Após algumas experiências na área da pesquisa em laboratório, resolvi experimentar algo novo: trabalhar com educação. Nesse momento, posso dizer que fui mordida por um bichinho sapeca, daqueles que nos pegam de surpresa e quando se vê já está contagiado. Saí da faculdade cinco anos depois estudando o ambiente e suas relações, explorando os caminhos da educação ambiental.


Atuar na área da educação não formal abriu-me um mundo de possibilidades!. Descobri que era possível ter uma formação acadêmica em determinada área e dialogar com outras com que à primeira vista não guardava relação. Descobri também que essa multiplicidade de olhares e vivências é ingrediente essencial para que os projetos e ações que se propõem no campo da educação tenham sucesso.


Fazer parte de uma instituição que, em seu campo de atuação, apresente uma diversidade de cenários e, mais além, em uma unidade que permita explorar várias potencialidades me faz voltar à pergunta que me faziam quando eu era criança: o que eu quero ser quando crescer?


As ações desenvolvidas pelo Sesc buscam inserir seu público frequentador em espaços educativos, com projetos voltados à educação, cultura e lazer, dialogando com a realidade de cada local. Nesse cenário, a unidade de Itaquera, localizada em um dos poucos remanescentes de Mata Atlântica na Zona Leste, busca envolver e sensibilizar o público para a importância das áreas verdes na cidade.


Atualmente, tenho a oportunidade de acompanhar projetos que têm a educação permanente como a base de seu escopo de trabalho, discutindo a temática socioambiental em suas várias dimensões. Exposições temáticas como Energia e Amazônia Mundi relacionam o seu conteúdo com a realidade socioambiental da unidade e seu entorno e oferecem um caminho de descobertas e trocas, a partir da formação de equipes multidisciplinares que compartilham saberes entre si e o público.


O resultado? Posso ver pessoas encantadas com nossas atividades e, após participar de algumas delas, nos olharem com brilho nos olhos e dizer “obrigada”. Uma simples palavra que é, na verdade, carregada de significado. Percebo o agradecimento pela atenção na forma do atendimento e pela possibilidade que oferecemos de lhes apresentar algo novo, e percebo que ainda não haviam notado como aquela discussão se relaciona com a sua própria realidade. Essa é, para mim, a maior recompensa para o educador.


Nesta jornada, aprendemos uns com os outros a cada dia: aprendemos a ouvir, a falar, a compartilhar. Com isso, passei a vivenciar a vida em vez de simplesmente estudá-la. Quando olho os resultados de nosso trabalho, é inevitável não me lembrar mais uma vez da pergunta que eu também me fiz um dia: o que eu quero ser quando crescer? Acho que já tenho a resposta: tudo! Afinal, ainda estou crescendo.



Deborah Dias Matos, bióloga e agente de educação ambiental do Sesc Itaquera.