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Diversidade revelada




A pluralidade de temas e linguagens dá o tom da fotografia produzida na América Latina



Em constante mutação, a fotografia feita por profissionais latino-americanos é marcada pelas diversas realidades que compõem o panorama da região. Essa fértil produção segue em direção oposta à pretensa formação de um grupo homogêneo de criadores, que limitaria ao contexto geográfico as muitas propostas e ideias dos donos das câmeras digitais, analógicas, ou até mesmo das eficientes e compactas câmeras dos celulares.


Vivendo em contato com uma multiplicidade de instrumentos e suportes, está mais difícil restringir essa produção fotográfica a seu continente, o que, na opinião do fotógrafo, crítico e curador Eder Chiodetto, não é ruim. “Não creio que haja, hoje em dia, uma fotografia estritamente latino-americana, feita tão somente de preceitos locais”, diz. “Podemos observar um olhar bastante atento para as disparidades de ordem econômica e política, vestígios de uma democracia que ainda engatinha, mas do ponto de vista formal, penso que o fazer fotográfico está mais e mais globalizado.”


Da mesma forma, para a fotógrafa Angélica Dass, é difícil identificar um olhar latino ou europeu, por exemplo. “Todo fotógrafo carrega consigo as suas experiências, produzindo opiniões por meio das imagens”, afirma. “Eu sou fotógrafa latino-americana porque nasci aqui e minha temática fala de coisas que vivi no Brasil, então, mais que nada, aposto na fotografia pessoal, em primeira pessoa, na qual cada um acaba contando um pouco de quem é por meio das imagens.”


Independentemente da localização geográfica, o fato é que para os fotógrafos ficou mais fácil o intercâmbio de experiências em fóruns de discussão e a apresentação de seus portfólios. Essa realidade propicia reflexões sobre aspectos teóricos e práticos do ofício, por uma nova geração de criadores que desarticula as limitações para realizar seu trabalho.


Esses profissionais latino-americanos “começam, de forma instigante, a incorporar certa subjetividade em seus relatos, deixando o discurso produzido mais poroso e poético”, contextualiza Chiodetto.


Para ele, aspectos sociais e históricos da formação do continente também influem no cenário atual. “Por exemplo, superar os traumas de uma ditadura militar não é fácil”, acrescenta. “Mas, finalmente, a fotografia latina começa a alçar voos mais libertários. E, no meu entender, é nesse sentido que ela fica mais universal e humanista.”



OLHAR PARA O OUTRO


Festival Internacional apresenta panorama rico e diversificado da fotografia


Até 25 de janeiro de 2014, o tradicional festival de fotografia e artes visuais, o PHotoEspaña, pode ser visto na unidade da Consolação. Nesta edição, o Sesc recebe o trabalho de cinco fotógrafos e a exposição coletiva (Re)presentaciones. As exposições de Alberto García-Alix, Luis González Palma e Graciela de Oliveira e (Re)presentaciones ocupam o Ginásio Vermelho e a Área de Convivência. “Temos ainda três exposições em áreas externas, Humanae, da fotógrafa Angélica Dass, Ambiente Plossu, de Bernard Plossu, e o projeto Giganto, de Raquel Brust. As exposições foram pensadas de forma a criarem um percurso que abarcasse os espaços internos e externos à unidade, formato já praticado no festival”, diz a técnica de programação, Sabrina Popp Marin.


Ainda segundo ela, uma das preocupações ao organizar o evento foi valorizar as características originais, “mas também adaptá-lo à realidade brasileira, em termos de espaço, distribuição dos trabalhos e temas, e apresentar ao público de São Paulo um panorama da produção fotográfica contemporânea, especialmente a produzida na América Latina”.


Para a diretora do PHotoEspaña, Claude Bussac, o festival quer trazer a fotografia para todos e abordar seus diferentes pontos de vista. “A cidade de São Paulo é uma cena cotidiana de muitas fotografias realizadas por fotógrafos profissionais e amadores. Embora seja verdade que este ano o festival esteja dominado pelo trabalho centrado nas pessoas”, explica. “Há a busca introspectiva através do ambiente ou da experiência pessoal, como ocorre com as exposições de Alberto García-Alix, Bernard Plossu e Luis González Palma, mas há o olhar para o outro, mostrado por Angélica Dass, os retratos gigantes de Raquel Brust, ou a procura de outras realidades pela interpretação dos lugares ou pessoas, como proposto em ‘(Re)presentaciones’.”


A fotógrafa Angélica Dass fez retratos de pessoas que compareciam na unidade dispostas a fazer parte do Humanae – o seu projeto em desenvolvimento, que terá como resultado um inventário cromático dos diferentes tons da pele humana. Ela afirma emocionada que foi um presente divino realizar seu projeto nesse espaço. “Interagi com muitas pessoas. Já tem gente que vem se despedir de mim, tanto os moradores da região ou quem trabalha por aqui, que sentiram curiosidade e abraçaram a ideia. E toda a equipe do Sesc Consolação, de diferentes cargos e funções, também participaram dessa história. Isso, para mim, foi o mais positivo.”