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Entrevista: Paulo Queiroz Marques

Paulo Queiroz Marques nos recebeu em sua farmácia de manipulação, a Pharmácia Drogamérica, na capital paulista. Aos 90 anos de idade, Paulo foi o primeiro farmacêutico a se inscrever no Conselho Regional de Farmácia em São Paulo. Dinâmico, falante, e rico de histórias pessoais e profissionais concedeu-nos uma entrevista muito agradável e envolvente.
Foi conselheiro no Conselho Regional de Farmácia - SP e Diretor do Sindicato do Comércio Varejista, por mais de 10 anos. Consciente da importância de sua profissão para a saúde da população militou e organizou a categoria em associações e delas tem sido membro ativo. Corajoso, denuncia as políticas públicas na área de medicamentos. Ético, prioriza o bom atendimento da população e os coloca bem acima dos interesses das multinacionais do
remédio.

As pessoas dizem que a vida começa aos quarenta, e brincam assim: “na farmácia”. No seu caso, começou na farmácia desde os oito anos, e vai terminar na farmácia com cento e poucos anos. É isso?

É, não tenho pressa!

O sr. pode nos contar sobre seu pai e de que forma ele influenciou sua carreira de farmacêutico?

O meu pai era um boticário, mas ele não se formou em Farmácia, era autodidata. Ele nasceu em 1870 e tinha um irmão farmacêutico, formado em Ouro Preto.

Como era o trabalho de um boticário?

Há um livro chamado Formulário ou Guia Médico, de um médico polonês, Pedro Luiz Napoleão Chernoviz. Com a invasão dos russos na Polônia, ele teve que fugir para a França, e lá estudou medicina na Faculdade de Montpellier, que era a melhor da época. Lá ele se formou como cirurgião, não teve sucesso no começo da vida; encontrou-se com colegas brasileiros que disseram que no Brasil havia poucos médicos. Ele fez as malas e veio para cá. Ficou quinze anos no Rio de Janeiro. Queria exercer medicina, mas não havia remédios para ele receitar.

Aqui não havia indústria farmacêutica. Os remédios vinham da França, mas existia um arsenal terapêutico que os jesuítas assimilaram dos nativos - as plantas medicinais. Ele estudou essas plantas, e com esse recurso, em 1830 escreveu um livro. Teve acesso a anotações feitas pelos jesuítas sobre o que eles aprenderam com os pajés, com os índios e transcreveu aquela linguagem empírica em uma linguagem científica, botânica, dirigida à classe mais erudita. Esse livro ensinava como reconhecer as plantas. Não existia fotografia, então, tudo era desenhado: as plantas, os aparelhos, todos desenhados, e aquele livro teve uma repercussão muito grande, foram feitas 19 edições. Depois de sua morte o livro foi atualizado pelo filho dele. O Chernoviz foi precursor da Farmácia e da Medicina aqui no Brasil.

Seu pai aprendeu com o livro de Chernoviz?

Sim. Meu pai comprou a edição de 1905, que foi a décima oitava edição, onde ele estudava as plantas e suas indicações para curar doenças. Naquele tempo havia poucos médicos, e quem chegava mais longe era o boticário. Meu pai, como outros boticários, tratava das pessoas, supria a falta de médicos e com isso fazia uma atividade quase social.

Isso aconteceu na sua cidade natal?

Justamente. Itaberá é uma cidadezinha do sul de São Paulo. Quando saí de lá, diziam: “Visite antes que desapareça”. Era uma cidade pequena. Não tinha médico e não tinha farmacêutico. E meu pai foi para lá, estabeleceu-se com uma farmácia chamada São Pedro, e começou a trabalhar. Tem coisas muito pitorescas que ele exerceu como boticário, suprindo a ausência do médico. Teve o caso de uma mulher que tinha “papo”, um problema de tireóide. E ele deu uma solução de Lugol feita à base de iodo. E não é que o papo desapareceu e a fama dele correu? Teve um outro caso, de um sitiante, uma pessoa mais ou menos abonada, cuja mulher estava muito doente. Ele a levou para se tratar em Faxina, uma cidade próxima. Lá tinha médico, mas ele também não conseguiu resolver o problema dela. O sitiante chegou com a mulher, muito mal, desenganada pelos médicos de Faxina, perguntando se meu pai curava “Disseram que o senhor cura, o senhor cura?” Meu pai respondeu “Não, eu não sou nada disso...” mas a tratou: fez uma mistura de quenopódio com óleo de rícino, que era um vermífugo poderoso. Só sei que num dia ela tomou aquele remédio e no outro começou a botar lombriga. Era lombriga que encheu uma bacia enorme. E a mulher morreu de velha, bem depois.

Não havia outros boticários na cidade?

Por muito tempo ele foi o único na cidade. Um dia chegou um farmacêutico que se estabeleceu lá. E o farmacêutico, por lei, tem o privilégio da região. Meu pai tinha duas alternativas, fechar a farmácia ou procurar outro meio. Então, ele contratou um farmacêutico em Itapetininga, para assumir a responsabilidade da farmácia e continuou a trabalhar.

A sua família era grande?

Meus pais tiveram treze filhos. O primeiro deles nasceu em 1900, chamava-se Álvaro. Ele foi estudar em Pindamonhangaba, na Escola de Farmácia e Odontologia de Pindamonhangaba, em 1925 mais ou menos. Ele formou-se, mas em vez de voltar para trabalhar com meu pai, aceitou o convite de um amigo que era fazendeiro e o convidou para montar uma farmácia em Ourinhos. O segundo filho foi estudar farmácia em Itapetininga - Farmácia e Odontologia. Chamava-se Ariovaldo. Formou-se e veio trabalhar com o pai em Itaberá. Eu nasci em 1921, cresci dentro da farmácia. Chamavam-me para mexer com remédios, lavar vidros, lavar o chão, eu fazia aquele servicinho simples. Depois meu pai mudou-se para Faxina, hoje Itapeva (SP).

Por que essa cidade teve o nome de Faxina?

Faxina era aquele lugar de despejo, é como o português fala, a escória, os degredados, criminosos, então, Faxina era um lugar de despejo. Era a última cidade de São Paulo, fazia divisa com o Paraná. Então, em Faxina, tinha um farmacêutico com a farmácia Santana, e essa farmácia era a maior da cidade. Acontece que o dono dela ia se mudar para São Paulo. Meu pai comprou a farmácia e chamou meu irmão para trabalhar com ele. E fez uma firma pai e filho - Marques & Filho.

E como foi a vida na nova cidade?

Farmácia Santana era a melhor da cidade. A primeira vez em que eu me senti com vocação para farmacêutico foi quando teve uma epidemia de malária e todo mundo, os sitiantes, iam lá tremendo de febre. O remédio que existia naquele tempo era o quinino, e era feito em cápsulas amiláceas (material da hóstia.) Pegava-se o pozinho e colocava-se na cápsula. Meu irmão, que era farmacêutico, fazia isso e eu, com mais duas irmãs, o ajudávamos. Fazíamos cem, duzentas cápsulas por dia, até mil, porque a demanda era muito grande.

Então eu achei aquilo lá um serviço de utilidade pública, de servir a comunidade, de ajudar os outros, de curar. E eu queria poder curar, porque as pessoas procuravam por isso.

Como é a historia de que o senhor começou aplicar injeção ainda criança?

Existia, naquele tempo, uma injeção feita por um laboratório que se chamava Laboratório Paulista de Biologia, que era na avenida São Luis, São Paulo, onde é fica a Galeria Metrópole atualmente. Eles faziam uma injeção chamada Paludan, que era para a maleita. Então, no tratamento da malária, além das cápsulas, era preciso aplicar as injeções nas pessoas. Elas ficavam na frente da farmácia. Dez, vinte pessoas, na fila, com febre, e eu me impressionei muito com aquilo. Meus irmãos não venciam fazer a injeção e aí eu aprendi a dar injeção, aplicando numa mulher que estava com cistite. Eu tinha seis para sete anos. Sei que a mulher veio e eu apliquei a injeção nela. Estava meio tremendo, preocupado, mas dei a injeção e ela disse que não sentiu nada e eu fiquei entusiasmado com aquilo. Fui competente. Depois deste episódio, passei a dar injeção até a domicílio.

Seu pai teve uma influência forte e decisiva na sua vida e em sua carreira. E sua mãe? Como ela criou os treze filhos?

Enquanto a família trabalhava na farmácia, ela sempre cuidava para que os filhos ficassem bem arrumados. Quando eu ia fazer a cápsula, que era quinino com azul de metileno, o azul de metileno sujava toda a roupa e minha mãe ficava brava. A gente sempre se sujava e ela nos obrigava a tomar banho com bucha para tirar a sujeira. Minha mãe era o trabalho de retaguarda silencioso, e nos estimulava a ajudar na farmácia. Minha mãe era uma pessoa muito religiosa, tinha uma qualidade especial de fazer filantropia, mas sem pensar em ser filantrópica. Ela dava comida aos pobres, conversava com eles, tratava-os com dignidade. Isso era muito legal para a gente, era um exemplo de vida, de respeito ao outro. Ela era muito religiosa.

Era espírita, e casou-se com meu pai que era católico. E também era devota, ia sempre à igreja e nos ensinava o caminho da religião. Eu tenho formação católica e agora, nessa fase da vida, eu sou ecumênico. Eu aceito todas as religiões. Todas elas, naturalmente, querem o bem.
Agora, aos 90 anos, tenho somente duas irmãs vivas. Uma com 89, eu com 90 e outra com 91. Éramos treze e agora somos três.

Dr. Paulo, dos irmãos, quantos seguiram uma carreira parecida?

Dos irmãos, o Álvaro foi o primeiro, depois o Ariovaldo e depois veio o Cícero. O Cícero trabalhava num cartório, tinha uma digitação muito rápida, cem palavras por minuto. Um dia, ele estava trabalhando sem paletó, porque estava muito calor e um juiz não gostou e o demitiu. Ele foi estudar Farmácia, em Itapetininga. Então, Álvaro, Ariovaldo, Cícero e eu, tornamo-nos farmacêuticos. Eu me formei em Farmácia, em 1944, na Faculdade de Farmácia e Odontologia da USP – que ficava na rua Três Rios, no Bom Retiro, São Paulo. Meu pai, sendo boticário, formou quatro farmacêuticos. O Cícero foi trabalhar com ele em Ourinhos, depois ele entrou para a política. Foi prefeito, foi político do Partido Constitucionalista. O meu pai também foi político do Partido Constitucionalista e foi presidente desse partido.

Meu pai também foi provedor da Santa Casa e dava remédios de graça para os pobres de lá. Chamava-se Joaquim Marques da Silva, mas era conhecido como Quinco Marques.

Por que o senhor veio para São Paulo, enquanto seus irmãos estudaram em Itapetininga?

Eu terminei o ginasial, em 1939. Havia a Escola Normal para formar professores lá em Faxina, que na época já havia mudado de nome para Itapeva. Então formaram uma comissão que procurou meu pai para saber se eu queria entrar na Escola Normal, estavam angariando alunos para fazer a primeira turma da Escola. Foi na hora que eu decidi: “Eu não quero ser professor, eu quero ser farmacêutico”.

Mas eu também tinha uma vocação assim meio para padre, e eu disse, vou estudar no Seminário. Aí uma tia disse: “Padre não pode casar”. Eu não sabia se era bom ou não casar, mas por vias das dúvidas... desisti da batina. Eu vim aqui para São Paulo em 1939. Prestei exame vestibular e, justamente nessa época, estourou a Segunda Guerra.

E esse período da Guerra teve algum reflexo nos seus estudos?

A profissão farmacêutica estava sofrendo uma influência negativa neste período. Poucos remédios eram feitos aqui, havia problemas de distribuição por todo o Brasil, apesar da população estar crescendo nas cidades. Por volta de 1930, Getulio Vargas achou por bem convidar as indústrias farmacêuticas para fabricarem no país. Com a crise na Europa e Estados Unidos por causa da guerra, as indústrias vieram para cá, se instalaram e começaram a produzir em escala maior. Os médicos que antes passavam receitas de fórmulas próprias começaram a receitar remédios industrializados que vinham com nome fantasia.

Isso deve ter criado um problema para quem fazia a manipulação e para os empregados nas farmácias?

Os imigrantes europeus que tinham vindo para cá por volta de 1900, não queriam que seus filhos fossem trabalhar na lavoura. Então, eles iam trabalhar... “Sentar praça” no exército, ou partiam para seminários para tornarem-se padres, ou, ainda, para a farmácia porque era um lugar limpo para se trabalhar. Eles começaram a ser “práticos em farmácia”, mas a farmácia entrou em decadência por causa da indústria. Os farmacêuticos venderam suas farmácias e foram se empregar na indústria como técnicos.

O senhor viveu toda essa mudança ainda na fase de formação na Universidade?

Sim. Conto a história da farmácia porque é também um pouco a minha história. As farmácias estavam decadentes, não havia mais manipulação e as prateleiras estavam cheias de remédios prontos. A profissão começou a decair refletindo negativamente nas escolas de farmácia. Na minha turma, por exemplo, eram 50 candidatos no vestibular, mas só doze passaram. A maioria entrava lá para pegar um diploma e só doze se formaram no curso de Farmácia. A Farmácia estava em decadência, e eu, então, fui trabalhar em Análises Clinicas, no Laboratório Paulista de Biologia, na Rua São Luis. Lá trabalhei com cientistas e professores da USP que vinham da Itália.

Depois saí e fui montar um laboratório de Análises Clínicas também, em Ourinhos, que era uma cidade muito progressista. Lá fiz sociedade com médicos nesse primeiro laboratório que montei na cidade. E lá também me casei e nasceu minha primeira filha.

Foi lá que o senhor conheceu sua esposa?

Não, foi no Laboratório Paulista. Ela trabalhava lá. Foi um namoro à distância. Eu estava em Ourinhos e ela aqui, namorávamos por carta. Era um amor à distância. Casei-me, fui morar em Ourinhos e a minha mulher não se acostumava com a cidade, que era de terra muito vermelha, sujava muito a roupa.

A gente ia ao cinema e via na tela o Viaduto do Chá e ficava com saudade. Nisso, meu irmão Álvaro, que trabalhava na Drogasil, em São Paulo, se aposentou e comprou uma farmácia na Praça Buenos Aires. Tinha ele e mais dois funcionários e ele me convidou para vir para cá.

Quando foi isso?

Isso foi em 1946 ou 1947. Vim para cá com meu irmão, naquele tempo a farmácia não estava manipulando mais. Manipular é a razão da profissão farmacêutica. Eu aprendi, eu cresci achando que farmacêutico deveria fazer remédio, manipular. Farmacêutico era o profissional do medicamento e fiquei frustrado com aquela farmácia, que era drogaria, era um entreposto entre a indústria e o consumidor. Não era aquilo que eu queria. Fiquei frustrado com a profissão farmacêutica. Fiquei quinze anos com meu irmão nessa farmácia.

Depois, o filho dele formou-se em Farmácia, e achei que o lugar do meu sobrinho era junto ao pai. Então, vim aqui para a rua Itacolomi (São Paulo), onde estou até hoje. Me estabeleci aqui em 1963. A minha vida é paralela à vida da farmácia.

Como o senhor vê a profissão do farmacêutico hoje? Ela está inserida na indústria? O profissional é um funcionário, um empregado da indústria farmacêutica? Qual sua opinião a respeito?

A questão é a seguinte: o farmacêutico fazia o remédio em pequenas quantidades e a indústria faz aos milhares. É uma questão de demanda, de valores, de pesos. Mas, o currículo do farmacêutico de indústria é o mesmo do farmacêutico de manipulação. Na indústria, naquele tempo, eles contratavam um farmacêutico responsável para supervisionar. As fórmulas já vinham descritas em formulários da matriz e ele aqui era uma espécie, vamos dizer, de supervisor, um Controlador de Qualidade. Um farmacêutico responsável por vários tipos de fórmulas. Atualmente, existe o farmacêutico responsável, mas existem os farmacêuticos em setores da indústria que assumem a responsabilidade das cápsulas.

Dr. Paulo, pelo visto, o senhor foi um resistente...

Fui um ativista. Resistente à implantação da indústria, porque quando montei a Pharmácia Drogamérica para continuar o trabalho de manipulação, a indústria já estava instalada no Brasil, e procurei manter essa fidelidade à minha formação e a meus conceitos originais.

Na verdade, fui e sou um inconformado contra a perda da importância da profissão farmacêutica na manipulação. Quando vim para cá, em 1963, para a Pharmácia Drogamérica, deixei uma área para manipulação. Como estou em um prédio de médicos, fui me aproximando deles e expondo que podiam aceitar, no lugar de um remédio padronizado, um personalizado. Argumentei que uma criança, por exemplo, tem uma dosagem diferente de um adulto, uma mulher de um homem. Que para o idoso há também uma dosagem diferente. Então há muitas razões que justificam a personalização da fórmula. E consegui convencer uma parte deles.

Vinha uma ou duas receitas por dia. Tinha dia que não vinha nenhuma, mas começou a evoluir a ideia essa ideia de remédio manipulado. Eu um dos poucos a fazer isso, além da BotiVeado de Ouro, muito tradicional em São Paulo. Ela também vinha sofrendo com a queda do produto manipulado e foi uma aliada na luta para resgatar a manipulação farmacêutica.

Foi uma retomada da manipulação?

A principio muito discretamente. Havia um médico dermatologista, Dr. Sebastião de Almeida Prado, que era professor da cadeira na Faculdade de Medicina. Ele dizia: “Lá no meu prédio tem uma farmácia que manipula”. Naquele tempo a manipulação era um resgate da profissão. Esse médico, seus auxiliares e outros médicos foram importantes nessa divulgação. Iam para outros estados e mandavam fórmulas para serem feitas aqui. Vinham pedidos de Belém do Pará, de Porto Alegre. Alguns colegas também ouviram dizer que eu estava tendo sucesso na profissão. Eu achei que uma andorinha só não fazia verão e achei por bem propagar a ideia entre os colegas.

De que forma o senhor articulou esses profissionais?

Fui eleito conselheiro do Conselho de Farmácia, em 1960, e no Conselho, para resgatar as leis que regulavam a profissão, saímos pelas grandes cidades do interior do estado de São Paulo. Cada cidade tinha o seu Conselho e eu fazia pregação pela volta da manipulação, para justificar a profissão farmacêutica. Drogaria é entreposto, farmácia para fazer remédio. Tomando brios, os farmacêuticos acharam que aquilo estava certo. E naturalmente muitos deles resolveram viver aquilo in loco.

O senhor foi um exemplo para eles?

Creio que sim. Fui um pioneiro. A Botica Veado de Ouro também se interessava em manipular, mas não se interessava em propagar. Fiz disso uma religião. As pessoas vinham aqui, estagiavam, e voltavam para suas cidades e para seus estados. E a profissão começou a crescer junto com a manipulação. Cresceu desordenadamente, porque a legislação era adversa, não considerava as atividades farmacêuticas, então muita coisa era proibida. “Não pode isso”, “não pode aquilo”, mas fazia meu trabalho nas cidades do interior. E os farmacêuticos iam montando suas farmácias pelo interior do Brasil inteiro. Eles vinham aqui para aprender o know-how. Fazendo a cápsula, fazendo o ‘remediozinho’, solvendo, fazendo a pomada, fazendo várias coisas com as receitas dos médicos. Só que os médicos, entre 1930 a 1960, tinham passado para as indústrias e as novas gerações de médicos não prescreviam mais fórmulas, eles esqueceram a arte de formular. Nessa época, eu fiz formulários, dando exemplos de fórmulas personalizadas.

O senhor fez um formulário?

Sim, fiz um formulário e tirei cem cópias e mandei para cem médicos. Desses cem médicos, 50% jogou no lixo. Uns 30% guardou no fundo da gaveta e uns 20% leram e essas fórmulas começaram a cair aqui, pingando. Esse formulário, depois, teve uma segunda edição, porque nossos recursos de matérias-primas eram muito escassos. Os importadores não fracionavam as embalagens e eu, com colegas da USP, fundamos uma associação chamada INSUFARMA para comprar as matérias-primas e fracioná-las para as farmácias. A INSUFARMA tinha pessoas do Brasil inteiro, éramos uns doze, quinze sócios, e cada um entrava com pouco dinheiro, porque a demanda era muito pequena. Mas, ela não resistiu muito tempo. Os importadores perceberam que nós podíamos ser potencialmente pequenos clientes e começaram a fracionar matéria-prima. Aí começou a crescer o número de farmácias.

Mas os fiscais das farmácias também desconheciam a legislação. Então, eu ia fazer uma fórmula para xampu, um creme, e não podia fazer porque precisava ter registro do Ministério da Saúde pela divisão de Cosméticos. Por isso, juntamente com alguns colegas aqui de São Paulo, – eu ainda estava no Conselho -, nós fomos a Brasília, falar com o Ministro da Saúde para deixar a gente crescer, resgatar uma importante parte profissional que estava esquecida em razão de uma legislação adversa. O Ministro recebeu a gente muito bem, mandou até servir cafezinho.

Quem era o ministro na época, o senhor se lembra?

Não, os ministros se sucediam a cada seis meses, a ciranda política era muito rotativa. Também fundamos uma associação de classe, chamada Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (anfarmag ), em 1986. Dessa Associação, como eu era o mais antigo, fui o primeiro presidente. Não porque fosse o mais sábio, mais competente, mas porque em homenagem me elegeram. Eram doze sócios a princípio e hoje são cinco mil sócios no Brasil inteiro.

Na semana passada fui homenageado em Brasília como sendo o primeiro presidente, eleito há vinte e cinco anos. Foi uma associação vitoriosa, e as farmácias cresceram, se multiplicaram pelo interior. Muita gente criou Associações para resgatar a técnica de manipulação. Alguns colegas formaram associações, ensinando os farmacêuticos a manipularem as receitas novamente porque haviam esquecido. Uma destas Associações também dava cursos e fazia congressos.

O senhor acha que alcançou seu objetivo?

Nos meus sessenta anos de farmácia, quis também um Museu de Farmácia. Fundei, então, uma associação para fazermos um museu - a Associação Brasileira para a Preservação da Memória da Farmácia. As farmácias antigas foram esquecidas, ficaram 30 anos ociosas, já ‘faleceram’. Eu queria resgatar a memória dessas farmácias. Consegui esse resgate. A Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais tinha uma revista também e eu pedia para quem tivesse material de farmácia, que o cedesse para formar o museu. Isso deu resultado.

Chegaram peças de todo país. E eu os armazenava aqui, até que foi cedido um espaço na Santa Casa e foi criado o “Museu de Ciências Farmacêuticas Paulo Queiroz Marques, inaugurado no dia 20 de janeiro de 2005 (Dia do Farmacêutico), localizado no Museu da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

O senhor tem outros planos?

Ainda acho que a memória da farmácia antiga, que era uma farmácia voltada para o medicamento, precisa ser conhecida pelos próprios farmacêuticos. Por isso, atualmente estou tentando formar, além da Associação para Manipulação e além do Museu da Farmácia, uma associação que possa criar o Museu Virtual da Farmácia, na Internet. A Internet não tem dono, portanto esse museu será de todo Brasil, e poderá ser de todas as nações.

Chegando para os dias atuais, como o senhor vê essa questão das multinacionais dos remédios e a atuação delas nas políticas de saúde? Qual sua opinião a respeito dessa produção em massa de remédios, quais os interesses envolvidos?

Ela veio para dar solução nacional para a distribuição de remédios em todo o país, Mas, nós existimos para valorizar o indivíduo e a população. A vinda da indústria teve coisas benéficas, mas ela cresceu demais em outro sentido e enfraqueceu a profissão farmacêutica como atividade profissional. Produzindo em larga escala, ela teve adesão da classe médica, através de congressos, amostras grátis, etc. Chegou a ter o foco nos lucros e nas bolsas econômicas de valores. Então, hoje, a industria produz o Viagra, porque dá um lucro tremendo, mas a saúde pública não tem sido suficientemente servida.

Uma reclamação que se faz é que a indústria farmacêutica incentiva a pesquisa de medicamentos que dão lucro, como os antidepressivos, mas, por exemplo, medicamentos para combater doenças tropicais, remédio para atender a população pobre, não tem tanto incentivo, o senhor concorda com essa ideia?

Sim. A tuberculose e outras doenças endêmicas, não são atraentes para a indústria. Elas não tem interesse por essas patologias de massa. Acreditamos que as farmácias tem condições de fazer, a baixos custos, um atendimento global, nacional, para enfrentar epidemias de maleita, tuberculose, verminoses, etc.

Em uma escala suficiente?

Hoje em dia, pelo número de farmácias, se elas fossem prestigiadas pelo governo, sim. O que vem acontecendo atualmente nas farmácias é que o foco delas, que era o medicamento, tem passado para o indivíduo. O farmacêutico precisa ensinar o indivíduo a tomar o remédio para dar o efeito adequado. Na farmácia, atualmente, as condições de sobrevivência são mais difíceis, porque eu acho que a orientação do farmacêutico deveria ser uma continuação da orientação do médico que prescreve o remédio. Você não pode tomar um medicamento para o sistema nervoso e tomar bebida alcoólica; não pode dirigir; ou, tem que tomar de dia, de manhã, em jejum, reforçar o que o médico recomendou. Os médicos querem transferir essa responsabilidade exclusiva para o farmacêutico, quando, na verdade, devia ser distribuída equitativamente, lá na origem, quando há o prognóstico e complementada na hora de entregar o remédio. A hora de entregar o remédio chama-se dispensação. A dispensação é complementar à orientação do médico.

E os órgãos de controle?

Eu tenho a impressão que a ANVISA criou condições adversas para a sobrevivência financeira da farmácia. Não pode vender sem receita médica, não pode expor o remédio manipulado, não pode fazer propaganda nenhuma. A Farmácia fica muito restrita à legislação nova, a ser subordinada a regulamentos. Existem tantas exigências que mal sobra tempo para o farmacêutico ter aquele contato com o paciente como tinha antigamente. Por isso, fico inconformado com a política atual e tenho saudade daquela política antiga em que se fazia remédio para cada pessoa.

Como se faz na China?

Exatamente. Na China os fitoterápicos, as plantas medicinais, são usadas para tratamento da grande população. Aqui no Brasil, - que tem uma reserva imensa de recursos naturais -, o governo cria dificuldades. Por quê? Porque muitas matérias-primas são derivadas das plantas, dos alcalóides principalmente. E a farmácia evoluiu muito, porque em vez de usar a planta em natura, usa extratos, mas esta prática é relegada para segundo plano, e até dificultada para venda. Quando foi criada a ANVISA muitos farmacêuticos quebraram.

Tive um colega que lidava com plantas medicinais e a farmácia dele era fitoterápica. A ANVISA chegou lá e sentenciou “não pode fazer isso, não pode fazer aquilo” e ele teve que fechar a farmácia. Caiu em depressão e morreu. Tive outro colega, um grande homeopata, o pai era homeopata, a família era homeopata, uma reserva cultural da homeopatia nacional. Ele morava no fundo do prédio da farmácia. Chegou a ANVISA e criou uma situação adversa, ele também teve que fechar a farmácia. Eu estive prestes a fechar a farmácia por uma questão de gestão. É tão difícil gerir os regulamentos! Mas, a farmácia está sobrevivendo, procurando se adaptar às novas exigências através da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais e tem procurado conciliar os regulamentos da ANVISA com os interesses da profissão.

É uma fase de transição e, infelizmente, eu estou em uma idade em que as soluções não dependem mais de mim, senão eu fundaria mais uma associação.

Qual sua opinião sobre a biopirataria? Isso acontece? Como acontece? Estão levando nossos produtos da Amazônia, o que tem de verdade nisso?

A grande verdade é que nós não temos uma indústria fina de extração do princípio ativo. É muito precária. A grande indústria multinacional prevê a extração da matéria-prima conservada, do principio ativo. Por exemplo, jaborandi é uma planta nacional e dessa planta faziam-se remédios. O pilocarpus de jaborandi é o nome científico. Houve laboratório que fez plantação de jaborandi, e mandava para o Exterior, depois recebia a matéria-prima concentrada cem vezes mais cara. Matéria que saía daqui!! É a mesmo fenômeno da indústria madeireira, vai para lá e volta pra cá. Mas, com remédios a coisa é muito maior, por causa da diversidade de matéria-prima. Muitos medicamentos, se não a maioria, são de origem natural. No passado eram valorizado, hoje em dia são criticados.

Como assim?

Eu vi uma propaganda de uma indústria farmacêutica: “Passou o tempo dos pajés, agora existe tal remédio que é quimioterápico sintético”. E fazem em larga escala. O lucro que eles têm é astronômico. Há alguns dias fui comprar um remédio para minha mulher e custava noventa reais a embalagem original! Na farmácia popular, esse mesmo remédio sai por trinta reais, mas nesses trintas reais e, mesmo assim, ainda estão ganhando muito dinheiro. Os remédios genéricos também têm um barateamento relativo, ilusório, porque o desconto é de quarenta por cento - na propaganda deles -, mas o lucro continua muito grande. A matéria-prima eles usam em miligramas e, naturalmente, com o apoio do governo, a indústria de genéricos está crescendo. Está vindo gente de outros países para cá, também, fazendo genéricos.

Fora os desvios, a corrupção da máquina, essas políticas de distribuição de remédios são terríveis. Há algum modelo de política do setor a ser seguido?

Em função de saúde pública, eu acho que o que acontece são os grandes interesses financeiros. O que é bom para o americano não é bom para nós. O que não é bom para o europeu é bom para nós. Então, por exemplo, para caso de intoxicação existia um medicamento chamado Enterovioformio e a Coramina, remédios eficazes e que nunca provocaram efeitos colaterais. Foram proibidos por injunções lá das instâncias superiores, dizendo que existia efeito colateral. A gente, que conhece um pouco a verdade do remédio, sabe que o medicamento é feito pela dosagem. O mesmo remédio que cura pode intoxicar. Essa é, aliás, uma filosofia que resume toda minha experiência de vida. O remédio que serve para você não serve para outro, o remédio que serve para uma criança, não serve para um adulto.

Dr. Paulo, na sua história aconteceu algum episódio de alguém falando “Esse remédio me fez mal”, e responsabilizar o senhor? Houve algum problema desse tipo?

Houve um caso, em que o médico receitou um moderador de apetite que age sobre o sistema nervoso central, e uma cliente mandou fazê-lo aqui. Ela foi a uma festa, bebeu vodka e teve convulsões, efeitos colaterais graves, e quiseram me responsabilizar.

Daí eu tive que fazer minha defesa, dizendo que realmente aquele remédio não podia ser usado com bebida alcoólica, mas quase fui responsabilizado. Mas, isso foi um acidente. Nós somos sempre vulneráveis porque o uso inadequado de um medicamento, tomado sem as precauções devidas, pode provocar efeitos colaterais adversos.

Em uma entrevista sua para o Museu da Pessoa há um capítulo pitoresco, em que o senhor fala de um “porre de Biotônico Fontoura”. Dá para o senhor contar essa história?

Essa é uma história que precisa comprovação, já que o Biotônico não é mais o que era, não existe mais a mesma fórmula. A história é a seguinte: Cândido Fontoura foi um dos poucos farmacêuticos que teve grande sucesso financeiro através da farmácia.

Ele tinha farmácia em Bragança e também uma namorada que era muito pálida. Ele fez um vinho lá, vinho do Porto, colocou algumas tinturas amargosas para estimular o apetite. Esse vinho tinha 9% de álcool. Ela ficou corada, ficou bem e casou-se com ele. Ele saiu de Bragança e montou o laboratório Fontoura e Cerpa - eram dois farmacêuticos. Em 1930, havia a lei seca nos EUA e vieram uns americanos para cá e conheceram o Biotônico Fontoura com seus 9% de teor alcoólico. Eles compraram uma quantidade muito grande e mandaram para os EUA como remédio, mas lá vendiam como aperitivo. Pagaram em dólar, em cash, e o Fontoura, tornou-se um industrial de muito sucesso à custa do Biotônico Fontoura. A propósito, depois, o Biotônico foi vendido para outra empresa e mudaram a fórmula. No lugar do vinho do Porto, que vinha de Portugal, puseram água. E o Biotônico parou de ter aquele atrativo de bebida alcoólica.

Nessa mesma entrevista o senhor fala dos termos curiosos usados pela população, como “dor nas paqueras”, o que isso significa?

Ah, sim. No interior, todos os sitiantes, os clientes, vinham aos sábados e, muitas vezes, não era o próprio doente, mas um intermediário que trazia um bilhete dizendo o que a pessoa sentia.

Na linguagem do caboclo lá do sítio, “dor nas paqueras” era dor de intestino. Tinha tanto termo que eu até andei colecionando algumas dessas coisas. As letras desses bilhetes eram quase ilegíveis e meu pai fazia o remédio pela intuição que ele tinha. Você veja, era como um curandeiro. Sei que eles tomavam e acabavam sarando, não tanto pelo remédio, mas pela fé no remédio feito. “Nós nas tripas” eram cólicas intestinais; cistite, eles chamavam de “dor de urinar nas mulheres”.

Antigamente nessas farmácias se manipulava cocaína e morfina, época em que era liberado o uso da cocaína para medicamentos, não era?

Sim, o livro do Chernoviz indicava cocaína para dor do ouvido. Para dores em geral, citava o cloridato de cocaína ou de morfina. Elixir paregórico, um remédio usado naquele tempo, era extrato de ópio canforado e era dado para cólica de criança. Davam-se gotinhas desse elixir e a criança dormia que era uma gostosura... Eram medicamentos registrados na França, importados para o Brasil e vendidos nas farmácias. Havia fórmulas para dor de ouvido, para dor de dente, para hemorróidas. Havia supositório de cocaína, para dores e hemorróidas.

Hoje em dia ainda se usam esses compostos de morfina para câncer. Naquele tempo se usava para dor de ouvido, dor de dente e cólica intestinal, sem receita médica. E nunca ninguém morreu. Não havia esse preconceito com as drogas.

Qual é a fórmula para continuar assim, como o senhor está, atuante, trabalhando, envolvido, é um estilo de vida conquistado ou uma sorte genética?

Meu pai morreu com 85 anos, minha mãe com 84. Dez de meus irmãos também morreram com essa idade média de setenta, oitenta anos. Acho que essa minha inconformidade me traz a criatividade de criar associações para farmacêuticos, museus de farmácia, acho que sou uma pessoa turbulenta. À noite, fico pensando no que quero fazer, é muita imaginação, é muita coisa na cabeça. Muita vontade de fazer coisas. Atualmente eu sinto as minhas deficiências com o computador. Outro dia me escreveu aqui um farmacêutico da França, mas ele escreveu em francês, daí pensei, “Assim não dá”, e descobri que tinha um programa de tradução. Então, eu não me acomodo, eu reajo.

Muitas pessoas, quando chegam à sua idade, pensam na morte, como o senhor encara a finitude?

Eu pondero que a vida começa aos oitenta, como os andarilhos aqui da Praça Buenos Aires, mas agora eu já estou convidando os colegas para daqui a dez anos, irem à minha festa de cem anos, se Deus quiser! Mas também não sou apegado à vida, e já andei pesquisando sobre a finitude. A finitude não deixa de ser uma preocupação, mas é longínqua ainda, eu não penso muito nela. Mas eu acho que tenho que viver o presente intensamente, e já estou pensando nesse plano do Museu Virtual e querendo a colaboração de vocês.

E cuidados com sua saúde, o senhor os tem?

Já tive dois enfartos, tive AVC, tive perturbações que até já esqueci. Não me apego, não me assustam mais. Tirei uma lição muito importante: estou com 70 anos de vida profissional, já passei por várias crises econômicas, já cheguei a perder tudo que tive do dia para a noite - no plano Collor -, vivi a inflação de 80% ao mês e sobrevivi. Atualmente entreguei a direção da empresa para minha filha e ela está tendo dificuldade de gerenciar, justamente porque proibiram muita coisa que eu fazia com a melhor das intenções e agora não pode mais. Meu lema agora é “proibido proibir...” Enfrentamos “muita fiscalização”, aliás, melhor dizendo, muita corrupção, essas coisas me revoltam muito. Há também as falsificações de remédios.

Há denúncias de médicos que correm o mundo dando palestras bancados pela industria farmacêutica fazendo propaganda de medicamentos cuja eficácia não é muito garantida.

Sim. Para justificar o preço de um Viagra fizeram pesquisas de todo jeito. O Viagra era para a cardiologia, e virou remédio para sexologia com muito mais lucro. Tem até adolescente tomando Viagra, que agora se tornou genérico. A indústria em vez de trazer o bem, está criando problemas para o futuro, para o comportamento das gerações. Eu me preocupo muito com as gerações futuras da minha categoria, como serão? Porque o mundo está mudando, os valores estão mudando, e eu tenho para mim que a palavra consciência profissional e ética são palavras–chaves, que eu cultivo como sendo valores que devem ser preservados. Mas acontece que há médicos que se corrompem, farmácias que se corrompem em detrimento do cliente, e isso é uma coisa que está acontecendo, com impunidade. Se eu pudesse criar um código de ética eu poria simplesmente: use sua consciência antes de fazer tal coisa. Se a consciência permite, o sujeito faz, se ela não permite, não faz.

Para terminar, se o senhor pudesse deixar uma mensagem para as novas gerações, o que o senhor gostaria de dizer?

Eu queria dizer, antes de tudo, que exercerem uma atividade para a qual tenham vocação. O destino é que vai dizer se haverá sucesso ou não. Existe muita gente que segue a profissão e o destino não ajuda. Mas a profissão é importante. Quando falo “a minha família”, refiro-me à família farmacêutica em geral, ela me tolera como eu sou, e esse carinho que eles têm, esse reconhecimento que eu tenho tido durante essa trajetória, eu recebo com muita humildade, como sendo um reconhecimento espontâneo.