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O interior do estado ultrapassou neste ano a Região Metropolitana de São Paulo e ganhou o posto de maior mercado consumidor do país. O consumo dos domicílios da região em 2012 deve somar R$ 382,3 bilhões, ou 50,2% do total do estado.

Já a Região Metropolitana vai movimentar R$ 379,1 bilhões ou 49,8% do total gasto com alimentação, habitação, transporte, saúde, vestuário e educação, indica estudo divulgado em julho pela IPC Marketing, consultoria especializada em mapear o potencial de consumo dos lares brasileiros. O movimento de indústrias e empresas da capital ao interior, atraídas por incentivos fiscais, que acontece desde os anos de 1960, é uma das causas dessa descentralização do crescimento econômico, segundo o historiador e professor do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (Ibilce/Unesp), de São José do Rio Preto, Humberto Perinelli.

Esse fenômeno se acelerou nos últimos dez anos e teve impacto na oferta de atividades culturais, ocasionando o aumento no número de festivais de arte, grupos artísticos e instituições culturais em toda a região. De acordo com Perinelli, o crescimento das manifestações culturais no interior paulista está relacionado a diversos fatores, como a elevação do poder aquisitivo do brasileiro, a produção ligada às universidades e a esforços do poder público.

A análise é partilhada pelo secretário de Estado da Cultura de São Paulo, Marcelo Mattos Araujo. Segundo ele, a expansão da oferta de bens culturais no interior paulista é reflexo do panorama nacional, devido ao crescimento econômico do país. “Mas é também resultado da política pública cultural adotada pelo governo estadual, que dá uma ênfase muito grande à interiorização das ações nesse setor”, diz Araujo.

Perinelli salienta que esse aumento diz respeito a um tipo de produção cultural. “Já que as celebrações da cultura popular, como as festas religiosas que depois se dessacralizam em manifestações como a Festa da Uva, nunca deixaram de existir e prosperaram muito da década de 1930 a 1950”, afirma. Segundo ele, as Festas do Peão, que misturam diversos eventos culturais, promoveram uma dinamização muito forte no interior de São Paulo, dentro da lógica da indústria cultural, principalmente a partir dos anos de 1990.

O cinema, o teatro, as artes plásticas e a música foram muito beneficiadas pelas universidades, que surgem a partir da década de 1940 no interior paulista – fundada em 1941, a Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) é a mais antiga delas. “No começo dos anos de 1960, Gianfrancesco Guarnieri, Juca de Oliveira, Fernanda Montenegro e Francisco Cuoco vieram fazer apresentações teatrais aqui na Unesp de São José do Rio Preto. Isso gerou um problema absurdo, porque para uma cidade pequena, do interior, nos anos sessenta, esse pessoal era visto como uma ameaça à moral e aos bons costumes”, diz Perinelli.

“Isso foi tão forte na cidade que o instituto [da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que deu origem ao Ibilce, quando incorporado à Unesp] que recebeu esses espetáculos foi um dos mais barbaramente perseguidos pela ditadura militar.” No final dos anos de 1970, com a luta pela redemocratização, já surgem movimentos teatrais dentro do instituto.

Muitas iniciativas culturais do interior partem da vontade de jovens universitários de movimentar a cena local, impulsionados pelo estímulo intelectual do contexto acadêmico. “As universidades são, por definição, centros de produção de pensamento e reflexão, o que leva ao estímulo à produção e fruição cultural. Por isso, é natural que as cidades com universidades tenham demanda maior por cultura”, analisa Araujo. O Cine Cauim, de Ribeirão Preto, é um exemplo.

Fundado em 1979, por estudantes de diversas faculdades e universidades da região, como cineclube, atualmente é uma sala de cinema que desenvolve projetos culturais e educacionais, com apoio da prefeitura. A banda Mercado de Peixe, criada por estudantes da Unesp de Bauru, no final dos anos de 1990, é outro caso. O grupo chamou atenção do público e da crítica por seu som, uma mistura de música pop com elementos da cultura caipira, batizado pelo antropólogo Hermano Vianna de movimento pós-caipira, do qual fazem parte as bandas Sacicrioulo, Vô Varvito, Dotô Jeca e Matuto Moderno.

O aumento do número de festivais e o fortalecimento dos já tradicionais no calendário das cidades do interior paulista são outro indício do crescimento da oferta de cultura. Com 43 anos de existência, o Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão é um dos mais longevos do interior. Realizado pelo governo do estado, pela Secretaria da Cultura e Fundação Osesp anualmente em julho, o evento se consolidou como o maior e mais importante festival de música clássica da América Latina.

Além de se apresentarem em concertos, renomados instrumentistas ministram aulas a jovens músicos bolsistas. A programação educativa do festival também inclui atividades em escolas da região. “A vocação pedagógica do Festival de Campos do Jordão garante sua longevidade. Várias gerações de músicos foram bolsistas do festival quando estudantes; alguns retornam hoje como professores ou para tocar como profissionais – isso gera uma identificação muito forte”, diz Araujo.

Na 6ª edição, a Virada Cultural Paulista está entre as iniciativas mais recentes da Secretaria de Estado da Cultura, em parceria com as prefeituras e com o Sesc, para ampliar o acesso à cultura para todas as regiões de São Paulo. Em maio, mais de 1000 atrações de diversas linguagens artísticas, contemplando desde a música erudita da Osesp ao rap dos Racionais MCs, das comédias stand-ups a espetáculos premiados de dança contemporânea, acontecem durante 24 horas simultaneamente em 25 cidades do interior.

Com programação regular de espetáculos gratuitos de artes cênicas, música e circo, além da exibição de filmes e oficinas, o Circuito Cultural Paulista complementa o alcance da Virada Paulista, atendendo cidades menores, a maioria delas com até 100 mil habitantes. As atividades culturais circulam durante oito meses, em 70 cidades. “Essa iniciativa fortalece a arte em cidades que não têm universidades, nem unidades do Sesc.

Já fiz shows em cidades como Adamantina, por exemplo, por causa desse evento”, diz o músico e vocalista das bandas Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro, Tatá Aeroplano – que nasceu e morou até a adolescência em Bragança Paulista. “É bom para a cidade que recebe eventos culturais dos mais diversos, para nós, artistas, e para os moradores que querem fazer arte, cultura e têm essa possibilidade de interação.”

Para Perinelli, as ações culturais aumentaram e estão mais profissionalizadas. “Eu entendo cultura como um processo de abertura de visão de mundo. Não significa que o sujeito tem que deixar de ir à Folia de Reis, mas significa que, além disso, ele tem que ir a uma peça e saber quem é Shakespeare. Se o poder público não fomentar festivais e ações como as Oficinas Culturais, por exemplo, numa sociedade desigual como a brasileira, as pessoas não vão ter oportunidade”, afirma.

Mas, não basta popularizar o acesso. “A princípio, existe espaço para trabalhar arte nas escolas e, dessa forma, você vai formando um público que aprecia teatro, por exemplo, que conhece, mesmo que de forma introdutória. E essa formação vai valorizar iniciativas como o Festival Internacional de Teatro de Rio Preto”, acrescenta o historiador.

Iniciativas privadas

Além de oferecer programação cultural contínua em suas 15 unidades no interior, o Sesc atua em parceria com prefeituras e a Secretaria de Cultura do Estado em eventos que têm o objetivo de promover a cultura no interior, como é o caso da Virada Cultural Paulista e do Festival Internacional de Teatro de Rio Preto (FIT).

A instituição também realiza o Circuito Sesc de Artes, caravana que promove espetáculos de modalidades artísticas variadas, que acontece prioritariamente em cidades onde o Sesc não tem unidades, com o objetivo de expandir sua atuação no interior. “O Circuito Sesc de Artes oferece uma oportunidade de concretizar uma das grandes missões da instituição, que consiste na democratização do acesso, do mais amplo público, à produção artística atual”, considera Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo.

Miranda afirma ainda que “a circulação de uma programação sociocultural consistente promove o envolvimento do público numa ação de educação permanente que tão bem a cultura e as artes podem proporcionar”. ?De acordo com Aeroplano, a partir das unidades do Sesc, estabelece-se uma rede que favorece o diálogo com os jovens que estão nas universidades. “Cria-se a possibilidade de que um grupo de São Carlos, que está começando artisticamente, possa apresentar uma peça, um show no Sesc. É uma forma de os grupos irem para outras cidades, circularem”, afirma.

Em sua 11ª edição, o Festival de Arte Serrinha, de Bragança Paulista, é outra iniciativa de destaque no interior. Idealizado pelo artista plástico Fábio Delduque, seu irmão, o jornalista e fotógrafo Marcelo Delduque, e o chef de cozinha Carlão de Oliveira, o evento, que acontece na fazenda Serrinha, anualmente em julho, é o maior festival multidisciplinar de arte do interior de São Paulo. Além de exibição de filmes, exposições e espetáculos de música e teatro, a programação inclui oficinas com artistas de diversas áreas e atividades com crianças e adolescentes carentes da região.

“Hoje, acredito que o Festival tenha uma importância muito grande para Bragança, Atibaia e Piracaia. Mais de 60% do público do festival é da região, mas, além disso, grande parte dos alunos das oficinas são moradores dessas cidades, o que prova que o evento é importante para esse público interessado em arte, para os estudantes de arte e para os arte-educadores”, afirma o curador, Fábio Delduque.

A parte educativa do festival está em expansão. Em vez de concentrar as atividades apenas no mês de julho, o festival tem agora um projeto anual. “Temos uma parceria com a Unesp para que alunos da graduação e da extensão universitária possam usar a Serrinha para residência artística. Queremos criar um centro de formação para arte-educadores de todo o estado.

Temos também um projeto com a Secretaria de Educação do Estado, que começa neste semestre, para levar alunos da rede pública da região para passeios educativos na fazenda”, afirma Delduque. “Além disso, temos aprovado pela Lei Rouanet o projeto para construir um parque de instalações na Serrinha, ampliando nosso acervo de oito para dezessete obras de land art, tudo com material didático, visando formar melhores professores e alunos mais preparados na região.”

Circuito de festivais

Confira a agenda de eventos culturais de 2012 do interior paulista

Multiculturais
•    88 cidades
    Circuito Sesc de Artes
    Data: abril e maio
•    25 cidades
    Virada Cultural Paulista
    Data: maio
•    70 cidades
    Circuito Cultural Paulista
    Data: março a outubro
•    Americana
    Americana Mostra
    Data: janeiro e fevereiro
•    Bragança Paulista
    Festival de Arte Serrinha
    Data: julho

Cinema
•    Campos do Jordão
    Festival Internacional de Cinema de Campos do Jordão
    Data: abril e maio
•    Ribeirão Preto
    Festival de Cinema de Ribeirão Preto
    Data: agosto

Cultura popular
•    Olímpia
    Festival do Folclore
    Data: julho

Artes plásticas
•    Catanduva
    Salão de Artes Plásticas de Catanduva
    Data: outubro e novembro
•    Ribeirão Preto
    Salão de Arte de Ribeirão Preto Nacional – Contemporâneo (Sarp)
    Data: agosto e setembro
•    Embu das Artes
    Salão Nacional de Artes Plásticas
    Data: outubro a janeiro

Artes cênicas
•    São José do Rio Preto
    Festival Internacional de Teatro (FIT)
    Data: julho
•    Araraquara
    Festival de Dança
    Data: setembro
•    Ribeirão Preto
    Festival Nacional Dança Ribeirão
    Data: junho
•    Catanduva
    Festival de Dança de Catanduva
    Data: julho

Música
•    Campos do Jordão
    Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão
    Data: julho
•    São Carlos
    Contato – Festival Multimidia Colaborativo
    Data: outubro
•    Ribeirão Preto
    João Rock
    Data: junho
•    Serrana
    Caipiro Rock Serrana
    Data: julho

Literatura
•    Ribeirão Preto
    Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto
    Data: maio e junho
•    São José dos Campos
    Festival da Mantiqueira
    Data: maio


Cultura e sustentabilidade

Parte do projeto de expansão do Sesc no estado de São Paulo, a unidade de Sorocaba é uma das maiores do interior

A população da nona maior cidade do Estado de São Paulo, com quase 587 mil habitantes, recebe uma nova unidade do Sesc – Sorocaba –, que oferece um ambiente de cultura, educação, esporte, saúde e lazer em seus cerca de 30 mil metros quadrados de área construída. Com projeto inovador, a maior unidade do Sesc no interior possui jardins verticais e respeita os critérios da construção sustentável de não agressão ao meio ambiente.

Presente na cidade desde os anos de 1950, o Sesc Sorocaba funcionou até agora como unidade provisória, realizando programações em parceria com a administração pública e entidades privadas. A nova unidade conta com teatro, teatro de arena a céu aberto, área de exposições, ginásio poliesportivo, quadra de futebol soçaite, três piscinas, biblioteca, internet livre e comedoria.

Construído e operado a partir de parâmetros sustentáveis, a unidade tem certificação do Selo Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), concedido pela organização internacional sem fins lucrativos US Green Building Council (USGBC).

Entre os destaques da programação artística de inauguração, estão a exposição O Escultor Francisco Brennand – O Milagre da Terra, dos Peixes e do Fogo, com curadoria de Emanoel Araújo; as apresentações musicais de Luiz Melodia, Quarteto Camargo Guarnieri e do músico Ricardo Anastácio, o teatro do grupo Clowns de Shakespeare com Sua Incelença Ricardo III; e as companhias de dança Ballet Stagium e Cisne Negro.

A programação esportiva promove o encontro do público com atletas recém-chegados das Olimpíadas de Londres 2012, como o nadador Thiago Pereira (medalha de prata nos 400 metros medley), os judocas Felipe Kitadai (medalha de bronze) e Sara Menezes (ouro), além de outros grandes nomes do esporte, como o nadador Fernando Scherer e o tetracampeão paraolímpico no judô, Antonio Tenório.

Entre as atividades dos programas de diversidade cultural e educação para sustentabilidade, destacam-se, respectivamente, a música do grupo de hip hop Brô MC’s, com membros de uma tribo Guarani Kaiowá, de Dourados (MS), e o projeto de rádio desenvolvido por jovens Radio Ambiente 21, com temática ambiental. 

“Refletindo a grande diversidade de ações promovidas pelo Sesc, a programação de inauguração da nova unidade Sorocaba inclui atividades relacionadas a todos os programas desenvolvidos pela instituição – relacionados às áreas da cultura, dos esportes, do lazer, da educação ambiental, do turismo social, da terceira idade, do desenvolvimento infantil, da saúde e da alimentação”, aponta o superintendente técnico-social do Sesc São Paulo, Joel Naimayer Padula.

A unidade Sorocaba faz parte do projeto de expansão do Sesc, que prevê a inauguração de mais quatro unidades até 2014: Sesc Avenida Paulista, 24 de maio, Jundiaí e Birigui. De acordo com o coordenador da assessoria técnica de planejamento do Sesc, Sérgio Battistelli, até 2020 o Sesc São Paulo terá um crescimento físico de 30%, passando dos atuais 830 mil metros quadrados construídos para 1 milhão e 200 mil.

“O Sesc Guarulhos está em fase de finalização do projeto executivo de arquitetura, neste semestre será lançado o concurso de arquitetura para a unidade de Franca e a de Osasco está em processo de elaboração do programa para lançamento de concurso”, diz ele. Além disso, as unidades Marília e Limeira estão em fase de transferência de escritura dos terrenos. Segundo Battistelli, a instituição busca terrenos para construir unidades na região da Av. Marechal Tito, na zona leste da capital, em Pirituba ou Brasilândia, na região noroeste, e perto do Campo Limpo, na zona sul.

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