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Bom para o corpo e para a mente

Criada por escravos africanos como forma de defesa contra abusos dos colonizadores, a capoeira ganhou esse nome porque era praticada em áreas de pequeno porte e mato ralo denominadas “capoeiras”.  Inicialmente, os portugueses não fizeram objeção às rodas formadas por pensarem que se tratava de um tipo de dança, mas o quadro mudou com o tempo e, no fim do século 19, a capoeira foi considerada crime pelo Código Penal da República, de acordo com o professor de capoeira do Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (Cepeusp) Vinicius Heine.

Com a virada do século 20, começaram a surgir algumas tentativas para legitimá-la como esporte, e alguns livros foram lançados, como o Guia do Capoeira ou Gymnastica Brazileira – À Distincta Mocidade (1907), do oficial do exército O.D.C. – que, por medo de represálias, assinou a obra apenas com siglas de seu nome –, Gymnastica Nacional (Capoeiragem) Methodizada e Regrada (1928), de Annibal Burlamaqui, e Subsídio para o Estudo da Metodologia do Treinamento da Capoeiragem (1945), de Inezil Pena Marinho.

Segundo Heine, outro passo importante rumo ao reconhecimento da prática se deu com a descriminalização, ocorrida em 1937, durante o governo Vargas. No entanto, a grande virada aconteceu apenas em 1º de janeiro de 1973. Na data, entrou em vigor o Regulamento Técnico da Capoeira, e a prática foi considerada esporte nacional. A proposta da regulamentação surgiu no 2° Simpósio sobre Capoeira, em 1969, na cidade de Campo dos Afonsos (RJ). A ideia preliminar do encontro era unificar a prática sem que houvesse perda das tradições. Durante os debates, os participantes decidiram que a Confederação Brasileira de Pugilismo organizaria o Regulamento Técnico da Capoeira. O documento foi aprovado pelo Conselho Nacional de Desportos em 26 de dezembro de 1972. De lá para cá, a capoeira saiu definitivamente da marginalidade e conquistou os brasileiros e adeptos mundo afora.

Atividade física e social

Mestre Diolino de Brito, professor da modalidade esportiva no Sesc São Caetano há 22 anos, destaca a melhora da capacidade física e cardiorrespiratória, o aumento da força muscular e da resistência abdominal como alguns dos benefícios da prática. “A atividade também é boa para melhorar a percepção espacial, além da música, do canto e dos exercícios respiratórios aliviarem o estresse”, afirma. Heine concorda com Brito e inclui a flexibilidade, a coordenação motora, a disciplina e a concentração como outros fatores positivos.

Ministrada no Sesc há mais de 20 anos, a capoeira também permite o fortalecimento dos laços sociais, com a interação entre pessoas de todas as idades, segundo a assistente da gerência de desenvolvimento físico e esportivo (GDFE) do Sesc Maria Ivani Gama. “A capoeira traz valores do esporte para a formação dos cidadãos, garante o desenvolvimento pessoal, além de carregar a História do Brasil em seus movimentos”, esclarece. “Ou seja, a capoeira não é apenas uma ótima atividade física, ela mescla esporte com manifestação cultural.”

De acordo com o especialista em Medicina do Esporte e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), Ricardo Munir Nahas, não há restrições para a prática. “Como em qualquer outra atividade física, a capoeira não pode ser praticada em excesso. Ela precisa de um condicionamento físico e os instrutores devem apresentar movimentos mais difíceis de acordo com o desenvolvimento e as possibilidades de seus alunos”, diz. “Com esse cuidado, unido à avaliação médica, a capoeira pode ser praticada por qualquer um, independentemente da faixa etária e das limitações físicas.”

As aulas de capoeira e os eventos da modalidade esportiva que acontecem no Sesc unificam os três estilos da prática: Angola, Regional e Contemporâneo (veja boxe Estilo de jogo). Segundo Maria Ivani, o modelo é plural e apresenta uma visão mais ampla aos alunos. Atualmente, as aulas regulares são ministradas nas unidades Araraquara, Santana, Santo André e São Caetano do Sul.


Estilo de jogo

A capoeira conta hoje com três escolas que possuem características próprias

Angola: A primeira das escolas tem o Mestre Pastinha (1889-1981) como mentor. O jogo lento e cadenciado é sua principal característica. O plano baixo é predominante. Na roda, os capoeiristas permanecem sentados e não batem palmas.

Regional: Derivada da capoeira de Angola, sua primeira denominação foi luta regional baiana. Desenvolvida pelo Mestre Bimba (1900-1974), tem o jogo mais cadenciado. Os planos médio e alto são característicos. Na roda, os capoeiristas ficam em pé e batem palmas.

Contemporânea: Ainda não conta com um mentor nem movimento específico. O cadenciamento acelerado é a sua marca. Pode ser jogada em todos os planos, isto é, baixo, médio e alto. Na roda, os capoeiristas podem ficar sentados ou em pé e bater palmas ou não.

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